- Já me perguntava onde andavas?
- Fui dar um passeio.
- E foste ver Trash?
- Trash?!
- A gata. Achei que era um bom nome.
- Dado as circunstâncias é apropriado.
- Também achei.
- Dei-lhe comida antes de sair.
- Ainda bem. Já tomaste o pequeno almoço?
- Comi na vila. - Valerie meteu mais um madeiro na lareira tentando esconder o rubor que começou a sentir - E tu?
- Sim.
- Hoje não dá para fazer nada no jardim.
- Pois não.
- Pode ser que amanhã não chova.
Lana olhou a filha e soltou uma gargalhada nervosa.
- Que vou fazer contigo?!
- Comigo?!
- Sim. Ás vezes és tão parecida com o teu pai. Principalmente quando fugia das conversas.
- Acaso não estamos a conversar?
- De coisas fúteis e sem nexo. Estás a evitar o inevitável. - Lana atirou com a revista para o cesto - Não penses que me esqueci. Não estou assim tão velha.
- Não sei ao que te referes.
- Então vou avivar a tua memória. Ontem fiz-te uma pergunta à qual tu fugiste habilmente.
- Não me lembro.
- Nesse caso, volto a perguntar. És feliz com Steven? E não divagues nem dês meias respostas.
- Se bem me lembro respondi.
- Não. Deste uma resposta educada, automática. Sou tua mãe!
- Que queres que te diga?
- A verdade!
A verdade... como lhe podia pedir a verdade se nem ela mesma sabia qual era?! Não na totalidade. Não sabia porque Steven estava diferente. Nem que problemas a empresa tinha. Era suposto dizer o quê? Que estava tudo bem ou que era infeliz? Porque essa a única coisa que ela sabia ser verdade. Isso e o facto da mãe achar que o lugar dela era junto do marido. Por isso, independentemente do infeliz que fosse, o seu lugar era ao lado de Steven. E de que adiantava falar disso se sabia qual era a opinião da mãe?
- A verdade é que não sei.
- Como não sabes?
A voz fria da mãe causou-lhe um arrepio e sentiu uma pontada no peito como se fosse picada por mil alfinetes.
- Não é fácil abrir o coração a uma pessoa que não conhecemos. - Valerie sentiu as lágrimas encherem o seu olhar e esforçou-se por as conter - És minha mãe e apesar disso não sei nada sobre a tua infância. Os motivos que te levaram a fugir desta casa ou como eram os meus avós. A menos que tenha vindo aqui em bebé só me lembro de ver a avó quando o pai esteve doente. Depois não me foi permitido vê-la. E sempre que perguntava sobre eles mudavas de assunto.
- Fui dar um passeio.
- E foste ver Trash?
- Trash?!
- A gata. Achei que era um bom nome.
- Dado as circunstâncias é apropriado.
- Também achei.
- Dei-lhe comida antes de sair.
- Ainda bem. Já tomaste o pequeno almoço?
- Comi na vila. - Valerie meteu mais um madeiro na lareira tentando esconder o rubor que começou a sentir - E tu?
- Sim.
- Hoje não dá para fazer nada no jardim.
- Pois não.
- Pode ser que amanhã não chova.
Lana olhou a filha e soltou uma gargalhada nervosa.
- Que vou fazer contigo?!
- Comigo?!
- Sim. Ás vezes és tão parecida com o teu pai. Principalmente quando fugia das conversas.
- Acaso não estamos a conversar?
- De coisas fúteis e sem nexo. Estás a evitar o inevitável. - Lana atirou com a revista para o cesto - Não penses que me esqueci. Não estou assim tão velha.
- Não sei ao que te referes.
- Então vou avivar a tua memória. Ontem fiz-te uma pergunta à qual tu fugiste habilmente.
- Não me lembro.
- Nesse caso, volto a perguntar. És feliz com Steven? E não divagues nem dês meias respostas.
- Se bem me lembro respondi.
- Não. Deste uma resposta educada, automática. Sou tua mãe!
- Que queres que te diga?
- A verdade!
A verdade... como lhe podia pedir a verdade se nem ela mesma sabia qual era?! Não na totalidade. Não sabia porque Steven estava diferente. Nem que problemas a empresa tinha. Era suposto dizer o quê? Que estava tudo bem ou que era infeliz? Porque essa a única coisa que ela sabia ser verdade. Isso e o facto da mãe achar que o lugar dela era junto do marido. Por isso, independentemente do infeliz que fosse, o seu lugar era ao lado de Steven. E de que adiantava falar disso se sabia qual era a opinião da mãe?
- A verdade é que não sei.
- Como não sabes?
A voz fria da mãe causou-lhe um arrepio e sentiu uma pontada no peito como se fosse picada por mil alfinetes.
- Não é fácil abrir o coração a uma pessoa que não conhecemos. - Valerie sentiu as lágrimas encherem o seu olhar e esforçou-se por as conter - És minha mãe e apesar disso não sei nada sobre a tua infância. Os motivos que te levaram a fugir desta casa ou como eram os meus avós. A menos que tenha vindo aqui em bebé só me lembro de ver a avó quando o pai esteve doente. Depois não me foi permitido vê-la. E sempre que perguntava sobre eles mudavas de assunto.
Sabia que aos olhos da sua mãe estava a pisar terreno perigoso o semblante dela confirmava isso mesmo mas estava cansada de ter tantas perguntas a assombrar a sua mente.
- Tens razão.
Para sua surpresa Lana levantou-se e dirigiu-se à cozinha. Valerie ficou a olhar a porta por onde a mãe tinha saído perguntando-se onde tinha conseguido coragem para perguntar sobre os seus avós. Estava certa que quando a mãe regressasse da cozinha, apesar de ter sido ela a originar aquela conversa, viria com um sorriso e começaria a falar de qualquer coisa como o tempo ou os filhos das suas amigas, que já tinham dado netos e ela ainda não os tinha. Tudo era válido desde que evitasse aquele tipo de conversa. Mas quando a sua mãe regressou trazia, além de um tabuleiro com chá e bolachas, o olhar triste e húmido o que provava que estivera a chorar. Naquele momento arrependeu-se do que tinha dito. Independentemente dos segredos, e das opiniões, que a mãe tivesse esta sempre lhe proporcionara o que era necessário.
- Certas conversas requerem uma bebida reconfortante.
- Desculpa. Não sei o que me deu. - E era verdade, não sabia. As palavras simplesmente saíram. - Eu não te pretendia forçar a falar em certos assuntos. Assuntos que sempre evitaste.
- Algum dia teria que ser. - Lana estendeu uma chávena á filha e ficou a olhar a dela por uns segundos antes de começar a falar - Desde que me lembro de ser gente nunca ouvi um não da parte dos teus avós, sempre e quando fizesse o que o teu avô queria. - Lana encolheu os ombros - Um homem à antiga! Era um homem com um coração enorme mas tinha muitos ciúmes da tua avó. O que levou a controlar cada passo que ela dava e trabalhar em casa significava controlar a tua avó vinte e quatro horas por dia. A tua avó nunca falava no assunto mas ao ficar mais velha ia ouvindo as conversas de alguns criados. Os homens diziam que dado a diferença de idades eram ciúmes justificados, que a tua avó ser uma mulher muito bonita não facilitava a confiança. Mas não havia motivos para ciúmes nem para aquelas conversas. Apesar da diferença de idades a minha mãe estava profundamente apaixonada e nunca olhou para outro homem. Como tal não se importava de fazer apenas o que ele queria. Raramente saía daqui e quando o fazia era com ele. As pessoas da vila diziam que era uma princesa presa na sua bela torre de marfim. A maioria da mulheres talvez fugisse na primeira oportunidade mas a tua avó era feliz assim. Muitas das terras em redor do solar pertenciam à família o que dava um amplo espaço de lazer. Atualmente temos apenas alguns terrenos e um velho moinho que o teu avó deixou à disposição da sociedade histórica enquanto esta assim entender.
- Um moinho?! - Valerie olhou a mãe esperando alguma reação mas esta permaneceu olhando a chávena.
- Sim. Fica lá no meio da mata, que por sinal também é da família.- Lana serviu mais chá - Como estava a dizer, quando a minha mãe ficou grávida, o meu pai já tinha vendido alguns terrenos, oferecido o castelo à freguesia e as casas onde residiam alguns dos empregados do solar foram oferecidas aos mesmos. Como podes imaginar, dado a generosidade dele, as pessoas da aldeia olhavam para ele como um benfeitor. E as poucas que achavam estranho a atitude dele para com a minha mãe o que poderiam fazer se ela era feliz assim?! Qualquer pessoa que os visse juntos percebia que se amavam. Eu cresci assim, numa espécie de gaiola dourada. Lembro-me de passear com ela pela mata com Maria e irmos à vila ver as peças de teatro que a sociedade preparava por ocasiões especiais mas apesar de ter tudo o que o dinheiro possa comprar sempre me senti presa. Por isso quando conheci o teu pai e surgiu a oportunidade de sair daqui não hesitei. O teu pai era atencioso, generoso e olhava para mim de um jeito que uma forma tão linda. Era como se não existisse mais ninguém no mundo. Por isso não foi preciso insistir para fugir com ele, não queria a minha vida controlada pelo meu pai. Casámos na igreja da vila onde o teu pai vivia e fomos viver para a quinta. Os primeiros dias foi tudo como um sonho, o teu pai levava o pequeno almoço à cama, trazia flores constantemente e conversávamos imenso durante a noite mas um dia, após uma das visitas dele á única tia que tinha, voltou diferente e no dia seguinte despediu a rapariga que trabalhava lá em casa e começou a tratar-me de modo diferente. As atenções foram trocadas por ordens e imposições. Nesse dia o sonho desvaneceu. Como deves compreender não foi fácil, nunca tinha trabalhado na minha vida. Havia dias em que as minhas mãos sangravam de tanto trabalhar, além da lida da casa ainda tinha que ajudar na terra. Um dia estava tão cansada que não fui ajudar na lavoura. Decidi tirar um dia para mim. Também merecia descansar! Mas o teu pai não achou e quando entrou em casa e me viu sentada com um livro na mão parecia outra pessoa. Arrancou-me o livro das mãos e disse que havia muita coisa a fazer na terra, que até os animais da quinta ganham o alimento que comem. Se queria ter vida de princesa não devia ter casado. Senti o sangue gelar, afinal tinha casado com uma cópia do meu pai. Depois desse dia, e seguindo os conselhos de Arlene, deves lembra-te dela, acordava ainda o galo não tinha cantado e preparava o pequeno almoço. Quando o teu pai acordava já eu tinha tratado das galinhas, do cão e esperava por ele para irmos juntos para o campo. Para ter algum tempo para mim comecei a ir á igreja. Sentia uma certa paz quando lá estava o que me levava a ir constantemente á missa. Por estranho que parecesse o teu pai achou que me faria bem ouvir a palavra de Deus. Pouco tempo depois percebi que estava grávida. Temi por aquele bebé. Deus do céu! Aquela criança iria nascer numa casa onde imperava a vontade de um só ser. Onde a liberdade de expressão não existia! - Lana respirou fundo - Não podia consentir tal coisa. Estar prisioneira era uma coisa, outra era aprisionar um filho ainda antes deste nascer. Como o teu pai costumava ir um dia por semana à cidade e só voltava à noite decidi aproveitar a oportunidade. Decidida a colocar um fim naquele casamento preparei tudo mentalmente para a minha fuga mas não correu como eu esperava.
- O pai voltou atrás? - Valerie sentou-se junto à mãe sentindo o coração apertar de tanta dor .
- Não. - Lana olhou a filha com os olhos cheios de lágrimas - Inocentemente procurei a minha mãe mas o meu pai nem me deixou vê-la. Quando ele me viu no portão da entrada expulsou-me do solar dizendo que não tinha filha nenhuma. Apesar de implorar para ver a minha mãe ele não o permitiu. Chorei todo o caminho de volta e deixei a raiva instalar-se em mim. Se não tinham filha, eu não tinha pais. Jurei que a partir daquele dia iria viver para ti, e só para ti. Que aguentaria tudo até tu seres independente e que tudo faria para não viveres o que eu vivi. O primeiro passo a dar seria dar a noticia ao teu pai. E acredita que tinha muito medo da reação dele. Nunca falara em ter filhos. Como iria reagir? Iria ficar feliz? Sei que havia e há mulheres que passam mais do que aquilo que eu passei, nunca me agrediu fisicamente mas o que me dizia, a forma e as pancadas na mesa enquanto falava dava-me pavor. Mas que alternativa tinha? Eu mesma tinha escolhido aquele caminho.
Tentando dar um ar de felicidade que não sentia fiz um jantar especial, coloquei a nossa melhor louça na mesa e esperei pelo teu pai. Enquanto esperava pensei na minha vida e soltei uma gargalhada ao perceber como Deus nos dá lições, nos prepara surpresas. Não amava o teu pai, casei apenas porque queria fugir do meu. E ali estava eu, renegada pelos meus pais e sendo forçada a viver com um homem que não amava porque não tinha mais ninguém. Ainda recordo o olhar dele quando lhe disse que estava grávida. Abraçou-me e chorou como eu nunca tinha visto chorar um homem. Pediu desculpas por tudo o que tinha feito e dito, que apenas agira por ciúmes. Que fizera mal em dar ouvidos á tia quando esta lhe dissera que eu iria embora na primeira oportunidade. Segundo ela eu não iria aguentar aquela vida simples. Eu estava acostumada a um nível de vida elevado e ele só tinha aquela quinta e um negócio que iniciara à pouco e ainda mal lucrava. Tinha medo que sem a vida de luxo que eu estava acostumada o deixasse e ele amava-me tanto que preferia morrer a viver sem mim. Por isso me obrigava a trabalhar, se estivesse cansada não pensaria em fugir. Chorei e jurei que nunca o iria deixar. Afinal ainda havia esperança numa convivência pacífica. Naquele momento percebi porque muitas mulheres suportam maus tratos. Medo e falta de opção! Eu estava nesse patamar. Tinha que me agarrar a qualquer coisa pois não tinha para onde ir nem como me sustentar. Para minha surpresa depois daquele dia tudo mudou. A rapariga que tinha despedido meses atrás voltou a trabalhar na casa e algum tempo depois contratou um rapaz para ajudar na quinta para que ele me pudesse, como ele dizia, "apaparicar" e com o avançar da gravidez nem queria que eu fosse ao pátio sozinha. Quando tu nasceste a felicidade estava espelhada no rosto dele e eu não podia ser mais feliz. Não o amava mas tínhamos uma vida confortável e eu era a dona da casa. Tinha o poder de decidir o que queria fazer. Mas Deus ainda tinha outra surpresa para mim. Um dia estava sentada na varanda enquanto tu brincavas sentada no chão, o teu pai chamou-te e tu soltaste o teu gritinho, aquele gritinho que eu tanto amava sempre que o ouvias, ao mesmo tempo que corrias para ele. Naquele dia um dos cães assustou-se com o teu grito e correu para ti. Não sei como o teu pai conseguiu correr tanto pois eu fiquei petrificada mas a verdade é que conseguiu levantar-te a tempo de evitar que fosses mordida mas não a tempo de evitar que o mordesse a ele. Naquele instante senti que o meu coração se dilacerava. Nunca tinha sentido uma dor assim. E ao ver a dor no rosto do teu pai ao entregar-te nos meus braços, enquanto se dirigia a casa coxeando, percebi que o amava. Hoje posso dizer que fui feliz com o teu pai, não pelo nível de vida que alcançou mas pelo homem que foi. Que o amei com todo o meu ser e sem ele tudo parece frio e vazio.
- Certas conversas requerem uma bebida reconfortante.
- Desculpa. Não sei o que me deu. - E era verdade, não sabia. As palavras simplesmente saíram. - Eu não te pretendia forçar a falar em certos assuntos. Assuntos que sempre evitaste.
- Algum dia teria que ser. - Lana estendeu uma chávena á filha e ficou a olhar a dela por uns segundos antes de começar a falar - Desde que me lembro de ser gente nunca ouvi um não da parte dos teus avós, sempre e quando fizesse o que o teu avô queria. - Lana encolheu os ombros - Um homem à antiga! Era um homem com um coração enorme mas tinha muitos ciúmes da tua avó. O que levou a controlar cada passo que ela dava e trabalhar em casa significava controlar a tua avó vinte e quatro horas por dia. A tua avó nunca falava no assunto mas ao ficar mais velha ia ouvindo as conversas de alguns criados. Os homens diziam que dado a diferença de idades eram ciúmes justificados, que a tua avó ser uma mulher muito bonita não facilitava a confiança. Mas não havia motivos para ciúmes nem para aquelas conversas. Apesar da diferença de idades a minha mãe estava profundamente apaixonada e nunca olhou para outro homem. Como tal não se importava de fazer apenas o que ele queria. Raramente saía daqui e quando o fazia era com ele. As pessoas da vila diziam que era uma princesa presa na sua bela torre de marfim. A maioria da mulheres talvez fugisse na primeira oportunidade mas a tua avó era feliz assim. Muitas das terras em redor do solar pertenciam à família o que dava um amplo espaço de lazer. Atualmente temos apenas alguns terrenos e um velho moinho que o teu avó deixou à disposição da sociedade histórica enquanto esta assim entender.
- Um moinho?! - Valerie olhou a mãe esperando alguma reação mas esta permaneceu olhando a chávena.
- Sim. Fica lá no meio da mata, que por sinal também é da família.- Lana serviu mais chá - Como estava a dizer, quando a minha mãe ficou grávida, o meu pai já tinha vendido alguns terrenos, oferecido o castelo à freguesia e as casas onde residiam alguns dos empregados do solar foram oferecidas aos mesmos. Como podes imaginar, dado a generosidade dele, as pessoas da aldeia olhavam para ele como um benfeitor. E as poucas que achavam estranho a atitude dele para com a minha mãe o que poderiam fazer se ela era feliz assim?! Qualquer pessoa que os visse juntos percebia que se amavam. Eu cresci assim, numa espécie de gaiola dourada. Lembro-me de passear com ela pela mata com Maria e irmos à vila ver as peças de teatro que a sociedade preparava por ocasiões especiais mas apesar de ter tudo o que o dinheiro possa comprar sempre me senti presa. Por isso quando conheci o teu pai e surgiu a oportunidade de sair daqui não hesitei. O teu pai era atencioso, generoso e olhava para mim de um jeito que uma forma tão linda. Era como se não existisse mais ninguém no mundo. Por isso não foi preciso insistir para fugir com ele, não queria a minha vida controlada pelo meu pai. Casámos na igreja da vila onde o teu pai vivia e fomos viver para a quinta. Os primeiros dias foi tudo como um sonho, o teu pai levava o pequeno almoço à cama, trazia flores constantemente e conversávamos imenso durante a noite mas um dia, após uma das visitas dele á única tia que tinha, voltou diferente e no dia seguinte despediu a rapariga que trabalhava lá em casa e começou a tratar-me de modo diferente. As atenções foram trocadas por ordens e imposições. Nesse dia o sonho desvaneceu. Como deves compreender não foi fácil, nunca tinha trabalhado na minha vida. Havia dias em que as minhas mãos sangravam de tanto trabalhar, além da lida da casa ainda tinha que ajudar na terra. Um dia estava tão cansada que não fui ajudar na lavoura. Decidi tirar um dia para mim. Também merecia descansar! Mas o teu pai não achou e quando entrou em casa e me viu sentada com um livro na mão parecia outra pessoa. Arrancou-me o livro das mãos e disse que havia muita coisa a fazer na terra, que até os animais da quinta ganham o alimento que comem. Se queria ter vida de princesa não devia ter casado. Senti o sangue gelar, afinal tinha casado com uma cópia do meu pai. Depois desse dia, e seguindo os conselhos de Arlene, deves lembra-te dela, acordava ainda o galo não tinha cantado e preparava o pequeno almoço. Quando o teu pai acordava já eu tinha tratado das galinhas, do cão e esperava por ele para irmos juntos para o campo. Para ter algum tempo para mim comecei a ir á igreja. Sentia uma certa paz quando lá estava o que me levava a ir constantemente á missa. Por estranho que parecesse o teu pai achou que me faria bem ouvir a palavra de Deus. Pouco tempo depois percebi que estava grávida. Temi por aquele bebé. Deus do céu! Aquela criança iria nascer numa casa onde imperava a vontade de um só ser. Onde a liberdade de expressão não existia! - Lana respirou fundo - Não podia consentir tal coisa. Estar prisioneira era uma coisa, outra era aprisionar um filho ainda antes deste nascer. Como o teu pai costumava ir um dia por semana à cidade e só voltava à noite decidi aproveitar a oportunidade. Decidida a colocar um fim naquele casamento preparei tudo mentalmente para a minha fuga mas não correu como eu esperava.
- O pai voltou atrás? - Valerie sentou-se junto à mãe sentindo o coração apertar de tanta dor .
- Não. - Lana olhou a filha com os olhos cheios de lágrimas - Inocentemente procurei a minha mãe mas o meu pai nem me deixou vê-la. Quando ele me viu no portão da entrada expulsou-me do solar dizendo que não tinha filha nenhuma. Apesar de implorar para ver a minha mãe ele não o permitiu. Chorei todo o caminho de volta e deixei a raiva instalar-se em mim. Se não tinham filha, eu não tinha pais. Jurei que a partir daquele dia iria viver para ti, e só para ti. Que aguentaria tudo até tu seres independente e que tudo faria para não viveres o que eu vivi. O primeiro passo a dar seria dar a noticia ao teu pai. E acredita que tinha muito medo da reação dele. Nunca falara em ter filhos. Como iria reagir? Iria ficar feliz? Sei que havia e há mulheres que passam mais do que aquilo que eu passei, nunca me agrediu fisicamente mas o que me dizia, a forma e as pancadas na mesa enquanto falava dava-me pavor. Mas que alternativa tinha? Eu mesma tinha escolhido aquele caminho.
Tentando dar um ar de felicidade que não sentia fiz um jantar especial, coloquei a nossa melhor louça na mesa e esperei pelo teu pai. Enquanto esperava pensei na minha vida e soltei uma gargalhada ao perceber como Deus nos dá lições, nos prepara surpresas. Não amava o teu pai, casei apenas porque queria fugir do meu. E ali estava eu, renegada pelos meus pais e sendo forçada a viver com um homem que não amava porque não tinha mais ninguém. Ainda recordo o olhar dele quando lhe disse que estava grávida. Abraçou-me e chorou como eu nunca tinha visto chorar um homem. Pediu desculpas por tudo o que tinha feito e dito, que apenas agira por ciúmes. Que fizera mal em dar ouvidos á tia quando esta lhe dissera que eu iria embora na primeira oportunidade. Segundo ela eu não iria aguentar aquela vida simples. Eu estava acostumada a um nível de vida elevado e ele só tinha aquela quinta e um negócio que iniciara à pouco e ainda mal lucrava. Tinha medo que sem a vida de luxo que eu estava acostumada o deixasse e ele amava-me tanto que preferia morrer a viver sem mim. Por isso me obrigava a trabalhar, se estivesse cansada não pensaria em fugir. Chorei e jurei que nunca o iria deixar. Afinal ainda havia esperança numa convivência pacífica. Naquele momento percebi porque muitas mulheres suportam maus tratos. Medo e falta de opção! Eu estava nesse patamar. Tinha que me agarrar a qualquer coisa pois não tinha para onde ir nem como me sustentar. Para minha surpresa depois daquele dia tudo mudou. A rapariga que tinha despedido meses atrás voltou a trabalhar na casa e algum tempo depois contratou um rapaz para ajudar na quinta para que ele me pudesse, como ele dizia, "apaparicar" e com o avançar da gravidez nem queria que eu fosse ao pátio sozinha. Quando tu nasceste a felicidade estava espelhada no rosto dele e eu não podia ser mais feliz. Não o amava mas tínhamos uma vida confortável e eu era a dona da casa. Tinha o poder de decidir o que queria fazer. Mas Deus ainda tinha outra surpresa para mim. Um dia estava sentada na varanda enquanto tu brincavas sentada no chão, o teu pai chamou-te e tu soltaste o teu gritinho, aquele gritinho que eu tanto amava sempre que o ouvias, ao mesmo tempo que corrias para ele. Naquele dia um dos cães assustou-se com o teu grito e correu para ti. Não sei como o teu pai conseguiu correr tanto pois eu fiquei petrificada mas a verdade é que conseguiu levantar-te a tempo de evitar que fosses mordida mas não a tempo de evitar que o mordesse a ele. Naquele instante senti que o meu coração se dilacerava. Nunca tinha sentido uma dor assim. E ao ver a dor no rosto do teu pai ao entregar-te nos meus braços, enquanto se dirigia a casa coxeando, percebi que o amava. Hoje posso dizer que fui feliz com o teu pai, não pelo nível de vida que alcançou mas pelo homem que foi. Que o amei com todo o meu ser e sem ele tudo parece frio e vazio.
Lana calou-se olhando a chávena cujo chá tinha arrefecido sem que ela lhe tocasse e as lágrimas fluíam aumentando a quantidade de líquido que a mesma continha.
- O pai sabia?
- O quê?
- Que quando casaram não o amavas.
- Se sabia nunca o disse. O importante é que depois de um período muito conturbado fomos felizes.
- Daí insistires num neto.
- Não sou tonta. Posso ver que algo se passa. - Lana agarrou o rosto molhado da filha -Quando Steven está transpiras irritabilidade, inquietação. Por isso pergunto novamente. És feliz?
- O quê?
- Que quando casaram não o amavas.
- Se sabia nunca o disse. O importante é que depois de um período muito conturbado fomos felizes.
- Daí insistires num neto.
- Não sou tonta. Posso ver que algo se passa. - Lana agarrou o rosto molhado da filha -Quando Steven está transpiras irritabilidade, inquietação. Por isso pergunto novamente. És feliz?
- Não.
Valerie, apesar de ocultar algumas partes da sua convivência com Steven, contou como a sua vida era triste. De como ele a controlava, a intimidava e via maldade em tudo o que ela fazia. Embora nos últimos meses andassem melhor ela temia sempre que um dia o velho Steven regressasse. Mas de uma coisa ela tinha a certeza. Não amava Steven e acreditava que um filho não iria mudar isso.
Lana não disse nada, apenas segurava a mão da filha, enquanto esta chorava. Valerie levantou-se e sorriu tristemente enquanto olhava a figura da mãe sentada no sofá.
- Como podes ver ambas seguimos os mesmos passos. - Tentando aliviar a tensão disse a primeira coisa que lhe veio á cabeça - É como uma maldição familiar.
- Deus do céu! Acreditas nisso?
- Claro que não. Estava a brincar.
- Com essas coisas não se brinca. - Lana olhou a filha e as lágrimas voltaram a inundar o seu olhar - Oh meu Deus! Foi tudo culpa minha. Queria que tivesses uma vida desafogada, que fosses feliz e acabei por te empurrar para um casamento infeliz.
- A culpa não é tua. Podia ter dito que não. - Valerie olhou a mãe e tomou consciência que assim era. Podia ter dito que não queria mas a vontade de agradar ao pai foi maior que tudo o resto - Agora não importa. Mesmo sem filhos estamos a começar a nos entender. Acredito que, assim como tu, eu também irei amar Steven.
- Acreditas realmente nisso?
- Claro que sim. - Valerie voltou para junto da mãe - Está a parar de chover. E se fossemos ver a gatinha?
- Trash. Ela tem nome.
- Muito bem, vamos ver Trash.
Nessa noite Valerie mal dormiu. Agora percebia porque a mãe se mantivera afastada do solar e da sua família. Porque o seu olhar ficara triste ao perceber que Trash estava prestes a ter crias. Sentia-se na obrigação de abrigar aquele ser que estava assustada e só no mundo. Revelar a sua vida deixara-a mais leve psicologicamente. Talvez ela também encontrasse a felicidade junto do marido. Por algum motivo a vida deles tinha mudado. Ele tratava-a com mais amabilidade e talvez os problemas da empresa viessem resolver os problemas entre eles.
Desceu sem fazer barulho e deixou um bilhete junto á máquina do café avisando que tinha dado o pequeno almoço a Trash e que ia passear. Não tinha combinado encontrar-se com Erick mas precisava pensar em tudo o que tinham falado.
A manhã, apesar de fria prometia ser solarenga. Talvez o sol lhes desse o prazer da sua companhia e isso fizesse Trash sair do esconderijo. Tinha curiosidade em ver de que raça era.
Embrenhou-se na mata enquanto pensava que talvez Steven a deixasse trabalhar quando voltassem para casa. Ou lhe permitisse retomar o curso que iniciara quando se casaram e depois abandonara.
Caminhou sem rumo pensando no que faria quando regressasse a casa. Pensar em regressar causou-lhe um arrepio. O regresso implicava nunca mais ver Erick e por alguma razão isso incomodava-a e causava-lhe uma tristeza enorme. Limpou uma lágrima e tomou a caminho do solar. Não queria pensar em Erick nem em coisas que a entristecessem. Mas era mais fácil pensar que fazer.
Durante o dia manteve o semblante sombrio e nem o facto da mãe lhe mostrar os álbuns, que tanta curiosidade lhe causaram quando chegou, lhe deu mais ânimo.
- Talvez seja melhor deixar isto para outro dia. - Lana fechou o álbum - Pareces um pouco alheia.
- Desculpa. Estava a pensar em Steven - Valerie evitou olhar a mãe, não queria que ela visse que estava a mentir. Naquele momento só conseguia pensar em Erick e no facto de nunca mais o ver. - Nele e no regresso a casa.
- Ele disse quando ia voltar?
- Assim que pudesse. Surgiu um problema.
- Desculpa por perguntar isto mas ontem disseste ele estava diferente. Em que sentido?
- Porque perguntas?
- Sabes, ontem quando me deitei pensei muito na nossa conversa. Se pudesse voltar atrás voltava mas infelizmente não é possível. Nunca te teria convencido a casar nem teria dito as coisas que te disse. Agora percebo que na minha ânsia de querer o que eu achava melhor para ti me esqueci que o tu querias era o mais importante.
- Isso agora não importa.
- Importa sim. Privei-te da tua juventude, das loucuras que uma jovem faz. - Lana passou a mão nas calças de veludo - Pensar naqueles dias levou-me a recordar uma conversa que tive com Arlene. Só há duas coisas que faz um homem mudar. Dinheiro e outra mulher.
- Com os ciúmes que Steven têm não me parece que seja outra mulher. Tenho é quase a certeza que são problemas na empresa. Agora resta saber de que gênero.
- Talvez tenhas razão. Ele sempre foi grande apreciador da boa vida.
- Por isso acho que o problema é dinheiro. Imaginas ter que deixar os restaurantes luxuosos e os fatos feitos por medida? Seria desastroso para o seu ego.
Nesse momento tocou o telemóvel, sorriu sem jeito quando viu o número do marido.
Valerie, apesar de ocultar algumas partes da sua convivência com Steven, contou como a sua vida era triste. De como ele a controlava, a intimidava e via maldade em tudo o que ela fazia. Embora nos últimos meses andassem melhor ela temia sempre que um dia o velho Steven regressasse. Mas de uma coisa ela tinha a certeza. Não amava Steven e acreditava que um filho não iria mudar isso.
Lana não disse nada, apenas segurava a mão da filha, enquanto esta chorava. Valerie levantou-se e sorriu tristemente enquanto olhava a figura da mãe sentada no sofá.
- Como podes ver ambas seguimos os mesmos passos. - Tentando aliviar a tensão disse a primeira coisa que lhe veio á cabeça - É como uma maldição familiar.
- Deus do céu! Acreditas nisso?
- Claro que não. Estava a brincar.
- Com essas coisas não se brinca. - Lana olhou a filha e as lágrimas voltaram a inundar o seu olhar - Oh meu Deus! Foi tudo culpa minha. Queria que tivesses uma vida desafogada, que fosses feliz e acabei por te empurrar para um casamento infeliz.
- A culpa não é tua. Podia ter dito que não. - Valerie olhou a mãe e tomou consciência que assim era. Podia ter dito que não queria mas a vontade de agradar ao pai foi maior que tudo o resto - Agora não importa. Mesmo sem filhos estamos a começar a nos entender. Acredito que, assim como tu, eu também irei amar Steven.
- Acreditas realmente nisso?
- Claro que sim. - Valerie voltou para junto da mãe - Está a parar de chover. E se fossemos ver a gatinha?
- Trash. Ela tem nome.
- Muito bem, vamos ver Trash.
Nessa noite Valerie mal dormiu. Agora percebia porque a mãe se mantivera afastada do solar e da sua família. Porque o seu olhar ficara triste ao perceber que Trash estava prestes a ter crias. Sentia-se na obrigação de abrigar aquele ser que estava assustada e só no mundo. Revelar a sua vida deixara-a mais leve psicologicamente. Talvez ela também encontrasse a felicidade junto do marido. Por algum motivo a vida deles tinha mudado. Ele tratava-a com mais amabilidade e talvez os problemas da empresa viessem resolver os problemas entre eles.
Desceu sem fazer barulho e deixou um bilhete junto á máquina do café avisando que tinha dado o pequeno almoço a Trash e que ia passear. Não tinha combinado encontrar-se com Erick mas precisava pensar em tudo o que tinham falado.
A manhã, apesar de fria prometia ser solarenga. Talvez o sol lhes desse o prazer da sua companhia e isso fizesse Trash sair do esconderijo. Tinha curiosidade em ver de que raça era.
Embrenhou-se na mata enquanto pensava que talvez Steven a deixasse trabalhar quando voltassem para casa. Ou lhe permitisse retomar o curso que iniciara quando se casaram e depois abandonara.
Caminhou sem rumo pensando no que faria quando regressasse a casa. Pensar em regressar causou-lhe um arrepio. O regresso implicava nunca mais ver Erick e por alguma razão isso incomodava-a e causava-lhe uma tristeza enorme. Limpou uma lágrima e tomou a caminho do solar. Não queria pensar em Erick nem em coisas que a entristecessem. Mas era mais fácil pensar que fazer.
Durante o dia manteve o semblante sombrio e nem o facto da mãe lhe mostrar os álbuns, que tanta curiosidade lhe causaram quando chegou, lhe deu mais ânimo.
- Talvez seja melhor deixar isto para outro dia. - Lana fechou o álbum - Pareces um pouco alheia.
- Desculpa. Estava a pensar em Steven - Valerie evitou olhar a mãe, não queria que ela visse que estava a mentir. Naquele momento só conseguia pensar em Erick e no facto de nunca mais o ver. - Nele e no regresso a casa.
- Ele disse quando ia voltar?
- Assim que pudesse. Surgiu um problema.
- Desculpa por perguntar isto mas ontem disseste ele estava diferente. Em que sentido?
- Porque perguntas?
- Sabes, ontem quando me deitei pensei muito na nossa conversa. Se pudesse voltar atrás voltava mas infelizmente não é possível. Nunca te teria convencido a casar nem teria dito as coisas que te disse. Agora percebo que na minha ânsia de querer o que eu achava melhor para ti me esqueci que o tu querias era o mais importante.
- Isso agora não importa.
- Importa sim. Privei-te da tua juventude, das loucuras que uma jovem faz. - Lana passou a mão nas calças de veludo - Pensar naqueles dias levou-me a recordar uma conversa que tive com Arlene. Só há duas coisas que faz um homem mudar. Dinheiro e outra mulher.
- Com os ciúmes que Steven têm não me parece que seja outra mulher. Tenho é quase a certeza que são problemas na empresa. Agora resta saber de que gênero.
- Talvez tenhas razão. Ele sempre foi grande apreciador da boa vida.
- Por isso acho que o problema é dinheiro. Imaginas ter que deixar os restaurantes luxuosos e os fatos feitos por medida? Seria desastroso para o seu ego.
Nesse momento tocou o telemóvel, sorriu sem jeito quando viu o número do marido.
- Nem a propósito. - Valerie olhou lá para fora pensando que ele estivesse ao portão - Sim?
- Está tudo bem?
- Sim. E por aí?
- Parece que o pior já passou.
- Ainda bem. Estás a caminho?
- Não. Mas saio amanhã bem cedo. Por isso arruma as tuas coisas que tenho que regressar no mesmo dia.
- Se tens que...
- Não! Estou aí amanhã bem cedo.
- Claro.
Valerie sentiu o coração disparar. Parecia que o velho Steven estava de regresso. Olhou a mãe e pareceu-lhe tão frágil que forçou-se a sorrir.
- Steven chega amanhã.
- Quantos dias fica?
- Nenhum.
- Graças a Deus!
- Mas eu vou com ele.
- Como?!
- Está aqui bem cedo para irmos para casa.
Pensando no regresso a casa e no facto de Steven parecer o mesmo de outros tempos não conseguia estar em casa. Parecia que esta a sufocava. Pensar que nunca mais iria passear pela mata deixava-a deprimida. Sem pensar duas vezes dirigiu-se à mata. Não queria saber que a noite estava quase a chegar nem que os trovões se ouvissem ao longe ameaçando uma noite chuvosa. Precisava sentir-se livre uma vez mais antes de se ir enclausurar na masmorra que era a sua casa. Pois o tom de voz de Steven isso prometia. Sentindo o corpo tremer sentou-se no banco em frente à casa do lago. Se tivesse coragem poderia deixar Steven. Podia viver no solar com a sua mãe ou alugar uma casinha na vila. Se ele lhe tivesse permitido trabalhar era financeiramente independente e podia viajar, conhecer novas pessoas ao invés de estar ali dependente dele para tudo. Até para comprar um simples par de meias. Podia pedir ajuda à sua mãe. Parecia mais compreensiva mas não lhe contara tudo. Deveria tê-lo feito? Teria feito mal em querer poupá-la das situações mais dolorosas? Mas a sua mãe já se sentia mal sem saber tudo o que Steven a fizera passar, e certamente iria repetir brevemente, se soubesse então iria martirizar-se. E ela não iria conseguir viver com o facto de lhe provocar tamanha dor. Naquele momento começou a chorar compulsivamente e no mesmo instante umas gotas caíram na sua cabeça. Olhou o céu e fechou os olhos deixando as lágrimas misturarem-se com as gotas de chuva. Naquele instante sentiu uma mão no seu ombro e deu um salto enquanto o seu coração batia apressado.
- Está tudo bem?
- Sim. E por aí?
- Parece que o pior já passou.
- Ainda bem. Estás a caminho?
- Não. Mas saio amanhã bem cedo. Por isso arruma as tuas coisas que tenho que regressar no mesmo dia.
- Se tens que...
- Não! Estou aí amanhã bem cedo.
- Claro.
Valerie sentiu o coração disparar. Parecia que o velho Steven estava de regresso. Olhou a mãe e pareceu-lhe tão frágil que forçou-se a sorrir.
- Steven chega amanhã.
- Quantos dias fica?
- Nenhum.
- Graças a Deus!
- Mas eu vou com ele.
- Como?!
- Está aqui bem cedo para irmos para casa.
Pensando no regresso a casa e no facto de Steven parecer o mesmo de outros tempos não conseguia estar em casa. Parecia que esta a sufocava. Pensar que nunca mais iria passear pela mata deixava-a deprimida. Sem pensar duas vezes dirigiu-se à mata. Não queria saber que a noite estava quase a chegar nem que os trovões se ouvissem ao longe ameaçando uma noite chuvosa. Precisava sentir-se livre uma vez mais antes de se ir enclausurar na masmorra que era a sua casa. Pois o tom de voz de Steven isso prometia. Sentindo o corpo tremer sentou-se no banco em frente à casa do lago. Se tivesse coragem poderia deixar Steven. Podia viver no solar com a sua mãe ou alugar uma casinha na vila. Se ele lhe tivesse permitido trabalhar era financeiramente independente e podia viajar, conhecer novas pessoas ao invés de estar ali dependente dele para tudo. Até para comprar um simples par de meias. Podia pedir ajuda à sua mãe. Parecia mais compreensiva mas não lhe contara tudo. Deveria tê-lo feito? Teria feito mal em querer poupá-la das situações mais dolorosas? Mas a sua mãe já se sentia mal sem saber tudo o que Steven a fizera passar, e certamente iria repetir brevemente, se soubesse então iria martirizar-se. E ela não iria conseguir viver com o facto de lhe provocar tamanha dor. Naquele momento começou a chorar compulsivamente e no mesmo instante umas gotas caíram na sua cabeça. Olhou o céu e fechou os olhos deixando as lágrimas misturarem-se com as gotas de chuva. Naquele instante sentiu uma mão no seu ombro e deu um salto enquanto o seu coração batia apressado.
- Esta tua obsessão pela chuva vai arranjar-te problemas.
- Erick! - Valerie abraçou-o sem conseguir conter a alegria de o ver - Pensei que nunca mais te iria ver.
- Está tudo bem? - Erick afastou-se ligeiramente e olhou-a fixamente - Deus do céu! Que aconteceu?
- Volto para casa amanhã.
Nesse instante a chuva aumentou de intensidade e Valerie não hesitou em segurar a mão dele enquanto caminhava em direção à casa do lago. Não podia regressar a casa assim sem mais. Queria falar com ele uma última vez. Fingir que era uma mulher normal a conversar com um amigo.
Entraram em casa a correr e apesar de fecharem a porta o frio entrava pelas janelas partidas. O cabelo de Valerie tinha ficado colado ao seu rosto pela chuva, ia retirá-lo mas Erick foi mais rápido e ao sentir o toque dele fechou os olhos. Era um toque tão suave, tão reconfortante. Sentiu como os dedos dele roçavam a sua pele até chegarem à sua orelha onde deixaram o cabelo. Valerie sentiu uma rebeldia invadir o seu interior e colou o seu corpo ao dele levantando o rosto na direção do dele. Por instantes pensou que ele a fosse afastar mas só teve tempo da ideia se formar na sua mente antes de ele a beijar. Primeiro com alguma reserva mas depois o beijo aumentou de intensidade e ela sentiu que o mundo girava num carrossel de mil e uma cor. Um formigueiro estranho começou a nascer no seu íntimo seguido de um calor que parecia queimar todo o seu ser. Quando ele deixou de beijar os seus lábios e começou a percorrer o seu pescoço um gemido involuntário saiu da sua boca.
Nesse instante Erick afastou-se e parecia tão surpreendido como ela. Quando ela ia abrir a boca ele fez sinal para se calar. No lado de fora uma luz trémula via-se não muito longe dali. Parecia-lhe ser na estrada que levava ao solar.
- Menina Brow! - A voz de Tim chegou até eles entre um trovão e outro - Menina! Menina Dow!
- É melhor ires.
- Sim.
- Erick! - Valerie abraçou-o sem conseguir conter a alegria de o ver - Pensei que nunca mais te iria ver.
- Está tudo bem? - Erick afastou-se ligeiramente e olhou-a fixamente - Deus do céu! Que aconteceu?
- Volto para casa amanhã.
Nesse instante a chuva aumentou de intensidade e Valerie não hesitou em segurar a mão dele enquanto caminhava em direção à casa do lago. Não podia regressar a casa assim sem mais. Queria falar com ele uma última vez. Fingir que era uma mulher normal a conversar com um amigo.
Entraram em casa a correr e apesar de fecharem a porta o frio entrava pelas janelas partidas. O cabelo de Valerie tinha ficado colado ao seu rosto pela chuva, ia retirá-lo mas Erick foi mais rápido e ao sentir o toque dele fechou os olhos. Era um toque tão suave, tão reconfortante. Sentiu como os dedos dele roçavam a sua pele até chegarem à sua orelha onde deixaram o cabelo. Valerie sentiu uma rebeldia invadir o seu interior e colou o seu corpo ao dele levantando o rosto na direção do dele. Por instantes pensou que ele a fosse afastar mas só teve tempo da ideia se formar na sua mente antes de ele a beijar. Primeiro com alguma reserva mas depois o beijo aumentou de intensidade e ela sentiu que o mundo girava num carrossel de mil e uma cor. Um formigueiro estranho começou a nascer no seu íntimo seguido de um calor que parecia queimar todo o seu ser. Quando ele deixou de beijar os seus lábios e começou a percorrer o seu pescoço um gemido involuntário saiu da sua boca.
Nesse instante Erick afastou-se e parecia tão surpreendido como ela. Quando ela ia abrir a boca ele fez sinal para se calar. No lado de fora uma luz trémula via-se não muito longe dali. Parecia-lhe ser na estrada que levava ao solar.
- Menina Brow! - A voz de Tim chegou até eles entre um trovão e outro - Menina! Menina Dow!
- É melhor ires.
- Sim.
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