quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Justiça Poetica

        O corpo descia lentamente á terra. Ela estava absorta nos seus pensamentos, só o seu corpo estava ali, tinha mil e uma coisa a fazer ao terminar o serviço fúnebre. O filho estava á sua frente e assim como ela parecia indiferente a tudo.
     As pessoas davam os pêsames, eles agradeciam e ouvia-os murmurar ao afastarem-se: coitados estão em choque, quando se aperceberem da dura realidade é que sentem a falta dele. A falta dele,sentiriam falta dele? Terminado o serviço regressaram a casa em silencio.
     Nem sabiam o que falar. Assim foi durante muitos anos.é difícil perder velhos hábitos. Chegados a casa em silêncio fizeram um chá e sentaram-se na cozinha, sempre olhando o chão. E agora? Tudo terminara, a vida tem coisas engraçadas, bem seu falecido marido não acharia piada alguma.
       Mentalmente reviu a cena passada á 2 dias nessa mesma cozinha. Seu marido chegava a casa, como sempre exigia silêncio, não podia ouvir-se o mínimo barulho nem sequer uma mosca! Ela não o ouvira chegar e estava na sala, pediu desculpa desligou a tv e apanhando a caixa da costura dirigiu-se à cozinha, pensando livrar-se assim de mais uma tareia. As ultimas marcas ainda eram recentes, apesar de ocultar o seu filho sabia e não compreendia porque a mãe aturava tal coisa. Mas estava enganada ele veio atrás gritando que não tinha nada que estar a ver tv, que uma mulher de respeito não vê porcarias, tem mesmo é de cuidar do marido que a sustenta e da casa.
  Ela abriu a boca, queria dizer que estava na sala pois acabara de lavar o chão da cozinha, mas ele não deixou sequer sair uma silaba. Levantou a mão para lhe bater como tantas vezes, mas por ironia do destino escorregou e caiu batendo com a cabeça na bancada da cozinha. Ela ficou um pouco olhando para ele esperando que se levantasse e disse-se que a culpa era dela. Mas ele não se mexeu, ela chamou a ambulância que não tardou a chegar mas já nada podiam fazer partira o pescoço ao bater. Suspirou fundo, olhou o filho que a contemplava sorriu e disse: Afinal vaso ruim também quebra.

2 comentários:

  1. histórias como estas há muitas só não tem o mesmo final "feliz"!

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    1. Infelizmente há imensas, mas como bem disse, esta é uma historia. As estatísticas bem mostram que geralmente não há finais felizes.

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