quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

DE VOLTA AO PASSADO 13º PARTE





A noite parecia uma eternidade, Leonor não conseguia dormir estava nervosa demais. Ainda não acreditava que Rui se tinha metido nesta coisa do tráfico! Era perigoso demais! E preferia que tivessem conversado como duas pessoas civilizadas, ao invés destes jogos que ela não sabia jogar e dos quais desconhecia as regras!  Se ele não a tivesse tentado matar ela nunca aceitaria o esquema do inspector. Custava-lhe fazer aquilo, não concordava com o que ele fazia e sabia que este tipo de gente mais tarde ou mais cedo acaba por pagar. Um dia querem sair e depois são obrigados a continuarem, pois ou acabam no fundo do rio ou ameaçam-lhes as famílias! E era isso que a fazia ter coragem para ir em frente. Pensar que a sua filha poderia estar em perigo algum dia por causa disto...
Tinha de deixar esses pensamentos de lado,  precisava de ter coragem e seguir em frente.

- Tens de dormir. -Afonso também não conseguia dormir, mas permaneceu calado na esperança que ela acabasse por dormir.
- Não consigo. Vou fazer um chá, queres?
- Pode ser.

Adormeceram no sofá embalados pelo som da televisão. Dormiram apenas umas horas. Olhavam o relógio, que parecia ter feito greve e se mexia lentamente.
Afonso saiu primeiro como combinado seguido dum agente. Não tardaria a ser a hora dela...
Precisava de falar com a filha, e se as coisas corressem mal?! Pegou no telemóvel, marcou o número mas desligou assim que tocou... não podia alarmá-la. Deixaria mensagem.

- Olá filha, como estás? -começou mal a maquina deu o bip- Estou cheia de saudades. Ter encontrado o teu pai deixou-me lamechas- tentou sorrir- O tio disse que vinham até cá. Mas olha, se calhar vamos nós aí. Que dizes? Bem, tenho de ir, logo falamos. Adoro-te, nunca te esqueças. - desligou, as lágrimas  turvavam-lhe a vista. Esperava que não se notasse na gravação.
Lavou a cara e vestiu o casaco. Tinha de se controlar, estava na hora! Saiu seguida pelo " vizinho", e separaram-se na entrada do centro comercial. Entraram na pastelaria por lados opostos e Leonor sentou-se na mesa do centro, como tinham combinado. Afonso conversava com o agente numa mesa ao fundo, o "vizinho" sentou-se ao balcão, pediu um café e um bolo. Como é que conseguem comer numa altura destas?! Ela estava nervosa demais para pensar em comer! Pediu um chá à rapariga. Olhou para fora da pastelaria tentando perceber se Rui tinha algum "amigo" por ali. Mas duvidava que o reconhece-se se assim fosse, a não ser que fosse igual aos da outra noite. Estremeceu só de pensar nisso.

- Vieste cedo. - Rui entrara pela porta lateral, nem se deu pela sua chegada. Ele tentou dar-lhe um beijo na face, beijo que ela evitou - Nem pelas aparências?
- Duvido que as pessoas estejam interessadas nisso.
- Tinha esperança que pudéssemos tomar um café antes dos "negócios"
- Acho melhor despachar isto.
- Sempre apressada.- bebericou o café como se soubesse que a estava a enervar- Como está a Maria? Não atende os meus telefonemas...
- Nem os teus, nem os de ninguém, está em viagem de estudo.
- Ah! Pensei que ...esquece! Vamos lá a despachar isto.Tens aqui os papéis, como podes ver só falta tu assinares. - estendeu um envelope castanho a Leonor que confirmou que ele estava a falar a verdade. Se calhar tinha pensado o pior a respeito dele- E aqui está o dinheiro.- colocou uma sacola junto à cadeira dela.- Não vais confirmar se está todo?
- Penso que posso confiar em ti,ou não?
- Claro!  Bem, sendo assim estamos conversados, não?- levantou-se, Leonor viu pelo canto do olho que o agente que estava com Afonso se preparava para agir e o "vizinho" já pegara no casaco, sinal que lhe iriam deitar a mão. Estava na hora dela sair.  - O chá ofereço eu- disse ele ficando nas suas costas. Leonor abriu a boca para lhe agradecer mas ele sussurrou-lhe ao ouvido- Insisto em pagar o teu último chá!

Nesse mesmo instante agarrou-a por um braço e encostou-se a ela. Aí ela sentiu uma coisa dura nas suas costas, não via, mas sabia ser uma arma, obrigou-a a levantar-se. Ficou sem pinga de sangue. Olhou em redor sem saber que fazer, viu o agente agarrar o braço de Afonso que se preparava para se levantar, obrigando-o a sentar-se. Ainda teve tempo de ver o medo espelhado no rosto dele antes de ser obrigada a sair da pastelaria.

- Vamos já, fica aqui o dinheiro. -disse para a empregada e sorriu- Agora, vamos sair devagarinho, sem alaridos. Percebeste? -deu-lhe um aperto no braço- Fiz-te uma pergunta!
- Sim, sim! -estava aterrorizada.- Como podes...
- O quê? Apontar-te uma arma? Ou fazer de tudo para te castigar pela humilhação?
- Nunca pensei.
- Claro que não! Tu não pensas. E agora calada.

Estavam a chegar à entrada, e algumas pessoas começavam a chegar ao centro comercial.
 Leonor olhava a ver se via algum agente ou o inspector mas nada! Que seria dela? Rui obrigou-a a dirigir-se para o parque subterrâneo do centro comercial, o coração batia descompassadamente, estava a chegar o seu fim! Não chegaria a ver a filha com o pai, Deus dera-lhe uma segunda oportunidade com Afonso mas não a podia aproveitar. Sem se conseguir controlar começou a chorar, o que irritou Rui.

- Merda! Pára de chorar. Não quero que te vejam assim! -mas ela não conseguia parar  - Bolas! - puxou-a para o fundo do estacionamento de modo a ficar detrás de uns pilares. - Queria livrar-me de ti junto ao cais, o teu adorado cais, pensei em dar-te o prazer de te despedires dele, mas tu obrigas-me a terminar aqui. Não suporto mulheres choronas! Dás-me cabo dos nervos! Cala-te! Não te digo outra vez! -e voltou a dar-lhe um safanão- Tinha tudo bem estudado, mas não! Vocês mulheres gostam de acabar com os planos que um homem faz!
- Por favor Rui...
- Por favor?! Agora pedes por favor?! Só pensaste em ti em ninguém mais! E eu?! Ah?! Como fico eu no meio disto tudo?! Agora tenho de arranjar outra mulher, o que vai a ser uma trabalheira dos diabos. Já não sou novo e não posso mexer no dinheiro. Terei de apelar ao vosso instinto maternal e fazer com que tenham pena de mim. Um pobre viúvo que se viu privado da sua linda mulher! - Atirou o casaco para dentro dum carro, Leonor percebeu que estavam junto ao carro dele- Uma trabalheira é o que é! Pára de chorar merda! Até me dá arrepios em pensar que tenho de arranjar outra. Espero que seja mais submissa! Pára, já disse! - gritou enquanto abanava a arma na sua frente- Bem, foi um gosto estar casado contigo. Até nunca mais!

Leonor fechou os olhos quando ele lhe colocou a arma mesmo em frente aos olhos. Ouviu um tiro e o corpo de Rui tombou sobre o seu. A sua roupa começou a ficar manchada de sangue. Gritou!  Quando deu por si estava rodeada pelos agentes que se apressaram a retirar o corpo sem vida de Rui de cima dela e pelo inspector que a abraçou tentando consola-la enquanto ela chorava convulsivamente.

- Já acabou, pronto. - Notava-se que ele não estava acostumado a estas coisas- Portou-se lindamente, não foi como queríamos, mas estas coisas são mesmo assim. Venha, vamos embora. Vou levá-la para junto do seu companheiro. Precisa de se lavar.

Durante o curto percurso não lhe disse mais nada apenas a amparou. Toda ela tremia.
 Afonso correu para ela mal a avistou à entrada do parque. Podia respirar de alivio, tudo tinha terminado. Acompanhara as operações pelo radio da policia que o inspector gentilmente ligou. Admitia que o seu coração parou momentos antes do tiro, e só recomeçou a bater quando ouviu os soluços dela. Que agora se ouviam abafados no peito dele.
Leonor deixou-se ficar ali nos braços de Afonso, não se importava com o que pensassem dela. Só queria estar ali. Ouvir o bater do coração dele, sentir o vento na cara. Sentir que estava viva!

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