sábado, 27 de fevereiro de 2016

DE VOLTA AO PASSADO 14º PARTE





Em três dias era a quarta vez que Afonso acalmava Leonor. Desde aquele dia horroroso que Leonor tinha pesadelos, quando parecia dormir serenamente, acordava entre gritos.
Afonso consolava-a ciente de que só o tempo iria acabar com aqueles pesadelos. Só podia imaginar o que ela passara naqueles minutos. Ele martirizava-se por não poder ajudá-la. Nem naquele dia, nem agora, apenas podia abraça-la e esperar que tudo passasse! Esperava que umas férias ajudassem! Já tinha combinado com os pais e iriam passar uns dias a casa. Eles estavam ansiosos por conhecer Leonor e a sua neta. Ele também não via a hora de conhecer a filha. Assim que o inspector Gaia os libertasse podiam por um ponto final e seguir em frente. 

Leonor acordara e observava a silhueta de Afonso recortada pela luz que vinha da rua e batia na janela do quarto... parecia distante olhando lá para fora. Possivelmente nem dormira, esperando o próximo pesadelo dela. A cada grito ele estava presente para a abraçar e acalmar com palavras carinhosas. Tudo se iria recompor, tinha a certeza. Bastava dar tempo à sua mente para aceitar tudo aquilo.

- Sabes que ficas muito giro assim? - ele voltou-se sorrindo
- Não mais do que tu assim meio despida.- dirigiu-se a ela e deu-lhe um beijo na testa - Estás mais calma?
- Um pouco, ainda me doí a cabeça, mas já passa.
- Hoje dizem que vai estar sol, que tal um passeio? -ela precisava de sair de casa mas ele ainda não a tinha convencido - Fazia-te bem apanhar ar.
- Porque não?! Vou dar um duche e depois faço o pequeno...- Afonso interrompeu-a com um beijo que a deixou sem ar
- Vais vestir-te, e depois vamos passar o dia fora. Não fazemos planos, saímos sem rumo por este país fora...
- Uma aventura... - ela sorriu e dirigiu-se à casa de banho.

Quando terminou de se arrumar deu de caras com o inspector na sala. Tinha um embrulho na mão e estava desconfortável. Já sabia quando ele estava fora do seu território, só esperava que não trouxesse más noticias.

- Bom dia inspector.- ele pigarreou um pouco, definitivamente estava nervoso.
- Bom dia. Passei por aqui e achei bem fazer uma visita. -levantou-se e estendeu-lhe o embrulho perante o olhar divertido de Afonso - É para si... foi ideia da minha esposa...- estava mesmo nervoso com tudo aquilo. -  A jeito de agradecimento...e de desculpas por lhe ter ocultado parte de operação. Mas tem de perceber... - calou-se, não sabia se devia voltar a tocar no assunto.
- Não era preciso estar a incomodar-se mas obrigada pela atenção. - Leonor abriu o embrulho, era uma caixa de bombons - Foi muito amável, o inspector e a sua esposa. Agradeça-lhe por mim. 
- Será transmitido! -sentou-se - Achei que gostassem de saber o que se passou no parque.
- Não é preciso. Acabou e isso é que interessa!- ela não queria reviver aqueles momentos que não conseguia esquecer.
- Pensei que se soubesse como tudo se passou talvez fosse mais fácil... - Eles sentaram-se juntos esperando o relato, sabiam que ele não iria embora sem dizer o que na ideia dele devia de ser contado. - Sabíamos que ele não iria facilitar as coisas, e as coisas estavam a ser fáceis demais. Por isso cobrimos todos os ângulos. Vocês estavam debaixo de olho... ele estava vigiado por dois homens e tínhamos homens em todos os pisos do centro comercial. Quando soubemos onde ele deixara a viatura, destaquei três agentes armados para o que desse e viesse. Podia ter dado ordem para o abaterem logo que a ameaçou, mas estava dentro do centro comercial e queria minimizar o pânico. 
Assim que chegou ao estacionamento bastava ficar na mira de um deles. Todos tinham ordens precisas mal você estivesse em perigo. Peço desculpa por ter passado por aquilo, mas foi difícil ter um tiro limpo por entre carros e pilares... 
- Não tem de pedir desculpa. Eu concordei com tudo.
- Eu sei, mas não quero que pense por um momento sequer que a tinha abandonado à sorte.- estava visivelmente incomodado
- Eu sei que tinha tudo controlado... Confiava nisso... - sentiu-se um pouco melhor por saber que em momento algum esteve sozinha. -Agradeço por ter passado a explicar. E pelos bombons. Mas deixemos essas coisas tristes. Aceita um café? 
- Obrigada, mas fica para outro dia...- disse levantando-se - Tenho de entrar ao serviço. Obrigada - saiu despedindo-se com um aceno de cabeça
- Este homem continua a surpreender-me! Quem diria que tem mulher?!
- Não sejas assim... - Afonso sorriu, agora ela parecia mais animada - Não é tão mau como parece.
- Nunca disse que era mau...apenas mal educado.- Leonor beijou Afonso - Não íamos sair sem destino?

Afonso fechou a porta do apartamento e pegou nas malas. Leonor já estava no carro à espera. Tinham voo marcado para Itália. Depois iriam em família para Espanha.

- Achas que ela vai gostar de mim?- Afonso olhava para todas as raparigas que passavam na porta de entrada do aeroporto internacional de Roma. -  Já devia de estar aqui. Achas que se arrependeu?
- Não digas disparates. Claro que vai gostar de ti, aliás, vai adorar-te. Apenas se atrasou...até aposto que foi o meu irmão. - Leonor levantou uma mão acenando ao irmão e à filha que entravam nesse instante.- Vês?! Ali estão. - deu-lhe a mão e percebeu que ele tremia, nunca o tinha visto tão nervoso.
- Mãe! - Maria abraçou-a - Quantas saudades mãezinha.
- Já estou aqui. Não vais chorar pois não?! Olha que eu também vou chorar.

Maria afastou-se da mãe e ficou olhando Afonso por uns minutos e num impulso abraçou-o.

- Só podes ser o meu pai... Posso tratar-te por tu não posso!? Sabes que tenho a tua fotografia de quando eras estudante?! A mãe falava muito em ti, quando o outro não estava. Ela falou-te de mim?  - Maria bombardeava-o com perguntas devido ao nervosismo -Estás mais velho, mas continuas giro- Afonso sentiu uma estranha humidade nos olhos e o seu coração ficou pequenino
- Maria, deixa-o respirar! -disse o tio. - Ainda agora chegou e já estás a dar-lhe dor de cabeça.
- Não digas parvoeiras tio... Vamos?- Agarrou-se ao braço do pai e deixaram-nos para trás.- Temos muito que falar...- e dali para a frente monopolizou a atenção do pai.

 Leonor sentiu que ia chorar... Abraçou o irmão e saíram dali, enquanto o colocava ao corrente de tudo o que se passara. Os dias seguintes foram aproveitados a matar saudades um do outro, enquanto Afonso e Maria aproveitavam para se conhecerem. Ela insistira em levá-los aos seus sítios preferidos. Tiraram fotografias na Fontana di Trevi, na Basilica de San Pedro, No Coliseu... Afonso estava encantado com a filha, era uma mulher linda. Embora se parecesse com ele fisicamente, as maneiras eram da mãe.
A semana passou rapidamente, depressa chegou o dia de partirem para Espanha. Na hora da despedida Maria chorou abraçada ao tio, prometendo voltar brevemente. Estava decidida a terminar os estudos, mas agora queria aproveitar um tempo com os pais. Elas estavam nervosas, embora Maria estivesse mais curiosa que nervosa. Os seus avós viviam num castelo... nunca conhecera ninguém que vivesse num castelo.  
Durante o voo Maria encheu o pai de perguntas sobre os avós e o resto da família. Afonso respondia calmamente a todas elas, achando a curiosidade dela muito divertida.
Mal apareceram na porta de desembarque foram abordados por uns rostos sorridentes que os cumprimentavam em Espanhol. Leonor olhou perdida para Afonso.

- Em Português por favor, Leonor não percebe espanhol e a Maria ainda está a aprender.
- Desculpa!- foi um rodopio de cumprimentos, abraços e beijinhos.

Afonso foi chamado à parte pelos pais e a irmã dele fez com ela o mesmo que Maria fez com o pai, bombardeou-a de perguntas. A filha tinha mais da família paterna do que ela pensava. Maria já ia no meio das primas, embora mais novas que ela.  

O castelo ficava no meio de um prado verde, ela pensou que parecia tirado de um conto de princesas. As paredes tinham uma parte coberta por umas plantas verdes que ela não reconheceu, mas que davam ao castelo um ar medieval. O jardim era composto das mais variadas flores, e os arbustos estavam muito bem cuidados. Podia perder-se ali...

Estavam à espera delas com toda a pompa e requinte, a mesa estava composta por todas as iguarias imagináveis e mais algumas, e no centro umas rosas lindíssimas.

- Afonso, porque não levas Maria e Leonor para que se refresquem antes de comerem qualquer coisa. - D. Isabel inclinou-se para Leonor -Tomei a liberdade de mandar colocar as suas malas no quarto de Afonso. - Leonor corou - Não tem do que se envergonhar minha querida, somos família.

Depressa percebeu que  não havia rancores por lhes ter ocultado a neta. Adorava estar ali, pensou em todo o tempo que perdeu vivendo amargurada quando podia ser amada!
 Os dias iam passando e sentia-se mais feliz a cada dia que passava. Mas nessa manhã apanhou Afonso aos segredos com a irmã e a mãe. Disfarçaram mal ela se aproximava, mas ela percebeu que algo se passava. Quando perguntou a Afonso, ele disse que devia de ser imaginação sua. Desculpou-se dizendo que tinha de ir à cidade, entretanto ela que aproveitasse para descansar na piscina.
E aí estava quando ele chegou, o dia estava solarengo e ela sentou-se a ler um livro numa espreguiçadeira. 
Quando viu Afonso dirigir-se a ela, fechou o livro e colocou-o de lado.

- Tenho uma coisa para te perguntar...- parecia nervoso e ela não estava a gostar nada, levantou-se ficando de frente com ele.
- Não queres ir para dentro?
- Não faz diferença... sei que já não somos novos e não sei que pensas do assunto, mas é um sonho meu de há muito e...- olhou-a nos olhos e beijou-a- Queres casar comigo?

Leonor olhava para ele sem saber que dizer. Casar?! Mas ela já não tinha idade...

- Pelos vistos não! -Afonso começou a ficar mais nervoso ainda.

Leonor olhava o rosto dele, podia ver a tristeza nos seus olhos. Raios! Porque não?! Sempre sonhara casar com ele...estavam atrasados uns anos mas que importava?

- Sim! Sim! - ela chorava de alegria e ele beijou-a como se fosse a primeira vez.

Nunca viu um casamento ser preparado com tanta rapidez e eficiência. O castelo ficou lindo com as flores brancas que a cunhada escolhera para decorar a entrada. Através dos vidros da enorme janela via os empregados que corriam apressados de um lado para o outro. Estava a viver um sonho, só podia.

- Olha-me a noiva!- Maria entrou com a tia, as suas damas de honra. -Vamos. Não vou deixar que deixes o meu pai pendurado.
-Estás linda!- Maria tinha um vestido comprido rosa, era de corte justo e sem ombros,estava de cabelo apanhado assim como a sua cunhada.- Tu também estás linda.
- Mas tu estarás mais. Vamos lá despachar que o meu irmão está mais que nervoso.

 Quando Leonor apareceu no inicio da passadeira de braço dado com o irmão, Afonso pensou que o coração lhe ia saltar do peito.
Estava linda num vestido comprido bege, de corte simples, com um cinto largo que fazia um laço de lado e era ligeiramente mais comprido atrás, não tinha véu, apenas uma tiara que a mãe dele insistira em que ela usa-se. 
Eles olharam-se apaixonadamente durante toda a cerimonia que fora simples, mas linda. Leonor acabara de ler os seus breves votos, quando Afonso começou a ler os votos todos ficaram em silencio.

- Minha Leonor, paixão da minha mocidade. Contigo vivi a minha primeira e única paixão. Embora ausente sempre estiveste presente aqui dentro. Enquanto ele bater sabes que bate apenas por ti. És a mulher da minha vida. Por ti respiro e sem ti nada sou. Hoje sinto-me como se estivesse de volta ao passado. Obrigado por teres feito parte do meu passado e por me deixares fazer parte do teu futuro. Amo-te e sempre te amarei.



                                                        FIM


2 comentários:

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    1. Olá Anabela :) fico muito feliz por teres gostado desta. O que é especial tem sempre outro sabor ;) Beijinhos amiga :) <3

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