sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

DE VOLTA AO PASSADO 9º PARTE





-Ainda bem que já está a acordar. Como se sente?-perguntou uma voz.

Leonor olhou em redor, doía-lhe imenso a cabeça. Não conhecia aquela jovem simpática nem reconhecia o local...Onde estaria? E onde estava Afonso? Repentinamente lembrou-se da noite anterior,dos tiros...do sangue...Lágrimas começaram a cair silenciosamente sem que as pudesse controlar.

- Vou avisar que já recuperou a consciência. Está aqui um senhor para falar consigo. Vou dizer-lhe que entre.

Um senhor! Aquelas palavras deram-lhe alento. Seria Afonso? E a noite passada não passara de um pesadelo? Olhou em redor, estava num hospital...
Um senhor forte de estatura baixa entrou. Sentiu-se morrer por dentro, não era ele!

-Bom dia. -cumprimentou-a- Acha que é capaz de responder a umas perguntas? Sei que deve...
-Finalmente acordaste...-interrompeu uma voz que Leonor reconheceu- Não imaginas o preocupado que estava.

Leonor olhava para ele como se acabasse de ver um fantasma

- Leonor? Leonor ?

Afonso voltou a chamar pois parecia que não o via. Sentou-se na cama junto a ela, e acariciou-lhe a face rosada e húmida pelas lágrimas que começavam a cair desta vez em cascata.
Olhou o rosto dele, tinha um penso enorme na cabeça mas estava vivo...o seu amor estava vivo!

-Estás vivo!-dizia ela- Meu Deus estás vivo! Pensei que...
- Sei o que pensaste, pois pensei o mesmo quando ouvi o segundo tiro e tu caíste. Não voltes a assustar-me assim ouviste?
- Desde que tu também prometas- disse entre soluços
- Desculpem interromper.-disse o homem que se tinha afastado um pouco- Mas tenho mesmo de falar com os dois. Se queremos apanhar os tipos temos de agir rápido. Sei que deve de estar abalada com tudo isto, mas o tempo é crucial nestas situações.
- Ajudaremos no que pudermos. Mas diga-me, você é?- calou-se esperando uma resposta.
- Desculpe, pensei que o seu pai lhe tivesse comunicado a minha chegada. Inspector Gaia, judiciária. -estendeu uma mão a Afonso e acenou com a cabeça em direcção a Leonor.
- Falou-me de si, mas pensei que chegasse dentro de um dia ou dois - Afonso aceitou a mão que lhe era estendida- Mas não apanharam o tipo que disparou?-perguntou enquanto voltava para junto de Leonor.
-Esse sim. Mas queremos a cabeça também.A raia miúda essa, sem o tubarão não vai longe, e depressa a apanhamos...- calou-se por instantes- Foi uma excelente ideia colocar um detective atrás dele.
- Mas não estávamos a contar com este contratempo...
- Desculpem lá...mas não estou a perceber nada do que se passa? -disse Leonor num fio de voz- O teu pai? Mas que raio tem o teu pai a ver com tudo isto?
- Logo te explico. Assim que o médico te der alta prometo contar-te tudo. Agora o inspector precisa que respondas a uma perguntas. Sentes-te com coragem?
-Claro que sim! Não sou nenhuma flor de estufa- reclamou ela sentando-se na cama.- Faz favor de dizer.
- Bem, nem sei por onde começar... pelo principio é o melhor, não? Prometo ser o mais breve possível - disse a jeito de pergunta e resposta. Puxou uma cadeira e sentou-se junto à cama perto deles.-Importa-se de fechar a porta?-pediu a Afonso. Respirou findo como se precisasse de ganhar coragem par iniciar a conversa.- Ora bem, isto pode soar-lhe um pouco estranho -disse olhando para Leonor- Andamos atrás do seu marido, desculpe, ex-marido, à alguns anos.Mais concretamente à 17 anos. Isto tudo começou no norte, o seu marido. Desculpe mas não sei como referir-me a ele.
- Não se preocupe.- disse Leonor - explique como puder.
- Bem, ele é suspeito de branqueamento de capital, para um tipo que faz tráfico de droga, entre outras coisas. Conseguimos perceber o esquema, o material era introduzido no país através dos camiões de transporte de material de construção. Ele recebia a sua parte depois da chegada de cada carregamento. Lógico que não podia gastar muito dinheiro se não ia dar nas vistas.
- Por isso ele não queria gastar dinheiro?! -perguntou Leonor, o inspector assentiu.
-Com a crise que o país atravessa, chamava à atenção ser o único empreiteiro a ter lucro quando todos os demais não conseguem muito mais que ter para comer. Mas isso não interessa. Desconfiamos de como as coisas se processavam e conseguimos infiltrar um colega. Mas numa rusga que envolvia prostitutas foi apanhado um deles, um peixe pequeno que cantou como um canário... isso quer dizer...
- Sabemos o que é. - atirou Afonso tentando perceber o que realmente se estava a pensar
- Pois. Bem, pensávamos que o tínhamos na mão e que ia ser o nosso homem, mas esse peixe pequeno, tem um medo de morte do tubarão e assim que o soltámos voltou para o ninho e contou que andávamos de olho neles. Apareceu no fundo do rio na manhã seguinte. Estes tipos não brincam.
Quando demos por aquilo o armazém que ocupavam estava deserto, e nunca mais soubemos deles. Até à três anos quando um colega que estava de folga cruzou-se com o seu marido e um "amigo" lá de cima. Começou tudo de novo. Só que desta vez, em vez de infiltrarmos um dos nossos "comprámos" umas doses. Lógico que com dinheiro marcado, na esperança de que o usassem e pudéssemos assim deitar-lhe a mão, mas nada. Contactamos um tipo que estava a dever-nos uns favores, sabe como são estas coisas, uma mão lava a outra, e mais vale ter um mosquito à solta que um abutre, em três dias ele conseguiu saber onde estava o dinheiro. Numa conta numas ilhas quais quer em nome do seu marido!
Para os apanhar-mos, a ele e ao sócio, temos de os fazer gastar o dinheiro. E é aí que você entra, olhou para ela, não a quero por em perigo, terá sempre um agente por perto, mas não o faremos sem que você concorde a cem por cento. Percebeu o que está implícito nesta operação?
- Claro! Como é possível que ele me tenha escondido isto?! Meus Deus...como nos engana-mos com as pessoas
- Vou ser muito sincero. Quero deitar-lhe a mão e esta é a minha melhor oportunidade. Podia arranjar outro esquema, mas levaria muito tempo. Já percebemos que ele está disposto a muita coisa para a fazer desaparecer...
- Ele não quer dar-me o divorcio...
- Como ia dizendo, está disposto a livrar-se de si ou a fazer tudo e mais alguma coisa para a assustar, para que volte para ele. Assim dá um ar de homem respeitável. Os meus superiores sabem de tudo e não olham a meios para a proteger nesta operação. Assim que um velho amigo em Espanha nos telefonou a pedir informações sobre ele, os sinos tocaram alto e em bom som... Queremos deitar-lhe a mão e rápido. Agora depende de si. -olhou-a nervoso, não estava acostumado a pedir nada e muito menos a uma dona de casa assustadiça lavada em lágrimas.
- Pode contar comigo. -ouvisse a voz dela num fio- Mas tenho uma condição.- disse com a voz mais forte- A minha filha, prometa-me que ela não será envolvida nesta situação. Ou em qualquer esquema futuro, se este falhar para deitar a mão ao meu  marido.
- Claro. Tem a minha palavra. Não sabe como lhe agradeço...- e saiu dando ordens para o telemóvel.
- Um obrigada seria agradável.- disse ela tentando brincar
- Tens a certeza? Olha que pode ser perigoso.
- Não mais que ontem à noite. Podes dizer-me agora como o teu pai está metido nisto
- Bem - dirigiu-se à porta e espreitou. Fechou a porta e sentou-se junto a ela agarrando a sua mão.- O meu pai era inspector chefe em Espanha, já está reformado. Agora a actividade mais perigosa que faz é brincar com os netos no jardim do castelo.
- Castelo? Netos? Mas será que todos têm segredos?
 - Netos, filhos da minha irmã. Castelo, herança de família, os meus avós eram duques... a minha mãe é aristocrata... um aborrecimento. Quando os conheceres vais perceber.
- A ver se percebo. Tu és aristocrata e vives num T0?
- O facto de ser filho deles, não quer dizer que pense em viver à custa do nome deles e muito menos do seu dinheiro. Embora neste preciso momento ache que o castelo é o sitio mais seguro para ti. Mas como te estava a dizer, quando me contaste a conversa com o teu marido, achei aquilo muito estranho. Ele não iria desistir assim tão facilmente. Nunca usei a influência dos meus pais para nada, mas estava em território desconhecido e  precisava de ajuda. E em quem podia confiar de olhos fechados?
- Aquele telefonema em espanhol- disse ela lembrando-se do telefonema que ele fizera naquela manhã.
- Claro. O meu pai deu-me o contacto de um amigo detective aqui em Portugal e ele seguiu os passos do teu marido, todos os dias 24 horas por dia. Quando ele foi a um bar e contratou uns tipos de reputação duvidosa, ele arranjou outro homem para nos seguir e foi graças a ele que estamos aqui. Quando aquele tipo te agarrou procurei-o, pois sabia que estava por perto, mas para meu horror percebi que estava sozinho e aquele tipo estava ali ameaçando-te. Sabia que estávamos perdidos, por isso era melhor lutar, pelo menos conseguia que ele te soltasse. Graças a Deus o ajudante do Artur apareceu e deu-lhe um tiro ao mesmo tempo que o tipo disparava sobre mim. Ainda bem que só me apanhou de raspão. - sorriu como se aquilo não tivesse importância alguma
- Podias ter morrido. -disse acariciando o sitio da ferida
- Podíamos, queres dizer...mas estamos aqui e prontos para enfrentar tudo o que vier. Agora sabemos o nos espera e não estamos sós.
- É mesmo. Estamos juntos e isso é o mais importante. Onde vais?- perguntou vendo que se levantava
- Procurar o médico... quero levar-te para casa. Os meus planos foram gorados na noite passada mas esta noite...

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