sábado, 2 de abril de 2016
SEDE DE VINGANÇA 1º PARTE
- Prometo que vão pagar por tudo o que te fizeram.
Liz voltou a fazer a mesma promessa que tinha feito à 4 anos atrás. Depositou o ramo na campa da irmã . Nos seus olhos não havia lágrimas, apenas uma sede de vingança e um profundo ódio!
Nestes últimos anos tinha estado ocupada a terminar o seu curso de secretariado. Era essencial para alcançar os seus objectivos.
Deixara a profissão que tanto amava como auxiliar de geriatria. Decidiu tirar o curso quando a mãe adoeceu e percebeu que era aquilo que gostava de fazer. Dedicou-se de corpo e alma a isso e cuidou da sua mãe até que ela faleceu. A sua mãe deixou-lhe uma quantia considerável e se quisesse podia viver dos dividendos mas preferia manter-se ocupada. Dias depois colocou um anúncio no jornal e para sua surpresa trabalho não lhe faltou.
Depressa ganhou nome, e era muito solicitada. O carinho com que tratava os doentes não passava despercebido aos familiares e se assim quisesse, podia dar-se ao luxo de escolher para quem ia trabalhar. Mas preferia cuidar daqueles que estavam mais tempo sozinhos ou os que tinham poucos recursos económicos, nunca abandonou nenhum. Até agora! Infelizmente tivera de abandonar a última senhora. quando a sua irmã faleceu tão repentinamente. E tão depressa não voltaria a fazer o que tanto gostava!
Agora tinha uma nova missão... vingar a morte da sua irmã.
Dirigiu-se aos escritórios do Clã Macney, subiu até ao último andar e depois de se apresentar à secretária sentou-se.
A sua esperança baseava-se numa conversa entre amigas...supostamente estavam a recrutar secretárias. A sua falta de experiência era um entrave, mas esperava conseguir dar a volta à situação.
A secretária dirigiu-se a ela com ar pouco amigável.
- Pode entrar.
- Obrigada.
O escritório era amplo e decorado com cores sombrias. Precisava de um pouco de cor...
- Sente-se menina...
- Lizabete Roice.
- Menina Roice. Não sei quem a informou mas deve de haver algum equívoco. A minha secretária disse que a menina vinha por causa de um emprego de secretária.
Liz apenas confirmou com a cabeça. Estava um pouco admirada com o homem que estava à sua frente, aparentava ter mais de 40 anos, e embora tivesse o seu charme não lhe parecia ser o tipo de homem que seduzi-se a irmã. E muito menos destruí-la!
- Neste momento não estamos a precisar de secretária. Pensei que viesse por causa do anúncio do jornal. Mas agora ao vê-la vejo que não seria profissão para si.
- Desculpe. Mas não estou a perceber. Colocou um anúncio mas não precisa de uma funcionária?
- Preciso,isto é,precisam! Mas para cuidar da senhora Macney. O filho não dispõe de tempo e ela não quer enfermeiras. Sabe como são as pessoas nestas idades.
Subitamente a esperança que se definhava começou a aumentar. Estaria ela a ouvir bem?! A sorte parecia estar do lado dela. Não precisava de mentir sobre a sua profissão, Pena ter deitado fora estes anos todos a terminar um curso que não gostava.
- Eu vim exactamente por causa desse anúncio. Mas pensei que seria o senhor Macney a entrevistar-me.
- Lamento se o anúncio não foi explicito o suficiente... Bem. Se está realmente interessada no emprego deixe o seu currículo e alguma carta de recomendação, se as tiver, deve de compreender que nestes casos temos de ter muito cuidado, eu mesmo as farei chegar ao Sr. Macney. Espero que possa viajar sem aviso prévio.
- Se for necessário.
- É uma das condições...disponibilidade para se ausentar. A Sra Macney gosta muito de viajar.
- Não há problema nenhum.
- Então, fico a aguardar as cartas. Pode enviar-mas por email se preferir. Se o Sr. e a Sra Macney gostarem de si voltaremos a ver-nos.
Acompanhou-a à porta e despediu-se com um forte aperto de mão.
Assim que chegou a casa tratou de contactar os familiares dos seus anteriores patrões para pedir as cartas. Não teve nenhum problema em consegui-las. Enviou por email as cartas. Agora restava esperar.
Se consegui-se estar no seio da família seria ainda melhor. Descobriria os seus segredos e conseguiria aniquilá-los a todos. não pouparia nenhum!
Quando a sua irmã fez 18 anos foi de férias para a Grécia e lá deixara-se seduzir por um dos herdeiros Macney... Conhecera-o numa discoteca e em pouco tempo perdera-se de amores por ele. Passou esse mês sempre na companhia dele, ainda a viu numa revista ao lado dele, estavam abraçados.
Mas, desse mês, que a sua irmã passou em Atenas, ela pouco sabia. Só tinha a certeza de uma coisa, a irmã apaixonara-se por ele e ele destruiu-lhe a vida!
Nunca esqueceria aquele dia em que o telefone tocou e a avisaram da morte da irmã! Por uns instantes sentiu-se gelar e depois deixou-se cair na cadeira. Onde gritou, amaldiçoou e chorou até esgotar todas as lágrimas. Enquanto se realizava a cerimonia fúnebre ela não chorava, apenas prometia uma e outra vez que se iria vingar daquela família. Não ficariam impunes! Perante a lei não eram culpados, mas ela sabia bem que eram. E iria fazê-los pagar.
Por várias vezes procurou na internet coisas sobre eles mas pouco descobria. Falavam muito no pai, Angus Macney,,que construíra fortuna em terras Gregas, só mais tarde expandiu o negócio. Em jovem partira para a Grécia em busca de melhor vida e por lá casara com uma moça grega, da qual tivera dois filhos. Em poucos anos formava a sua primeira empresa. Falecera à 10 anos mas deixara um enorme império. Actualmente eram uma das maiores empresas de têxteis. O seu filho mais velho tinha-se aventurado na área das exportações. O mais novo era um bon vivant.
Na impressa cor de rosa os namoros de Petros eram uma constante, o oposto de Alexandros que raramente era fotografado. Ela só vira uma foto dele e de perfil numa revista quando este foi buscar o irmão que estava a armar confusão num dos melhores hotéis de Las Vegas! Mas Petros ultimamente não se via em nenhuma delas, possivelmente estaria casado ou já não sentia necessidade desta atenção toda.
Se tudo corresse bem,dentro de dias estaria em casa do Clã Macney e poderia colocar em prática o seu plano.
Liz, preparou o jantar,apetecia-lhe cozinhar. Fez arroz chau chau e para sobremesa uma mousse de limão.
Jantou na cozinha e foi beber o café na sala enquanto via as notícias. O mundo estava cada vez pior...
Ás vezes arrependia-se de ligar a televisão, era só desgraças uma atrás da outra. Mudou de canal, afinal a vida dela já era complicada o suficiente.
Decidiu-se por um filme dos irmãos Marx,e viu um pouco dum reality show.
Levantou-se com o toque do despertador, não percebia porque o mantinha a despertar para as sete da manhã...não tinha ninguém para cuidar.
Saiu para a sua caminhada matinal no parque. Quando chegou a casa o telefone estava a tocar mas não consegui atender...bolas! E logo hoje que se tinha esquecido do telemóvel em casa. Verificou se conhecia o número mas não, possivelmente um novo cliente. Mas agora não podia aceitar ninguém. Estava no duche quando o telefone voltou a tocar...desta vez chegou a tempo.
- Sim?!
- Menina Roice?
- Sim,quem fala?
- Alexandros Kristous, segundo sei está disponível para cuidar da minha mãe.
Kristous?! Mãe?! Mas quem raio era? Liz não estava a perceber,pensou que tinha tirado o anuncio da Internet como sempre fazia quando estava ocupada.
- Desculpe,mas deve de haver alguma confusão.
- Então, não está disponível? Disseram-me que esteve na empresa ontem a oferecer-se para o trabalho.
Ontem?! Empresa?! Liz depressa acordou do torpor que a tinha envolvido momentaneamente.
- Desculpe. Sim, estive ontem lá mas pensei que..
- Está ou não disponível?
- Claro que sim.
- Quando pode começar? Pode encontra-se comigo hoje, digamos, por volta das onze?
- Sim, ás onze estarei na empresa.
Liz ouviu o telefone desligar.
- Que mal educado.Só porque têm muito dinheiro consideram-se superior ao resto dos mortais. Mas vão aprender que o dinheiro não vos livra de tudo.
Liz falava sozinha enquanto voltava para o seu interrompido duche. Depois tomou o pequeno almoço e saiu.
Antes das onze estava no escritório como combinado. A secretária mais uma vez olhou-a sem lhe dirigir mais que um azedo bom dia.
Ela sorriu ao imaginar a vida daquela mulher. gostava de analisar as pessoas pela maneira de tratar os demais, a forma de vestir... e aquela mulher mexia com a sua imaginação. Vivia sozinha...divorciada ou mesmo solteira, talvez um gato ou dois para lhe fazer companhia...com aquele feitio tão azedo um cão não teria...
A sua divagação foi interrompida pelo mesmo homem que a entrevistou no dia anterior.
- Bom dia menina, Já aqui? Chegou cedo. Alexandros ainda está em reunião.
O homem apertou-lhe a mão.
- Bom dia. Não tem problema. Posso esperar.
- Aceita um café? Eu ia agora mesmo beber, se me permitir a ousadia.
- Aceitava de boa vontade, mas não quero atrasar-me.
- Alexandros ainda vai levar uma boa meia hora e eu posso aproveitar para beber um café em boa companhia. Vamos?
Dito isto ela aceitou o convite,
- Desculpe, ontem não me apresentei. Marcus. Ao seu dispor. Sou uma espécie de gerente. Ou braço direito se o preferir.
- Pensava que era sócio.
Marcus soltou uma gargalhada.
- Se a menina soubesse o que se trabalha sem se ser sócio, se lho propusessem negava esse convite.
- Isso quer dizer que já o convidaram?
- Sim, mas não é para mim. Gosto de ter tempo para a família. De ler, passear no parque...as coisas normais que todo o mundo faz.
- E como sócio do Sr. Macney não tem?! A propósito, quando o Sr, Macney me ligou disse que se chamava Kristous. Pensei que ia cuidar da senhora Macney.
- E vai, Kristous é o nome de solteira da mãe, ele não gosta de usar o nome do pai...
Marcus calou-se como se estivesse a cometer alguma inconfidência.
Beberam o café e falaram de coisas mais triviais. Ele estava encantado com a maneira dela falar dos seus idosos.
Liz olhou o relógio. Faltava menos de cinco minutos para as onze.
- Acho melhor ir. Não gosto de chegar atrasada.
Marcus levantou-se e retirou a cadeira para ela se levantar.
- Não quero ser o culpado do seu atraso.
Marcus era um verdadeiro cavalheiro,ela simpatizou com ele e deu consigo a pensar, como um homem tão simpático, acaba a trabalhar para uma pessoa que é capaz de destruir a vida dos demais?!
Lutou contra aqueles pensamentos, se queria seguir em frente e vingar a sua irmã, teria de se focar a cem por cento na sua vingança...não podia dar assas à dor que a consumia cada vez que pensava na irmã.
Marcus deixou-a com a secretária e foi ter com um cliente. Ainda esperou uns dez minutos antes de ser convidada a entrar no escritório pela "simpática" funcionária.
Quando Liz entrou no escritório e olhou para o homem à sua frente o seu coração começou a bater descontrolado. Se existia ao cimo da terra a personificação de um deus grego, era aquele homem! E estava ali mesmo, à sua frente!
Tudo nele parecia esculpido por um dos melhores artistas. A camisa branca parecia ser pequena para aquele tronco bem delineado.
- Sente-se menina Roice.
- Obrigada.
- Vou ser directo, como deve perceber não tenho tempo a perder. Vou dizer-lhe o que pretendo de si e no fim diz-me se concorda.
Liz manteve-se calada enquanto ele olhava para ela.
- Então?
- Desculpe? Era para responder? Pensei que fosse só no fim.
- Não gosto que os meus funcionários sejam insubordinados. Se não tivesse tão boas referencias, não pensaria duas vezes em ver-me livre de si. Mas disseram-me que é uma das melhores, se não a melhor no ramo - Alexandros fez uma pausa - Com o tempo vai perceber como as coisas funcionam.
- E eu não gosto que me tratem como uma idiota.
Alexandros olhou-a com os olhos semicerrados e ela manteve o olhar no dele. Se ele pensava que a intimidava estava redondamente enganado.
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