sábado, 23 de abril de 2016

SEDE DE VINGANÇA 6º PARTE





Algumas horas depois saíram de casa, Alex tinha prometido levá-la a ver o por do sol na costa antes de irem apanhar Ariane.
Antes passaram em plena Plaka onde lhe comprou uma replica da Acrópole, Liz pode apreciar as lojas tradicionais.
A tarde estava a chegar ao fim quando chegaram ao mar, Alex estacionou o carro e levou-a até à praia, Liz descalçou-se e deixou-se ficar ali sentindo a areia molhada, o céu ao fundo fundia-se com o mar e começava a ganhar um tom alaranjado. A brisa marinha acariciava o seu rosto, fechou os olhos uns segundos e sentiu vontade de chorar. não sabia se a culpa era daquele por do sol lindíssimo, se por estar ali onde a sua irmã esteve, se por Alex estar junto a ela abraçando-a... a única coisa que tinha a certeza era que Ariane tinha razão, o por do sol ali tinha qualquer coisa de mágico!
- Podia apaixonar-me por esta paisagem...
- Diria que já estás.
Liz voltou a fechar os olhos, não queria que ele visse que estava a pontos de chorar.
- Temos de ir apanhar a tua mãe.
- Primeiro...
Alex voltou-a e sem a soltar, olhou-a nos olhos como se quisesse ler-lhe a mente. As lágrimas que ela tentava esconder ameaçavam voltar. Fechou os olhos e encostou-se a ele sentindo o bater do seu coração.
Ouviu-o falar algo em grego antes de a acariciar e beijar. Ela iria guardar aquele instante para sempre na sua memoria. E quando fosse velhinha iria recordar aquele por do sol com o mesmo carinho com que Ariane fala deles.
- Vamos?
Liz assentiu com a cabeça, Durante o resto da viagem Alex ia explicando o que viam, nunca pensou que aquele país tivesse tanto a oferecer,estava encantada.
- Tenho de voltar cá futuramente.
- Já está a pensar partir? Somos assim tão maus anfitriões?
Ela corou, se fosse uma visita de cortesia, mas não era. Passaram os limites do ético esta tarde, e eles sabiam bem disso. Desde que começou com aquele trabalho que estabelecia limites com os seus clientes e sempre os respeitava. Assim evitava afeiçoar-se demais às pessoas e sofrer quando as deixa-se, mas com Ariane não conseguiu!E muito menos com Alex! Havia algo nele que a fazia esquecer onde estava e o que tinha vindo fazer.
- Não queria dizer isso e sabe-lo bem. Mas um dia destes vou voltar para casa...
- Por enquanto estás aqui. Olha ali ao fundo, vês aquelas casinhas?
Encantou-se novamente nos relatos apaixonados que ele fazia da sua terra. Em questão de minutos estavam junto à casa da prima deles.
Alex não entrou e assim que Ariane saiu, afastou-se rapidamente dali. Podia não perceber grego mas dava para perceber que ele não gostava daquela situação. A conversa dele com a mãe roçava a discussão.
Ariane estava muito agitada e Alex estava descontente.
- Oh, desisto! - Ariane voltou a falar em Inglês -Tenta tu fazer-lhe ver as coisas.
- Eu?! E porquê eu?
Liz ficou vermelha,teria Ariane percebido que havia algo entre eles?
- Não estás habituada a lidar com pessoas teimosas? Pois, tens aqui um novo desafio.
- É melhor ficar fora disso. E é melhor você acalmar-se. Isto não lhe faz nada bem.
- Diz isso ao meu teimoso filho. Até parece que cometi o crime do século.
- A mãe sabe bem o que a fizeram passar.
Alex falava em inglês e olhava para ela procurando algum apoio.
- Isso são coisas do passado, a família está acima de tudo e tu devias de dar graças por finalmente...
- Dar graças?! Olhe...
Alex calou-se, respirou fundo antes de dizer:
-  A Liz tem razão. Vamos acabar com esta conversa, não lhe faz bem.
- E pronto! Está o assunto arrumado! As conversas começam e terminam quando queres! Gostava tanto que percebesses que o ódio não leva a lado nenhum.
Liz sentia-se pequenina. Ódio. Foi esse sentimento que dirigiu a sua vida estes últimos anos. E era graças a ele que estava ali. Como dizer que ele estava errado, se ela também se deixou guiar pelo ódio que sentira por eles?
Uma vez em casa Ariane foi para o seu quarto. Liz seguiu-a sem dizer palavra. Ariane estava muito nervosa e uma vez no quarto chorou.
- Não precisa de ficar assim. Ele vai...
- Ele não percebe. E tu, minha querida, também não. Precisavas de viver, de sentir tudo o que eu senti!
Liz deu-lhe a medicação e apanhou o livro que andavam a ler, mas Ariane continuou:
- A minha família abandonou-me à muitos anos e não vou dizer que não me magoaram. Mas eu assim o escolhi. Sabia o que estava implicado ao casar com Angus. Sou culpada de ter arrastado os meus filhos para esta dor, mas naquela altura só queria viver o meu amor. Nada mais importava. Quando ele amar alguém...aí vai perceber. Só aí! Estou velha e doente. Preciso de terminar os meus dias em paz. Principalmente comigo mesma. Fiquei feliz por a minha prima se dirigir a mim ao fim destes anos todos! As mentalidades estão a mudar, felizmente. Se ele consegui-se ver mais além!
- Amanhã fala com ele a esse respeito. Agora tente descansar.
- Promete que falas com ele.
- Mas eu...
- Promete.
- Se isso a deixa mais descansada.
- Fico,sim.
- Então, prometo. Antes de me deitar venho vê-la.
Liz, deu por si a dar um beijo na testa de Ariane. Nunca o tinha feito! Ariane pegou-lhe na mão e murmurou um obrigada. Sorriu para ela antes de descer, estava a afeiçoar-se a ela mais do que o costume.
Alex estava no escritório,bateu à porta antes de entrar.
- Ariane ficou muito magoada.
- Imagino.
- Devias de ficar feliz por ela.
- Como posso ficar feliz em vê-la com quem a magoou tanto?
- Se ela os perdoou...
- Não percebes.
- Queres explicar?
- Não quero falar disso.
Tinha prometido a Ariane que falava com ele mas ele não queria conversa. Era melhor deixá-lo com os seus pensamentos.
- Vou deixar-te sozinho. Até amanhã.
Alex não lhe respondeu.  Quando Liz estava a chegar à porta ele começou a falar
- Quando conheceu o meu pai toda a família a abandonou.Viu-se sozinha a criar um filho numa terra onde praticamente ninguém lhe falava e quando o meu irmão nasceu as coisas não foram diferentes. As pessoas da vila só começaram a dirigir a palavra à minha mãe quando Angus começou a fazer dinheiro e a dar emprego à população. Na altura pensava que não tinha qualquer tipo de família, nem tios nem primos. Estávamos sempre sós,apenas nós os quatro, mais tarde percebi o porquê. Era tudo por um estúpido orgulho. A vida da minha mãe foi muito solitária. O casamento também não foi o que ela imaginou! Ela não sabe, mas eu cresci a ouvi-la chorar noite após noite...
- Podias ter falado com ela na altura.
- E dizer-lhe o quê?! Que sabia que Angus, procurava outras mulheres? Podes sequer imaginar a vergonha que seria para ela? - Ele andava de um lado para o outro-  Se ao menos tivesse uma irmã ou a prima. Mas não! O que ela fez era vergonhoso demais. Tinha de ser punida! Não tinha com quem falar, limitava-se a seguir em frente. Fingindo que estava tudo bem.  Nem quando o meu irmão faleceu a família apareceu! Imaginas o que é perder um filho e não teres em quem te apoiares?
- Tinha-te a ti.
- Não falava comigo. Entregou-se ao desgosto. Aquele acidente matou-a por dentro
- É compreensível.
- Se soubesses o quanto odiei aquela mulher! Perdi o meu irmão e a minha mãe estava a definhar...
Liz sentiu o sangue gelar nas suas veias. Ela sentiu exactamente o mesmo. A dor que a consumia dia após dia...
-...e estava sozinha! Agora passados estes anos todos chegam e querem esquecer tudo!?
-  Devias de tentar perceber o lado dela. Apenas quer estar em paz com ela mesma. Compreendo que te sintas revoltado com tudo isto. Tu melhor que ninguém, devia de perceber o conceito familiar que ela tanto defende. Finalmente pode reconciliar-se com o seu passado. O que passou não importa mais, ficou lá atrás. O que importa é que no tempo que lhe resta ela seja feliz. Não podes  mudar o passado mas podes dar-lhe um futuro mais alegre. Rodeada da família que ela tanto adora.
- A família que tanto adora, mas que a desprezou.
- Isso é um problema dela. Não o aumentes com o teu ódio. Quando me contrataste disseste que a saúde e o bem estar da tua mãe eram a prioridade.  Pois, dá-lhe tu também prioridade.
- Não percebes que só quero evitar que a magoem?
- Não. Tu é que não percebes! Não vês que assim és tu que a estás a magoar?!

Mal acabou de falar saiu deixando-o sozinho. Aquela conversa também estava a mexer com o passado dela. Ele disse que odiava a irmã dela! Sentou-se na cama e começou a chorar desconsoladamente. O que se estava a passar com ela?! Odiou-se por ter feito amor com ele, por se ter deixado envolver por ele e por se afeiçoar a Ariane! E principalmente por ter tido aquela idiota ideia de se vingar! Mas ainda podia remediar tudo aquilo! Se se esforça-se... Seria impossível deixar de gostar de Ariane mas o resto ela conseguia remediar! Apenas teria de evitar ficar a sós com Alex e tudo ficaria bem. Adormeceu em cima da cama sem se despir. Acordou com o bater na porta do quarto. Olhou o relógio. Eram sete da manhã! Meio ensonada foi abrir. Alex olhava incrédulo para ela.
- Já estavas acordada?!
- Não, bem...
Liz resolveu deixar a resposta a meio.
- Está tudo bem?
- Sim.Vamos fazer um piquenique.
- Um piquenique?!
- Sim. Ariane já está no carro. Quando estiveres despachada vai ter connosco.
- Não vou demorar.

Liz, meteu-se debaixo do chuveiro incrédula com aquilo! Ontem discutiram e hoje vão fazer um piquenique, como se nada se tivesse passado!  Vestiu umas calças de ganga e uma t-shirt, apanhou o cabelo num rabo de cavalo. Depois de colocar um creme na mala e os óculos de sol foi ter com eles.
Ariane falou sem parar a viagem toda. Alex olhava para ela pelo espelho retrovisor e ela fingia não reparar. Tinha de conseguir manter-se afastada dele!
Uma hora depois chegaram a um campo verdejante onde estavam vários grupos de pessoas. Liz ajudou Ariane a sentar-se numa manta no chão. Entretanto ela foi ajudar Alex a tirar as coisas do carro.
- Podias ter vestido algo mais fresco, logo vai estar calor.
- Estou bem assim.
- Não achas-te boa ideia o piquenique?
- Porque pensas isso?
- Não sei, estás estranha.
- É impressão tua.
Liz apanhou a cesta e foi ter com Ariane. Podia sentir o olhar dele nas sua costas. A sua vontade era inventar uma desculpa qualquer, poder sentir o seu toque mais uma vez, mas tinha de ser forte.
- Não me falou do piquenique ontem.
- Foi ideia de Alexandros. Quando quer é muito atencioso.
- Os homens são todos, principalmente quando querem algo.
Ariane soltou uma gargalhada
- Tens razão. Isso é uma característica universal.
- Diria que é assim, tipo defeito de fabrico.
- O que é que tem defeito de fabrico?
As duas olharam-se e começaram a rir. Alex encolheu os ombros e voltou novamente para o carro.
Durante a manhã jogaram às cartas e às charadas. Como não dedicava muito tempo a ver filmes, não conhecia muitos e por isso perdeu nas charadas.
 Almoçaram carnes frias e fruta fresca à sombra de uma árvore enorme. Depois do almoço arrumou as coisas no carro enquanto Alex abriu uma cadeira de repouso para Ariane descansar. Ela sentou-se junto a Ariane e pegou no livro que tinha levado, tentou ler mas distraia-se com muita facilidade. Acabou por fechar o livro e respirou aquele ar puro, estava a gostar daquele dia improvisado. Olhou em redor, as poucas pessoas que ainda se mantinham por ali estavam praticamente todas a dormir.

- É costume dormir a sesta nestes dias.
- Já reparei.
- Gostava que viesses ver uma coisa.
- É melhor não, não quero deixar Ariane sozinha.
- Podes ir,  não vou cair da cadeira.
-Pensei que estivesse a dormir.
- Mas quem dorme com este sol todo na cara?! Vou apenas fingir que durmo, e ver se ouço alguma inconfidência.
- Não sabia que se interessava pela vida alheia.
- Vá, vão lá.
Ariane voltou a recostar-se na cadeira enquanto eles se afastavam.
- Onde é que vamos?
- Não vamos longe. É uma ponte meio destruída mas acho que vais gostar.
- Uma ponte?
- Sim. Reza a lenda que estas terras pertenciam a duas famílias. Mas nunca se encontravam pois o lago era enorme. Viviam da terra e iam à cidade duas vezes por mês vender o que sobrava da lavoura. Um dia os filhos de ambas as famílias encontraram-se e apaixonaram-se. Costumavam encontrar-se nessas vendas. Passado algum tempo a rapariga ficou doente e deixou de aparecer. Ele não suportando não ter noticias da sua amada, trabalhou dia e noite e construiu a ponte em apenas um mês para a poder ver sempre que quisesse. Não suportando separar-se dela casaram nessa primavera e viveram aqui neste mesmo vale até ao fim dos seus dias.
- Que historia linda! Mas que aconteceu ao lago?
- Acho que secou, não sei... afinal é uma lenda!
- Não acreditas?
- Ali está ela
Alex evitou responder e Liz não quis insistir.
Realmente a ponte estava mais destruída que outra coisa. Estava coberta por todo o tipo de flores, Liz não percebia, se eram flores selvagens, se foram plantadas pelos populares.
- Mentira ou não tem algo de mágico...
- Sim...não a definiria melhor.
Liz voltou-se e chocou com ele. As sua mãos ficaram coladas ao peito dele.
- É melhor voltarmos.
- Estás a fugir de mim?
- Não. Apenas não gosto de deixar a tua mãe sozinha muito tempo.
- Pois acho que estás a evitar-me. Não olhas-te para mim uma única vez na viagem.

Liz abriu a boca com ideia de responder-lhe que era impressão dele mas achou melhor calar-se.
Evitar olhá-lo exigiu mais força de vontade do que aquela que ela tinha pensado. Liz levantou a vista para o encarar, queria dizer-lhe que o que se tinha passado entre eles fora um erro. Mas isso foi mais um erro, não conseguiu dizer nada assim que encontrou o seu olhar. Ficou ali olhando-o com as mãos repousando no seu peito...
Quando deu por si já a boca de Alex tomava a sua e as suas mãos soltavam o cabelo dela para enfiar as mãos nele e assim poder atrai-la para mais perto.

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