domingo, 1 de maio de 2016

SEDE DE VINGANÇA 9 ª PARTE




Liz acordou sobressaltada. Estava nua! E não estava sozinha! A medo olhou para o outro lado da cama, Alex dormia.
Na noite anterior deixara-o no escritório e subiu para o quarto. Mas quando chegou ao corredor pareceu-lhe ver luz no quarto de Ariane e foi verificar. A luz estava apagada. Lembra-se de ter demorado um pouco a olhar para o vulto na cama, como se mantinha imóvel fechou a porta. Quando se voltou Alex estava atrás dela observando a mãe. Olharam-se sem falar e beijaram-se. O que na altura lhe pareceu ser um beijo de boa noite depressa tomou outro rumo. E quando entrou no seu quarto não o fez sozinha.
Agora não importava quem, como, porquê... Eram adultos saberiam lidar com a situação.

Levantou-se com o máximo cuidado que conseguiu para não o acordar. Vestiu um fato de treino e foi ver Ariane.
Já estava acordada e parecia muito bem disposta.
- Bom dia, o dia hoje está lindo.
- Bom dia, estamos muito animadas hoje.
- Estou feliz. - Ariane sorria - E estou cheia de fome.
- Então vamos comer e ver se a animação se mantêm na ginástica.

Depois de Ariane fazer a higiene levou-a até à sala e deixou-a a tomar o pequeno almoço. Subiu para dar um duche.  Hesitou ao entrar no quarto, abriu a porta a medo mas o quarto estava vazio. Sentiu uma ponta de desilusão. Olhou-se no espelho, ainda tinha restos de maquilhagem da noite anterior. Apanhou o vestido do chão, tinha de o mandar limpar. Tomou um duche, vestiu o roupão por cima do fato de banho e desceu.
Alex estava a conversar com a mãe.
- Bom dia, Está pronta?- Liz evitou olhá-lo, sabia que ficaria vermelha se ele dissesse algo. - Vamos gastar essa energia toda?
- Hoje não podes abusar de mim. Ainda estou cansada do baile.
- Mas... Se não dançou!!
- Achas que não cansa imaginar-me a dançar?!

As duas saíram rindo. A água da piscina estava agradável. A cada dia que passava Ariane fazia os exercícios com mais facilidade.
- Qualquer dia já não precisa de mim.
- De onde tiraste essa ideia?- Ariane parou os exercícios - Claro que preciso! E não quero enfermeiras. Fazem-me lembrar os hospitais.
- Já faz tudo praticamente sem ajuda. E o seu medico diz que se fizer tudo como ele diz...
- Que faz aquela mulher aqui? - ela voltou-se para ver de quem Ariane falava. A mesma mulher que ontem dançava com Alex acabava de chegar. - Espero bem que ele não a convide para ficar!
- Isso é um assunto que não nos diz respeito. Vamos voltar aos exercícios!
- Pois se eu gostasse de um homem como tu gostas dele, eu ia querer saber.
- Como eu gosto?! - Liz estava envergonhada, pensava que conseguia ocultar os sentimentos por ele.
- Não disfarças muito bem. E vocês acham que quando chegamos a velhos ficamos parvos!
- Que foi que fiz para desconfiar?
- Diz antes o que não fizeste. Já tinha as minhas suspeitas, mas no baile tive a certeza. Bastou ver como reagiste ao beijo de Mateus. Não é nada de se deitar fora mas tu trata-lo como a um irmão. A forma como danças-te com ele,  o desaparecimento repentino dele... Mas se tinha alguma duvida, dissipou-se quando danças-te com Alexandros. Ou, como é que tu lhe chamas... - Calou-se tentando lembrar-se -  Alex!? Como vocês ingleses gostam de usar diminutivos.
-  Eu não queria...a serio! - Liz não sabia que dizer para se justificar  - Entendo perfeitamente se quiser que me vá embora. Nunca tive...
- Que disparate! Porque haverias de te ir embora? Porque te apaixonas-te? Isso não é motivo. A menos que aches que devas.
-  Não é correto. Nunca estive numa situação destas.
- No amor não há correto nem incorrecto.
- Mas envolver-me com Alex não é ético!
- A ética não tem nada que ver com o amor! Eu não fui completamente feliz mas tenho a certeza que se não tivesse casado com Angus ia lamentar para o resto da minha vida!

Ariane calou-se,ela vislumbrou uma sombra na água da piscina.

- Peço desculpa por entrar assim. Mas a Maria estava a fazer o almoço e Alexandros está no escritório. - Mateus olhava para as duas que se mantinham caladas.- Vim para falar contigo se me dispensares uns minutos. Se a prima não se importar.
- Até agradeço filho. Ela mata-me com estes exercícios.

Mateus ajudou Ariane a sair da piscina e esperou que Liz vestisse o roupão. Afastaram-se um pouco e sentaram-se num dos bancos do jardim.
- Queria pedir-te desculpa pelo meu comportamento de ontem.
- Não era preciso.
- Era sim. Gostava que me visses como amigo. Ontem esperava... - Mateus parecia procurar as palavras certas - Nem sei ao certo o que esperava.
- Deixa isso. Prometi que te ajudava quando fosses para Inglaterra e se estiver por lá faço questão de te ajudar. Gosto de falar contigo, mas apenas isso. Espero que percebas.
- Sim, eu sei. Mas aviso-te, a concorrência é imensa. - Mateus começou a falar de Alex - Pensei que ele já tinha esquecido aquela víbora que está com ele agora.
- Se é uma víbora é das mais belas que já vi.
- Tem cuidado com ela Liz. Ela não olha a meios para atingir os objectivos.
- Parece-me que a conheces muito bem.
- Chama-se Nadine, é jornalista. Veio para cobrir uma notícia quando o pai de Alexandros comprou os primeiros terrenos. Mas não conseguiu que lhe dessem uma entrevista.  Resolveu abordar outro ângulo. Começou a frequentar os mesmo sítios que Alexandros até que lho apresentaram, nessa altura ele tinha... - Mateus fechou os olhos como se estivesse a rever algo  - Acho que tinha 17 anos, e apaixonou-se perdidamente. Foi questão de meses até ela ter acesso à casa e saber todos os segredos da família. Segredos esses que acabaram por aparecer nas capas das melhores revistas. Aconteceu algo que me escapou, na altura eu tinha 13 anos e não queria saber dessas coisas, apenas sei que no ano seguinte ele deixou de usar o nome do pai e saiu de casa.- olhou-a nos olhos - Ele não tolera que o enganem, seja em que aspecto for. A última pessoa que lhe mentiu foi o pai e já te contei como reagiu a isso. Se é importante para ti e tens algum segredo é melhor seres tu a contar. Acredita no que te digo, ele vai descobrir, se for esse o desejo dele!
- Vou ter isso em consideração - ela sentiu um aperto enorme no peito, o que a tinha levado até ele era isso mesmo, um segredo. Quando ele soubesse nunca mais a queria ver à frente.- Obrigada.
- Não o digo para que me agradeças. Ele é muito protector com os seus, lembro-me que protegeu sempre Petros, mesmo quando arranjava problemas. Alexandros estava sempre por perto para os resolver. - Calou-se por uns instantes - Acho que se sente culpado pela morte do irmão.
- Culpado?!
- Tiveram uma discussão uns dias antes. Petros arranjou problemas numa festa, acho que queria defender uma inglesa e acabou por ir parar ao hospital com uma ferida na cabeça. Alexandros quando soube confrontou-o e acabaram por discutir. Petros disse-lhe que não admitia que ele o tratasse como um bébé, que não era pai dele, e não ia tolerar que o proibisse de estar com quem ele quisesse. A partir desse dia deixou de proteger Petros.
- É frequente os irmãos discutirem.
- Com Alexandros não se discute. Obedece-se. Tenho pena de ti. Ele é mais grego que inglês. Vai arranjar amantes e tu vais sofrer. - Ele agarrou-lhe a mão -Podias dar-me uma possibilidade.
- E tu não és grego?! - Retirou a mão e sorriu-lhe - Já devias de saber que há coisas que não se forçam.
- Mas outras precisam de um empurrão, ou de serem forçadas.
- Quando se forçam as coisas, acabam por correr mal.
- Nem sempre.
- Vamos?! Estou à muito tempo longe de Ariane.

Mateus acenou a Ariane que estava a apanhar sol, Liz acompanhou-o até ao carro onde lhe deu um abraço e trocaram numero de telemóvel.
Ficou a vê-lo partir. Voltou para junto de Ariane quando o carro desapareceu no horizonte.
- Até que é simpático.
- Claro que é, afinal é um Kristous. - disse como se aquilo fosse um dado assumido.
- Que tal mexer essa simpatia até à piscina? Deixá-mos os exercícios a meio.
- E eu a pensar que te esquecias...

Meia hora depois voltavam para casa, A porta do escritório ainda estava fechada. Depois de trocarem de roupa voltaram para o jardim. Ficou a pensar no que lhe tinha contado Mateus, Alex redobrava-se em cuidados com Ariane por se sentir responsável pela morte de Petros. Tinha medo de não estar presente se a mãe precisa-se. Preocupava-se demasiado com a mãe, tentando controlar o destino, como se o facto de a rodear de gente pudesse evitar o inevitável.
- Temos de escolher outro.
- Outro?! - Liz não percebia do que ela estava a falar
- Do livro. Esse está quase no fim. Se bem que hoje não estás a prestar atenção.
- Estou a gostar muito, não conhecia George Leonardos.
- Por isso é que estás sempre a parar?
- Estou?
- Sim, e já leste a mesma página 3 vezes.
- Li?! - Ela estava tão embrenhada nos seus pensamentos que nem se apercebeu disso. - Desculpe. Estava a pensar em Alex. Não consigo compreende-lo.
- É homem, não se compreende. Ou se ama ou não.
- Esta obsessão dele em não ir a sua casa,de não usar o nome do pai. Não tem razão de ser.
- Para ele tem. É muito orgulhoso. Tudo anda à volta do mesmo. O pai! Não quer nada que tenha vindo do pai. Envergonha-se da forma que fez fortuna. Se dependesse dele já tinha vendido o que resta da empresa do pai.
- Como assim?
- Quando o pai faleceu, deu a parte dele aos empregados mais antigos. Apenas segue a tradição do baile, pois o dinheiro reverte para caridade. A parte de Petros está entregue a um advogado. O orgulho é como o ódio, destrói silenciosamente. E ele matou uma parte dele à muito tempo.

 Depois disso esforçou-se por concentra-se no livro. Se ele detestava que lhe mentissem, devia de contar-lhe quem era? Estava disposta a arriscar-se a perde-lo? Será que o amor que sentia era forte o suficiente para suportar vê-lo com outras mulheres? Tanta pergunta na sua cabeça...Quando fosse deitar-se tinha tempo de responder a todas elas. Se elas tivessem resposta!
Passou o resto do dia alheia a tudo. Nem tentou dissuadir  Ariane, quando esta quis comer a segunda fatia de bolo de chocolate! A noite parecia não chegar nunca mais! Deu um salto no sofá quando o telefone tocou, Maria atendeu e veio dar o recado.
- Era da clínica, tenho de fazer os exames amanhã.
- A que horas temos de ir?
- Não precisas de ir, vai demorar imenso. Vou de táxi...
- Vou acompanhá-la e não se fala mais nisso.
- Agora tenho dois a mandar em mim! Pensei que estavas do meu lado!
- Estou do lado da sua saúde! E acha que eu ficava descansada?
- Só pensei que podia deixar-vos a sós um pouco, estou sempre aqui...
- E está muito bem. Nunca ouviu dizer que quem quer arranja sempre um jeito?! - E eles tinha dado um jeito a noite passada

Quando se deitou, deixou a tristeza tomar conta do seu coração. Falou com a sua mãe como há muito não fazia... lágrimas grossas caiam pelo seu rosto quando ouviu mexer a fechadura da porta. De certeza que era ele. Ainda bem que a tinha fechado à  chave! Não estava com animo para enfrentá-lo. Ignorou quando bateu na porta, mas quando bateu novamente o som foi mais alto. Tinha de ir ou ia acordar Ariane. Limpou as lágrimas e entreabriu a porta.
- Estás bem? Porque fechas-te a porta?
- Doí-me a cabeça e preciso de descansar.
- Tens a certeza que é isso?
- Que mais podia ser?
- Não precisas de nada?
- Só de dormir, boa noite.
- Que melhores.

Meteu-se na cama e abraçou os lençóis abafando o choro na almofada. Adormeceu algum tempo depois. Levantou-se ainda o sol não tinha nascido. Vestiu uns calções e uma t-shirt e foi correr um pouco. O exercício físico sempre a ajudou a tomar decisões.
Quando decidiu vingar-se pensava que Petros era o culpado de tudo e agora sabia que não. Se Ariane soubesse quem ela era possivelmente iria odiá-la. E Alex fazia-lhe a vida num inferno. Como sair daquilo?! E para rematar tudo com estilo, estava apaixonada por ele! Que tinha feito com a sua vida? Olhou o céu e deixou-se cair no chão chorando. Implorando ajuda divina. Ao mesmo tempo que repetia baixinho: Ajuda-me mãe, preciso tanto de ti!
Deixou-se ficar ali por uns momentos, tinha de voltar para casa, Ariane tinha de fazer os exames.
Recompôs-se, não tinha resolvido que fazer, mas encontrava-se mais animada.
Pensou que ainda estavam a dormir e foi fazer um café antes de subir para se lavar. Mas foi interrompida.
- Estás melhor? - Liz não estava à espera que ele já estivesse acordado.
- Mas andas a tirar algum curso de ataques cardíacos?
- Tens por costume sair a correr pela manhã ou só depois de uma dor de cabeça?
- Ajuda-me a pensar. - aquilo sai-lhe sem querer
- E porque precisas de pensar?
- Coisas minhas. - voltou-lhe costas mas ele segurou-a, ela olhou a mão dele no seu braço, as fugas dela nunca foram bem sucedidas - Podes soltar-me? Vou ver da tua mãe.
- Precisavas de pensar na proposta de Mateus? - Como não obteve resposta insistiu - É isso?
- Mas qual proposta? - A mão dele começou a apertar o braço dela com mais força - Estás a magoar-me.
Ele fixava os olhos nela sem aliviar a pressão que exercia. Maria entrou na cozinha cantarolando, ele soltou-a e ela aproveitou para se meter no quarto.
Acabava de se vestir quando ouviu o carro dele a arrancar. Respirou fundo.

Estava à espera no corredor da clínica quando uma enfermeira veio dizer-lhe que Ariane queria falar com ela. Já estavam ali à duas horas e não havia meio de terminar os exames.
- Ainda tenho de fazer mais exames, é melhor ires para casa. Já falei com o director e vou ficar cá esta noite.
- Então eu fico consigo.
- Não é preciso, vais descansar e amanhã vens apanhar-me. Depois podemos ir beber aquele café, que tanto gostas-te no outro dia.
Uma enfermeira pediu-lhe que saísse e  entrou com uma máquina, ela ainda viu que estavam  a ligá-la a Ariane.
- Isto é mesmo necessário? - Perguntou à enfermeira
- Desculpe?!
- Ela ficar cá a passar a noite.
- Bem, podia fazer o exame em casa. Mas como tem de fazer outro amanhã logo pela manhã é preferível ficar cá e assim motorizamos melhor. Mas não se preocupe, está em boas mãos.

 Agradeceu à enfermeira e saiu para o calor da tarde. Olhou em redor, era a altura ideal para passear com calma. Ligou para Alex, estava chateada com ele mas não tinha outra alternativa, não se via um táxi por ali e precisava que alguém a viesse apanhar.
 Tinha o telemóvel desligado, como não sabia o numero de casa o melhor era ir insistindo ou então tentar encontrar um táxi. Perdeu-se admirando as ruas, sentou-se numa fonte observando umas crianças que brincavam na rua. Depois de ligar várias vezes para Alex sem êxito, desistiu, o melhor era tentar fazer-se entender para pedir ajuda. Com tanto turista por ali, alguém devia de falar inglês! Duas ruas depois estava ficar desesperada. Meteu-se por uma rua estreita atrás de um grupo de pessoas mas foi parar a uma festa! Quando voltava pelo mesmo caminho sentiu uma mão agarra-la. Pensou que ia ser assaltada, mas era Mateus. Respirou de alívio!
- Que fazes aqui nesta parte da cidade?
- Nem eu sei, comecei a andar e quando dei por mim estava perdida. Ariane tem de ficar a fazer exames e Alex não atende o telemóvel...
- Anda, vou levar-te a casa. Vou avisar a minha prima que vou chegar tarde à festa dela.

Mateus voltou com uma senhora baixa, muito sorridente. Perante tanta insistência acabou por ficar a jantar com eles, não aproveitou a festa pois não conseguia perceber o que diziam, e acabou por sentir-se mal por monopolizar a atenção de Mateus. Percebendo que ela não estava à vontade levou-a a casa depois de se desculpar pela ausência. Quando chegaram à herdade Mateus parou o carro, e abriu-lhe a porta para ela sair.
- Que cavalheiro. A preparares-te para as inglesas?
- A única inglesa que me interessa está aqui. - Mateus acaricio-lhe o braço, mas ela desviou-se
- Mateus, por favor. Não compliques as coisas. Sabes que não sinto nada especial por ti.
- Como podes ter a certeza, se nem me deixas tentar conquistar-te?
-É melhor ires. Obrigada pela ajuda.

Ela ficou a ver Mateus partir.  Olhou a casa, sob o luar parecia mais imponente, a luz do escritório estava acesa, sinal que Alex estava acordado.
Usou a chave que lhe tinham dado, e dirigiu-se ao escritório, não queria conversar com ele mas tinha de lhe dizer que a mãe ficou a passar a noite na clínica.
Bateu à porta mas não respondeu. Voltou a bater. Desta vez a resposta chegou, mas nas suas costas.
- Querias algo?
- A tua mãe ficou no hospital.
- Eu sei, ela ligou a avisar e a perguntar se tinhas chegado. Mas já vi que tinhas outros planos!
- Como assim?!
- Ora, não te faças de desentendida! Mateus! Acaso vais negar que passas-te este tempo todo com ele?!
- Vou sim. Não aconteceu nada demais!
- Queres que acredite que deram um inocente passeio?! - Alex riu, um riso sarcástico - Não me faças de idiota!
- Acredites ou não foi o que aconteceu! Aliás, dei um passeio sozinha e encontrei Mateus por acaso.
- Por acaso?! Nem tu acreditas nisso! Passas-te a tarde na sua cama...
O som de um estalo ecoou pela sala vazia. Ele levou a mão à cara e esfregou o local.  Liz subiu as escadas, na tentativa de esconder as lágrimas. Alex alcançou-a no cimo.
- Quando quero uma coisa, nada me detêm. E quero-te a ti! É bom que o recordes...
- Pois tenho uma novidade para ti! E é bom que a recordes! - Olhou-o desafiante - Eu não sou uma coisa!

Estava furiosa, mas ele estava muito mais. Tentou beijá-la mas ela lutou contra ele. Amava-o e queria estar com ele mas não assim. Não via nada do homem que amava, naquele homem que a agarrava à força! Parecia possuído, a camisa dela rasgou-se com a força que ele fez para a segurar contra a parede numa nova tentativa para a beijar. Lágrimas de dor e mágoa caíam no agora peito nu dela. Os olhos dele fixaram-se no sobe e desce desgovernado do peito dela, e passaram para a camisa rasgada, de repente largou-a. Sem pensar duas vezes, ela entrou no quarto e fechou a porta à chave.
Meteu-se no chuveiro e chorou até não ter mais lágrimas. Que iria fazer?

Atirou a camisa para o lixo e deitou-se. Apetecia-lhe um chá mas não queria correr o risco de o encontrar. Era melhor deixar passar a noite. Mas não conseguia dormir. Revia a cena vezes sem fim, por um lado estava magoada mas por outro tinha a sensação que ele fizera aquilo por ciúmes!  Se assim fosse era sinal que sentia algo por ela! Quanto mais pensava naquilo, mais vincada ficava a ideia de que ele teve ciúmes dela. Ela dera-lhe um estalo! Aquilo também contribuiu para a explosão dele. Passava das duas da manhã e ainda não tinha dormido! A esta hora ele já devia de estar a dormir, encheu-se de coragem e desceu.
A casa estava às escuras. foi para a cozinha e fez chá. Não tinha sono, sentou-se na sala a olhar a lua brilhante.
Acordou com calor, sentiu algo macio em cima do seu corpo, não se lembrava de se ter tapado, tentou abrir os olhos, o sol batia-lhe na cara. Mesmo com dificuldade conseguia ver que ele estava ali a olhá-la.
- Precisamos de falar.
- Acho melhor não. Deixa as coisas como estão. - levantou-se e passou por ele - A pensar no bem estar da tua mãe, tentaremos dar-nos o melhor possível.
- Liz, as coisas não podem ficar assim!
- Claro que podem! Já trabalhei para pessoas a quem nem os bons dias dava, por isso...- ela encolheu os ombros, queria dar a entender uma calma que não sentia- Vou vestir-me para ir apanhar a tua mãe.

Começou-se a ouvir Maria a cantarolar.
- Raios! Mas quem se levanta com vontade de cantar a esta hora? Preciso de falar contigo. Só te peço cinco minutos.
- Agora não adianta -mantinha o olhar fixo na mão que ele pousara no seu braço para a segurar. - Há coisas que quanto mais se tentam resolver pior ficam.
- Por favor! - Olhou-o nos olhos,havia neles algo que a fez ceder e acabou por concordar.
- Cinco minutos. - Ele acenou em sinal de concordância
- Mas aqui não. - Levou-a para o escritório, sempre que ela via a secretária lembrava-se da noite que passou com ele- Aqui estamos à vontade.
- É melhor começares, não quero chegar atrasada.
- Primeiro quero pedir-te desculpa. Não sou assim. Mas imaginar-te com Mateus...
- Não estive com ele.
- Que queres que te diga?! Não foi correto o que fiz, mas tiras-me do sério! Não percebi que tinha o telemóvel desligado. Quando o liguei e vi as tuas chamadas... Mortifiquei-me! Não serve de desculpa eu sei.
Como se quisesse provar o que dizia, agarrou-lhe a mão e levou-a ao peito.
- Sentes como estou?!- O coração dele parecia querer saltar do peito, ao sentir o calor do seu corpo lembrou-se das caricias dele, olhou-o nos olhos e aí esqueceu tudo o que tinha acontecido na noite anterior, instintivamente começou a acariciar o peito dele.- Desejo-te Liz. E não penso esconder isso.

As palavras deram lugar aos actos, procuraram a boca um do outro ao mesmo tempo, aquele beijo acabou com qualquer reserva que ela tivesse. Desta vez quando ele a encostou à parede ela não fugiu, gemeu ao sentir na sua coxa o desejo dele. Queria-o, precisava dele... Ele elevou-a ao nível da sua cintura e encaixou-se nela mantendo-a contra a parede. O seu coração batia ao mesmo ritmo do dele,e as suas bocas estavam coladas abafando os gemidos que saíam roucos das gargantas. Desta vez ela nem sentiu que ele estava chegar ao limite. Só deu por isso quando um agradável calor invadiu o seu interior.
- Não era para ser assim.

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