quinta-feira, 16 de junho de 2016

ACASO DO DESTINO 5ª PARTE



Faltava poucos dias para o casamento, Anita acabou por aceitar tirar uns dias.
Ela estava cada vez mais confusa em relação a Fernando. Felizmente era domingo e estava de folga. Assim não pensava tanto nele.
Com os filhos no cinema, ela e Filipa foram à pastelaria do costume, tomar café. Estava a conversar distraidamente quando sentiu umas mãos pequenas taparem-lhe os olhos.
- Adivinha quem é? - A voz era inconfundível, e se ela estava ali, ele não andava longe.
- Hum! Eu conheço esta voz... mas não me lembro.
- Sou eu...
Uma carinha sorridente apareceu à sua frente.
- Acho que conheço esta menina linda. Não dás um beijo à Filipa?
- Ela já não se lembra de mim.
- Lembro pois. És a madrinha da Ana. - E deu um beijo e um abraço a Filipa.
- Boa noite, desculpem a intromissão. Mas, nem me deu tempo de a segurar.
- Não tem problema. - Evitava olhar directamente para ele - A minha amiga Filipa.
- Prazer, Fernando.
- O meu pai. - A voz de Rita fez-se ouvir
- Muito gosto. Não se quer juntar a nós? Ou está acompanhado?
- Não quero incomodar.
- Não incomoda nada, pois não Caty?! - Filipa estava a provocá-la e divertia-se às suas custas.
- Claro que não. Queres um gelado? - Levou Rita pela mão até ao expositor dos gelados. Sabia de ante mão que ia ter de responder a um milhão de perguntas da amiga.
O resto da noite correu bem, Fernando provou ser uma excelente companhia. Quando se despediram, Filipa convidou-os para jantar lá em casa no próximo domingo.
- Ora bem... que tens a dizer em tua defesa?
- Nada.
- Nada?! Minha amiga, com um homem destes rondando e a mulher longe, não pensava duas vezes. Ah, não pensava não. Está a olhos vistos que tem interesse em ti. E não é monetário...
- Sim, eu sei.
- Sabes?! - Filipa olhava para ela cheia de curiosidade
- Sim, sei. Mas, não digo mais nada.
- Não acredito...

 No dia seguinte, entrou em casa, sentia-se sozinha, depois de deixar Rita na escola. Duas horas depois tinha a casa arrumada, sem Rita pouco tinha a fazer. Como Fernando não vinha almoçar, não precisava de fazer almoço. Fez um café e ficou olhando o jardim. Lembrou-se do dia em que ele a subiu na capota do jipe... E se?! Porque não?!
Uma hora depois, estacionava junto ao jipe dele, no solar o por do sol. De repente, começou a ter duvidas. E se estivesse acompanhado? E se não gosta-se que ela tivesse vindo? Não podia voltar atrás agora, saiu do carro e bateu à porta. Fernando, ficou admirado de a ver.
- Está tudo bem?
- Sim. Pensei... como não está ninguém em casa... Olha, esquece. Nem sei porque vim ao certo.

Quando voltou costas, ele segurou-lhe a mão e voltou-a para ele.
- Na última visita, mandei-te para casa. Mas hoje não o farei... Tens a certeza que queres ficar?
- Sim.

As coisas estavam um pouco diferentes desde a última visita. A sala da lareira estava minimamente arrumada. Tinha tirado os panos de cima dos móveis. Umas caixas estavam espalhadas junto à lareira, que estava acesa. Notava-se que esteve a queimar papeis.
- Não devia de ter vindo, estás a trabalhar.
- Não, estou apenas a rever coisas da minha avó! Tenho de resolver, e rapidamente, o que fazer com a casa. Mas são tantas recordações.
- Compreendo.  Queres ajuda?
- Depois. Agora, quero beijar-te.
Ele tirou-lhe o elástico que tinha a segurar o cabelo. E acariciou-lhe o pescoço. Ela fechou os olhos, gostava de sentir as mãos dele. Beijou-a e tirou-lhe a camisola. Voltou-a e beijou-lhe as costas e a parte de trás do pescoço. Ela cada vez que ele a tocava tinha mais dificuldade em respirar. Por uns segundos deixou de sentir as mãos dele. Quando voltou a sentir as mãos dele, foi para a voltar para ele. Reparou que já não tinha a camisa. Tocou o peito dele, tinha uma cicatriz do lado esquerdo, acariciou-a. Não tinha reparado nela na outra vez. Deitaram-se no tapete e pouco a pouco,o resto da roupa amontou-se num canto da carpete. Os beijos dele pareciam fogo na pele gelada dela. Ela estremeceu quando os beijos desceram até às suas pernas, e voltaram a subir até acabar na sua boca. Desta vez não estremeceu, apenas sentiu prazer quando o sentiu dentro dela, ele fazia questão de olhar para ela a cada movimento. Mais uma vez uma lágrima caiu, não a conseguia controlar, tentou esconder, mas ele beijou-a com mais carinho. O prazer que sentia era indescritível. Não se lembrava de ter sentido emoções destas.

Ela vestiu a camisa, e sentou-se entre as pernas dele em frente à lareira. As chamas da lareira brincavam com os seus corpos semi nus.
- Estás muito calada.
- Estava a pensar na Rita.
- Na Rita?! Que tem?
- Nada, apenas fiquei curiosa. Pareces-me muito controlado, mas ela disse que no outro dia a acordas-te. Estavas a fazer muito barulho.
- Sim... - Deu-lhe um beijo no pescoço - Nesse dia, fui acordado pela minha rica esposa. Quer passar duas semanas com a Rita! Acho que atirei um livro contra a parede!- Sentiu o corpo dele ficar tenso - Confesso, perdi a cabeça! Por isso chamei o Vitor! Ela não pode estar com a minha filha!
- Mas não a podes impedir de a ver. - Depois de saber o que ela fizera à menina, também não gostava da ideia.
- Sei disso... Vitor vai ver que pode fazer. Até lá, se a quiser ver terei de aceitar.
- Está no seu direito, e geralmente os tribunais preferem dar a guarda ás mães.
- Não a quero proibir de ver a filha, apenas não fica sozinha com ela em circunstância alguma!
- Não tinha mostrado interesse em ficar com ela antes?
- Quer apenas as casas,e uma boa mesada.-  Um sorriso sarcástico apareceu no rosto cansado - Desde que dei entrada com o divorcio que ela quer metade do que é meu. Nunca concordei, mas agora...

A voz dele era carregada duma profunda dor, estaria ele a tentar ocultar o muito que ainda amava a mulher?! Ou era medo de perder Rita?! Ela apenas podia imaginar, o que se sente quando há a possibilidade de ficar sem um filho! Queria consolá-lo. Voltou-se e abraçou-o. Ficaram um pouco assim aninhados nos braços um do outro. Ela, que tinha os olhos fechados, quando os abriu, viu a cicatriz dele. Acariciou-a. Parecia tão dolorosa...
- Deve de ter doído muito. - Deixou a mão em cima dela.
- Tive um acidente. - Ele desembaraçou-se dos braços dela - Não quero falar nisso.
Quando deu por isso ele já se tinha vestido. Ela fez o mesmo em silencio. Aparentemente, o momento tinha passado.
- Se o solar fosse teu, que farias? - A pergunta apanhou-a de surpresa.
- Meu?! Não sei.
- Imagina que era teu, na certa tinhas algumas ideias.
- Assim de repente...
- Vendias? - Não percebia a insistência dele.
- Queres que opine sobre uma coisa sobre a qual tu é que deves decidir.
- Apenas estou a pedir a tua opinião.
- Muito bem... Primeiro ponto,se fosse da minha avó nunca o vendia. Fazia questão de o arranjar, fazia dele a minha casa. - Sorriu - Embora grande demais! Segundo ponto, se precisasse de lucrar com ele, o que não é o teu caso, dividia-o e alugava quartos, com acesso à cozinha, para que todos pudessem usar ...
- Para quem não tinha ideia do que fazer... - Ele parecia divertido com a ideia
- Desculpa, acho que me entusiasmei. Quando o vi no outro dia, pensei logo que, no teu lugar nunca o venderia.
- É uma boa ideia. Aproveitar o espaço... As terras são boas.

Depois desse dia, ele não se evitava de a beijar, sempre que estavam a sós. E, muitas vezes, acabavam na cama. Mas, nunca mais voltaram a falar, nem na mulher dele, nem na cicatriz.
E quando se deitava, muitas vezes pensava que era a última vez, que não era correto estar com ele. Que se fosse ela não gostava que lho fizessem... Mas depois, quando ele a beijava, todas essas intenções caíam por terra. E era nisso que pensava nesse domingo quando estavam a jantar em casa de Filipa.
- Vês o que digo madrinha? Já está outra vez naquilo! Mãe?!
- Desculpa, estou cansada.
- Cansada?! Oh mãe, já lhe chamaram muitas coisas, mas cansaço?!
- Não comeces com as tias imaginações!
- Porque não vais ter com o Miguel?! - Filipa tentava ficar a sós com a amiga, mas em vão.
- Ela acha que, porque tenho 13 anos sou parva, ou cega!
- Não disse isso, apenas disse que andas a imaginar coisas.
- Mãe, és nova, bonita... o pai já se foi à tanto tempo. Achas que levo a mal que arranjes um namorado?! O que acho mal, é andares assim, a fingir que está tudo bem. E outra coisa, ter um namorado, não quer dizer que te cases com ele! Sempre me disseste que se quero uma coisa. devo ir à luta. Nunca permitir que me digam o que posso ou não fazer.
- Ana! Deixa-me a sós com a tua mãe? - Filipa voltou a insistir - Vai lá ver dele.
-Acho que está na hora de seguires os teus próprios conselhos.- Ana deixou-as a sós. Filipa ficou a olhar a amiga, à espera que esta dissesse algo.
- Bem. Podes tentar esconder, mas a verdade é que ela tem razão. Andas esquisita. Mais que o normal!  E se andas com alguém, ninguém pode levar a mal. És viúva, podes fazer o que quiseres.
- Mas ele é casado!  - Aquilo saiu-lhe sem mais
-  O teu... - Abraçou a amiga - Ai amiga, que coisa. Daí esse olhar triste. Vocês já...  desculpa, não tenho nada com isso. - O olhar que a amiga lhe deu respondeu à pergunta.
- Acho que estou apaixonada, e por um homem casado! Já viste a minha sorte?
- Tu ainda achas?! Bem, vendo a coisa pelo lado positivo. O homem é um pedaço de mau caminho, ao menos perdeste-te bem.
- Não brinques!
- Tenho de brincar. Para a semana é o casamento da Anita, não quero que sejas a madrinha mais sisuda da historia. Tenho um remédio infalível para te animar. Dá uma boa rebolada no homem...isso faz maravilhas à pele. Deixa o olhar luminoso... A pele mais brilhante... Dizem os entendidos!
- Não tens remédio.
- Ao menos fiz-te rir.

Filipa tinha razão, ela animava-a sempre. Conseguia ver as coisas por outro prisma. Ela estava viúva, ele estava a separar-se, o que faziam não era da conta de ninguém.  Ela já aceitara, o muito que se sentia atraída por ele. O quanto desejava estar com ele! Sentia-se bem quando estavam juntos, e ele também. E isso bastava-lhe. No dia que ele não a quisesse mais, logo se via.

Os dias que antecederam o casamento de Anita, passaram voando. E chegou finalmente o grande dia.

A igreja estava linda, enfeitada com flores brancas e rosa salmão, ideia da Ana. O noivo conversava com os pais. Ela estava com a noiva nas traseiras da igreja, estavam à espera do padrinho, o que deixava Anita nervosa.

- Só a mim. Mas porque não convidei outra pessoa?! Nem chegava a saber que me tinha casado.
- Vai aparecer, vais ver, está apenas um pouco atrasado.
- E se não parecer. Não posso casar sem padrinho!
- Acalma-te, eu vou ver se já chegou. No fim já chegou e estamos aqui feitas parvas.

Catarina espreitou pela porta lateral, mas além do noivo e dos padrinhos deste, não havia mais ninguém no altar. Chamou Ana, que confirmou que ainda não tinha chegado. Antes de fechar a porta ainda a viu ir falar com Fernando. A pequena Rita já estava a ficar cansada de estar à espera.
- Então?! Já?!- Anita, a cada minuto que passava,estava mais nervosa.
- Ainda não. Mas o padre também não apareceu. Ainda temos tempo.
- Eu devia de ter calculado, quando ele não pareceu ontem à noite...
- Desculpem! - Fernando interrompeu-as - O noivo está a ficar impaciente, além da menina das alianças.
- Mas o noivo vai ter de esperar mais um pouco. - Ela começava a ficar nervosa também - O padrinho não parece.
- Estás sem padrinho.
- Pois, e sem ele não se pode casar.
- Duvido que o padre ponha obstáculos a isso.
- Ele tem de assinar, é como se fosse testemunha. - Anita estava quase a chorar - Isto só a mim!
- E não arranjas outro padrinho?
- Agora?! Em cima da hora?
- Eu posso ser. - Ele olhava para a cara de espanto delas - Se não te importares que seja teu padrinho.
- Você?! - Anita abraçou Fernando e beijou-o, depois ficou vermelha - Obrigada, muito obrigada.
- Vamos, que o noivo ainda desmaia.

Anita entrou na igreja pelo braço de Fernando. Ao vê-lo dirigir-se ao altar, sentiu um nó na garganta. Tinha vontade de chorar. Estava tão elegante. Tentou concentrar-se na pequena Rita, que balançava ao som da marcha nupcial.
Durante a cerimonia, olharam-se várias vezes. Anita estava radiante, a festa foi linda. O restaurante tinha a sala muito bem preparada e nada faltou. Muitos dançavam, mas após a dança obrigatória aos padrinhos, ela e Fernando, optaram por se manterem afastados. Quando chegou a hora dos noivos partirem para o hotel, Fernando deu um envelope a Anita, e pela segunda vez no mesmo dia, abraçou Fernando.
A maioria das pessoas, partiu depois dos noivos abandonarem a sala, mas Ana e Miguel ainda dançavam. Ela não queria arruinar a noite deles. Rita corria pela sala com outra crianças.
- Saudades dessa idade? - Ele sentou-se perto dela - Estás linda.
- Obrigada, tu também estás muito elegante. - Ela corou - Não, tudo tem o seu tempo, e um dia tudo termina.
- Há coisas que nunca terminam. Isto é, se as cuidarmos. - Ela sentiu que ele estava a dar um duplo significado às palavras.
- A Rita portou-se bem.
- Sim, nunca esperei.
- É uma menina linda, com um coração de oiro.
- Entregaste assim, a todas as crianças que cuidas?
- Basicamente sim, umas mais outras menos. Mas todas tem um lugar no meu coração.
- E sobra um pouco para mim?!
Sentiu-se corar, baixou a cabeça. Quando a levantou Ana vinha com Miguel.
- Mãe, posso ir com Miguel?! A madrinha está lá fora, e amanhã eles vão a casa dos avós dele, posso?!
- Ainda nem saíste de um casamento e já estás a pensar em sair de passeio?
- Oh mãe, só se é jovem uma vez... Não é Fernando?!
- Ela tem razão. Só se vive uma vez...

Acabou por deixar Ana ir com Miguel e Filipa. Na solidão da sua cama, chorou. Nunca se tinha sentido tão triste, tão sozinha. Nem quando ficou viúva. Tinha amado o marido, disso não tinha duvidas. Mas era um amor de adolescente, o que sentia por Fernando, era um tipo de amor diferente, maduro. Amor de mulher, não de adolescente. As lágrimas foram perdendo força com a chegada da madrugada.
No domingo, o sol brilhava. Depois de um duche saiu. Não queria ficar em casa, Ana não estava, e a casa parecia ainda mais vazia que na noite anterior. Sentou-se no jardim a ler um livro. Mas não se conseguia concentrar. A imagem de Fernando a entrar na igreja, não lhe saía da cabeça. Ele mostrou ser uma pessoa diferente, da que ela tinha imaginado, quando o viu a primeira vez.

Sorriu ao lembrar-se de como tinha sido carinhoso nas vésperas do casamento de Anita. Estava a fazer o almoço e ele abraçou-a e beijou-a como costumava fazer quando estavam sós. Soltou-lhe o cabelo antes de voltar a beijá-la.
- Porque insiste em prender o cabelo? Fica melhor assim, solto.
- Porque não gosto de o sentir a bater-me na cara quando me mexo.
- Pois eu adoro, senti-lo. - Apanhou o cabelo com a mão dele, e colocou-lho em jeito de coque, mas voltou a soltá-lo - Queres vir ao solar?
- Sabes que não posso, a Rita não tem aulas a partir das duas. E ambos sabemos que se for onde as coisas vão parar.
- Não necessariamente, já não temos vinte anos. Existem outras formas de aproveitar a companhia um do outro, sem ser na cama.
- Sim, mas não pode ser.
Deu-lhe um beijo e saiu. Voltaram a encontrar-se para almoçar.

Um cão passou a correr por ela a ladrar e tirou-a do sonho. Resolveu voltar para casa, afinal, lá sempre podia sonhar sem ser incomodada.

Sem comentários:

Enviar um comentário