Por uns instantes fiquei a olhá-lo, sem dizer nada mais, apenas mantinha os meus olhos nos dele. Ouvi passos atrás de mim.
- Luca?!
- Sim.
- Olá, sou Alexi. É um prazer conhece-lo pessoalmente, este é o meu marido, Manu.
- Sim.
- Olá, sou Alexi. É um prazer conhece-lo pessoalmente, este é o meu marido, Manu.
- Prazer.
- Obrigada por ter vindo, entre. Eu vou ajudar a minha mãe, não demoramos.
Ainda atordoada com esta conversa, vi-me arrastada pela minha filha, em direcção ao meu quarto.
- Ora bem, que vamos vestir?! Este verde?! Não... O azul escuro, sim, este fica-te bem.
- Podes dizer-me o que se passa?
- Isso queria eu saber, mas terá de ficar para amanhã ou depois. Hoje vamos festejar o teu aniversário.
- Pára! Sou tua mãe, não o oposto!
- Pois não parece. Levas-te uma vida inteira, a dizer-me que fizesse o que o coração me manda, que não deixe a opinião dos demais comandar a minha vida. E tu vives para todo o mundo menos para ti?!
- Não queiras comparar. Tens toda uma vida pela frente
- E tu?! Acaso não?! Oh mãe, tens ali um homem que te adora.
- Meus Deus, o que foi que ele te contou?! Que vais pensar de mim?!
- Pensar?! Por agora, que és idiota por deixares fugir aquele pedaço de homem. Viste bem aqueles olhos?! E aqueles braços?! Uma mulher deve de se sentir protegida neles! Nem quero imaginar como era quando tinha vinte anos!
- Era absolutamente lindo!
- Como é que é?! Agora tens de contar.
- Conheci Luca à muito tempo, andava à escola. Ele foi... oh filha, desculpa.
- Mãe, achas que sou parva?! Pensas que não sei o que sofreste com o pai?! E as amantes todas que teve?! Nunca percebi porque ficas-te com ele. Mas isso tem de ficar para depois, agora vamos jantar, temos dois homens à nossa espera.
- Obrigada, pensei que ias...
- O quê?! Julgar-te?! Amo-te demais para isso. Além disso, fui educada de forma a não julgar os demais.
Durante o jantar, Luca foi bombardeado com perguntas sobre Itália e sobre o que fazia.
- Vamos ao que interessa, como conheceu a minha sogrinha?!
- Manu, não envergonhes a minha mãe.
- Só perguntei o que tu também queres saber.
- Um homem directo. Bem, nunca vou esquecer esse dia, a tua sogra estava à entrada da escola, falava com um homem, que supus ser colega dela. Nesse dia ela tinha um vestido branco e azul pelos joelhos, quando ela olhou na minha direcção, fiquei rendido ao sorriso, aos olhos, tinham um brilho especial quando sorria, e ao longo cabelo encaracolado. Nunca uma mulher me fascinara assim. Jurei que seria minha mulher.
- Cabelo comprido?! Não me lembro de teres o cabelo comprido.
- Cortei-o quando me casei com o teu pai.
- E porque se separaram?
- Porque a tua sogra tinha 17 anos!
Luca deu uma gargalhada ao ver a cara de espanto dele. Para minha surpresa, Alexi não pareceu muito surpreendida.
- Imagina a minha cara, saber que estava apaixonado por uma miúda!
- Agora entendo. E voltaram a encontrar-se em Itália agora. Vês Manu?! Quando é para dar certo, dá, mais cedo ou mais tarde.
- Não acredito muito nisso do destino.
- Eu, assim que fizesse os dezoito anos, ia atrás de ti. Desculpe, de si.
- Podes tratar-me por tu. - Luca agarrou-me a mão e beijou-a - Foi à muito tempo, a tua mãe teve os motivos dela, assim como eu tive os meus. Agora não interessa.
- Tudo o que diga respeito à minha mãe interessa, e eu quero...
- Queres nada minha menina, está a fazer-se tarde. E tens de pensar no meu neto. É melhor regressarmos.
- A tua mãe tem razão, está na hora. Alexi, Manu foi um prazer conhece-los. Vejo-te amanhã?!
- Sim, mas apenas à noite.
- Se estás ocupada posso fazer o almoço.
- Não sei...
- Adoras pasta.
- Se estás ocupada posso fazer o almoço.
- Não sei...
- Adoras pasta.
- Amor, não querias ir ver o bar?! - Pelo canto do olho vi que Alexi arrastava Manu - Tinhas falado nisso.
- Sim, acho que vi um conhecido.
A minha filha continuava tão subtil como sempre, e o marido fazia-lhe a vontade. Embora parecessem umas crianças quando estavam juntos, sabia que se amavam.
- A tua filha é especial.
- Sim, e apanhou-me de surpresa. Não esperava que te procurasse. Porque foi ela, não foi?
- Escreveu-me, em correio expresso, a dizer quem era, a dar o número de telemovel e a pedir, que a determinadas horas lhe liga-se.
- As saídas misteriosas dela.
- Gostei dela. Eu já tinha decidido, gostasses ou não, vir passar o Natal contigo, por isso disse que esperava que entendesses a minha decisão. Quando falei com ela e percebi que podia contar com ela, não esperei mais, apanhei o primeiro avião e aqui estou. Sinceramente esperava que a noite termina-se de maneira diferente, mas com eles lá em casa compreendo que tenha de esperar.
- Não acredito, esperavas dormir na minha casa?
- O local é-me indiferente, desde que seja contigo. Quero beijar-te, achas que as pessoas se vão importar?!
- Luca!
- Vem comigo até ao carro, preciso de te sentir junto a mim. Um mês sem ti é demasiado tempo.
Saímos do restaurante e dirigimos-nos ao carro dele.
- Ela vai querer saber tudo.
- E isso incomoda-te?
- Um pouco, mas o que eu mais temia já passou.
- Sim, agora podes voltar comigo. Ou não queres ir?
- É o que mais quero.
- E passares a noite comigo?
- Tenho de voltar, a minha filha...
Luca não me deixou terminar de falar, a sua boca colou-se à minha, mas desta vez mais serena, afastava-se apenas para falar.
- Vem comigo, diz que vens. - E voltou a beijar-me - Não suporto passar mais uma noite sem ti. Quero sentir a tua pele, o teu cheiro.
- Também quero, mas amanhã tenho médico. Não vou ao médico depois de fazer amor contigo!
- Ao médico?! Estás bem?
- Sim, apenas rotina. Coisas da idade, já não tenho vinte anos.
- Então levo-te a casa.
Pela manhã estava feliz, foi a primeira vez, em muito tempo, que acordei a sorrir.
- Olha só o sorriso dela.
- Amor! Que coisa, deixa a minha mãe, e se Luca ouve?!
- Desculpe sogrinha!
- Ele ainda dorme?
- Acho que sim, mas no hotel.
- Só a tua mãe, para reencontrar o amor da vida dela, e mandá-lo dormir sozinho.
- Ei! Respeito menino. Não tenho a vossa idade! Certas coisas são para se fazer sem alaridos.
- Concordo, e eu, mesmo sabendo, prefiro ignorar, que a minha mãe faz certas coisas!
- Oh meu Deus, as conversas logo pela manhã.
- Eu vou sair, já fui incumbido de sair de fininho assim que se levanta-se.
- Manu! Não era para dizeres!
- Não?! Olha, essa parte não disseste.
- Vai...
Manu saiu a sorrir com uma torrada na mão.
Manu saiu a sorrir com uma torrada na mão.
- Pobre rapaz.
- Pobre de mim. Bem, agora quero que me contes tudo. Mas,por favor, omite certos detalhes.
- O essencial já te contámos ontem. Mas, tenho uma coisa para ti. Pensei que não teria coragem de ta entregar. Tinha medo do que pensasses de mim. Acho que pode responder ás tuas perguntas.
- Mãe, sabes que te adoro, não podia ter uma mãe melhor, és uma mulher como poucas...
- Olha, ainda me vais fazer chorar.
- Andas a chorar muito.
- Pois... Toma, vou tomar banho enquanto lês.
Embora ela já soubesse a maior parte da minha vida, senti um aperto no peito. Uma coisa é aquilo que imaginamos e outra a realidade. Demorei mais que o costume, a tomar banho e a arrumar as coisas para levar ao médico. Quando cheguei à sala, ela chorava copiosamente, agarrou-se a mim a chorar.
- Oh mãe, porque nunca me disseste?! Tantos anos... Agora percebo a tua maneira de ver a vida. Se a avó não te tivesse pressionado, nunca tinhas casado.
- Se não fosse isso tudo, não te tinha a ti, o meu maior tesouro. E por ti voltaria a passar por tudo isso.
- A avó devia de te ter apoiado, como tu me apoias-te, quando fui para Londres atrás de Manu.
- As coisas eram diferentes, os tempos eram outros. Não vamos falar de coisas tristes. Agora está tudo bem, tudo se resolveu.
- Graças a mim. E à minha desconfiança. Uma pessoa sem importância... Pois sim, eu não vi o brilho dos teus olhos quando estavas em Itália, e como eles perderam o brilho mal aqui chegas-te. Sim, achavas que me enganavas?! Ou achas, que Luca foi o único a reparar, como os teus olhos brilham quando estás feliz?!
- Quanta modéstia!
- Modéstia é o meu segundo nome.
- Claro que sim.
Depois do pequeno almoço e de dizer a Manu que Luca vinha fazer o almoço, saímos para a minha consulta. Um dia teria de começar a conduzir, mas Lisboa era confusa demais.
A enfermeira saiu com tubo cheio de sangue para fazer analises, que segundo o médico tinha de fazer, Pois não me ia receitar nada, sem saber em que fase da menopausa estava. Como se isso se pudesse ver num pedaço de sangue!
- Queres sentar-te?! Os resultados não vão sair mais rápido, por andares de um lado para o outro.
- Já saiu daqui à mais de uma hora, e o médico não me chama, não é bom sinal.
- Se soubesse que ias ser assim chata, tinha pedido ao Luca para te acompanhar.
- Podia vir sozinha.
- E depois quem é que te ia aturar? Assim, os homens ficaram a fazer o almoço.
- Pasta, aposto.
- Pasta?!
- Massa, o Luca adora fazer pasta!
- Se bem me lembro, tu... olha, lá vem a enfermeira.
- O doutor vai vê-la agora.
- Obrigada,
Entrei com o coração apertado, aquela espera só podia significar más notícias.
- Sente-se. Diga-me. A sua última menstruação...
- À nove meses, dez meses. Sem qualquer tipo de perdas entretanto.
- E não foi ao médico durante esse tempo?
- Não, pensei que era normal.
- Normal é, assim como é normal, ser nesse período de tempo, que muitas mulheres ficam grávidas.
- O doutor está a querer...
- Sim. Está grávida, possivelmente de semanas, mas grávida. Como pode perceber, não lhe vou prescrever nada que possa prejudicar o bebé.
- Sim...
- Aconselho-a a procurar um médico da especialidade, na sua idade é preciso mais cuidados.
- Sim, claro.
- Resta-me desejar-lhe as maiores felicidades.
- Obrigada.
Grávida?! Como podia estar grávida?! Não podia ser! Não tomaram cuidados, mas se não era menstruada, como foi possível?!
- Mãe?! Está tudo bem?!
- Sim, acho que sim.
- Achas?! Não me assustes! Que disse o médico?
- Que estou grávida.
Alexi olhou para mim e depois começou a rir.
- Um bebé made em Itália! Alegra-te mãe, vais se mãe e avó ao mesmo tempo.
- E Luca?! Como lhe vou dizer?!
- Olha! Como a mim. Simples e rápido. Mal posso esperar para ver a cara de Luca! Ou achas que ele não vai aceitar?!
- Não sei, nunca falámos sobre isso.
- Nada melhor que contar-lhe e descobrir.
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