segunda-feira, 28 de novembro de 2016

MEDO DE AMAR 5ª PARTE



 Frank monopolizou a atenção de Max, pelo menos durante o dia. De noite, Bea aguardava a amiga dormir e fugia para passar a noite com ele. E quando regressou de manhã estava convencida de ter enganado a amiga.

- Dormiste bem?! - Ryana esperava a resposta com uma torrada na boca - Pareces cansada.
- Dormi lindamente. E tu?
- Eu?! Dormir, eu dormi melhor que tu. Com menos actividade física.

Bea engasgou-se com a torrada e começou a tossir, o que provocou o riso na amiga.

- Bebe o café, antes que te sufoques. - Ryana estendeu-lhe a chávena cheia. - Nem que a casa fosse minha.
- Não estás aborrecida?
- Claro que estou! São adultos, e eu, embora tua amiga, estou de visita, não tens de sair às escondidas como se fosses uma adolescente.
- Não sai às escondidas, sabes que não consigo evitar, e não queria deixar-te sozinha. É no mínimo indelicado.
- Tens de parar de pensar nos demais. Além que, as formalidades entre nós estão dispensadas. Assim penso que vim atrapalhar a tua vida.
- Não vens nada. E tu não és "os demais", és família, o que tu pensas sobre mim é importante. Mas tens razão, por isso logo vamos dormir aqui.
- Dormir?! Sim, pois...
- Pára com isso. - Bea atirou com um pano à cara da amiga - Não tens vergonha?!
- Eu?! Nenhuma...
- Bom dia - Maximillian apareceu na porta da cozinha.

Aquele bom dia, foi o suficiente para dar aso a um riso incontrolável da parte delas, Max olhou para as duas e elas riram ainda mais, chegando ás lágrimas. Quando se conseguiram controlar, perceberam que ele tinha abandonado a cozinha.

- Acho que vou falar com ele.
- Também acho melhor, vou ver de Frank, hoje está dormindo demais.

Bea entrou no curral e Jim passou por ela vermelho.

- Hoje está de mau humor. Acho melhor não ir lá.
- Obrigada Jim.

Bea sorriu, ele tinha ficado ofendido com o riso delas.

- Posso?! - Bea espreitou por cima da porta de uma das boxes.
- Isto é teu. Podes fazer o que te der na gana.
- Quanto mau humor. O sexo a mim deixa-me bem disposta.
- Já vi que sim. Mas não contes comigo para ser bobo da corte.
- E porque pensas isso? - Bea entrou na boxe e continuou como se não percebe-se a indignação dele.
- Não sou idiota já to disse!
- Já?! Ah, sim, acho que me recordo de algo.
- Vocês mulheres da cidade acham que...

Desta vez foi ela que o calou com um beijo. A princípio ele relutou mas acabou por se render a ela. Gostou de ver que tinha poder sobre ele. Parou de o beijar e olhou-o nos olhos. Com uma mão no peito dele, empurrou-o para a parede da boxe, voltou a beijá-lo e enfiou a mão por dentro da camisa dele, sentiu o coração dele acelerar.

- Quero fazer amor contigo, pena não estarmos sozinhos. - Bea voltou a beijá-lo - Queria tirar-te a camisa e beijar-te o peito - Novo beijo -  Depois descer lentamente...
- Pára... Ou mesmo com Jim lá fora, não saís daqui.

Bea, separou ligeiramente os corpos, mas manteve a mão no peito dele.

- Não precisavas de ficar furioso connosco, apenas apareces-te num momento inoportuno. Ryana sabe que passei a noite em tua casa. E estava a dizer, que era uma idiotice andarmos a esconder-nos. Por isso, logo dormes lá em casa. Ah, e ela convidou-te para jantar. Não precisas de levar pijama - olhou-o nos olhos e viu o brilho do desejo neles - pensando melhor leva, faço questão de to tirar.
- Tu não tens vergonha mulher?! - Já lhe tinha passado o mau humor e agarrava-a pela cintura - Isso são coisas que se digam?!
- Se as penso fazer, porque não?!

Voltaram a beijar-se mas desta vez sem pressas. Demoraram tanto, que Jim entrou na boxe, com um balde de água e bateu com a porta nas costas de Bea.

- Desculpe. Não sabia...pensei que.
- Não tem problema Jim. Até logo. Vou ver de Frank.

À medida que se ia afastando podia ouvir as vozes deles. Com o tempo, Jim seria um bom tratador de cavalos. Esperava poder contar com ele, para o seu novo projecto. Quando Ryana partisse tinha de falar com Max sobre isso.

Com a ajuda de Max, que ficava com Frank, elas conseguiram trabalhar durante o fim de semana, no design da nova linha.  E como tal conseguiram acabar. Podiam apresentá-lo a Cristal, ela aguardava a nova linha para o desfile de um evento especial.

Depois do jantar, Ryana insistia em que Bea fosse apresentar a linha, afinal era a criadora, mas ela relutava. Preferia ficar ali.

- Podes falar com ela Max?! - Ryana estava desesperada - Não tenho o mesmo jeito que ela, para aparecer em frente ás câmaras.
- Tens jeito sim, mas não queres. - Bea não o deixou falar.
- Sabes perfeitamente que Cristal pediu a tua presença. - Ryana tentava convencer a amiga - E as câmaras adoram esses olhos verdes. E ficas melhor num vestido de gala que eu.
- Não vamos discutir isso outra vez. - Bea conhecia os motivos da amiga, sempre foi inferiorizada pelo marido, e embora concorda-se que ela tinha as curvas mais voluptuosas que ela e os seios maiores, isso não era motivo para desistir de aparecer. Tinha uma figura linda, e mesmo depois de ser mãe, conseguiu manter a forma física, até lhe parecia que o peito tinha crescido depois da maternidade. - Muito bem, eu vou, mas tu vais apresentar a linha comigo. Trabalhas-te tanto como eu. É justo que assim seja.
- Isso não!
- É isso ou nada. Tu escolhes.
- Max?! - Ryana voltou a pedir a ajuda dele. - Ajuda-me!
- Bea tem razão, se o trabalho é das duas.
- Obrigada! - Ryana ironizou - Se soubesses como é... - Os olhos dela brilharam e olhou para ele - E vais saber, tu também vens.
- Ah, não. Não me arrastem para as vossas divergências. - Max levantou-se do cadeirão, mas as duas impediram-lhe o passo - Meninas, vamos a acalmar-nos.
- Está decidido, vais connosco. - Ryana piscou o olho à amiga - Se ele quiser desistir, tu consegues convencê-lo, certo?!
- Claro.

Ryana subia as escadas em direcção ao quarto, para se deitar.

- Porque será que tenho a sensação de que fui ludibriado?!
- As coisas que tu dizes. Mas podes fazer-te de desinteressado. - Bea olhava sedutora para ele - quero convencer-te a ires.
- Queres?! - Max, entrou no jogo dela - E que pensas fazer?!
- Se me seguires até ao quarto digo-te. Não, mostro-te.

Subiram juntos as escadas e durante umas horas ela tentou convencê-lo uma e outra vez. A meio da noite, deitada no peito dele, Bea falou-lhe do seu novo projecto.

- Penso que seria um bom investimento. Que dizes?
- Trabalhar com crianças como Frank... Pode ser viável, mas precisas de contratar mais pessoal. E qualificado. Assim como ter uma enfermaria, um dormitório, e um refeitório.
- Sim. Pensei em usar o velho celeiro.
- Vais ter muita despesa, achas que vai ser rentável?!
- Não precisam de ser daqui, com o tempo chegarão de outras cidades. Podes não ter percebido, mas é muito complicado arranjar quem cuide de crianças com necessidades especiais. Necessidades, que ninguém quer ver suprimidas. Ver as dificuldades de Ryana com Frank, fez-me querer fazer algo a respeito. Mas só me decidi quando te vi com ele. Podias ser monitor, tens muito jeito. E Jim também, embora seja um pouco imaturo, é organizado. E Frank, embora sejas o preferido, gosta dele.
- Sim, concordo. - Max ficou apreensivo - Deixa-me falar com o presidente da povoação.
- Passa-se algo?
- Não, apenas precisas de ver a questão burocrática primeiro. Tens consciência que precisas de licenças?!

Ainda ficaram por algum tempo a discutir a situação. Mas algo incomodava Max, não gostava da ideia de usar parte da herdade?! Ou achava que o negócio não seria rentável?! Adormeceu a pensar nisso.

Na manhã seguinte partiram rumo à cidade, teria saudades do ar da herdade, e de Max. Mas estaria de volta à noite.

A apresentação foi um sucesso, Cristal adorou a ideia e Bea deu andamento à produção das jóias. Dentro de um mês teriam de estar prontas. Jantou com Ryana, pensava sair essa noite, mas o céu que esteve cinzento todo o dia, parecia querer desabar sobre a cidade. A chuva que caía copiosamente impediu que saísse. Dormiu em casa da amiga. Na manhã seguinte, depois de passar na joalheria, regressou à herdade. Teve saudades de Max, desejava chegar para poder beijá-lo. À medida que se aproximava da herdade, a sua inquietude aumentava, parecia que era a primeira vez que estariam juntos.
Bing andava atrás de Tareca, que andava lentamente ignorando-a deliberadamente. Sorriu perante a cena.
Dirigiu-se ao curral, Max devia de estar lá. Ouviu a voz de Jim no outro lado do curral.

- Maximillian já disse quando partia?! - Aquela pergunta deixou-a congelada.
- Não. Mas não deve demorar. - Ouviu uma voz que ela não reconheceu - Ele prometeu à velha senhora que ficava até o novo dono chegar. E tem o escritório na cidade, não pode esperar muito tempo.
- Gosto dela, é simpática.
- Sim, é. Mas não percebe nada disto. Vai levar isto à ruína.
- Max, passa muito tempo com ela. Talvez tenha aprendido algo.
- Talvez. Teremos de a ajudar. E como dizia a velha senhora, seja o que Deus quiser.

Bea afastou-se tão silenciosamente como chegou. Max iria partir?! E que conversa era aquela sobre um escritório?! Pensava conhecer Max, mas estava cheio de segredos.
Entrou em casa e enfiou-se no escritório, andou de um lado para o outro, sentia-se um pouco perdida, mas não era mulher de lamentações. Ia mostrar aquela gente que sabia o que fazia, o facto de se sentir atraída sexualmente por Max, não fazia dela uma incapaz! Sempre cuidou dos seus negócios sozinha, não precisava que Max lhe tratasse das coisas, procurou o número do seu contabilista e ligou-lhe. Encarregou-o de cuidar da parte burocrática do projecto. Antes de desligar, pediu-lhe que quando estivesse tudo resolvido, lhe comunica-se para dar inicio às obras. Bem, para fazer obras não era preciso dar inicio ao projecto. Usou os contactos que tinha, e em meia dúzia de chamadas, conseguiu ter a certeza que o projecto seria aprovado.
Estava ao telefone com o pedreiro quando Max entrou no escritório.

- Então espero por si amanhã. Obrigada.

Olhou para ele, não lhe parecia diferente. Mas ele não sabia, que ela tinha descoberto o seu segredo.

- Tudo bem na cidade? - Max avançou para ela  - Esperei por ti.
- Estava a chover imenso - Ela evitou-o - Não consegui vir. Por aqui está tudo bem?
- Porque não estaria?! Estiveste ausente um dia, não uma semana. - Max agarrou-lhe o braço quando ela passou por ele - Que se passa contigo?
- Nada. Porquê?
- Estás estranha. Fria.
- Estou?! Talvez não goste, que os meus empregados me escondam coisas. - Bea encarou-o e esperou uma reacção da parte dele.
- Agora sou empregado?! - Max cerrou ligeiramente os olhos - Se tens algo a dizer, diz, pensei que eras directa. Que não gostavas de rodeios.
- E não gosto. Mas se um dos meus funcionários não está contente, espero que seja ele a vir ter comigo, e não ter de descobrir por terceiros - Fez uma pausa, durante a qual apenas recebeu silêncio da parte dele - Ouvi dizer que te vais embora. - Acabou por dizer - Quando pensavas dizer-mo?
- Então é isso - Max atirou o chapéu para o cadeirão - Quem te contou?!
- Isso não interessa. - Bea tentou tirar o braço, que permanecia preso pela mão dele.
- Interessa sim, principalmente se vais dar ouvidos a tudo o que te dizem sobre mim.
- É verdade?! Se queres partir és livre de o fazer, o facto de dormirmos juntos não quer dizer...

Max calou-a com um beijo, mas ao invés dos anteriores, parecia querer castigá-la por algo, por algo que ela não sabia o que era.

- Não quer dizer nada?! Eras isso que ias dizer?!  - Max apertou-a contra o seu corpo. - Ou que não sentes nada?! É isso que estás a querer dizer?!
- Estás a magoar-me. - Não estava, mas queria que ele a liberta-se daquele abraço, embora forçado, estava a mexer com ela. - E nunca escondi que te desejo, nada mais que isso.
- Acaso te pedi em casamento?! Não me parece.

Bea, enfrentou-o, a conversa estava desviar-se do profissional, mas desde quando as coisas com Max era apenas profissionais?!

- Apenas queria saber se te vais embora. - Falava calmamente - Se fores, preciso de arranjar alguém para te substituir.
- Já pensaste que talvez tenha desistido? Que talvez, alguém me tenha feito mudar de ideias?! Sim, prometi a Eme ficar, até que as coisas estivessem encaminhadas. Mas agora não sei se quero partir.
- Não sabes?! - E ela não sabia porque aquelas palavras, a deixavam tão feliz.
- Não.  - Ele voltou a puxa-la para junto dele, e sussurrou junto aos seus lábios - Sempre gostei de animais, e a ideia de me enfiar num escritório, oito horas diárias não me atrai. Por isso vou adiando a decisão.
- Ou seja, não tem nada que ver comigo? -Sentiu-se magoada por não ser ela a causa da indecisão dele.
- Achas que umas meras noites de sexo, me dão a volta à cabeça? - Max beijou-lhe o pescoço, ela percebeu, que ele estava a usar as mesmas palavras que ela usou para descrever os seus beijos.
- E eu a pensar que estava a fazer um bom trabalho?! - Bea já tinha as mãos por debaixo da camisa dele puxando-o - Tenho de fazer algo a respeito.
- Terás de te esforçar.
- Muito?!

Umas pancadas na porta do escritório, obrigaram-nos a separar-se.

- Sim?
- Desculpe menina. - Um homem de meia idade, que Max tratou por Ivan, entrou relutante - Mas, uma das éguas não está bem.
- Não?!

Ela ainda proferia a palavra, já Max e Ivan tinham saído, agarrou o casaco e foi atrás deles.
A égua tinha caído num buraco, e parecia realmente magoada.
Max estava furioso, resmungando entre dentes. Tentou perceber o que se passava, mas não compreendeu. A pedido de Max ligou ao veterinário, não tardaria a vir. Com alguma dificuldade conseguiram tirar a égua do buraco. Segundo Max tinha a pata partida, este ano já não poderia ser mãe, ouviu Ivan dizer.
O veterinário chegou em pouco tempo, e confirmou o diagnostico de Max.  Depois de devidamente tratada, levaram-na para o curral e deitaram-na numa das boxes.
Ela acompanhou o veterinário até ao carro.

- Obrigada. E mais uma vez desculpe o incomodo.
- Ora essa, se não fosse assim, como conhecia a nova dona da Herdade da luz?!
- Algum dia seria.
- Se precisar de algo Max sabe onde me encontrar.

De volta a casa ficou a pensar no buraco, como apareceu ali!? O terreno não devia de andar vigiado?! Era o pasto onde as éguas e as crias ficam. Se fosse uma cria possivelmente teria morrido. Aquilo não podia repetir-se. Quem seria o responsável?!

Olhou distraída para o ecrã do telemóvel que piscava. Era César, que queria agora?!

- César...
- Olá. Precisamos de falar. - a voz de César estava arrastada, como se estivesse a fazer a vontade a uma criança - Quando vens à cidade?
- Não sei, e sinceramente acho que não temos nada a dizer um ao outro.
- Tenho umas coisas tuas aqui. Não as queres?!
- Minhas?! - Não se lembrava de ter levado alguma coisa para casa dele - Podes deixar a Ryana, ou na joalheria.
- Não queres ver-me?! -  voz dele estava cada vez mais arrastada. - Não pensas em mim um pouco que seja?
- César, desculpa, mas tenho de desligar.

Sentiu alguma pena dele, nunca imaginou que ele ficasse tão dependente dela. Se ele não a amasse... O amor... aquele sentimento que destrói por onde passa.

Durante o jantar, Max estava agitado demais e furioso com Jim, tinha-lhe pedido que tratasse daquele buraco com urgência, se não fizesse, corria o risco de aumentar de tamanho com as chuvas. E acabou por ter razão, bastou uma noite de chuva para que as terras cedessem. Mas ela sentia que havia algo mais.

- Esquece, são coisas que acontecem. A égua está bem, e vai recuperar. Certamente Jim aprendeu a lição.
- A culpa não é só dele, pedi-lhe expressamente que calca-se a terra, mas a obrigação de verificar era minha. No tempo de Eme isto não acontecia.
- Nunca arrancaram uma árvore morta?!
- Sim, mas nunca me distraí com o meu trabalho. - O olhar que lhe lançou, foi suficiente para saber que a distracção era ela.
- Estás a dizer que sou uma distracção?! Ora, nunca estiveste com outra mulher desde que estás aqui?!
- Claro que sim, mas nunca as trouxe para cá! Por isso não me ocupava a noite toda!

Bea não gostou de o ouvir dizer que teve outras mulheres, mas ela também teve outros homens, apenas dois, mas teve.

- Muito bem, e que pensas fazer?! De qual dos prazeres vais abdicar?
- De nenhum! Apenas temos de arranjar um horário, e respeitá-lo.
- Um horário?! - Bea gostou da ideia de não abdicar dela, mas não da parte de ter horas marcadas para estar com ele - E podemos pensar nisso amanhã?! É madrugada, mas desta vez a culpa não é minha.

Nessa noite não dormiram juntos, mas dormir foi coisa que Bea não conseguiu, deu voltas na cama até o sol nascer.

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