quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

MEDO DE AMAR 7ª PARTE



" Não vou permitir que me afastes" " O brilho que tens no olhar"

As palavras ainda soavam na sua cabeça muito tempo depois, de Max ter abandonado o escritório. Estava irritada porque pela primeira vez, não dera a última palavra: E porque sentia que perdia a sua independência, o seu espaço. Ryana tinha razão, ele irritava-a porque a enfrentava, nunca se intimidou por ela ser sua patroa! Essa fricção que existia entre os dois acabou por se revelar num desejo incontrolável! Pelo menos por enquanto. O dia que acordasse e não o desejasse, tudo terminava. Independentemente do que ele dizia, com ou sem brilho no olhar! Mas que raio de brilho ele falava?!  E quem pensava ele que era, para permitir ou deixar de permitir, seja o que for?!

Ainda irritada saiu em direcção ao carro, acenou a Jim que estava encostado à cerca, observando Max que montava um cavalo preto. Com o novo espaço quase a abrir, ele fazia questão de testar os cavalos que as crianças iriam montar. Max tinha seleccionado três, mas precisavam de comprar uns jumentos, leu numa revista que algumas crianças ficam mais à vontade com eles.

Com a ajuda de Ryana as tarefas a realizar na cidade depressa ficaram resolvidas. Com a tarde livre e sem vontade de enfrentar Max, convidou a amiga para lanchar.

- E já abriste as inscrições?! - Ryana tomava notas na sua agenda - Podias fazê-lo na internet.
- Sim, já pensei nisso. Mandei fazer uns folhetos para espalhar pelos estabelecimentos conhecidos. Se tudo correr como planeado, em breve podemos abrir portas.
- Já decidiste o nome? - Ryana folheou a agenda.
- Não, ainda não.
- E Max?! Que diz?!
- Não lhe perguntei. - Bea evitou o olhar da amiga, que tinha parado de folhear a agenda
- Não perguntas-te?!
- Não.
- Bem, conhecendo-te como te conheço, de duas uma. Ou finalmente percebeste que o amas ou perdeste o interesse nele.
- Nem uma coisa nem outra. Amá-lo é impossível, sabes que não acredito nisso, e perder o interesse ainda é cedo. Apenas tivemos uma divergência de opiniões.
- Falamos de amor, quer acredites ou não, ele existe e está estampado na tua cara.
- Mas que raio se passa com vocês?! Brilho nos olhos, estampado na cara...
- Ahah... não sou a única a ver o óbvio!
- O óbvio?! Vocês estão é com alucinações!
- Já te perguntas-te, porque será que ainda não perdeste nem um pedacinho de interesse nele?! César, por esta altura, já tinha reduzido as visitas à tua casa, indo apenas uma vez na semana. E com ele estás à quê?! Quatro meses?!
- Cinco! - Saiu-lhe involuntariamente
- Vês?! Até sabes à quanto tempo estão juntos.
- Ora essa! Sempre tive noção do tempo!
- Sim?! - Ryana sorria - Então, quanto tempo estiveste com Mike?! E com César?!
- Isso são coisas do passado! - Respondeu abruptamente.
- César não foi assim à tanto tempo.
- Muito bem, não me recordo. Mas isso, não quer dizer que sinta algo mais que desejo por Max.
- Desisto! - Ryana sabia que não adiantava insistir com a amiga - E porque discutiram?
- Ah?!
 - Tu e Max! Porque discutiram...
- Por coisas como esta! - Bea brincou com a chávena do chá - Acordaram todos, com a ideia que sabem melhor que eu o que sinto.

Depois de contar a Ryana a pequena discussão com Max, esta começou a ri-se.

- Achas piada?!
- Só porque comecei a imaginar a tua cara ao ouvi-lo dizer que não ia permitir...
- Ele não tem que permitir seja o que for - Bea interrompeu a amiga - Era só o que faltava, a minha amiga tomar o partido do meu namorado.
- Não estou a tomar partido de ninguém, sabes que te adoro. - Ryana olhou o relógio - Tenho de ir apanhar Frank. Queres ir?! Vai gostar de te ver.

Durante o caminho para a herdade, pensou no que a amiga lhe disse. Não, ela não amava Max. Sabia bem o que sentia, sentira aquilo mais de uma vez. Com menos intensidade é certo, mas não deixava de ser desejo. Aumentou o volume do rádio e não pensou mais nisso, aliás, negou-se a pensar nisso!

Nessa noite Max não jantou com ela, Jim informou-a que ele tinha saído antes do anoitecer e disse regressar tarde. A casa pareceu-lhe silenciosa demais, tomou um duche e deitou-se. Ligou a televisão, sempre lhe fazia companhia enquanto aguardava por ele. Adormeceu a meio do filme e quando acordou ainda estava sozinha. Pela primeira vez sentiu algo novo, um vazio enorme invadiu o seu coração. Sem saber o que pensar, daquele sentimento novo, desceu, um chá acalmaria a inquietude que aumentava a cada segundo. Mas o chá não ajudou a acalmá-la, e o tique-taque do relógio começava a parecer ensurdecedor. Voltou para a cama, onde passou a noite a tentar ler, a preocupação não a deixava concentrar-se. Certamente estaria com outra mulher. Os homens fazem isso quando discutem com as mulheres! Mas ela não era mulher dele. Pensar nisso irritou-a ainda mais. Atirou o livro para o chão e chorou de raiva!

O dia nasceu e Max não tinha regressado.
Fez café e decidiu ir arrumar os livros que comprou na cidade, na que seria a biblioteca. O som do jipe ouviu-se ao longe. Sentiu-se aliviada e ao mesmo tempo furiosa. Não ia demonstrar, o muito que a tinha afectado a ausência dele. Acompanhou a sua chegada pela janela, mas fingiu estar muito atarefada quando a porta do anexo se abriu.
Fingiu não notar o cansado que ele estava, assim como ela, parecia ter tido uma péssima noite.

- Desculpa, não pensei ficar fora toda a noite. - Max olhava-a nos olhos
- Podes ausentar-te o tempo que quiseres. Não me deves explicações - Bea estava decidida a não deixar transparecer o muito que a afectou.
- Olha. - Max falou calmamente - Estou cansado e não quero discutir. Passei a noite no hospital, vou...
- No hospital?! - Bea largou os livros que caíram no chão fazendo imenso barulho. - Estás bem?
- Fiquei a acompanhar a minha prima.
- A tua prima?! - Ela não sabia que ele tinha uma prima!
- A mulher que viste comigo na cidade.
- E já está em casa?!
- Vai ficar mais uns dias internada, vou vê-la logo à tarde.
- Queres que vá contigo?! - Até ela se admirou de dizer aquilo - Não quero impor a...
- Adorava que fosses. - Max deu-lhe um breve beijo nos lábios - Vou ver como estão as coisas.

 Ele passou a noite no hospital com a prima, e ela devia de estar lá para o apoiar, e não em casa a pensar que ele estava com outra. Respirou profundamente, e acabou de arrumar os livros. Quando voltou para casa, Max estava sentado no sofá com o telemóvel na mão.

- Está tudo bem?! - Bea sentou-se junto a ele
- Acordou agora. Apesar da medicação tem muitas dores. Ela devia de ter mais cuidado.
- Que tem ela? - Tirou-lhe o telemóvel e segurou a mão dele
- Caiu das escadas. Partiu uma perna e o pulso.
- Coitada! Deve de ser horroroso.
- Imagino que sim.

Notava-se a tristeza nos olhos dele. Apertou-lhe a mão, queria que ele soubesse que compreendia o que estava a passar. Max colocou o braço por cima dos ombros dela e aninhou-a nos seus braços. Deixaram-se ficar assim, sem dizer uma palavra, algum tempo depois Bea sentiu a respiração dele mais calma. Adormecera, com receio de o acordar acomodou-se no peito dele e fechou os olhos, gostava de sentir o coração dele bater debaixo da sua mão. Sentiu os olhos ficarem pesados, mas não lutou contra isso.

O sol escondia-se no horizonte quando chegaram ao hospital. Algumas pessoas entravam e saiam dos quartos, as conversas em baixo tom misturavam-se. Os enfermeiros pareciam alheios a todas aquelas pessoas. Max abriu a porta de um dos quartos.

- Não te preocupes, vens quando puderes. - A mulher, estava estendida na cama com uma perna suspensa e com o pulso completamente ligado, segurava o telemóvel com a outra mão - Ele está aqui, queres falar com ele? Falamos depois.

A mulher estendeu o telemóvel a Max e ajeitou-se na cama, enquanto ele se afastava.

- Malditas almofadas. - Queixou-se
- Quer ajuda? - Bea olhou para Max, que saía para falar ao telemóvel.
- Se não te importares. És a sobrinha de Eme, verdade? - A mulher olhou-a atentamente.
- Sim, conheceu a minha tia?
- Todos conheciam a tua tia. Tens o mesmo olhar, determinado. Sou Faith, ouvi falar de ti.
- Imagino. - Olhou para o corredor, Max ainda falava.
- Maximillian vai demorar. - Faith mexeu-se na cama - Temos tempo para falar. Ouvi dizer que vais abrir um acampamento para crianças com necessidades especiais.
- Sim, ainda faltam algumas coisas...

Embrenhou-se no relato sobre o seu novo projecto. Quando Max voltou ainda estavam a falar sobre a aquisição dos jumentos. A conversa continuou por mais algum tempo. Faith parecia mais animada quando se despediram dela, prometendo voltar no dia seguinte.


Max não falou durante todo o trajecto para casa. E permanecia em silêncio sentado no sofá, ela podia vê-lo pela porta aberta da cozinha, enquanto preparava o chá.

- Não precisas de te preocupar tanto. - Bea acariciou a mão dele - É apenas uma perna, podia ter sido pior.
- Sim, eu sei. Mas não consigo evitar. O marido só pode vir para a semana, não sei como vai ser até que ele regresse. A casa dela tem os quartos no piso de cima e está sozinha.
- Porque não a trazes para aqui?
- Pra herdade?!
- Claro, podemos transformar a salinha num quarto. Eu estou sempre por perto, e tu também.
- Não te importas?!
- Porque haveria?! Nunca gostei de bordar.
- Imagino que não. - Ele riu. - Tens outros interesses.
- Nem todas as mulheres aspiram a donas de casa exemplares. - Deu-lhe uma chávena - Hoje temos outros ideais, outras metas.
- E são?!
- Ora! Uma carreira. Queremos ser independentes...
- Filhos! Eles não estão nos planos de uma mulher moderna? - Max colocou a chávena em cima da mesa - Não queres ter filhos?
- Nunca pensei nisso.

Levantou-se e levou as chávenas para a cozinha. Nunca tinha pensado realmente, mas algo lhe dizia, que se fossem dele, ela ia adorar a ideia.  Aquele pensamento assustou-a. Nunca desejou ter filhos, nem com Mike, nem com César! Algo estava a tomar um rumo diferente do que era suposto.

- Achas que dá?!
- O quê?!- Assustou-se com o beijo dele no seu pescoço. - Desculpa, não ouvi.
- A cama. Se achas que dá para a mudarmos amanhã...
- Sim , podes pedir a Jim que te ajude. - Começou a lavar as chávenas - Eu tiro tudo de lá antes do almoço.

Max voltou-a, afastou-lhe o cabelo que teimava em cair na sua cara.

- Acho que esta madeixa é mais teimosa que tu. Deixa isso, vamos deitar-nos. Não sei tu, mas eu não dormi a noite passada, e não quero deitar-me sem te ter nos meus braços.
- Deixa-me terminar, subo já.
- Essas chávenas ainda estarão aí pela manhã. - Beijou-lhe a testa, e ela sentiu os olhos encherem-se de lágrimas - Senti a tua falta ontem.
- Vou só apanhar a minha mala - Foi até à sala, se continua-se a olhá-lo certamente choraria, e não percebia o que a levava a querer chorar.


Acordou com o sol  a bater-lhe na cara, Max já não estava na cama. Tal como na noite anterior, voltou a pensar nos motivos que a levaram a desejar chorar quando ele lhe deu aquele beijo. E porque se sentiu satisfeita só por estar nos braços dele. Não o desejou, não como nas outras vezes! Estaria o desejo a acabar?! Era a única explicação possível! Pensou que desta vez, ia durar mais que uns meses! Convidou-o a morar com ela, e tinha-lhe dito que podia trazer a sua prima para ali.
Bem, uma coisa não invalidava a outra, a casa tinha mais quartos. Eram adultos civilizados, podiam morar sob o mesmo tecto sem se atacar. Sim, tudo se resumia a educação e respeito.  Bastava falar com ele e tudo se resolveria. Saiu da cama decidida. Vestiu-se à pressa e foi procurá-lo decidida a por um ponto final na relação.

Avistou Max e Jim, estavam no pasto adjacente à estufa. De repente o cavalo que Jim montava, assustou-se e embateu no cavalo de Max, empurrando-o e fazendo Max cair. Tudo aconteceu muito rápido, mas que ela via em câmara lenta.
Sentiu as suas pernas ficarem fracas e ouviu a sua voz ao longe, a gritar por Max, de repente tudo ficou escuro.

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