sábado, 4 de fevereiro de 2017

TUDO O QUE FICOU 11ª PARTE



O sol entrava no quarto pela enorme janela iluminando a cama intacta. Isi permanecia sentada no cadeirão onde se deixou levar pela tristeza dos acontecimentos da noite anterior.  Apesar de Matheus insistir em que tudo se resolveria pelo melhor, ela não estava convencida disso.

Simplesmente não sabia o que esperar de Philippe! Por muito que pensasse não o conseguia entender, talvez porque se apaixonou por um sonho e não pela pessoa que era. Tirando o facto de que era o pai do seu filho, pouco mais sabia sobre ele.  Isabelle tinha-lhe dito que Philippe assumiu o negócio da família, uma empresa vinícola no sul de França, quando o pai ficou doente e que era um astuto homem de negócios, mas no fundo tinha bom coração como o pai. A gravidez podia leva-la a sentir curiosidade sobre o pai do seu filho, podia ter perguntado algo mais a Isabelle, mas isso seria repisar na ferida tão recente. Naquele tempo, bastava falar em Philippe para chorar descontroladamente. Sorriu tristemente ao recordar que desconhecia o motivo da sua fobia a hotéis!

O alegre balbuciar de Leo terminou com esses pensamentos. Enquanto tratava do filho decidiu que tinha de resolver aquela situação. Philippe não podia voltar para França pensando que ela namorava com Matheus. Ele podia regressar para França, para os braços da mulher e quando assim entendesse podia visitar o filho, seria sempre bem recebido quando quisesse estar com o ele.
Deixou Leo com Rice e foi até à vivenda mas Philippe não estava. Contornou a vivenda na esperança de encontrar alguém ou algum indício da presença dele, mas apenas encontrou as janelas fechadas. Voltaria mais tarde, não ia permitir que ele voltasse para França sem esclarecer aquela situação.

Com algum esforço conseguiu concentrar-se no trabalho e acabou por resolver muitas questões pendentes. Mas quando regressou a casa, no fim do dia, estava cansada física e psicologicamente. Rice deu-lhe um envelope que um homem tinha deixado em mão, reconheceu de imediato o nome no envelope: Mason Pride! O melhor advogado litigioso da cidade. Cuidou de muitos dos divórcios do círculo de amigos de Isabelle. Um calafrio percorreu a coluna dela. Aquele envelope só podia trazer más notícias. Abriu-o rapidamente, continha apenas um cartão com uma hora anotada. Nove da manhã! Ligou para Matheus, depois de ele lhe garantir que cuidaria de tudo fez um chá e subiu.  Precisava com urgência de um banho de imersão para relaxar. Deitou-se assim que Leo dormiu e para sua surpresa adormeceu imediatamente. Acordou na manhã seguinte com o choro do filho. Olhou o relógio, um quarto menos nove, admirou-se por ter dormido tanto. Matheus já devia de estar no escritório do colega. Brincou com o filho na esperança de se abstrair, mas todo e qualquer barulho que ouvia na rua, era motivo suficiente para ela dar um salto. E assustou-se ainda mais com o toque da campainha.

- A situação não está fácil. - Matheus sentou-se cabisbaixo junto a ela - Insiste em falar contigo.
- Não lhe disseste que tu és meu advogado?!
- Sim. Mas tem ordens para falar apenas contigo.
- Mas não me vais deixar sozinha.
- Claro que não. - Matheus segurou a mão dela - Marquei para esta tarde.
- Esta tarde?!
- Pensei que quanto mais cedo soubermos o que pretende melhor.
- Eu sei o que pretende. Ele quer o meu filho!
- Pode querer a custodia partilhada.
- Para isso não precisava de advogado. E muito menos Mason Pride.
- Conhece-lo?!
- Apenas de nome. - A voz de Isi era praticamente inaudível - Ouvi o nome dele algumas vezes a amigos de Isabelle, em noventa por cento dos casos ele ganhava.
- Não vamos precipitar-nos, também tenho alguns truques.
- Vou pedir a Rice para ficar com Leo.

Durante o almoço, Matheus não conseguiu arrancar-lhe um sorriso. E o silêncio manteve-se durante a pequena viagem até aos escritórios do Dr. Mason, Isi estava visivelmente preocupada. Matheus pediu à secretária para anunciar a presença deles. Agarrou a mão de Isi, tentando dar-lhe força, quando a secretária lhes pediu para entrarem.

- Caro colega. - Mason estendeu a mão a Matheus. - Como está desde o nosso breve encontro?

Isi não gostou do tom de voz dele, parecia pouco incomodado com o desconforto que lhes causava.

- Menina... - Mason indicou as cadeiras - Sentem-se, penso que vamos demorar um pouco.
- Esperamos resolver tudo com a maior brevidade. - Matheus não se sentou.
- Como preferir. - Mason abriu uma gaveta - Bem, o meu cliente pediu-me para tratar de toda a burocracia referente à custódia de... - Procurou um papel - Leonard. Penso que filho de ambos. Correto menina Monty?
- Onde está Philippe?! - Isi notou que ele não gostou do facto de ela ignorar a pergunta dele.
- O sr. Durant teve de regressar a casa.
- Caro colega, tem de concordar que é um caso insólito o seu cliente pedir a custódia de uma criança e não estar presente para discutir os termos!
- Sim, concordo. Mas este caso é uma excepção, tenho as indicações necessárias. Quando o meu cliente regressar, dentro de dois dias, resta assinar os papéis.
- E se eu não concordar?! - Isi mexeu-se inquieta na cadeira.
- Penso que tem pouca alternativa.
- Como pouca alternativa?! - Matheus inclinou-se sobre a secretária observando os papéis - A minha cliente não vai assinar nada sem ponderar os factos.
- Nem estou a pedir que o faça. Apenas tento evitar um escândalo para a sua cliente. - Mason parecia divertido -  As opções são bem poucas para a sua cliente caro colega. Passo a enumerar e corrija-me se estiver errado. Ora bem, a sua cliente foi mãe de um menino à pouco mais de um ano, ocultou esse facto ao pai, assim como o nascimento da mesma criança. Ou seja, o meu cliente apenas teve conhecimento desse facto por mera casualidade. Não por iniciativa da outra parte envolvida! Como o colega sabe, tudo isto são factores pouco ou nada abonatórios para a sua cliente. - Mason apanhou outro papel - A sua cliente sabia de antemão quem era o pai da criança e ocultou o facto deliberadamente. E temos provas de que ultimamente tem  - Mason fez uma pausa e olhou para Matheus fixamente - desfrutado da companhia de outro homem. Como pai preocupado, o meu cliente acha que não é benéfico para a criança ficar à guarda da mãe.
- O que o seu cliente propõe? - Matheus estava vermelho de raiva.
- Como a paternidade se encontra provada, o meu cliente quer a custódia total do filho.
- Como?! - Matheus olhou para Isi, que mantinha a cabeça baixa - A minha cliente não vai assinar nada nesses termos.
- Aconselho o colega a ser mais razoável. Ir a tribunal não beneficia nenhuma das partes e apenas expõe a criança a olhares curiosos. O meu cliente não quer o filho...
- Suposto filho. - Nem Isi acreditava no que tinha dito - Não sei se Philipp é o pai.
- Como não sabe?! - Isi sentiu-se satisfeita por tirar o olhar triunfante da cara daquele advogado empedernido - O sr. Durant assegurou-me.
- Sabe como é, tinha dezanove anos. - Disse-o com muita calma, como se aquilo explica-se tudo.
- Isi! - Matheus olhava incrédulo para ela - Acho que devíamos...
- Acho que tens razão. Devíamos aguardar a chegada de Philippe e fazer o teste de paternidade. Afinal não convém a nenhuma das partes embarcar numa mentira.

Matheus pareceu perdido por uns instantes mas depressa se recompôs.

- A minha cliente tem razão. Vamos aguardar pelo regresso do seu cliente e que nos contacte depois de marcar o exame, claro que numa clínica à sua escolha. - Matheus cedeu passagem a Isi - Caro colega!

Isi andou com passos firmes, mas rápidos, em direcção à saída do edifício. Precisava de ar puro, o seu coração batia descompassado pela mentira.

- Tu estás doida?! - Matheus seguro-a pelo braço - Sabes o que fizeste?
- Sei. Arranjei dois dias para pensar no que fazer.
- Como pensar?! Não vais fugir novamente.
- Não. Mas também não vou abdicar do meu filho.
- A única alternativa é dizer ao advogado a verdade, dizer-lhe que eu...
- Que tu o quê?! Não quero que te assumas por mim. Não sabes o dano que uma revelação dessas pode trazer à tua carreira. Não vou permitir.
- Que pensas fazer em dois dias?!
- Não sei. Mas penso falar com Philippe antes de ele se encontrar com o teu caro colega.

Isi procurou a agenda da madrinha, Isabelle tinha contratado um detective quando ela saiu de casa. Por isso o número dele tinha de estar em algum lugar. Agradeceu o facto de ser tão sentimental, esse facto evitou que deita-se fora tudo o que pertencera à madrinha. O escritório ainda estava como ela o tinha deixado, as únicas vezes que ali entrava era para abrir e fechar as janelas, para renovar o ar. Sentou-se na cadeira que Isabelle adorava e começou a procurar entre os papéis. Uma brisa levantou as cortinas azul mar e uns papéis voaram de cima da secretária, deixando a descoberto uma pequena carteira para cartões. Parecia que mesmo lá do alto a madrinha continuava a ajuda-la. Abriu-a e procurou o cartão apressadamente, encontrou-o quase no fim.

Nessa mesma noite foi ao encontro do detective e contratou-o para vigiar a casa de Philippe. Assim que ele chega-se a casa, ela seria informada. Tinham de se sentar como pessoas civilizadas e decidir o melhor para Leonard. Ela não colocaria qualquer obstáculo à quantidade de dias que ele quisesse partilhar com o filho, desde que não insistisse em ficar com a custódia total, podia estar com ele todos os dias.  Mas se Philippe queria guerra, era isso que teria. Ele podia ter mais dinheiro que ela, mas ela não era mulher de baixar os braços a nenhuma batalha, muito menos a uma em que a derrota era sinal da sua destruição.

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