quarta-feira, 29 de março de 2017

ENGANOS 13ª PARTE



Richard despediu-se deles à entrada do hospital, apesar dos pais se afastarem, ela apenas sussurrou um mero boa noite. E no regresso a casa Christina permaneceu quase sempre em silêncio. A ideia de que ele tivesse colocado a hipótese de ser pai de Yorin, deixava-a de rastos. Talvez ele não falasse nisso porque a cunhada estava incluída na lista das mulheres que ele admitiu ter. Mas para ela, o facto de ser mulher do irmão, devia de ser motivo suficiente para ele não lhe tocar. Não compreendia porque a ele isso não o incomodava! Uma coisa daquelas não pode ser esquecida, a menos que estivesse apaixonado por ela! Antes de seguir em frente tinha de saber a verdade. Ele tinha sido amante da cunhada?! Tudo levava a crer que sim, mas não queria cometer o mesmo erro que ele quando supôs que ela o tinha roubado! O que levantava outra questão, se ele admitisse ter sido amante da cunhada, ela estava disposta a esquecer isso e seguir em frente?!

- Agora é tarde, não achas? - Marylin segurou-lhe a mão carinhosamente - Devias de ter pensado nisso antes.
- Pensado no quê?!
- Em Richard! Achas que não reparei que ficaste assim desde que ele se despediu?!
- Oh mãe...
- Quando se ama doí estar afastado. Compreendo que não te sintas à vontade connosco lá em casa...
- Mãe! Tens razão, sinto a falta dele. Mas neste momento apenas penso na minha sobrinha, na minha cunhada e nas dores que teve de passar...

Christina sabia que ao falar na bebé, a mãe esquecia tudo o resto, o desejo de ter uma menina na família era enorme.  Marylin perdeu-se entre roupinhas e lacinhos para o cabelo, que iria ser enorme e com grandes caracóis como o dela. Quando se deitou a mãe ainda sonhava com a neta de caracóis dourados a correr ao sol.

- Christina! Christina!

Christina abriu os olhos e viu Fred a abaná-la. Sentou-se rapidamente na cama pensando que tinha acontecido algo à cunhada.

- Que aconteceu?! A cunhada e a bebé?!
- Estão bem. Richard está na cozinha à tua espera.
- Richard?! - Christina olhou para a janela, ainda não se via o sol - Que horas são?!
- Sete. A mãe está a fazer o pequeno almoço. Não demores.

Christina entrou na casa de banho à pressa, o que estava ele a fazer ali àquela hora?! O dia mal tinha nascido! E ela tinha adormecido tarde, depois de se deitar levou algum tempo a pensar na melhor forma de abordar o assunto, mas lembrou-se do que o médico aconselhou um ambiente calmo sem stress, não recordar coisas que evidentemente ele preferiu esquecer e ignorar.  A pensar na saúde dele adormeceu decidida a adiar a pergunta que tanto a inquietava.
Vestiu umas calças de ganga e uma camisa branca e apanhou um casaco. Olhou-se no espelho. Aprovou a escolha, estava bem para visitar a cunhada no hospital e almoçar com ele na pousada como tinham combinado.

 Christina olhou a enorme mesa da cozinha, metade estava ocupada com os cadernos do sobrinho, que com a ajuda de Richard estava a fazer os TPC. A outra metade estava reservada ao pequeno almoço, podia ver pão acabado de cozer, sumo de laranja, bolo, manteiga, uma variedade enorme de queijo, compotas... Tirando o Natal e festas de aniversário, não se lembrava daquela mesa tão farta. Sem falar nas panquecas que a mãe ainda estava a fazer, enquanto o pai fazia torradas. Fred colocava chávenas na mesa com um dos filhos ao colo.

- Bom dia!
- Olhem só que acordou. - Marylin segredou à filha - Podias ter dito que vinha tomar o pequeno almoço!
- Não sabia. - Segredou ao mesmo tempo que depositava um beijo na cara da mãe.
- Deixem-na em paz. - Mark sorriu para a filha.
- E ele que não saísse em defesa da princesa. - Fred protestou.
- Por pouco tempo, o meu reinado foi usurpado pela tua filha. - Christina piscou o olhou ao irmão.
- Uma ajuda agradece-se! - Fred olhou para ela - Pega aqui no teu sobrinho.
- Que mau feitio! - Ela riu enquanto tirava o sobrinho do colo de Fred - O pai está zangado!
- Nem todos conseguimos dormir descansados! - Fred sacudiu o cabelo do filho mais novo - Não foi?!
- Então?! - Christina sentou-se com ele ao colo - Saudades da mãe?! Não tinhas dito que eram uns homens?! Isto é uma vergonha, quem vai cuidar da mana?! Se são todos uns bebés...
- Não sou bebé! - Ele protestou.
- Não sei não...

Riram todos da cara de ofendido que ele fez. Sentou-se com o sobrinho junto a Richard e aceitou o breve beijo que todos fingiram não ver. Tentou ser o mais natural possível, mas nos seus olhos ainda brilhava a dúvida que a tinha atormentado por algumas horas antes de adormecer. Durante o pequeno almoço as conversas divergiam, passando das colheitas ás fraldas, que estão caríssimas, entre outras futilidades. Mas ela apenas acenava com a cabeça, não conseguia esquecer o exame, nem se alterou quando o choro dos pequenos se juntou à voz do avô quando perguntou a Fred o que pretendia fazer com milk, o coelho de estimação dos filhos, que estava demasiado velho. Aproveitando a confusão Richard levantou-se e segurando-lhe um braço foram para a sala.

- Apanha as tuas coisas.
- Porquê?!
- Vamos sair.
- Agora?!
- Sim, agora.
- Mas eu tenho...

Richard encostou-a à parede e beijou-a demoradamente, só se afastou quando sentiu que ela tinha tanta dificuldade em respirar quanto ele. Apesar da intensidade do beijo ela percebeu que estava tenso, até mesmo irritado.

- Eu não posso...
- Não dificultes as coisas, não estou com paciência.
- Não tens paciência?! - Ela olhou em direcção da cozinha, ainda se falava em milk - E eu?!
- Não sei o que tens, mas algo te incomoda! Queres falar aqui?! - Ele levantou a voz -  Por mim tudo bem, estou cansado de tentar compreender o que te leva a...
- Muito bem, vamos. - Interrompeu-o, não queria discutir com ele à frente dos seus pais - Vou pedir um Táxi.
- Tenho o carro ali fora.
- O carro?! O médico não disse para não conduzires?
- Aconselhou. É diferente.

 Quando subiu no carro notou que ele estava magoado com a atitude dela, mas por muito que tentasse, ela não conseguia esconder aquela desconfiança que habitava a sua cabeça e o seu coração. Evitando entrar em conflito com ele, encostou a cabeça no vidro do carro, o ambiente estava pesadíssimo dentro do carro. Ligou a rádio tentando aliviar o ambiente, mas ele desligou-o alegando que lhe doía a cabeça, o que a deixou preocupada.

- Se te doí não devíamos de...
- Estou bem, apenas cansado.
- Não queres ao menos parar?
- Agradeço a preocupação, mas não é necessário.
- O quê?! Parar ou preocupar-me?
- Ambas.

Abriu a boca para lhe responder mas desistiu. O homem carinhoso desapareceu, no seu lugar estava o homem prepotente, irascível e teimoso que ela conhecia mas que amava!

- Onde vamos? - Perguntou passado algum tempo.
- Para a casa de campo.
- E se não quiser?
- Se não quiseres, depois levo-te onde quiseres, mas agora vamos lá.
- Sim senhor! - Christina sabia que aquilo o irritava mas não se conseguiu controlar. - Ás suas ordens!
- Ás vezes tiras-me do sério!
- E tu a mim.

Richard travou o carro repentinamente e olhou para ela por uns segundos. Christina respirou fundo e manteve o olhar dele. Ele fechou os olhos como se tentasse acalmar-se. Depois voltou a colocar o carro em andamento e ela voltou a olhar a paisagem que se tornava mais verde à medida que iam avançando. Ao aproximarem-se da casa de campo, o tímido sol da manhã foi substituído por um espesso nevoeiro. As árvores pareciam mais imponentes no meio do nevoeiro, quando saíram do carro foram recebidos por umas grossas gotas de água que caíram das agulhas dos pinheiros.

Ao entrar na sala deparou-se com uma enorme quantidade de caixas ainda por abrir. Olhou para ele, mas ele parecia alheio a tudo aquilo. Dirigiu-se à lareira e depois de a acender, foi à cozinha, regressou pouco depois com duas chávenas de café.

- Estas caixas?! Vais deixar a cabana?
- Preferias que assim fosse?
- Eu?! - Christina olhou confusa para ele -Porque havia de preferir?!
- Porque sei que te incomodou o facto de ter estado aqui com outras mulheres.
- Acho que não devíamos de falar nisso.
- Porque não?!
- O médico disse que não podias...
- Esquece o médico! Achas que consigo passar mais um dia contigo, olhando-me como se tivesse cometido o crime do século?! - Richard bebeu o resto do café - Diz-me o que te incomoda.
- Vi o exame. - Disse rapidamente.
- O exame. Qual exame?!
- O que tens na gaveta do escritório.
- Não faço ideia do que falas, se não fores mais específica acho que me vai dar um ataque de nervos.
- O de paternidade.
- De paternidade?! - Richard olhou para ela e parecia não saber do que falava, de repente a sua fisionomia alterou-se e sentou-se no sofá passando a mão pelos cabelos. - Esqueci-me disso, acreditas?! Esqueci-me completamente.
- Então é verdade. - Ela sentiu um frio invadir o seu coração. - Podias ser o pai de Yorin.
- Sim. - Ao olha-la nos olhos compreendeu o que aquilo significava - Oh Deus! Sim podia ser, mas não como pensas!
- Como não?! Só se pode ser pai de uma forma.

Richard segurou-lhe a mão, que ela tentava retirar, com força. Parecia ter medo que ela saísse dali.

- Quando o meu irmão apresentou a mãe de Yorin eu nem queria acreditar. No mês anterior tinha ido visitar a minha irmã a Espanha, e conhecia-a no avião uma... - ele fez uma pausa - não há necessidade de contar tudo, acabei por passar um fim de semana com ela. Depois de regressar, onde quer que fosse ali estava ela, os encontros eram tantos que duvidei da casualidade. Quando a confrontei com isso, disse que estava a imaginar coisas. Como deixei de a encontrar esqueci isso. Todas as mulheres que tive sabiam o que esperar de mim, nunca prometi nada! Ela não foi excepção.  Quando, nessa noite, o meu irmão a apresentou como noiva, percebi o que ela queria. Pensei que a paixão lhe passava, mas um mês depois, quando tentei falar com ele, sou surpreendido com a notícia que ia ser tio! Um bebé! Tudo bem... Nunca mais pensei nisso, a meu ver o divorcio seria inevitável. Mas Yorin nasceu antes do tempo!  Imagina o que pensei, tinha tomado precauções mas as coisas acontecem. E se fosse minha?! Não conseguia olhar para ela sem pensar nisso, comecei a olhar a menina de forma diferente, acho que cheguei a sentir uma espécie de rancor para com ela. Eu não podia ser o pai, não queria um filho de uma mulher que não amava! A dúvida estava a consumir-me. Tinha de ter a certeza! O resultado chegou e nem sabes a alegria que senti a ver que não era minha filha. O acidente do meu irmão aconteceu por essa altura, com tanta coisa acho que o atirei para a gaveta e esqueci a existência dele.
- Por isso o teu pai achava que odiavas o teu irmão por te deixar responsável por Yorin.
- Talvez, não sou muito bom a esconder o que sinto.
- Pois eu acho que escondes muito bem.
- Não quero esconder nada de ti. Amo-te e não quero segredos entre nós.
- Nem haverá.
- Parece-me lindamente. - Richard começou a beijar-lhe o pescoço e a despir-lhe a camisa.
- Richard...
- Hum?!

Eles não falaram, as roupas amontoavam-se junto à lareira, enquanto ele queimava a pele dela com beijos, o sol nascia lá fora. E assim como o nevoeiro desaparecia, desapareceram as nuvens que pairavam sobre o amor deles.

- Não estou com vontade de regressar. - Christina beijou o peito nu dele.
- Nem eu, quero ficar a sós contigo. E temos a casa cheia de gente, o meu pai ainda está lá assim como a minha irmã e a cunhada.
- Ainda?!
- Ainda e tenho a sensação que só me vão deixar quando regressar contigo.
- Falaste de mim à tua família?!
- Não vi porque esconder o que sinto por ti. Se bem que o meu pai, soltou uma gargalhada quando lhe disse, acho que desconfiava!
- Desconfiava?!
- Já te disse que sou muito mau a esconder o que sinto.

Richard puxou-a para debaixo do seu corpo e beijou-a longamente.

- Infelizmente temos de regressar, mas antes, quero que vejas uma coisa. Não queres vestir algo?
- Tenho de vestir?! - Ela sorriu provocadora
- Acho que é mais seguro.

 Richard depositou um beijo no nariz dela e subiram as escadas de mão dada.

- Que te parece?! - Richard olhava a cara de espanto dela ao ver o quarto novo.
- Compraste mobílias novas!
- Achei que vir aqui te traria más recordações.
- Más recordações?!
- Eu teria, se soubesse que estava numa cama que tu dividiste com outro homem.
- Por isso decidiste renovar a casa de campo. - Ela sorriu sentindo o coração acelerar - Não tinhas porquê.
- Claro que tinha, apenas fiz umas alterações e gostaria de ter a tua aprovação.
- Porquê?!
- Porque faço questão que as minhas casas sejam do agrado da minha futura esposa.
- Oh!
- Isto se aceitares casar comigo.
- Posso responder amanhã? -Christina sentiu o coração bater ainda mais.
- Amanhã?! Nunca gostaste de me facilitar a vida.
- Tenho tempo de ta facilitar quando arranjarmos um primo a Yorin.
- Nada me daria mais prazer.





                                                         FIM

                                                   

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