sexta-feira, 28 de abril de 2017

À TUA ESPERA 13ª PARTE




Isabel desceu do carro em silêncio, aparentava uma calma superior à que sentia quando entrou em casa segurando a mão de Jimin. Lisa estava sentada no sofá como sempre fazia quando ia visitá-la, Jill apareceu nesse instante e sorriu para eles.

- Podes ir com Jill?!
- Tens a certeza?! - Jimin ainda lhe segurava a mão.
- Sim. Esta batalha é minha.
- Estou ali.

 Isabel sorriu-lhe e apertou-lhe a mão. Deixou a mala em cima do sofá e olhou para Lisa, esta seguia Jimin com o olhar até à cozinha ao mesmo tempo que ajeitava a saia sobre as pernas e olhou directamente para ela.

- Eu sabia que ias conseguir. - Lisa sorria - Confesso que começava a perder a esperança em ti.
- No quê?!

 Isabel sabia a resposta, mas ainda não sabia o que Lisa pretendia realmente. Lisa alisou novamente a saia e ela seguiu-lhe os movimentos, algo faltava na cena que ela viu repetidas vezes, principalmente quando Lisa estava nervosa. Saber isso levou-a a olhar atentamente para Lisa, mais concretamente para a mão que ela esfregava constantemente, reparou então que faltava o anel de diamantes!

- Ora essa! No que haveria de ser?! Conseguires um marido decente. Agora já me dás razão e aceitas que ele - Lisa acenou na direcção da cozinha - é melhor partido que aquele teu suposto amor?!
- É engraçado como tu avalias as pessoas.
- Como assim?!
- Tu olhas para a conta bancária e quanto maior for, maior é a tua aprovação. Alguma vez tiveste curiosidade em conhecer Jimin?!
- Viu-o uma vez ou duas por uns instantes. E não foi preciso mais, sabia de onde vinha e isso era mais que suficiente. Ele não era o indicado para ti.
- Talvez. - Isabel duvidava que Lisa não o tivesse reconhecido - Mas ainda não percebi o que pretendes de mim.
- Ora essa. - Lisa fez-se de ofendida - Uma pessoa não se pode interessar pelos seus?!
- Pelos seus... Muito bem, vamos mostrar interesse. Que aconteceu ao teu anel?! - Isabel estava cansada de tanta falsidade - Perdeste-o ou já o vendeste?!
- Uma mulher tem as suas despesas.
- Despesas... Sei. - Lisa olhou-a seriamente - O teu marido já não suporta as tuas despesas?!
- Digamos que ele conheceu alguém mais novo.
- Ou seja, foste substituída. Agora entendo o porquê da tua visita, precisas de dinheiro.
- Quando estamos em apuros temos de recorrer aos nossos.
- Nossos?! A ver se percebo, o teu marido deixou-te e como estás sem dinheiro, apesar de nunca te interessares por mim, ou por qualquer assunto que me dissesse respeito, resolveste visitar-me pois descobriste que casei com um homem rico. Estou a ir bem?! Já vi que sim. O que possivelmente não sabes é que casei com o homem que tu afastaste de mim à nove anos! Lembraste dele?! - Isabel viu como Lisa abriu muito os olhos - Não?! Engraçado! Porque será que não acredito nisso?! Talvez porque engoles o teu orgulho idiota quando se trata de dinheiro. Ele podia ser o homem que tu mais abominasses ao cimo da terra, mas se fosse rico não te importavas. Sabes?! Ao longo dos anos aprendi que tu apenas pensas numa pessoa, em ti!
- Não sejas injusta.
- Injusta?! - Isabel falou tão alto que Jill e Jimin juntaram-se a elas - Não me parece, estive afastada do homem que amo porque tu lhe escreveste a dizer aquelas coisas horrorosas! Tens noção do que me fizeste sofrer?! Da quantidade de pessoas que magoaste durante a tua vida?! Não! E se soubesses para ti era igual! Nunca te preocupaste comigo ou com outra pessoa, apenas contigo e com o que tu queres. - Isabel soltou uma gargalhada - Acho que nos estamos a repetir.
- Isabel. - Jimin tentava falar com ela - Acalma-te...
- Acalmar-me?! - Isabel olhou para ele com os olhos cheios de lágrimas - Ainda não percebeste que foi ela que te escreveu aquela carta?!  Por causa dela estivemos afastados, pensando que não nos amávamos.
- Mas agora estão juntos. - Lisa falou confiante.- Isso...
- Não graças a ti! - Isabel explodiu - Afastaste-nos, sem pensar no que ele ou eu sentíamos. Querias que, assim como tu, me casasse com um homem rico, apenas e só porque era rico! Não te importava se eu o amava ou não. Para ti os casamentos só servem para uma coisa, proporcionar uma vida de luxo! Tu mesma disseste que nunca amaste o pai, casaste pelo estatuto e como não conseguiste vender a minha casa, sim a minha casa... - Isabel estremeceu - Como não te foi permitido vendê-la, fizeste dinheiro da única forma que sabes. Voltaste a casar! Apesar do pai te deixar uma quantia considerável conseguiste gastar tudo, bastava fazeres uma vida mais regrada, mas não... Tu e as tuas manias de superioridade. - Isabel parou uns segundos - Mais uma vez tiveste um casamento sem amor, apenas por interesse. Pois deixa-me dizer-te, por mim podes ir pedir esmola na rua! Não me interessa, nunca conheci uma pessoa tão pobre, tão baixa como tu!
- Isabel não podes falar a sério! Temos de...
- Não Lisa, não temos nada. Para mim chega.
- Sou tua mãe! - Lisa gritou
- Agora és minha mãe?! Nunca foste mãe, não venhas reclamar o que me negaste. A partir do momento em que saí de dentro de ti que nunca mais me tocaste, tive amas, umas atrás de outras até chegar à avó. Ela sim foi a minha mãe, ela e Mima. - Isabel encarou-a - Perdoei-te sempre, mas não posso mais.

Isabel abriu a porta da rua e esperou enquanto Lisa olhava para Jill e Jimin antes de olhar para ela.  Lisa apanhou a mala e dirigiu-se para a porta com passos firmes parando junto a ela, Isabel permaneceu indiferente ao olhar gelado com que Lisa a olhava.

- Vais arrepender-te disto. Não sabes com quem te meteste.
- Sei, infelizmente sei.


Isabel fechou a porta e respirou fundo. Ficou encostada à porta sentindo o corpo tremer pela tensão do momento. Jimin abraçou-a até que ela deixou de estremecer.

- Vou fazer café. - Jill desapareceu na cozinha.
- Não era preciso seres tão brusca com ela. Afinal é a tua mãe.
- Sei que te foi incutido o respeito pelos mais velhos, mas acredita em mim, ela não merece.
- Não te vais arrepender?!
- Talvez. - Isabel encarou-o - Como podes ver não fui amada como tu, o dinheiro dos meus pais não me trouxe felicidade, a única casa onde fui feliz foi aqui com a minha avó.
- Não sabes como lamento ouvir isso.
- Obrigada. Por isso esta casa é importante para mim.
- Por falar nisso, que pensas fazer com ela?
- Porque perguntas?
- Pensei que como é tão importante para ti podemos restaurá-la e mudarmos-nos para cá.
- Sério?! - Isabel sorriu - Isso era fantástico. Mas...
- O que foi?!
- Jill. - O olhar de Isabel entristeceu de repente - Se nos mudamos para cá ela fica sem casa.
- Nesse caso temos duas opções. Podemos comprar uma vivenda e deixar a casa a Jill ou podemos dar-lhe o apartamento e vivemos em Busan durante as obras.
- Viver em Busan?!
- Teremos de ter casa lá e cá. - Jimin apertou-a nos seus braços - Tenho negócios que atender nos dois países e não quero a minha esposa longe de mim. Aliás temos um casamento a preparar e lá tens a ajuda da minha mãe.
- Não precisamos casar novamente.
- Devo-te um casamento decente, a ti e aos meus pais.
- A mim não me deves nada. Mas acho muito bonito que o queiras fazer pelos teus pais.
- Então, vou falar com o meu pai para tratar dos papéis por lá.
- Mas Jill e Mima?! Elas não vão poder ir.
- Meu amor não te preocupes, deixa tudo comigo. - Jimin olhou-a sorrindo - Quando me vais falar de Mima?! Estou curioso.
- Melhor que isso, vou apresentar-ta.

Horas depois despediram-se de Jill, que não conseguia esconder a felicidade por ir a Busan.

- Obrigada, sr. Park. - Jill sorria-lhe.
- Jimin, afinal somos quase família.

 Jimin abraçou-a e ela ficou muito vermelha o que provocou o riso em Isabel. Raramente a amiga ficava envergonhada.
Durante o percurso Isabel foi dando indicações a Jimin para casa de Mima.  Felizmente tinha conseguido avisa-la que iam almoçar com ela, sabia que Mima adorava receber visitas mas detestava surpresas. Jimin tamborilava com os dedos a música que passava na rádio, um clássico dos anos 70.

- Lembras-te destas músicas?!
- Impossível não recordar, Jill passa a vida a cantá-las, conhece-as todas.
- Sério?! Todas?!
- Menos as clássicas.
- Imagino que não. - Jimin baixou o som do rádio e parou de tamborilar - Posso perguntar-te uma coisa?!
- Claro.
- Quando estavas a falar com Lisa, disseste que ela quis vender a tua casa, que querias dizer com isso?!
- Isso mesmo. Que a queria vender. - Isabel olhou para a paisagem - Quando a minha avó faleceu deixou-me a casa e algum dinheiro, estava entregue a um advogado de confiança dela . Todos os meses ele enviava para a minha conta uma certa quantia, que nunca usei, e quando fizesse 25 anos, apenas aí, ele me entregaria a casa. Não me perguntes porquê! Durante esse tempo foi Mima que cuidou da casa, enquanto eu brincava ás princesas. - Isabel fez uma careta - Mas depois o meu pai faleceu. Por algum tempo, vivi sozinha naquela casa enorme enquanto Lisa vivia entre festas e cruzeiros. Mas não me importava, sempre estive sozinha, e com Lisa fora não me arranjava marido. Fazíamos a mesma vida de sempre, até que os credores apareceram. Lisa devia imenso dinheiro e não tinha como pagar. Foi aí que se lembrou de vender a minha casa. Eu não consenti, discutimos e saí de casa. Como não conseguiu convencer-me impugnou o testamento. Lógico que não venceu, mas quando fui ver a conta onde tinha o dinheiro, pouco restava. Fiquei furiosa, como era titular da minha conta, Lisa conseguiu levantar o que quis. Quando lhe perguntei disse que tinha todo o direito, afinal eu também morava lá em casa. Nesse dia decidi que não queria nada dela. Sem dinheiro precisava de trabalho para pagar as contas. Arranjei trabalho numa empresa, e gostava de trabalhar lá, mas o meu ex-namorado achou que a patroa era mais apelativa que eu e foi para a cama com ela. Despedi-me e comecei a trabalhar no que encontrava, mas nada de definitivo. Até que Jill me falou que estavam a contratar na P&C, arranjou-me uma entrevista e o resto já sabes.
- Desculpa. - Jimin parou o carro na beira da estrada - Não queria recordar-te nada disso.
- São coisas que nunca vou esquecer. Mas não tens porque pedir desculpa, a culpa não foi tua.
- Peço desculpa porque, mesmo sem intenção magoei-te. E pensaste que fiz o mesmo que o teu ex.
- Dizes isso por aquela mulher?!
- Fiz-te reviver um mau momento.
- Não foi bem a mesma coisa, quando soube que Phil me tinha traído não me senti magoada nem fiquei furiosa com ele, como fiquei contigo. - Isabel deu-lhe uma palmadinha na perna - Acho que até me senti aliviada.
- Aliviada?!
- Deixei de inventar desculpas para não ir para a cama dele.
- Se tinhas de inventar desculpas, porque namoravas com ele?
- Porque tive a infeliz ideia que era a única forma de te esquecer.
- E querias esquecer-me?!
- Depois de anos à tua espera era o mais sensato. - Isabel olhou para ele sorrindo - Mas no fim acabei esperando na mesma.
- Hum...- Jimin puxou-a - Ainda bem que o fizeste.
- Foi?! - Isabel beijou-o.
- Foi, mas este não é local apropriado para te dizer como estou feliz por teres esperado. Por isso acho melhor irmos. Ou seremos detidos por atentado ao pudor e aos bons costumes.

Pouco depois Jimin estacionava o carro junto à casa de Mima. Sem esperar por ele, Isabel desceu e foi ao encontro da mulher que sorria abertamente para eles.

- É quem eu penso?! - Mima abraçava-a - Tudo se resolveu?!
- Sim. Não há mais segredos.
- Ainda bem, não acreditei por um segundo que ele te fizesse isso.
- Felizmente alguém com bom senso. - Jimin aproximou-se delas.
- Ouvi falar muito de ti. - Mima largou Isabel para envolver Jimin num abraço. - E durante muitos anos.
- Infelizmente não posso dizer o mesmo.
- Mas vamos para dentro, o jardim não é sitio para receber visitas.
- És uma caixinha de surpresas - Jimin segurou-a pela mão atrasando o passo. - Podias ter dito algo.
- A respeito de quê?! De Mima?! Algo contra ela?!
- Nada, apenas fiquei surpreendido, nada mais.
- Que esperavas?!
- Não sei... uma velhota amorosa rodeada de gatos?!
- Quando olho para ela não vejo cor nem estatuto social, apenas a enorme mulher que é, com muito amor e carinho para dar. Foi assim que a minha avó me educou e é assim que eu vejo os demais.
- Para desgosto de Lisa.
- Sim.
- Meninos! - Mima apareceu na porta - Vieram visitar-me ou ver as flores?
- Estamos a ir.


Isabel vestira o vestido branco que Su Ji insistira em comprar. Todo ele em seda com aplicações em renda nos ombros.  Uma faixa rodeava a cintura tornando-a mais fina. O cabelo, apanhado no alto com uma coroa de flores iguais ao ramo. Fechou os olhos para que Aro, a prima de Jimin, termina-se a maquilhagem, uma batida na porta interrompeu o processo.  Jill entrou sorridente, estava linda num vestido comprido em tons rosa sem ombros. Uma pequena flor no cabelo completava o visual.

- Estás linda! - Isabel voltou a fechar os olhos.
- Não tanto como tu.
- Estou atrasada?! - Isabel abriu ligeiramente um olho para olhar para ela.
- Não, mas Jimin está nervosíssimo. Até parece que ainda não foi para a cama contigo.

Aro riu-se com o comentário dela e fez um enorme risco junto ao olho de Isabel.

- Desculpa! - Jill estava novamente vermelha. - Pensei que não...
- Aro estudou nos estados unidos. - Isabel explicou. - É apenas muito tímida.
- Terei que raptar a minha esposa para que me case?! - Jimin entrou no quarto para desespero de Jill.
- Rua! Não podes ver a noiva antes da cerimonia!
- Acreditas nisso?!
- Mais vale jogar pelo seguro.
- Aqui não temos essa superstição. - Jimin aproximou-se e beijou Isabel - E como dormi com ela acho que estamos imunes.
- Até pode ser, mas agora vai. - Jill expulsou-o do quarto.
- Aro! - Jimin olhou para a rapariga - Conto contigo para a levares até mim.


Elas riram e uma hora depois, Isabel e Jimin saíam da capela como marido e mulher e entravam no carro que os levaria ao hotel, onde tinham reservado uma sala para a festa.

Depois do almoço Isabel embalava a bebé de Aro e sorria com a certeza que seria feliz para sempre. A janela da sala estava aberta e deixava ver o céu azul. Isabel deixou cair uma lágrima ao pensar na sua avó, Jimin beijo-lhe a testa e limpou a lágrima com a mão.

- Não é dia para lágrimas. - Jimin segurou a mão da pequena que tentava, em vão, agarrar o cabelo de Isabel. - Em que pensas?!
- Na minha avó.
- Adoraria conhecê-la. - Jimin voltou a beijar-lhe a testa e ficaram em silêncio por uns instantes.
- Não vai poder conhecer-te, nem aos nossos filhos.
- Nossos filhos?! - Jimin colocou a mão na barriga dela. - Estás...
- Não. Mas penso começar a tratar disso logo à noite. Isto se o meu marido estiver de acordo.
- Parece-me lindamente.



                                                                 FIM


NOTA: Esta história contêm partes retiradas da Wikipedia sobre Busan e Seul. Assim como algumas tradições coreanas.
AGRADECIMENTO:  À Inês pela escolha dos nomes dos protagonistas e algumas curiosidades coreanas.



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