terça-feira, 11 de abril de 2017

À TUA ESPERA 3ª PARTE



Isabel entrou em casa cantarolando, era como se o tempo tivesse retrocedido até ao momento que o conhecera. Naquele tempo bastava pensar nele para se sentir feliz. Mas já não era a adolescente apaixonada, era uma mulher madura, a quem a vida tinha tratado de forma ingrata arrebatando-lhe as poucas pessoas que realmente a amavam. E quando ela pensava ter reencontrado alguém, o destino resolveu levá-lo para longe para lho devolver anos depois, mas mais amargo. Negando-se a perder a esperança respirou fundo e caminhou em direcção ao quarto, um bilhete na porta chamou a sua atenção.

" Fui aproveitar a noite, não sei a que horas chego.
   P.s: Devias fazer o mesmo "

Isabel tirou o papel da porta e sorriu. Às vezes sentia uma certa inveja de Jill, nada parecia abalar a sua forma despreocupada de ver a vida. Embora não parecesse, devido à sua maneira extravagante de se vestir, era muito responsável, cumpria o seu horário laboral e estava sempre disposta a ajudar nas festas e demais iniciativas que a empresa tomasse, mas depois disso vivia a vida em pleno. Ao longo do anos aprendera a ignorar o que comentavam dela e eram raras as noites que chegava cedo a casa. Nunca lhe conhecera um namorado, apenas amigos coloridos. Não que os visse, apenas sabia que eles existiam pois Jill falava no assunto. Nenhum durava mais que uns meses, no fundo achava que Jill era o tipo de mulher que nunca iria casar, gostava demais da sua independência. Amar alguém significava ser dependente desse alguém e Jill nunca iria ser dependente de ninguém. E tinha quase a certeza que  nem se iria apaixonar por um homem com a mesma intensidade que ela se apaixonara por Jimin.
Jimin...

Ainda tentava assimilar o dia que tinha vivido, depois de anos de espera, de imensas noites sem dormir, de rios de lágrimas derramadas e no momento menos esperado, Jimin estava de volta à sua vida.
Recordava a confusão que fora a sua vida nos anos seguintes à partida dele, amara-o com as forças da primeira paixão e esperara por ele durante anos. Durante esse tempo alimentou a ideia que um dia ele iria voltar, tal como voltara o tio de Maria, que por motivos de saúde teve de deixar a mulher amada. Mas Jimin não era o tio de Maria, o tempo passou sem que ele regressasse. Quando chorou nos braços de Mima esta colocara a hipótese que talvez estivesse casado com uma linda coreana e quem sabe se não teria filhos... Imaginar outra mulher nos braços dele, crianças correndo para ele, uma casa com um jardim florido... Tudo isso doía demais e para poder superar essa dor precisava de se mentalizar que Jimin era apenas um amor de juventude, uma doce recordação, aquele amor que deixa um sorriso nos lábios ao recordar. Afinal ele fora o seu primeiro amor, outros viriam depois. Até a sua avó tinha encontrado o verdadeiro amor anos depois de ficar víuva. Apenas precisava esquecer Jimin e acabar de vez com o sonho de um futuro regresso.
E foi o que fez, levou algum tempo mas, depois de se convencer que ele não iria regressar, tentou refazer a sua vida, e por algum tempo acreditou que podia casar, ter filhos... acreditava que poderia ser feliz ao lado de outro homem.  Homem que pensou ser Phil, mas essa ilusão desvaneceu-se em questão de meses.
O namoro, a traição, a ruptura, tudo isso superou sem gritos ou noites de choro inconsolável. Sempre pensou que nada doía mais que uma traição mas no seu íntimo ela não se sentia traída por Phil. Como podia sentir-se traída ou sentir que algo tinha acabado se para ela Phil era apenas um amigo?
A sua avó dizia que as pessoas passam nas nossas vidas por alguma razão, com algum propósito. Talvez o propósito de Phil fosse provar que podia interessar-se por um outro homem e quem sabe amar novamente. Talvez um dia fosse encontrar um homem que a fizesse feliz.
Com todos os problemas financeiros que estava a passar e a preocupação de não ter um emprego seguro não pensava tanto em Jimin, o que a levou a pensar tê-lo esquecido.
Mas bastou um olhar para perceber que tal não tinha acontecido, tentara convencer-se disso, mas no fundo sabia que nunca o esqueceria. O batimento descompassado do seu coração ao vê-lo era a prova disso. Ainda o amava.

Isabel olhou o relógio e resolveu fazer um chá. Estava demasiado agitada para dormir. Jimin continuava a ter esse efeito nela. Mas o chá não era reconfortante o suficiente para lutar contra as recordações daquele tempo que pareciam assombrar os seus pensamentos.


A sua avó tinha falecido à pouco tempo e ela não conseguia deixar de se sentir só e abandonada. Crescendo no bairro pobre da avó não conhecia ninguém no elegante bairro onde viviam os seus pais e devido a isso passava o tempo em casa, o que irritava Lisa.
Podia ter tudo o que todas as raparigas desejavam, a casa mais linda do bairro, motorista, piscina, cartão de crédito ilimitado, férias onde quisesse... Mas apesar de ter tudo isso, ela sentia-se deslocada. Lisa comprava-lhe roupas caríssimas, entre outras coisas que ela nunca usava, e muitas delas dava a outras pessoas. Passava mais tempo no anexo com os empregados que na vivenda. Era como se aquela casa não fosse o seu lugar. E na escola não se sentia diferente, além de Mindy, filha dos amigos de Lisa, ela não conhecia ninguém e não fazia questão de conhecer. Tinha saudades dos amigos da sua antiga escola onde gostavam dela por ser quem era e não porque era filha de um diplomata. Podia parecer distraída mas sabia perfeitamente que as demais raparigas apenas toleravam a sua companhia porque poderia ser conveniente aos pais destas, ou a elas próprias, em algum momento das suas futuras vidas.
Todas elas viviam num mundo de aparência, um mundo para o qual Lisa insistia em prepará-la e ela insistia em recusar a sua entrada nele. Muitas vezes imaginava que Mima a esperava na entrada da escola para a levar de volta a casa da avó. Mas era consciente que isso nunca mais iria acontecer, o que a deixava ainda mais triste. A avó pertencia ao passado.

As aulas tinham começado à pouco tempo e geralmente deambulava sozinha pelas salas ou pelo pátio, onde gostava de ficar a olhar os ramos das árvores balançar ao sabor do vento ou a ver como as folhas "corriam" pelo chão.
Num dia de outono, enquanto pensava no Natal que se aproximava, e que seguramente passaria sozinha, foi apanhada desprevenida por uma leve chuva.  Fechou os olhos e deixou-se ficar sentada no banco sentindo a chuva no rosto e absorvendo o aroma a terra molhada. Aquele simples prazer trazia-lhe tantas recordações... fizera isso tantas vezes com a avó... De repente deixou de sentir o fresco das gotas e ao abrir os olhos viu um livro enorme sobre o seu rosto. Naquele momento recordou Billy. Este acharia aquilo uma barbaridade. Um livro era um tesouro que devia ser estimado e não colocado em qualquer situação que o pudesse deteriorar.  Mas ela achou uma certa piada, quem no seu perfeito juízo usa um livro, e bem parco em questão de folhas, para se proteger, ou proteger alguém, da chuva? Na melhor da hipóteses era o pobre livro que pedia a gritos que o tirassem dali. Imaginar o livro a pedir ajuda levou-a a sorrir e desviou o olhar para o seu "salvador". Ficou surpreendida com o rosto que tinha à sua frente, apesar de mais leves, os seus traços eram asiáticos.

- Não devias estar sentada à chuva.
- Não está a chover assim tanto, além disso prefiro estar aqui que rodeada de gente meio idiota.
- Obrigada pelo elogio. - Ele fez uma careta - Olha lá... ser meio idiota é melhor que ser idiota inteiro?!
- Não tinha pensado nisso. Mas por essa perspectiva sim - Isabel sorriu novamente.
- Ah...Boa. Park, Jimin Park.

Isabel olhou para a mão que ele estendia muito solene, depois riu da cara que ele fez. Há muito que não achava piada a nada e ele conseguira-o várias vezes num breve espaço de tempo.

- Desculpa?! - Isabel cerrou um pouco os olhos - És substituto do James Bond?!
- Quem me dera! - Jimin sorriu - Hábitos culturais. Sabias que na Coreia, o nome consiste no nome de família, o apelido, seguido por um nome pessoal? - Jimin continuou sem esperar resposta - No meu caso o nome de minha família é Park. Na maioria dos casos, o nome da família consiste numa só sílaba, enquanto que o nome pessoal consiste em duas. Ao usar idiomas europeus, alguns coreanos guardam a ordem original, e outros invertem o nome para emparelhar a ordem ocidental. Por isso, um apelido como "Li" pode, por influência da língua inglesa, ser encontrado como Lee, e Rhi como Rhee. O meu nome pode escrever-se Ji- Mim ou Jimin.
- Além de agente secreto, és algum tipo de enciclopédia?!
- Se optamos por nos esquecer de quem somos, corremos o risco de nos perdermos algures entre a multidão. - Jimin olhou-a nos olhos - Desculpa, comecei a divagar. Não me disseste o teu nome.
- Isabel Slade. - Isabel aceitou a mão dele.
- É um prazer conhecer-te.

Naquele instante a campainha tocou anunciando o reinicio das aulas.

- Igualmente, Park. - Isabel sorriu-lhe antes de aceitar os livros que ele lhe estendia. - Obrigada.

Isabel dirigiu-se para a sala de aula pensando que simpatizara com Park, Jimin Park. Se bem que ele não era como ela imaginava um asiático, nem como os que via na televisão.
Sempre lhe pareceram baixos mas Jimin era bastante alto. Além de o achar simpático, achou-o bonito, gostou principalmente dos olhos dele, de um castanho escuro mas que brilhavam quando ele sorria, o que a fez sorrir também. Sim, Jimin era um rapaz interessante...
Achava-o tão interessante que não conseguiu evitar uma espécie de vaidade ao ver que depois das aulas ele estava sentado junto à saída. Ao vê-la levantou-se e ofereceu-se para a acompanhar a casa. Jimin contou-lhe que apesar do pai não ser coreano, ele tinha nascido lá por ser essa a vontade da sua mãe. O pai tinha sido um dos muitos soldados destacados durante a guerra de 1950 a 1953, quando as nações unidas foram ajudar a Coreia do sul. Conheceu lá Su Ji, aquela que, apesar da oposição familiar de ambas as partes, viria a ser sua esposa.
Quando chegaram a casa de Isabel, ela tinha a certeza que conhecia praticamente a vida toda dele a as dificuldades que os seus pais enfrentaram por se amarem. Quando ele falou nisso ela ficou triste, pois recordou a luta muito semelhante, da sua avó por amar Billy. Ao contrário da família dela, a dele voltou a reatar relações depois que ele nasceu e esse tempo foi esquecido.

- É aqui.

 Isabel parou na entrada. Jimin estendeu-lhe a mão mas ela ignorou-a. Segurou os livros com as duas mãos e colocou-se em bicos de pés para depositar um beijo no rosto dele. Jimin ficou em silêncio a olhá-la. Depois sorriu e fez uma vénia teatral antes de começar a afastar-se.

- Espero voltar a ver-te Isabel.
- Eu também.

Nesse dia Isabel confirmou o que a avó muitas vezes lhe dizia entre lágrimas. " A tua mãe não deve ter sentimentos. Como pode ser tão fria?! "
Lisa tinha visto o beijo que tinha dado a Jimin e fez questão que ela soubesse o quão despropositado aquilo era. Depois de um extenso sermão sobre as diferentes classes sociais existentes e os motivos pelos quais não se devem misturar, Lisa ameaçou colocá-la num colégio privado se ela insistisse em continuar a ver pessoas "inferiores" a ela. Isabel desesperou ao imaginar-se presa num edifico sombrio. Não conseguia viver num lugar assim, não depois da vida que levara com a avó. Isabel apenas queria ter dezoito anos para poder ser independente. Viver ali e ter de concordar com Lisa só para evitar discussões era como desrespeitar a avó e ignorar tudo o que esta lhe ensinara.
Teria de ser mais subtil nas palavras enquanto não atingisse a maioria de idade.
Mas o temperamento de Isabel raramente lhe permitia ficar em silêncio e essa acabou por ser a primeira de muitas, ainda que breves, discussões com Lisa. Isabel não concordava com a forma de Lisa encarar a vida e os demais. Ao contrário desta, para ela todas as pessoas mereciam respeito, não apenas os que tinham incalculáveis recursos económicos ou tinham a mesma cor de pele. E esse era o motivo de discussão maior.
Quando, durante um jantar ela disse que a cor da pele não define quem somos, Lisa quase que atirou a sopa sobre a mesa. Olhou para o marido e culpabilizou-se por ter permitido que a avó a educasse e lhe incutisse valores de igualdade entre todos os homens. Levantando um dedo prometeu tomar medidas se ela voltasse a comportar-se em desacordo com a sua classe social.
Mas as ameaças da mãe não evitaram que se encontrasse com Jimin, gostava de estar com ele e se Lisa não aceitava aquela amizade era problema dela. Não ia deixar de o ver só porque Lisa não gostava dos amigos dela, apenas teria de ter cuidado, Lisa não iria mandar nela para sempre. Bastava esperar mais um pouco para ficar longe de Lisa e dos seus preconceitos.

 Isabel ainda se arrepiava ao imaginar as "conversas" que tivera com Lisa, talvez por saber que ela ainda pensava igual. Os anos não tinham mudado a mente "pequenina" de Lisa. Só havia uma coisa que a fazia esquecer esses preconceitos, a sua própria conveniência! Olhou a gaveta onde guardava os postais que lhe enviava, abriu-a e tirou todos para cima da mesa. Paris, Londres, Veneza, Milão, Roma, Copenhaga, Corfu, Madrid... Além das paisagens lindas, todos os postais continham apenas duas linhas, isentas de carinho, com total indiferença apenas relatavam curtos factos.

- Olá! Matando saudades da mãezinha?! - Jill entrou nesse momento - Pensei que estivesses a dormir.
- Não tenho sono.
- E eu a imaginar que o novo patrão te deixou incapaz de caminhar até ao bar mais próximo. - Jill apanhou um postal - Como é?!
- Não sei.
- Como não sabes?! Não te aceitou?
- Espera. Não estás a falar de Corfu?!
- Não! - Jill deu uma gargalhada e atirou o postal de Corfu para junto dos demais - Mas quando tiveres dinheiro para ir leva-me. Nem que seja de arrasto. Estava a falar do patrão novo.
- Jimin é simpático.
- Jimin?! Hum... Ainda agora começaste e já vamos aí?!

Isabel corou e Jill riu-se. Sentou-se no sofá e tirou os sapatos sem desviar o olhar de Isabel.

- Vais contar ou é preciso arrancar a informação com tácticas mais obscuras?!
- Andei com Jimin na faculdade.
- Andaste?! - Jill sentou-se com as pernas cruzadas voltada para ela - Nunca falaste nele.
- Não gosto muito de falar desses anos.
- Mas seguramente o sr Crost disse algo que te fizesse suspeitar .
- Não.
- Então foi uma surpresa.
- E das grandes. Acho que até o chão me fugiu quando o vi.
- Sério?! - Jill olhou para ela - Realmente a vida dá imensas voltas.
- Se dá... - Isabel olhou o chão tristemente.
- Reencontrá-lo despertou os teus fantasmas?
- Alguns...
- Não foi por essa altura que faleceu a tua avó?
- Sim.
- Imagino que não seja fácil recordar esse tempo. Eras muito chegada a ela.
- Não é só por isso, voltar a vê-lo reavivou discussões que, por muito que tente, não consigo esquecer.
- Com ele?!
- Não, com Lisa.
- Imagino o motivo. No escritório disseram que é chinês. É verdade?
- Coreano.
- Vai dar ao mesmo.
- Não vai não. - Isabel sorriu -  Outro dia explico, agora vou dormir. Até amanhã Jill.
- Até amanhã.

Como pensava nas discussões com Lisa teve dificuldade em adormecer. Era como se a presença de Jimin estivesse associada às discussões com Lisa. De certo modo estava, pelo menos aquelas que mais a magoavam, mas já pensara demais em Lisa nesse dia. Tentando afastar esses pensamentos pensou em Jimin e permitiu-se regressar atrás no tempo ao tempo em que a avó ainda estava a seu lado.


- Avó?
- Sim.
- Porque Billy te beija assim?
- Como? Nos lábios?
- Sim. O pai não beija a mãe assim.
- Não?

Isabel acenou com a cabeça e sentou-se junto à avó que arranjava uns vasos.

- Como soubeste que estavas apaixonada?
- A minha menina está apaixonada?
- Não... e acho que não saberia se estivesse.

A avó rira e bagunçara a cabelo dela como sempre fazia quando ela tinha conversas mais profundas.

- Estás a crescer e é normal que tenhas essas dúvidas. Mas não te preocupes, quando o vires vais saber.
- Como?
- Acredita meu amor, vais saber.
- Ele também vai olhar para mim como Billy olha para ti?
- Se não o fizer é porque não te ama.
- Então só vou apaixonar-me por um homem que tenha olhos negros brilhantes.
- Fazes bem meu amor.

Anos mais tarde sentia falta de alguém com quem falar, principalmente depois de perceber que acordava com saudades de Jimin, que só se sentia feliz quando estava com ele, que o seu coração batia mais depressa quando o via... Gostava que a avó estivesse ali para lhe explicar todas aquelas emoções que sentia. Para lhe perguntar se era assim que Billy a fazia sentir.
As conversas que tivera com a avó eram uma coisa básica, algo sem um ser definido, agora ela tinha um rosto que lhe provocava aquelas dúvidas, um rosto que fazia o seu coração palpitar só de ouvir a voz dele. E nem a mãe estava presente! Não que fosse fazer aquele tipo de conversa com ela, mas seria bom ter alguém com quem desabafar e não alguém que achava que ela era adulta o suficiente para ficar sozinha com os empregados, afinal as viagens com o marido eram mais importantes que a dúvidas de adolescente da filha.
Mas aquelas viagens tinham um lado positivo, podia sair com Jimin sem ter de mentir. E, mesmo sem a avó, chegou à conclusão que precisava de o ver para ser feliz e por isso aceitava todos os convites que ele fazia.
E tinha chegado um convite especial durante um fim-de-semana em que os pais tinham saído.
Jimin queria que ela fosse passear de barco, juntamente com os pais dele. Como sempre aceitou prontamente, mas depois que ele a deixou sozinha ficou muito nervosa, ia conhecer os pais dele! E a mãe era coreana! Imaginar que a mãe dele podia não gostar dela deixava-a nervosa e ansiosa.
Nessa noite mal dormiu imaginado as várias reacções da mãe dele e se devia ou não usar maquilhagem, se devia usar calças ou saia,  se devia cumprimentar com um beijo no rosto... As perguntas nasciam a uma velocidade vertiginosa até que adormeceu. Quando o despertador tocou sentou-se na cama por uns segundos pensando no que vestir. Recordou uma reportagem que vira sobre os costumes da Coreia e, resolvendo causar boa impressão, maquilhou-se e vestiu um vestido de festa. Mas ao olhar-se no espelho as semelhanças com a sua mãe assustaram-na. Lavou a cara rapidamente e pensou numa frase da avó: "Nunca finjas ser o que não és por ninguém. Se não gostarem de ti como és o azar é deles."
 Com isso em mente acabou por vestir calças de ganga, camisa branca e, por causa do vento, achou melhor apanhar o cabelo. Saiu de casa com os nervos à flor da pele e chegou cedo demais ao local combinado, ao contrário de Jimin que chegou à hora combinada.

- Se soubesse que estavas aqui tinha vindo mais cedo. - Jimin aceitou o beijo na face que ela lhe dava sempre que se encontravam. - Chegaste à muito?
- Não. - Baixou a vista temendo que ele descobrisse que mentia - Os teus pais?
- Foram estacionar. - Jimin segurou-lhe o rosto de modo a olhar nos olhos dela - Estás nervosa?
- Um pouco.
- E porquê?
- A tua mãe pode não gostar de mim.
- Porque não gostaria?!
- Li que os coreanos têm um forte sentido da família e do...
- Sim é verdade. - Ele interrompeu-a - Antes de tudo, deves lembrar-te que a minha mãe casou com um ocidental.
- Eu sei, mas é diferente. Ela ama o teu pai.

Jimin soltou uma gargalhada antes de lhe beijar a mão.

- Ligeiramente diferente... Não imagino a minha mãe a aceitar casar contigo.
- Podes levar isto a sério?!
- Eu levo, muito mais do que possas imaginar. - Jimin falou seriamente antes de se levantar e acenar a um casal que se aproximava - Não tens porque te preocupar.

Jimin apresentou-lhe os pais, a mãe Su Ji, e o pai Timothy. Notou algumas semelhanças entre os dois, ele tinham herdado a cor dos olhos do pai, assim como o porte atlético, se bem que tinha herdado da mãe a cor do cabelo e os rasgos coreanos, que talvez a fizesse sentir saudades da família que deixara na Coreia.
Os nervos foram-se dissipando com o decorrer do dia. Percebeu que gostaram dela e que não se incomodavam de demonstrar isso. A protagonista da conversa foi Su Ji, que Isabel bombardeava com perguntas tentando saber algo mais sobre a Coreia.
Depois de almoçarem Timothy e Su Ji afastaram-se com o pretexto de beberem café. Ao observar o pai dele com uma mão nas costas de Su Ji, Isabel suspirou nostálgica, aquele gesto tão simples recordou-lhe a sua avó e Billy.

- Estás triste? - Jimin segurou-lhe a mão.
- Oh, não! - Isabel forçou-se a sorrir - Lembrei-me da minha avó.
- Gostavas muito dela?
- Impossível gostar mais.

Isabel resumiu a sua triste vida, aligeirando um pouco alguns aspectos de Lisa. Principalmente o facto de Lisa achar que ele era "inferior" a ela.

- A tua mãe possivelmente não faz por mal.
- Talvez. - Isabel olhou os pais dele de mão dada junto ao cais - Ao ver os teus pais sinto um pouco de inveja.
- Porquê?!
- Porque tens uns pais que te compreendem. - Isabel calou-se.
- Agradeço todos os dias por isso.
- E deves agradecer.

Por momentos ficaram em silêncio até que o silêncio se tornou demasiado constrangedor e Jimin suspirou profundamente.

- Sabes porque te convidei?! - Jimin observou os pais que se afastavam cada vez mais.
- Para conhecer os teus pais?!
- Em parte. Hoje faz anos que os meus pais se conheceram. É uma data importante para eles, por isso saímos todos os anos neste dia. Uma espécie de comemoração. Entendes?  - Jimin olhou para ela - A família é muito importante para nós. Por isso te convidei, para que eles vejam que és importante para mim.
- Sou?!
- Sim. - Jimin sorriu e de repente ficou sério - Vamos passear um pouco?!

Os nervos que Isabel sentia, antes de conhecer os pais dele, regressaram perante o novo silêncio dele.

- Sei que nos conhecemos à pouco tempo. Mas não imagino a minha vida sem ti. - Jimin segurou-lhe as mãos entre as suas -  Sei que és mais nova que eu, mas não me importa esperar.
- Esperar?! - Isabel não entendia porque ele queria esperar.
- Não tenho pressa alguma, posso esperar o tempo que precisares. Amo-te e se me amares vou esperar por ti. Aceitas ser minha namorada?

Isabel abriu a boca e voltou a fechá-la. Ele tinha dito que a amava?! E que queria namorar com ela?!

- Sério?! - Foi a única coisa que conseguiu dizer.
- Sério. - Jimin olhou-a nos olhos - Amo-te e não quero passar a vida a pensar que outro pode chegar a ti primeiro.
- És tonto.
- Talvez. - Jimin permanecia muito sério - Aceitas?
- Sim! Sim!

Isabel pendurou-se do pescoço dele e olharam-se nos olhos, Jimin colocou uma mão no pescoço dela e acariciou-o. Ela fechou os olhos perante a agradável sensação que estava a sentir, tudo aquilo era novo para ela. Tinha namorado! Pouco depois sentiu a respiração dele junto dos seus lábios e no instante seguinte as duas bocas tocaram-se. Quando Isabel sentiu os lábios quentes dele, tocando levemente os dela estremeceu. Nunca tinha beijado um rapaz, não assim. Não sabia que fazer. E quando terminassem tinha de dizer algo? Dúvidas e mais dúvidas... Mas depressa as esqueceu quando sentiu o braço dele apertá-la com mais força. Ele amava-a e isso era a única coisa que realmente importava. Com a certeza que também o amava fechou os olhos e deixou-se guiar por ele.

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