quinta-feira, 13 de abril de 2017

À TUA ESPERA 4ª PARTE



- Bolas! - Isabel saltou da cama como se esta estivesse a arder. - Não acredito!

Entrou na casa de banho e tomou um duche rapidamente. Pela primeira vez durante as três semanas que trabalhava para Jimin ia chegar atrasada. E ele tinha-a avisado que esperava encontrá-la no escritório quando chegasse. Temendo que, devido aos acontecimentos dos últimos dias, ele usasse aquele atraso como desculpa para a despedir saiu sem apanhar um casaco e sem comer. Como era de prever quando entrou no escritório Jimin já estava a trabalhar.

- Desculpa! - Isabel deixou a mala na cadeira. - Não ouvi o despertador.
- Acontece quando preferimos a diversão à responsabilidade.
- Não foi nada disso! - Isabel olhou-o irritada.
- Não?
- Para tua informação deitei-me assim que cheguei a casa. E não tenho por hábito sair de casa à uma da manhã para me divertir!
- Isso é algum tipo de reclamação quanto à hora a que terminámos?
- Claro que não! Sei perfeitamente que tal pode acontecer. Mas não vais negar que chegámos tarde.
- És nova. - Jimin ignorou a última parte da conversa - Porque ficarias em casa?
- Porque talvez esteja demasiado cansada.
- Não vou pedir desculpas por isso.
- Nem espero que o faças!
- Deus do céu! - Jimin revirou a vista - O debate que um atraso gerou! Apenas pensei que tivesses saído com a tua amiga.
- Não... Simplesmente tenho dificuldade em adormecer. - Isabel ligou o computador evitando o olhar dele.
- Se é assim tens de te cuidar.

Isabel olhou para ele, estava preocupado com a saúde dela?! Não podia ser! Há segundos atrás estava a pensar que ela era no mínimo irresponsável. E não podia esquecer que nos últimos dias Jimin mostrou-se totalmente indiferente a ela. Não, ele apenas tentava fazer conversa de circunstância. Ela queria tanto que ele ainda sentisse algo por ela, que imaginava preocupação onde não existia.

- Pedi a Jill que me compre algo para me ajudar a adormecer.
- Não devias tomar medicamentos assim. - Jimin deixou a pasta que tinha nas mãos e rodeou a secretária dela. - Se as insónias são persistentes, deves procurar ajuda profissional. Não consegues dormir à muito tempo?
- Não prestei muita atenção a isso.
- Mas devias. Ao menos sabes o que as provoca?
- Não. - Isabel mentiu, ele era a razão das suas insónias. - Vão passar.
- Se tal não acontecer tens de ir ao médico.
- Se tiver tempo irei.
- Mesmo sem tempo irás.
- É uma ordem?
- Entende como quiseres. - Jimin regressou à sua secretária.
- Se te preocupa ficar sem secretária podes ficar tranquilo. O atraso não se volta a repetir.
- Porque pensas o pior... - Jimin bateu com a agenda na secretária e praguejou em coreano - Nem sei porque me dou ao trabalho.

Isabel olhou para ele, por momentos pareceu-lhe ver dor no seu olhar.

- Desculpa. Geralmente não sou assim. Tu sabes... Só preciso dormir uma boa noite de sono.
- Hoje saímos mais cedo e quando chegarmos a minha casa faço um chá, vais ver que dormes melhor.
- A tua casa?!
- É apenas um jantar com um potencial cliente. Nada demais. - Jimin parou junto a ela - Não te disse porque não sabia a disponibilidade de Paul.
- Precisas de mim nesse jantar? - O coração de Isabel disparou quando ele fixou o olhar no dela - Se ainda não é cliente, não vejo o motivo da minha presença.
- Pensei que, enquanto nós discutimos certos aspectos, gostarias de fazer companhia à esposa de Paul e se porventura chegarmos a acordo e for preciso os teus serviços estarás ali.

Isabel desviou a vista para ele não perceber a desilusão no seu olhar, porque continuava a alimentar aquele amor? Porque tivera a esperança que ele queria que ela estivesse presente sem ser por motivos profissionais?!

- Se é trabalho não me posso negar.
- Tens razão, não podes. - Jimin desviou-lhe uma madeixa de cabelo da cara - Antes do jantar vamos a tua casa, para que possas apanhar outra roupa, se assim o entenderes.
- Estou bem assim mas se, a bem da empresa, achas necessário irei.
- Não me pareces muito feliz por ires.
- Não tenho porque estar ou não feliz. Se tenho de ir irei e ponto final.
- Lamento arruinar os teus planos para esta noite.
- Guarda os teus lamentos. Sabes perfeitamente que não tenho planos para esta noite.  - Isabel arrependeu-se do que disse mal acabara de falar - Não me estou a lamentar disso.
- Não imaginas como me alegra ouvir isso.

A voz dele estava mais calma e Isabel olhou directamente nos olhos dele. Durante uns segundos a única coisa que se ouvia era a respiração deles. Se estendesse a mão podia tocar-lhe e dizer-lhe que nunca o esquecera, que apesar dos "choques" ainda o amava. Podia, se ele não estivesse tão frio com ela, se ele ainda fosse o seu Jimin e não aquele homem amargo cujos olhos perderam o brilho. Mas mesmo sem brilho o seu olhar ainda exerciam o mesmo poder sobre ela. Isabel sabia que devia afastar-se dele mas não tinha forças. Não quando ele mantinha o olhar no dela. Por instantes sentiu o mesmo desejo que a assolava quando andavam na faculdade. Desejava ardentemente que a tomasse nos braços, a beijasse... por momentos pensou que tal ia acontecer mas o telefone tocou quebrando a magia do momento e o dia prosseguiu como normalmente.

Antes da hora do almoço Jimin anunciou que ia sair para almoçar com um amigo e como não sabia a que horas ia regressar podia sair mais cedo. Conhecendo-o como conhecia, sabia que ele podia voltar a qualquer instante, por isso ela preferia não se afastar do escritório. Como tal combinou almoçar com Jill na pastelaria em frente. Quando terminou os registos que começara com Jimin a hora combinada passara à muito, temendo chegar atrasada ao almoço e assim atrasar Jill, desligou o computador e dirigiu-se à pastelaria com passos rápidos. Mas Jill não estava na pastelaria, depois de se certificar que a amiga ainda não tinha chegado pediu um copo de água e apanhou uma revista para se entreter enquanto esperava. Pouco depois ouviu uma tosse forçada ali perto, olhou por cima da revista tentando perceber o que se passava. Na mesa ao lado a moça tentava servir, sem o conseguir, um casal que se beijava como se estivessem sozinhos. Ela sorriu melancólica e recordou o beijo no parque de estacionamento.

Depois do beijo e durante uns dias teve a esperança que tudo voltaria a ser como antes, mas tal não aconteceu, pelo contrário, Jimin parecia arrependido de a ter beijado. A súbita mudança de atitude dele deixou-a sem saber que pensar. Se não o conhecesse bem, juraria que aquele beijo apenas visava saber se ela ainda sentia algo por ele, mas Jimin não era esse tipo de homem. Sempre fora sincero e frontal com ela.
Durante a juventude devido ás atitudes dele, sempre carinhosas, levaram-na a amá-lo cada dia mais. Ele não era o tipo de homem que manipulava uma mulher para conseguir o que queria. Ele era...
Naquele momento relembrou o dia que se voltaram a reencontrar. Recordou como os seus olhos estavam frios, sem qualquer emoção. Mesmo sem querer teve de reconhecer que ele já não era o homem que, infelizmente, ainda amava. Algo aconteceu durante os anos que estiveram afastados, algo o tinha feito mudar. Algo o fazia brincar com ela, ora se aproximava e a beijava, ora se afastava dela como se fosse uma praga.

Não saber o motivo da mudança dele era o suficiente para passar as noites a rever aquela noite como se de um filme se tratasse. Em consequência disso, nas noites que conseguia dormir, dormia mal. Como aconteceu quando ele partiu, ou quando, muito antes disso e em pleno parque, tiveram a primeira discussão. Isabel fechou os olhos e a cena tomou figura na sua mente como se estivesse a decorrer naquele momento...

- Não entendo porque não queres que fale com ela. - Jimin estava visivelmente ofendido.
- Por favor. Não insistas. - Isabel não queria dizer o que Lisa pensava dele - É melhor assim.
- Como pode ser?! Já conheceste os meus pais, achas estranho querer conhecer os teus?!
- Se os meus pais fossem diferentes...
- Nunca te perguntei porque dei por adquirido, mas agora tenho de saber. Falaste de mim aos teus pais?
- Não quero falar nisso.
- Porque não?! - Jimin olhou-a, ela percebeu que estava magoado - Pelo menos sabem que tens namorado?
- Não é assim tão simples.
- Para mim é. Tens vergonha de mim?
- Claro que não! - Isabel estava chocada - Onde foste buscar essa ideia?
- A todo este secretismo em relação ao nosso namoro.
- Quando tiver dezoito anos tudo será diferente.
- Posso não ter vontade de esperar. - Jimin levantou-se
- Disseste que esperavas. - Isabel abafou um soluço.
- No meu lugar tu esperavas?!
- Por toda a eternidade.

Jimin pareceu acalmar mas foi apenas momentâneo, respirou fundo e olhou para ela friamente.

- Uma coisa não tem nada que ver com a outra.
- Tem sim.
- Não tem! Se ao menos me explicasses o motivo eu ia entender.
- Ou nunca mais me querias ver.
- Talvez neste momento seja o melhor.

Isabel ficou ali sentada, observando como ele se afastava. Ela tinha a certeza que ele ia regressar e esperou, mas tal não aconteceu. Sem saber que pensar da atitude dele caminhou sem rumo pela cidade. Perdera a noção do tempo e da localização de tal forma que pediu um taxi para a levar até casa quando percebeu que tinha anoitecido à muito. Quando entrou em casa tinha os olhos vermelhos devido às lágrimas e soluçava compulsivamente. Não se importava que os empregados a visse e fossem dizer a Lisa, naquele momento nada mais tinha importância, o seu mundo desabara completamente.  Sem se despir deitou-se sobre o edredón e chorou até não ter forças para mais nada. Na manhã seguinte quando o despertador tocou sentia a cabeça latejar de tanto chorar. Foi preciso obrigar-se a sair da cama para ir ás aulas. Se faltasse às aulas Jimin ia perceber que a tinha magoado, que tinha esse poder sobre ela e ela não lhe ia dar esse prazer.
Quando avistou a entrada da escola viu-o encostado à parede como sempre. Apesar da discussão ele estava à espera dela. Ou estava à espera de Flinn?! Ás vezes eles saíam juntos... Podia ser isso. Não querendo ter esperanças que estivesse à espera dela, respirou fundo e dirigiu-se para a entrada decidida a entrar sem lhe dirigir a palavra, mas ele segurou-lhe a mão.

- Podes desculpar-me? - Jimin mantinha a cabeça baixa. - Não sei porque te deixei ali sozinha.
- Não me importou o facto de me deixares sozinha.
- Fiquei preocupado. - Jimin encarou-a - Voltei depois. Não estavas.
- Como pudeste perceber não tinhas porque ir. Não era necessário. - Isabel ficou feliz por ele ter regressado ao parque, mas ainda estava magoada - Podes sair da frente!? Estou atrasada.
- Falta à aula. Por favor. - Jimin não soltou a mão dela.
- Porque o faria?
- Porque te amo e preciso de saber que me perdoas.
- Magoaste-me. - Isabel sentiu as lágrimas caírem - Desculpa mas tenho...

Jimin abraçou-a enquanto murmurava que o perdoasse, Isabel tentou fugir do abraço dele, mas ele não o permitiu e quando o toque anunciou o início das aulas, eles beijavam-se no parque ao lado.

Essa foi a primeira discussão que tiveram e que foi esquecida assim que Jimin prometeu não insistir em falar com Lisa. A segunda aconteceu meses depois no baile de fim de ano.

Deixaram o pavilhão antes do baile terminar, queriam estar a sós pois Jimin ia visitar a avó na Coreia. Embora fosse por poucos dias, os dois sabiam o que implicava a viagem e recusavam-se a falar no assunto. Ficaram sentados no carro a ouvir música sob a luz das estrelas. Temendo a separação os beijos não tardaram, mas pouco depois Jimin começou a afastar-se. Coisa que insistia em fazer sempre que se beijavam e os beijos se tornavam mais intensos. Aí Jimin beijava-lhe a testa e afastava-se dela.

- Estou cansada. - Isabel saiu do carro. - Vou para casa.

 Isabel começou a caminhar pela estrada empoeirada, estava magoada com a atitude dele, tinha quase dezoito anos mas ele tratava-a como se tivesse doze! Estava cansada disso, sabia que ele desejava estar com ela e ela também, visto sentir aquele calor por dentro. Sabia o que significava pois quando começou a sentir aquilo no início do ano procurou Mima pois pensava ter alguma doença. Depois de rir imenso, Mima explicou-lhe que era normal, os calores que sentia era o seu corpo a dizer que estava preparado para receber os prazeres da carne. Mima voltara a rir quando ela ficou muito vermelha mas passada a vergonha inicial riu juntamente com Mima, e quando deixou a casa dela sabia o que fazer para prevenir uma gravidez indesejada.

- Onde vais?! - Jimin correu até ela.
- Para casa. Não ouviste o que disse?! - Isabel continuava a caminhar.
- Volta para o carro. Não sejas infantil.
- Infantil?! - Isabel sabia que estava a ser criança, mas naquele momento apetecia-lhe ser - Se me tratas como uma criança, porque não comportar-me como tal?
- Trato-te como uma criança?! - Jimin segurou-lhe o braço - Podes parar?!
- Não! Quero ir para bem longe de ti. Quero alguém que olhe para mim e veja uma mulher. - Isabel deu um puxão no braço tentando soltar-se - Coisa que tu não fazes!
- Não faço?!
- Ora! Achas que não tenho idade para perceber que me desejas?! Ou achas que não serei capaz de te satisfazer?! - Isabel encarou-o - De qual das hipóteses tens medo?
- De nenhuma. - Jimin puxou-a para junto de si e obrigou-a a encará-lo - Apenas tenho medo que te arrependas depois.
- Isso são idiotices! - Isabel via nos olhos dele que estava a ser sincero - Se alguém pode ter medo sou eu. Tu tiveste outras namoradas, eu nunca estive com ninguém!
- Sei disso. Por isso quero que esse dia seja especial. Não por mim, por ti.
- Queres o quê?! Arranjar forma de ser indolor?! Alugar um quarto num hotel de luxo?! Cobrir uma cama com pétalas de rosa?!
- É isso que queres?!
- Claro que não, a única coisa que quero é que estejamos juntos. Nada mais.
- Amo-te tanto! - Jimin segurou a cara dela entre as suas mãos e beijou-a - Por mim seria agora já, mas não seria justo para ti. Não quero que seja num carro onde qualquer um possa ver. Quero que seja num sítio com a privacidade necessária para que te possa amar até que o teu corpo fique satisfeito. Prometes esperar mais uns dias?!
- Se insistes...
- És danada...

Jimin beijou-a demoradamente, quando se despediu dele junto à sua casa, Isabel pode comprovar que os beijos dele estavam mais ousados e que procurava com as mãos qualquer abertura na roupa para sentir a pele dela.


Naquele instante Jill entrou apressada e atirou-se para cima da cadeira interrompendo os pensamentos dela.

- Desculpa. - Jill chamou a rapariga que andava a servir - Tivemos de terminar uns relatórios. Sabes como é.
- Sei. Que queres comer?
- Algo rápido. Não tenho muito tempo.
- Nem eu.

Pediram umas sandes de carne assada e sumos naturais.

- O patrão é exigente?
- Um pouco. Mas aguento bem.
- A julgar pela tua cara não aguentas não. Conheço-te bem, algo te incomoda.
- Não te preocupes.
- Como não?! És minha amiga! Olha... - Jill calou-se quando lhes trouxeram o pedido - Hoje vamos sair, só tu e eu. Que dizes? Há quanto tempo não saímos juntas?
- Esta noite não posso.
- Não vais inventar nenhuma desculpa.
- Tenho de ir a um jantar a casa de Jimin.
- O patrão convidou-te para jantar?! - Jill piscou-lhe o olho - O que me estás a esconder?!

Isabel baixou a cabeça, sentindo um misto de tristeza e melancolia. Parecia estar condenada a esconder o que sentia por ele, na juventude nunca teve a oportunidade de falar com ninguém sobre ele, nem sobre os medos que a assolavam sempre que imaginava a reacção de Lisa ao namoro deles. Naquele momento os sentimentos eram apenas da sua parte e seria uma completa estupidez colocar em perigo o emprego por causa disso. Mas era precisamente por isso que precisava de falar com alguém. Aquele secretismo estava a acabar com ela. Limpou as lágrimas que começaram a cair sobre a mesa. Que mal faria se desabafasse com Jill?! Falara-lhe de Phil e ela bem precisava de um ombro amigo e sabia que podia contar com o apoio dela.

- Então?! - Jill segurou-lhe a mão - Ele é assim tão insuportável?!
- Jimin?! Ele é... - O telemóvel dela tocou, era Jimin - Desculpa. - Isabel respirou fundo antes de atender - Sim?
- Demoras? - Jimin continuou sem lhe dar tempo a responder - Preciso de ti.
- Estou de saída. - Isabel olhou para Jill enquanto desligava o telemóvel - Chegou ao escritório. Tenho de ir.
- Realmente! - Jill estava indignada - Nem te deixa almoçar!
- Saí à mais de uma hora. Já devia ter regressado. - Isabel apanhou a sua mala - Pagas tu?!
- Sim, vai lá. Mas espero continuar esta conversa.
- Obrigada. Prometo que o faremos.

Isabel olhou a amiga com os olhos cheios de lágrimas, tinha de se controlar. Não podia entrar assim no escritório. Quando desabafasse com Jill, tudo lhe pareceria melhor.

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