sábado, 15 de abril de 2017

À TUA ESPERA 5ª PARTE



Isabel massajou o pescoço tentando relaxar os músculos doridos de estar sempre na mesma posição, enquanto o fazia olhou para Jimin. Ela chegava apenas uns minutos antes dele e trabalhavam lado a lado, mas a meio da manhã ela precisava parar para beber um café e ganhar forças enquanto ele raramente parava e se, porventura, bebia um café era porque ela lho trazia quando regressava do bar. Ás vezes perguntava-se como ele conseguia!

- Já conseguiste saber se Dong chegou?! - Jimin folheava uns papéis.
- Liguei à uma hora, ainda não tinha dado entrada no hotel.
- Podes tentar novamente?!

 Isabel agarrou o telefone e tentou novamente. Depois de uma breve conversa disseram que o sr. Yoo  tinha chegado à escasos minutos e que iam passar a chamada ao quarto.

- Sim?! - Uma voz rouca com um sotaque bem vincado respondeu no outro lado.
- Boa tarde, sou Isabel Slade. - Tentando deixá-lo mais à vontade Isabel falou em coreano - Estou a ligar por parte...

Do outro lado da linha ouviu-se uma gargalhada, o que desconcertou Isabel.

- Isabel Slade! - A voz era arrastada - Jimin está aí?
- Sim. Vou passar a chamada.

Isabel transferiu a chamada para o telefone da secretária dele e concentrou-se no seu trabalho. Mas a sua mente ainda tentava perceber porque aquele desconhecido achava piada ao seu nome e porque este tinha conhecimento da sua existência. Percebeu que estava novamente a imaginar coisas, possivelmente Jimin o tivesse avisado que ela iria telefonar e este apenas ficasse surpreendido por ela falar coreano.

Pouco depois ouviu Jimin despedir-se do sr. Yoo e regressaram ao trabalho como se este não tivesse sido interrompido por breves instantes.
Com a quantidade de trabalho que tinha nem deu pela noite chegar e quando Jimin lhe disse que estava na hora de irem, olhou para o relógio para confirmar a hora. A noite tinha chegado assim tão rapidamente?!

- Vou apenas mudar de roupa. - Isabel colocou a agenda dentro da mala - Penso que dentro de uma hora estou em tua casa.
- Pensei que tinha ficado assente que vamos juntos.
- Eu trouxe carro, não vejo necessidade de...
- Não penses que te vou deixar conduzir depois de saber que dormes mal à algum tempo!
- Como achas que venho trabalhar?!
- Isso é outra coisa que temos de mudar, mas vamos concentrar-nos no agora.
- No agora?! Que queres dizer com isso?
- Que vamos no meu carro e depois resolvemos o resto.
- Não estás a pensar que vou concordar...
- E tu não esperas que concorde com esse absurdo. Além de ser mais prático, irmos no meu carro, não corres o risco de adormecer enquanto conduzes!


Meia hora de discussão foi suficiente para perceber que era melhor desistir. Resignada aceitou ir no carro dele pois sabia perfeitamente que não ia conseguir demove-lo. Mas tinha de deixar o seu em casa ou no dia seguinte não tinha como ir trabalhar. Na perspectiva dela era bem mais simples irem em carros separados, assim quando terminasse o jantar ela podia regressar a casa sem ele se incomodar em levá-la de regresso. Mas Jimin sempre fora determinado, mesmo com as coisas mais absurdas.
Pelo espelho retrovisor Isabel observava as luzes do carro que se mantinha muito perto do seu. Ela não conseguia deixar de pensar que aquele jantar estava a sair das regras que ele tinha imposto no primeiro dia. Os negócios estavam a sair do escritório. Pensou em dizer-lho mas quem era ela para chamar a atenção sobre isso?! E se fosse sincera com ela própria, adorou o facto de ele querer que ela fosse ao jantar. Não lhe importava que o motivo fosse o trabalho, sempre que pudesse estar com ele qualquer motivo era válido. Por isso gostava dos dias em que ele lhe pedia para ficar até mais tarde. Sempre que podia prolongar esse tempo, ela era duplamente feliz. Ainda que essa felicidade fosse fugaz e pura ilusão da sua mente apaixonada.

Estacionou o carro e esperou que Jimin estacionasse junto ao carro dela.

- Queres um café?
- Obrigada mas vou ficar no carro. Não quero incomodar a tua amiga.
- Jill?! A esta hora estará em alguma discoteca.
- Não demores. - Jimin olhou o relógio antes de entrar no carro - Meia hora. Não mais que isso.
- Muito bem.

 Apesar de sentir um pouco de desilusão pela recusa dele, Isabel entrou em casa visualizando mentalmente que roupa iria vestir. Durante a tarde o ritmo de trabalho não lhe permitiu pensar nisso detalhadamente. Quando Jill a viu seguiu-a até ao quarto.


- Não entra?
- Não. Acho que vai fazer uns telefonemas.
- Sim... tem é medo de ser contagiado com alguma pobreza.
- Jimin não é assim. - Isabel ficou um pouco magoada mas sabia que Jill falava sem conhecer os factos, sem conhecer Jimin. - Mas hoje não te posso dizer como ele é. Tenho pouquíssimo tempo e ainda nem sei que vestir.
- Nesse caso enquanto tomas um duche vou ajudar a escolher alguns vestidos.
- Até estou com medo.

Isabel tirou a roupa rapidamente e entrou no duche. Tinha apenas vinte minutos para se arranjar, já tinha decidido levar um vestido. Andava sempre de fato, de saia ou de calça, era sempre fato. Tinha saudades de se arranjar... Não, isso não era verdade. Ela tinha saudades de se arranjar para Jimin. Reconheceu que nunca se arranjou para Phil, durante o namoro vestia a primeira coisa que encontrava no roupeiro e muitas vezes nem colocava maquilhagem. Com Jimin sempre demorou horas a escolher o que vestir pois nunca se dava por satisfeita. Com aquele pensamento, saiu do banho e enrolou uma toalha ao corpo, se demorasse ele não ia gostar.
Vestiu a roupa interior e apanhou o cabelo numa trança de lado, deixando uma pequena madeixa encaracolada junto à orelha. Quando saiu da casa de banho Jill já tinha vários vestidos sobre a cama.

- Acho que podemos descartar aquele vermelho. - Isabel apontou para o vestido demasiado curto que nunca o tinha usado - Ainda não percebi onde Lisa tinha a cabeça para o comprar!
- Nesse teu corpo magnifico. - Jill colocou o vestido à frente dela - Uma coisa temos de admitir, Lisa tem muito bom gosto no que toca a roupas.
- Tem mas não vou vestir esse. Se gostas dele é teu.
- Sério?!
- Claro! - Isabel empurrou a amiga ligeiramente - Agora vai que me deixas nervosa.

 Jill saiu a sorrir com o vestido na mão e Isabel vestiu um vestido comprido. Era um vestido azul escuro, de meia manga e com um decote quadrado que deixava em evidência os peitos dela,  mas nas ancas parecia largo demais para ela. Despiu-o e olhou para os demais vestidos espalhados pela cama, na sua maioria, escolhidos por Lisa. E se não fosse devido aos seus parcos recursos económicos já os tinha doado.
Apanhou um dos poucos vestidos que não tinha sido oferta de Lisa. Não saíra das boutiques elegantes e caríssimas que Lisa frequentava, viu-o numa montra no centro comercial e gostou dele. Como não se deixava levar por impulsos, entrou na loja pensando apenas em ver mais detalhadamente, depois pensou que não fazia mal experimentar, mas quando se viu com ele não conseguiu resistir. Merecia-o, aquele dia estava a ser horrível e precisava de se sentir especial. Adorava a forma como delineava o seu peito e como caía nas suas ancas. Embora fosse o seu preferido apenas o tinha usado uma vez. O vestido de tecido preto e sem ombros era justo até à cintura, a saia ligeiramente fluída, caía até aos joelhos deixando a descoberto as suas pernas. O que ela mais gostava era dos bolsos que passavam despercebidos nas costuras da saia. Tinham o tamanho perfeito para guardar uma carteira pequena e o telemóvel. Olhou-se no espelho e gostou do que viu, colocou apenas um pouco de cor nos lábios e passou com a máscara nas pestanas, alongando-as ainda mais. Satisfeita com o resultado apanhou a écharpe e apagou a luz.

- Uau! Fabulosa! - Jill largou a revista  - Algo programado para depois?! Uma escapadela com algum  desconhecido?!
- Essas escapadelas não são para mim.
- Então vais escapar com algum conhecido?!
- Não. - Isabel sorriu para ela.
- Ora bolas, eu aqui a imaginar que ias fugir pelos jardins da cidade em roupa interior.
- Ás vezes duvido a tua idade.
- Fico feliz por me dares o beneficio da dúvida.- Jill piscou-lhe o olho.
- Que seria de mim sem ti?! - Isabel colocou écharpe sobre os ombros.
- Uma mulher com mais saúde mental que actualmente.
- Tonta... - Isabel abraçou a amiga - Até logo.
- Diverte-te.
- Vou tentar...

Jimin saiu do carro para lhe abrir a porta e Isabel parou na calçada sentindo um ligeiro nervosismo. E se ele achasse o vestido demais para a ocasião?! Não era um vestido caro mas era bonito e podia muito bem ser usado numa cerimónia. Os nervos pareciam tomar conta do seu estômago à medida que caminhava até ele. Por instantes Isabel viu nos olhos dele o mesmo brilho que tinham quando se namoravam, mas mais uma vez, o brilho esmoreceu quando chegou junto a ele.

- Espero não ter demorado muito.
- Mereceu cada segundo que esperei. - Jimin segurou-lhe a mão - Estás linda.
- Obrigada. - Isabel agradeceu entre o envergonhada e o admirada com a reacção dele.

Jimin conduziu sem pressas, o que aumentou o já grande nervosismo dela. Sempre que tinha de sair com ele o ambiente no carro parecia mais carregado. No escritório, tirando as pequenas fricções, falavam apenas de trabalho, mas no carro parecia que não tinham nada que dizer, e quando falavam pareciam dois desconhecidos. Tendo em conta o passado deles, os temas chegavam a ser ridículos, o tempo, as dificuldades da vida... coisa que, a julgar pelas roupas que ele vestia, ela duvidava que tivesse, os animais em vias de extinção, muito raramente um ou outro comentário sobre a empresa. Chegaram mesmo a falar de desporto!

- Fiquei surpreendido quando percebi que não vivias com a tua mãe. - Jimin olhou para ela rapidamente antes de se concentrar novamente no trânsito. - Não a tens visto?
- Raramente. - Isabel mexeu-se, ali estava o tema que ela odiava, Lisa -Sei que voltou de lua de mel, ao certo não sei quando. Lisa tem uma vida muito agitada, aliás sempre teve, mas conseguiu arranjar tempo para tomar café comigo uma vez.
- Ela conseguiu arranjar tempo?
- Sim. A vida social é muito exigente.
- Sei... Por isso moras na casa da tua avó?!
- Actualmente a casa é minha. - Isabel não percebia o motivo da curiosidade dele  - Mudei-me à dois anos.
- Não era suposto seres independente aos dezoito?!
- Sim. - Isabel voltou a mexer-se incómoda - Mas a vida não correu como eu planeie.
- Nem sempre corre. - Jimin acelerou - A tua avó, era a mãe da tua mãe?
- Sim. - Isabel começou a achar aquele inquérito muito estranho - Qual o motivo de tanta curiosidade?
- Simplesmente tentava conversar. Nada mais. Se não gostas de falar de ti...
- Não me incomoda. Apenas acho estranha a tua curiosidade.
- Porquê?!
- Ainda perguntas?!
- Chegámos. - Jimin parou o carro - Teremos de continuar esta conversa mais tarde. Vamos?!

As perguntas dele deixaram-na intrigada, a pontos de apenas reparar que estava na zona mais rica da cidade quando saíram do carro.  Entraram no elevador e depois de saírem no nono andar, percorreram um pequeno corredor antes de entrarem num apartamento luxuoso.

- Fica à vontade, vou vestir-me.

 Jimin deixou-a numa sala ampla e muito bem decorada. Uns sofás de pele bege, com enormes almofadas castanhas, ocupavam boa parte da sala, no centro uma mesa pequena com algumas revistas. Sob a lareira acesa, um quadro mostrava um rio ao nascer do sol. Uma planta, que lhe pareceu falsa, ocupava um dos cantos da sala junto ás janelas que tinham vista sobre a cidade. Foi até lá sem saber que fazer.

- Com sua licença. Deseja algo menina?

Isabel levou a mão ao peito tentando repor a calma ao seu coração, que batia descompassado, devido ao susto que aquela voz inesperada lhe provocara. Voltou-se e um homem vestido com um elegante fato preto, que ela supôs ser o mordomo, olhava para ela.

- Não obrigada.
- Como desejar menina.

Tão silencioso como entrara, saiu. Isabel voltou a olhar lá para fora, as luzes brilhavam iluminando toda a cidade. Reconheceu o edifício em frente, um ano antes do pai falecer ela tinha estado ali com Lisa e o pai para assistir à exposição de um amigo deles. Não conseguiu evitar um sorriso irónico, Jimin deixara a casa modesta onde crescera e agora vivia na zona mais rica da cidade, ela deixara a casa dos pais num dos bairros mais ricos, se bem que por vontade própria, e morava na modesta casa que pertencera à sua avó.

- Em que pensas?! - Jimin regressara e estava atrás dela.
- Em nada em concreto. - Isabel sentiu o coração acelerar ao vê-lo com umas calças castanhas e uma camisa branca, o cabelo ainda estava húmido pelo banho. - O sr Crost ainda demorará?
- Porquê?!
- Por nada, apenas perguntei.

 Isabel voltou-se para a janela mas ainda via a figura dele no reflexo do vidro, estava demasiado perto, o que dificultava o raciocínio dela.

- Tens medo de estar aqui comigo? - Jimin voltou-a - Se te serve de consolo não estamos sozinhos, há pessoas na cozinha.
- Eu sei. - Isabel evitava olhá-lo - E não tenho medo de estar contigo.
- Não?! Então porque evitas olhar para mim?!
- Eu...

Isabel calou-se ao sentir as mão dele no seu pescoço, acariciando a pele nua. Instintivamente fechou os olhos, não era justo ele estar frio e distante ao passo que ela sentia toda uma explosão de emoções ao estar perto dele. Podia ouvir o bater do coração dele, ou era o seu?! A respiração dele quente estava cada vez mais perto dela, abriu os olhos e confirmou como ele estava perto. Entreabriu os lábios, aguardando o beijo tão desejado. O som da campainha interrompeu o momento, Jimin olhou para ela e afastou-se ao ouvir a porta abrir. Pouco depois o sr. Crost e a esposa entravam na sala.

- Espero não ter chegado cedo demais. - Paul mantinha uma mão nas costas da esposa - Querida, já conheces Jimin, mas ainda não conheces Isabel.
- Prazer. - A mulher estendeu a mão a Isabel - Bela. Paul tem o péssimo hábito de se esquecer de dizer o meu nome.
- É um prazer conhecê-la. - Isabel sorriu algo envergonhada, temia que os seus olhos revelassem o que esteve prestes a acontecer - Ouvi falar de si.
- Não sei que lhe podem ter dito, a minha vida é um aborrecimento total.

Isabel viu como os homens se afastavam para a outra extremidade da sala. Bela sentou-se e Isabel juntou-se a ela.

- Peço desculpa por tê-la arrastado para este jantar. Mas como nunca saio de casa Paul insistiu na minha presença. - Bela falava baixo, como se temesse ser ouvida - Eu simplesmente não gosto de sair.
- Ás vezes eu também prefiro na tranquilidade da minha casa.
- Mas Isabel é uma mulher jovem, bonita. - Bela baixou a vista. - Mais uma vez lhe peço desculpa.
- Não tem porque pedir desculpas.
- Claro que tenho. Possivelmente teria outros planos mas... sei que estou a ser egoísta mas não me sinto à vontade neste meio.
- Neste meio?!
- Sabe, eu não pertenço à mesma classe social de Paul. - Bela segredava - Nem sei que temas abordar com as pessoas. E como Paul e Jimin faziam questão da minha presença, disse que só viria se alguma funcionária me acompanhasse. Assim posso falar sem medo de ser julgada.
- Todas temos alguma dificuldade.

 Isabel gostou de Bela, era simpática e estava bastante nervosa. A presença dela ali não tinha sido ideia de Jimin, como ela imaginara, mas de Bela.

- Quando soube que o jantar era para um aristocrata, amigo de Jimin, fiquei muito nervosa. - Bela sorria meio envergonhada - Tinha um ataque de nervos, só de imaginar que estaria sozinha num jantar assim.

Isabel olhou Bela que mexia as mãos nervosamente no colo. O vestido verde esmeralda, já estava amarrotado naquela zona.

- Como conheceu o sr. Crost?! - Isabel tentou distrai-la.
- Paul. Ele não gosta que o chamem assim. Servia café numa pastelaria. Como pode ver nada mais longe do mundo dele. - Bela ficou corada - No dia 7 de Junho apareceu pela primeira vez. Embora pensasse que era o homem mais bonito que alguma vez vira, longe de mim dizer ou demonstrar algo. Era um cliente e eu tinha de saber qual o meu lugar. Mas Paul começou a aparecer todos os dias e ele tinha sempre uma palavra amável e um sorriso. Quando me pediu para ir ao cinema, fiquei tão feliz que nem pensei nos problemas que podiam vir dali.

Bela calou-se uns instantes quando a campainha voltou a tocar. Olhando aquele rosto amigável, Isabel sentiu o coração encolher,  era mais uma vida parecida com a da avó. Cheia de entraves familiares e contratempos por todos os lados. O mordomo entrou acompanhado de um homem com alguma idade, que se dirigiu a Jimin e Paul de sorriso aberto, pelo rosto Isabel imaginou que aquele era o misterioso senhor Yoo. Que ao notar a presença delas, fez uma vénia sorrindo antes de se concentrar nos dois homens.

- Que romântico! - Isabel voltou a atenção para Bela - Imagino que não fosse fácil.
- Não foi não.
- Mas valeu a pena o esforço, acabaste por casar comigo. - Bela aceitou um dos copos de licor que Paul lhes levou - Querida, quero apresentar-te Dong. Penso que também não conhece Isabel. - Paul voltou-se para o homem que sorria - Dong, a minha esposa Bela e Isabel, uma amiga.
- Prazer. - Dong beijou a mão de Bela e olhou para ela - Isabel Slade, é um prazer conhece-la finalmente.
- Obrigada. - Isabel procurou Jimin com o olhar, mas este estava a falar com o mordomo - Muito prazer sr Yoo.
- Dong. Insisto. - Dong interrompeu-a - Minha querida acredite, o prazer é todo meu.
- Dong é amigo de Jimin.- Paul explicou enquanto bebericava o licor - Acho que se conhecem à muito. Não é assim?!
- A julgar pela minha idade desde a pré-historia.

Todos riram e Isabel olhou para Jimin, que manteve o olhar dela por instantes antes de se juntar a eles.

Durante o jantar Dong comentou que era de Seul e assim como Bela, Isabel estava interessada na história da cidade. Isabel mal comeu, absorta que estava no relato de Dong tentando guardar mentalmente as partes mais importantes da historia de Seul.

- Seul ou Seoul, como preferirem chamar, é oficialmente Cidade Especial de Seul. Assim como é a capital e a maior metrópole da República da Coreia, mais conhecida como Coreia do Sul. - Dong comeu um pouco de mousse de manga e elas aguardaram impacientes a continuação - A cidade é o núcleo da Região Metropolitana de Seul, que inclui a metrópole vizinha de Incheon e a província de Gyeonggi.  Situado às margens do rio Han, a história de Seul remonta a mais de dois mil anos. Mais ou menos quando eu nasci. - Ele riu e elas riram também da piada sobre a idade dele - Quando foi fundada em 18 a.C. por Baekje, um dos Três Reinos da Coreia. A cidade continuou como a capital coreana sob a Dinastia Joseon. A região de Seul contém cinco Patrimônios Mundiais da unesco: o complexo de Palácios de Ch'angdokkgung, Fortaleza de Hwasong, Santuário de Chongmyo, Namhansanseong e os Túmulos Reais da Dinastia Joseon.  - Dong olhou para elas antes de prosseguir - Seul é cercada por montanhas, sendo o monte Bukhan a mais alta delas, o parque nacional mais visitado do mundo. Entre os marcos modernos estão a  Seoul Tower, o dourado KLI 63 Building, o neofuturista Dongdaemun Plaza, o Lotte World, o segundo maior parque temático coberto do mundo e a Ponte Banpo, a mais longa ponte-fonte do mundo. A capital sul-coreana foi eleita o destino turístico mais procurado do mundo. Actualmente, Seul é considerada uma cidade global importante, resultado do boom econômico. O chamado "Milagre do rio Han", que a transformou de um amontoado de ruínas durante Guerra da Coreia para a 4ª maior economia metropolitana do mundo.

- Acho que Dong monopolizou a atenção das mulheres - Paul interrompeu o relato.
- Peço desculpa. - Dong fez uma vénia na direcção delas -  Não era minha intenção aborrecer-vos.
- Eu estou encantada. - Bela pegou no copo e bebeu um pouco de água - E acho que Isabel também estava a gostar.
- Oh sim. Estava a adorar. - Isabel podia ouvi-lo por horas, era fascinada por outras culturas e sempre imaginou que quando crescesse, ia viajar e conhecer outros países. Mas depois de conhecer Jimin a curiosidade centrou-se especialmente na Coreia.
- Paul tem razão. - Jimin olhou para ela que se sentiu incomodada com o olhar demorado dele. - Bela e Isabel devem de ter coisas mais interessantes para falar. Assim como nós.
- Chegou a hora dos negócios. - Dong afastou-se da mesa e seguiu os dois até outra divisão.

 Elas ficaram na sala a conversar, Isabel contou um pouco da sua vida, sem falar em Lisa. Não pretendia dar a entender que também conhecia a alta sociedade, mas que não frequentava o círculo por iniciativa própria.

Já era tarde quando os homens se juntaram a elas. Conversaram de coisas triviais e beberam algo, pouco depois Paul e Bela despediram-se deles. Dong saiu quase que imediatamente, deixando-os sozinhos.

- Está tarde, se não precisas de mim vou chamar um táxi.
- Prometi que te fazia um chá, lembras-te? E não precisas de táxi, eu levo-te. - Jimin acompanhou-a de volta ao sofá. -  Gostaste de falar com Dong?
- Sim, imenso. Assim como gostei de Bela. - Isabel levantou-se - Não tens porque fazer-me um chá ou levar-me a casa. É muito tarde e deves querer descansar. Além disso Jill pode estar preocupada.
- Para mim ainda é demasiado cedo e se estás preocupada com a tua amiga, coisa que duvido, sempre podes ligar-lhe. - Jimin segurou-a pelos ombros, fazendo uma ligeira pressão para ela se voltar a sentar no sofá - Mas gostaria muito que ficasses mais um pouco.
- Só o tempo de beber mais um café.
- Um chá. Não demoro, não saías daqui.

Isabel permaneceu sentada, a olhar para a cidade. As luzes dos carros circulavam a alta velocidade, embora em menor número, pelas estradas.

- É impressionante o ritmo a que se movimentam as pessoas pela noite dentro.
- Sim.

  Jimin colocou em cima da mesa um tabuleiro com duas chávenas e um bule que fumegava como se ainda estivesse ao lume.

- Ás vezes perco a noção do tempo a olhar para eles.
- Acredito, a cidade vista daqui é muito bonita - Isabel olhou para ele sem saber que pensar daquela mudança. - Não tens porque fazer isto. O chá.
- Eu sei e já o disseste. Mas como tu disseste, não somos propriamente estranhos, por isso não vejo mal em bebermos um chá calmamente, nem motivo para ficares na defensiva.
- Na defensiva?! - Isabel aceitou a chávena.
- Sim, como se temesses algo.
- Não temo nada. Simplesmente não sei o que esperar de ti.
- Não? - Jimin deixou a chávena em cima da mesa.
- Desde que regressaste que não sei o que pensar.
- Como assim?
- Como esta noite. - Isabel evitou começar por falar do beijo - Podias ter sido sincero comigo. Porque não disseste que  Bela não se sentia à vontade? E que por isso querias que viesse. Não me teria negado. Não precisavas dar a entender que era por trabalho.
- Se aceitavas não vejo o problema.
- O problema está em que o Jimin que eu conheci nunca me mentiria.
- Posso não recordar todos os factos, mas se bem me lembro não te menti.
- Mas também não foste totalmente sincero.
- Tu és sincera?
- Claro que sim! Sabes bem disso.

Jimin olhou-a nos olhos e ela não desviou o olhar. Jimin foi o primeiro a desviar a vista. Pegou na chávena e bebeu um pouco, voltando a olhar para ela. O telemóvel dele tocou e ele olhou o ecrã.

- Bebe o chá. - Jimin levantou-se - É melhor se estiver bem quente.
- Depois quero ir para casa.
- Claro.

Isabel bebeu o chá que ainda estava quente demais para o seu gosto enquanto ele falava na sala ao lado. Reconheceu o nome da mãe dele, a voz dele chegava até ela suave e calma. Ainda se lembrava que Su Ji tinha esse efeito nele, Jimin podia estar aborrecido com algo mas assim que falasse com a mãe tudo lhe parecia melhor. Isabel sentiu o corpo relaxar e deixou-se ficar no sofá apreciando o calor reconfortante do líquido adocicado. Era só até terminar o chá... depois ia para casa. Recostou-se nas almofadas e olhou para as chamas da lareira que começavam a extinguir-se. O som da voz dele começou a afastar-se, sentiu uma certa melancolia. Gostava do som da voz dele, sempre gostara... Mas mais uma vez Jimin estava a afastar-se dela e nada podia fazer para o evitar.

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