Dois dias após a visita inesperada de Alec, Alexandra ainda tinha certa dificuldade em adormecer. Cansada de dar voltas na cama, juntou-se a Black e Faísca na varanda do anexo.
- Posso fazer-vos companhia?! - Alexandra acariciou a cabeça deles e sentou-se no chão - A lua está bonita.
Faísca olhou para ela e deitou a cabeça no chão voltando a dormir, mas Black levantou-se e deitou a cabeça nas pernas dela, como se entendesse o que estava a sentir, e ficou a olhá-la.
- Sabes, a última vez que vi a lua assim, tão brilhante, foi na casa de Alec. - Alexandra encostou a cabeça na parede - Porque não me disse que gostava daquela rapariga?! Seria bem mais simples e menos humilhante. Parece que os homens tendem a humilhar-me. - Black latiu baixinho - Porque tive de me apaixonar por ele? Diz-me Black... Porquê...
Alexandra deixou-se ficar a olhar a lua com Black deitado nas suas pernas, enquanto as lágrimas molhavam o seu casaco. Perdeu a noção do tempo que ficou a olhar a lua, apenas regressou para a cama quando as suas pernas reclamaram do peso de Black ,que tinha adormecido pesadamente.
Adormeceu tarde, mas na manhã seguinte acordou antes do nascer do sol. Abriu a janela do quarto e o ar fresco da manhã bateu-lhe no rosto. Inclinou-se na janela e viu Black mordiscando a orelha de Faísca, tentando em vão que ele se levantasse.
Ao sair de casa Faísca ainda dormia, chamou Black e sentou-se a observar o céu, que parecia ter mudado durante a noite, o céu limpo carregado de estrelas, dera lugar a um céu cinzento. Pouco depois a porta da casa principal abriu-se e Pedro acenou-lhe da entrada.
- Bom dia Alexandra.
- Bom dia. Parece que vai chover.
- Assim parece. - Pedro colocou o chapéu na cabeça e dirigiu-se para o estábulo. - Meninos...
Pedro assobiou e Black correu até ele, mas Faísca parecia mais interessado em dormir. Sorrindo dirigiu-se à casa principal. Ao contrário do habitual Faty já se levantara e fazia panquecas.
- Bom dia querida. - Cumprimentou quando a viu.
- Bom dia. Hoje temos panquecas? - Alexandra colocou água a ferver.
- Pedro disse que falas-te nelas ontem à noite. - Faty piscou-lhe um olho - Não quero que essa criança venha ao mundo com cara de panqueca!
- Esperemos que não!
As duas riram e terminaram de fazer o pequeno almoço, nessa manhã terminariam de montar a estante no anexo. Para que pudessem começar finalmente a mudar as coisas deles para lá.
A meio da tarde o telemóvel dela tocou, reconheceu o número de Marisa, mas temendo que fosse Alec, pediu a Faty que atendesse. Esta devolveu-lho pouco depois.
- Olá, como estás?
- Tentando manter-me ocupada.
- Folgo em ouvi-lo. Olha, estive a ver o teu contrato. - Marisa fez uma pausa - Preciso que me assines uns papéis...
- Não vou aí.
- Não te estou a pedir que venhas! Alec foi para Londres novamente. Como tal tenho de o substituir, tenho uma reunião daqui a umas horas aí perto. Se pudesses ir ter comigo agradecia-te imenso. Não vais demorar, a menos que queiras beber um café.
- Tudo bem. Onde e a que horas?
- O local é... - Marisa calou-se - Olha, já te envio uma mensagem com a morada.
Alexandra olhou para Faty que continuava a colocar livros numa caixa.
- Pedro pode levar-me à cidade?
- Penso que sim. Algum problema?
- Não, apenas tenho de assinar uns papéis. Não devo demorar.
- Que chatice!
- É apenas ir e voltar mas se isso lhe causa...
- Oh não! Lembrei-me agora que Pedro foi ao veterinário, e nestes dias costuma demorar a voltar. Sabes como é... homens!
Não, ela não sabia! Para ela. aquelas saídas, apenas queriam dizer uma coisa: Traição! Mas Faty estava demasiado tranquila para que fosse esse o significado daquele: Oh não!
Chamou um táxi e foi tomar duche. Quando se vestiu teve alguma dificuldade em vestir-se, não conseguiu vestir as calças de ganga, bem, conseguia, mas sentia-se desconfortável com elas, como se lhe faltasse o ar! Olhou-se no espelho, colocando-se de perfil, conseguia vislumbrar uma pequena saliência!
Notando-se ou não, resolveu vestir um vestido e um casaco. Não ia colocar em risco a saúde do seu filho.
Durante o percurso olhou a sua barriga, felizmente ainda não se notava. Podia encontrar-se com Marisa sem medo de que descobrisse o seu segredo. Pois, além de empregada era amiga de Alec, o que talvez a levasse a sentir-se obrigada a contar a Alec certas coisas... Coisas que, por enquanto, ela não queria que ele soubesse!
Quando o táxi parou junto ao restaurante ela, olhou em redor, tentando ver o carro de Marisa. Apenas dois carros e uma carrinha, estavam no estacionamento. Olhou para a mensagem e para o nome do restaurante. O nome estava certo. Mas não havia nenhum sinal de Marisa, teria entendido mal a morada?! Entrou sentindo-se um pouco perdida. Um senhor dirigiu-se a ela perguntando se queria uma mesa. Explicou que combinara encontrar-se com uma amiga ali, mas não sabia se ela já tinha chegado.
Quando lhe disse o nome de Marisa ele sorriu e acompanhou-a até uma mesa. Agradeceu e pediu uma água. Observou o restaurante vazio, se aquele era o movimento de um negócio por aqueles lados, começava a duvidar se o seu próprio negócio teria futuro! Evitando desistir antes de começar, tentou ligar para Marisa, mas o telemóvel estava fora de serviço. Talvez se tivesse atrasado por algum motivo. Esperaria mais meia hora, depois disso regressava a casa. Agarrou no tablet e reviu o projecto das obras. O pedreiro que tinham contratado adoecera, o que adiou os planos deles por alguns dias. Mas viram o percalço pelo lado positivo, tinham mais tempo para mudar as coisas.
Um vulto tapou a pouca iluminação que ela tinha, levantou a vista sorrindo mas o sorriso morreu nos seus lábios ao ver Alec. Tentou levantar-se mas ele foi mais rápido e segurou-a por um pulso com a força necessária para que ela regressasse à mesa.
- Como pudeste pensar que era capaz de te fazer uma coisa dessas?! - Alec praticamente sussurrava.
- Do que estás a falar?!
- Sabes perfeitamente! - Os olhos dele brilhavam, mas não de desejo.
- Não sei não!
- Como pudeste pensar que tinha um caso com aquela miúda?!
- Porque ela o disse! - Alexandra olhou nos olhos.
- E não te ocorreu perguntar-me?!
- Para quê?! Para que pudesses mentir-me?! Já não sou a mesma pessoa que conheceste!
- Sei que não. Mas preferia que fosses!
- Claro que sim! É mais fácil convencer uma idiota romântica... - Alexandra puxou o braço mais uma vez, e mais uma vez ele não o soltou - Podes soltar-me?!
- Não! Vais ficar até eu terminar! - Alec marcou um número no telemóvel. - Podem vir. - Guardou o telemóvel no bolso e olhou para ela - Pensei que gostavas de mim, mas parece que me enganei.
- Gostava sim, mas tudo acaba. - Alexandra voltou a sentir a mesma dor que sentiu quando viu a cicatriz dele.
- Até acreditava que já não sentes nada por mim, se não tivesses respondido ao beijo no outro dia.
- Aquilo não foi uma resposta, foi surpresa!
Alec levantou a mão e acenou para a entrada. Alexandra seguiu o olhar de Alec, Marisa entrava no restaurante com a amante dele.
- Se pensas que vou ficar...
- Vais sim! E podes crer que te obrigarei a isso!
- Desculpa Alexandra! - Marisa olhava para ela - Mas penso que deves ouvir Alec.
- Não quero ouvir nada do que me possa dizer!
- Muito bem. - Alec levantou-se - Podes não me ouvir a mim, mas vais ouvir o que ela tem para dizer. Vamos, diz-lhe porque o fizeste!
Alec falava para a sua amante enquanto a segurava por um braço para a obrigar a sentar. A julgar pela forma como ele a tratava, e ela evitava o olhar dele, começava a duvidar se eram amantes.
- Vamos! - Alec sacudiu-a uma vez mais e a rapariga começou a chorar. - Um pouco tarde para lágrimas, não te parece?!
- Alec! - Marisa segurou-lhe o braço - Tem calma.
- Calma!? Tu imaginas... - Alec passou a mão no cabelo e deu alguns passos no restaurante.
- Importas-te de dizer porque o fizeste? - Marisa falou para a rapariga que mantinha a cabeça baixa.
- Porque me pagaram. - A rapariga mal se ouvia - Ele disse que era para você... - O choro impediu que se percebesse algumas palavras - Que o sr. Gordon estava a aproveitar-se de si, que ele tinha esposa, até me mostrou umas fotografias. Disse que se eu dissesse que era amante do sr. Gordon você o deixaria e o sr. Gordon provaria o seu próprio... Quando vi o táxi a parar fui para o escritório, o resto já sabe - Começou a soluçar mais alto - Precisava do dinheiro, iam despejar-me... tenho um filho pequeno...
Alexandra levou a mão à barriga, ela seria capaz de algo parecido para garantir um tecto ao seu filho!? Olhou a rapariga nos olhos, brevemente ela também seria mãe. Sentiu pena dela. O filho dela ainda não tinha nascido e ela já sentia que o tinha de proteger de tudo e todos, como não faria aquela rapariga o mesmo pelo seu filho?!
- E não lhe ocorreu falar connosco!? - Alec gritou - Era melhor arruinar a vida de todos para conseguir uns miseráveis euros!
- Alec...- Alexandra murmurava - Deixa-a.
- Ainda a defendes?! Não quero acreditar! Muito bem... Não sei porque me importo, o que não falta são mulheres!
- Alec! - Marisa gritou-lhe
- Desisto, vou-me embora!
- Alec. - Alexandra segurou-lhe um braço - Por favor!
- Sinto muito... - A rapariga continuava a gaguejar - Miguel... disse que a amava...
- Miguel?! - Alexandra abriu muito os olhos - Miguel pagou-te?
- Sim. Procurou-me no meu primeiro dia de trabalho, o meu marido deixou-me e eu...
- Acho que é suficiente. - Marisa agarrou o braço da rapariga - Depois vemos que podemos fazer.
Marisa saiu do restaurante seguida pela rapariga, deixando-os sentados à mesa. Alexandra tentava perceber aquilo tudo, Alec não lhe fora infiel. Toda aquela confusão fora causada por Miguel. Mesmo longe conseguia perturbar a vida dela.
- Desculpa. - Alexandra olhou para ele - Desculpa...
Alec não disse nada, levantou-se e Alexandra sentiu que deixava fugir a felicidade. E desta vez a culpa era dela, por não confiar nele. Amava-o, mas não o suficiente para lhe dar o beneficio da dúvida. Miguel quebrara a confiança dela, em consequência disso não conseguia confiar em Alec. O que Miguel a fez sofrer transformou-se em insegurança, e essa insegurança arrastou-a para um mar de sofrimento e ao olhar para ele percebia que também o arrastara a ele.
- Pensei que me amavas. - Alec voltou a sentar-se - Mas parece que me enganei.
- Não te enganaste. - Alexandra olhou-o nos olhos.
- Não?!
- Não. Amo-te.
- Meu Deus! Então porquê?!
- Porque agias como um homem que se sentia culpado de algo.
- Culpado?!
- As rosas, os bombons...
- Agia como um homem apaixonado!
- Apaixonado?!
- Sim. Pensei que era isso que querias!
- Eu?! Meu Deus... Eu não podia com o cheiro das rosas! - Alexandra levou a mão à barriga mas achou que aquele não era o local para lhe dizer.
- Isso foi o que me levou a pensar que não me amavas como eu pensava.
- Parece-me que não sou a única insegura nisto tudo.
- Não... - Alec puxou-lhe a mão e beijou-lha - Conheces algum hotel onde possamos dormir?!
- Dormir?!
- Ou algo do género...
Alexandra sorriu perante o olhar que ele lhe devolveu, tinham tanta coisa para esclarecer, mas uma coisa não precisava de esclarecimento, ele desejava-a assim como ela a ele e amavam-se. Isso era o essencial.
- Conheço um lugar encantador.
- Espero que não seja longe.
- É relativamente perto.
- Óptimo, tenho saudades de acordar a teu lado.
Sem comentários:
Enviar um comentário