Voltou-se na cama inquieta e plenamente consciente da identidade do desconhecido. Depois de mais algumas voltas na cama sem conseguir dormir resolveu levantar-se.
Apoiou os braços no muro da sacada e ficou a olhar a cidade, a noite começava a despedir-se dando lugar ao dia. Permaneceu ali observando as luzes que se iam apagando pouco a pouco, sinal que Sintra acordava. O cheiro a pão quente chegou até ela e fechou os olhos. Por momentos viu-se sentada na cozinha dos pais no Alentejo, onde esperava que a mãe tirasse o pão do forno para o comer ainda quente. Essa doce recordação foi substituída pela tristeza, sentia saudades da sua mãe. Detestava aquele sentimento de solidão, durante alguns anos sentiu-se assim, sozinha. Quando Miguel apareceu, esse sentimento desapareceu e pensou ter finalmente encontrado alguém. Mas depois de um namoro de dez anos e poucos meses de noivado, abandonou-a e o sentimento de solidão renasceu ainda mais forte.
Meteu-se no duche sentindo os olhos arderem pelas lágrimas. Desejou que a água leva-se aquele sentimento, com a mesma facilidade que levava a espuma do gel de banho. Saiu do banho sentindo-se ligeiramente melhor, obrigou-se a pensar em coisas que a fizessem sorrir. Escolheu a roupa que ia vestir para tomar café com... Sorriu para o seu reflexo, tinha uma certa piada, ele tinha-a salvo, por assim dizer, por duas vezes e ela não sabia o nome dele. Sabia que tinham uns olhos verdes, que ela achava lindíssimos e uns braços fortes. Lembrou-se do toque da sua mão no seu pulso, de como a amparara nas escadas e pensou que qualquer mulher desejaria estar mais que uns segundos naqueles braços...
- Mas que se passa consigo menina Alexandra Melo!? - Falou olhando o espelho - Não a estou a reconhecer! Não mesmo! Parece uma adolescente!
Naquele instante bateram à porta, olhou o relógio. Ainda não eram oito horas, quem seria a essa hora?! Apertou o roupão e abriu a porta.
- Bom dia Alexandra. Espero não a ter acordado.
- Bom dia Clara. - Alexandra sorriu-lhe - Preparava-me para me vestir, está tudo bem?
- Oh sim, apenas queria confirmar a nossa saída ao palácio, ontem não falámos nisso.
- Sim, estou ansiosa. Ás onze como combinámos?!
- Sim, encontramos-nos na entrada a essa hora.
- Até lá então.
Alexandra observou como Clara se afastava, parecia-lhe abatida. Como ela compreendia Clara! A solidão era um dos sentimentos mais tristes que ela conhecia. Fechou a porta do quarto e pensando em como Clara se sentiria sozinha, vestiu a primeira roupa que encontrou. Desceu e viu Clara sentada no hall a olhar a entrada do hotel, como se esperasse alguém.
- Estava a pensar. - Alexandra sentou-se no sofá - Como já estamos acordadas, que diz a tomarmos o pequeno almoço juntas?
- Oh! Seria fabuloso.
- Óptimo, vamos?!
Saíram em direcção a Sintra e tomaram o pequeno almoço numa esplanada. Alexandra falou da sua infância, de como começou a trabalhar para António e chegou ao tema que tanto a magoava. Miguel!
- Minha querida, se ele a abandonou é um completo idiota. E pode ter a certeza, ele é que ficou a perder. - Clara segurou-lhe a mão carinhosamente - Sabe o que precisa?! De um novo amor... não! De uma aventura, daquelas bem escaldantes.
- Neste momento não penso em aventuras e muito menos em homens. - Alexandra mordeu a língua quando na sua mente surgiram um olhos verdes brilhantes. - Quero distância deles.
- Ainda é muito nova, quando menos esperar vai cair nos braços de algum loiro de olhos azuis.
- Oh Deus!
Nesse instante lembrou-se que tinha combinado tomar café com um desconhecido, não de olhos azuis mas um desconhecido. Olhou o relógio, já passava das dez horas!
- Que se passa querida?!
- Nada, não gosto de recordar Miguel. - Alexandra achou melhor não dizer a verdade, não adiantava nada sair a correr, possivelmente ele já se teria cansado de esperar - Vamos falar de coisas mais alegres. O palácio por exemplo.
- O palácio... Oh Deus! Esqueci-me completamente. É melhor apressarmos-nos ou perderemos a visita guiada. - Clara levantou-se - Temos de regressar ao hotel, não podemos ir sem as câmaras fotográficas.
Chamaram um táxi e pouco depois estavam no hotel, Alexandra vestiu uns calções verdes e uma camisa camel. Apanhou os óculos de sol e a máquina fotográfica que meteu na mochila. Clara ainda não tinha descido quando ela chegou à recepção. Sentou-se num dos confortáveis sofás a ler uma revista.
- Afinal não está ferida.
Alexandra reconheceu a voz e levantou a vista certa de quem iria encontrar, mas sem saber como reagira ele ao ver que ela o deixara plantado.
- Porque haveria de estar?!
- Como faltou ao nosso encontro, e tendo em conta o seu historial, imaginei o pior.
- Peço desculpa, mas esqueci-me. - Alexandra viu como ele franzia o sobrolho - Saí com uma amiga e não percebi o tempo passar.
- Cheguei! - Clara olhou para eles - Peço desculpa, não queria...
- Não tem porque pedir desculpa. O senhor...
- Alec! Alec Gordon.
Ele estendeu a mão a Clara que aceitou com um sorriso rasgado.
- Turista?! - Clara olhou-o fixamente.
- Não. Vivo em Portugal desde os doze anos.
- Não o vi no hotel! - Clara mantinha a mão dele presa. - Está aqui hospedado?
- Sim, no quarto piso.
- Oh...
Clara olhou fixamente para ele e depois fechou os olhos repentinamente levando uma mão à cabeça e sentou-se pesadamente no sofá.
- Sente-se bem?! - Alexandra sentou-se junto a ela segurando-lhe a mão.
- Devia de ter levado o chapéu quando saímos, já não tenho a idade da Alexandra.
- Quer um copo de água com açúcar?! - Alec perguntou sentando-se no lado oposto.
- É muito amável.
- Vou pedir que lho tragam.
Alexandra observou como ele se afastava rapidamente.
- Quer que chame um médico?!
- É muito amável.
- Vou pedir que lho tragam.
Alexandra observou como ele se afastava rapidamente.
- Quer que chame um médico?!
- Não minha querida, só preciso de descansar. Nada mais. Temo que teremos de adiar a nossa visita ao palácio.
- Claro, iremos amanhã.
- A menos que o teu amigo queira ir no meu lugar.
- O meu... - Alexandra calou-se ao ver que Alec se aproximava.
- Aqui tem, pedi para colocarem bastante açúcar.
- Obrigada. - Clara bebeu um pouco do líquido - Estava a dizer a Alexandra que não há motivos para ela não visitar o palácio. Você pode ir com ela.
- Não. - Alexandra olhou para ele, não era boa ideia ir com ele, não sabia porque chegara a essa conclusão, apenas sabia que não devia de ir - Certamente terá outros planos.
- Aqui tem, pedi para colocarem bastante açúcar.
- Obrigada. - Clara bebeu um pouco do líquido - Estava a dizer a Alexandra que não há motivos para ela não visitar o palácio. Você pode ir com ela.
- Não. - Alexandra olhou para ele, não era boa ideia ir com ele, não sabia porque chegara a essa conclusão, apenas sabia que não devia de ir - Certamente terá outros planos.
- Terei todo o gosto em ir consigo Alexandra. - Alec olhou para ela - Aliás, acho que me deve isso, afinal esperei por si quase toda a manhã.
- A culpa foi minha. - Clara olhou para Alexandra - Não precisa de se preocupar comigo querida. Vá visitar o palácio.
Alec dirigiu-se à recepção e voltou com um jovem que se prontificou a acompanhar Clara ao quarto e a verificar o seu estado de saúde periodicamente. Embora relutante abandonaram o hotel no carro de Alec.
- É habitual fazer as viagens em silêncio?!
- Desculpe?!
- Se não costuma falar com os seus colegas de viagem?!
- Depende.
- De...?!
- Se simpatizo ou não com a pessoa em questão.
- Ou seja, não gostou de mim.
- Não o conheço suficientemente bem para ter uma opinião formada.
- É a primeira mulher que caí nos meus braços e não simpatiza comigo.
Alexandra olhou para ele sentindo uma ponta de raiva. Porque se incomodou ao saber que ele tivera outras mulheres nos braços?! Isso não lhe dizia respeito!
- E é habitual ter muitas?!
- Muitas?!
- Mulheres a caírem-lhe nos braços, não era disso que estávamos a falar?!
- A caírem-me literalmente nos braços não. - Ele olhou para ela e ela corou - Mas nunca mais que uma de cada vez, por isso depende do que considere muitas. Mais de duas, cinco, dez...
- Ou seja não é um homem fiel! - Alexandra pensou que ele era como Miguel, um don Juan.
- Isso também depende da mulher.
Alec saiu do carro e ela percebeu que tinham terminado a viagem, saiu do carro e olhou em redor, não estava no palácio, havia alguns carros estacionados e pessoas que caminhavam em grupo ou sozinhas, mas todas na mesma direcção.
- Vamos? - Alec estendeu-lhe a mão.
- Sim.
Caminharam em silêncio, embora a paisagem fosse lindíssima ela não conseguia esquecer a conversa anterior. Percebeu que não se importava se ele era fiel ou não, e duvidava que qualquer mulher que ele levasse para a cama estivesse preocupada com isso. Momentaneamente pensou que até ela esqueceria isso em troca de uma noite naqueles braços. Envergonhou-se dos seus próprios pensamentos e amaldiçoou a sua carência afectiva, se Miguel não a tivesse abandonado ela não se sentia tão sozinha, nem a perder tempo a pensar em Alec e nos braços dele.
- Alexandra?!
- Desculpe. - Tomou consciência que ele a chamava à algum tempo.
- Ainda está preocupada com Clara?!
- Um pouco. - Mentiu, não iria admitir que pensava nele.
- Vou tentar ocupar os seus pensamentos com coisas mais produtivas.
Alec segurou-lhe a mão e levou-a em direcção contrária das pessoas que caminhavam à frente deles, confirmou o que já sabia, gostava de sentir o calor das mãos dele. Ficou decepcionada quando ele lhe soltou a mão quando chegaram a um dos lados do palácio.
- Não é suposto entrarmos juntos?!
- Não necessariamente. - Alec colocou os óculos no alto da cabeça - Ora bem, deixe ver se me lembro de tudo correctamente. Quase todo o Palácio assenta em enormes rochedos, e a mistura de estilos que ostenta (neogótico, neomanuelino, neo-islâmico, neo-renascentista, com outras sugestões artísticas como a indiana) é verdadeiramente intencional, na medida em que a mentalidade romântica do século XIX dedicava um fascínio invulgar ao exotismo. Estruturalmente o Palácio da Pena divide-se em quatro áreas principais:
A couraça e muralhas envolventes (que serviram para consolidar a implantação da construção), com duas portas, uma das quais provida de ponte levadiça;
O corpo, restaurado na íntegra, do Convento antigo, ligeiramente em ângulo, no topo da colina, completamente ameado e com a Torre do Relógio;
O Pátio dos Arcos frente à capela, com a sua parede de arcos mouriscos;
A zona palaciana propriamente dita com o seu baluarte cilíndrico de grande porte, com um interior decorado em estilo cathédrale, segundo preceitos em voga e motivando intervenções decorativas importantes ao nível do mobiliário e ornamentação em geral.
- Desculpe. - Alexandra olhou para ele divertida com a cara que ele fazia ao enumerar as características do palácio - Tenho uma dúvida.
- Sim?! - Ele olhou-a seriamente.
- O palácio, sempre foi assim?!
- Inicialmente era uma pequena capela sob a invocação de Nossa Senhora da Pena. Isto durante o reinado de João II de Portugal. - Alec fez uma pausa como se tenta-se recordar-se de algo -No século XVI, Manuel I de Portugal no cumprimento de uma promessa, ordenou a sua reconstrução de raiz e doou-a à Ordem de São Jerónimo. Nessa altura era um convento de madeira, mas mais tarde foi substituído por um edifício de cantaria.
No século XVIII a queda de um raio destruiu parte da torre, capela e sacristia, danos que se agravaram com o terramoto de 1755, que deixou o convento em ruínas. Apenas a zona do altar-mor, na capela, com um retábulo em mármore e alabastro atribuído a Nicolau de Chanterenne, permaneceu intacta. Mas apenas mais tarde se adquiriram as terras circundantes e foram feitas várias obras de restauro.
- Estou surpreendida.
- Positivamente espero.
- Não sabia que era um entendido no palácio.
- Posso acrescentar que depois da morte de D. Fernando, o palácio foi deixado à sua segunda esposa, Elisa Hendler, Condessa de Edla, o que na época gerou grande controvérsia pública, porque já se considerava o palácio como monumento histórico. A viúva procurou então chegar a um acordo com o Estado Português e recebeu uma proposta de compra por parte de Luís I de Portugal, em 1889, em nome do Estado, que aceitou, reservando então para si apenas o Chalé da Condessa, onde continuou a residir. Chalé que faço questão de lho mostrar num outro dia.
- Faz questão?!
- Sim. Terei todo o gosto nisso.
- Como sabe tanto do palácio?
- Não a convenci com o relato?!
- Sim..Bem...pelo menos parecia convincente. Agora se a historia é fidedigna...
- Fui guia turístico durante as férias da faculdade. E durante vários anos!
- Sendo assim acredito piamente no que disse.
- Ainda bem. - Alec olhou-a momentaneamente - Não queria tirar fotografias?!
- Sim, Clara não me perdoaria.
Alexandra tirou fotografias no exterior do palácio, quando procurou outro ângulo percebeu que Alec não estava mais junto a ela. Procurou em redor, viu-o mais à frente a falar com um homem. Olhou pela objectiva da máquina fotográfica, ele era lindo. As calças de ganga e a t-shirt davam-lhe uma ar de masculinidade que a fez estremecer. Não resistiu e tirou uma fotografia e segui-se outra, os músculos evidenciavam-se a cada movimento que ele fazia, àquela distância a t-shirt pareceu-lhe pequena demais para as costas largas. Resistiu à tentação de o fotografar mais vezes. Para ela, Alec tornara-se tão interessante quanto o palácio.
- Pronta para entrar?!
- Vai dar mais alguma aula de história?!
- Se pedir com jeito.
- Acho que é suficiente.
- Ainda bem! - Alec sorriu - Confesso que me esqueci da maioria das coisas sobre o interior do palácio. Em alternativa podemos visitar o parque.
- O parque... não são apenas árvores?!
- Não, no parque podemos ver inúmeras construções de jardins, pontes, grutas, bancos de jardim, pérgulas e fontes.
- Parece lindo!
Alexandra seguiu Alec por entre as árvores. Aqui e ali bancos e casas que Alec disse terem sido usadas pelos criados do palácio. Ela estava a adorar aquela visita, nunca vira uma paisagem assim. Em algumas zonas ainda se vislumbrava um pequeno nevoeiro, dando a sensação de ter entrado num mundo mágico. A máquina fotográfica não parava, ela achava tudo digno de registo, fotografava uma ponte quando um animal passa a correr por entre as suas pernas, que a fez soltar um grito ao sentir o pêlo macio na sua pele e procurar refugio nos braços de Alec. Por alguns segundos, e sem se separar de Alec, olhou o local por onde o animal tinha desaparecido. Sentia o coração bater apressado, podia jurar que se tinha mudado para a garganta. De repente tomou consciência de onde estava e olhou-o nos olhos, o verde parecia-lhe mais acastanhado.
- Desculpe. Eu não...
- Eu também não.
Alexandra não percebia o que ele queria dizer, mas não queria saber. Assim como não queria sair dali, nem queria desviar o olhar daqueles olhos verdes. Inconscientemente mordeu o lábio inferior e ele percorreu o lábio dela com um dedo. Estremeceu, nunca uma caricia lhe pareceu tão sensual, algo dentro dela pedia mais. E quando ele a aprisionou junto a ele e se apoderou dos seus lábios ela não se afastou. Sentiu como ele contornava os seus lábios com a língua e fazia uma pequena pressão para ela entreabrir os lábios. Quando ela abriu os lábios e rodeou o pescoço dele, sentiu que ele aprofundava o beijo, exigindo mais, provocando-a e levando-a a sentir coisas que nunca imaginara.
- Nunca pensei! - Alec segurava-lhe o rosto entre as mãos e beijou-lhe os lábios vermelhos pela pressão exercida anteriormente - Quero-te, sei que sentes o mesmo.
- Sabe?!
Alec sorriu-lhe e o coração dela disparou, Alexandra parecia uma adolescente, sem saber que dizer ou fazer.
- Sei, vejo-o nos teus olhos. Desejas estar comigo, como eu desejo estar contigo. Fica comigo esta noite.
- Noite?!
- Noite, dia! Não importa, desde que fiques. Ficas?!
- Sim.
Alec dirigiu-se à recepção e voltou com um jovem que se prontificou a acompanhar Clara ao quarto e a verificar o seu estado de saúde periodicamente. Embora relutante abandonaram o hotel no carro de Alec.
- É habitual fazer as viagens em silêncio?!
- Desculpe?!
- Se não costuma falar com os seus colegas de viagem?!
- Depende.
- De...?!
- Se simpatizo ou não com a pessoa em questão.
- Ou seja, não gostou de mim.
- Não o conheço suficientemente bem para ter uma opinião formada.
- É a primeira mulher que caí nos meus braços e não simpatiza comigo.
Alexandra olhou para ele sentindo uma ponta de raiva. Porque se incomodou ao saber que ele tivera outras mulheres nos braços?! Isso não lhe dizia respeito!
- E é habitual ter muitas?!
- Muitas?!
- Mulheres a caírem-lhe nos braços, não era disso que estávamos a falar?!
- A caírem-me literalmente nos braços não. - Ele olhou para ela e ela corou - Mas nunca mais que uma de cada vez, por isso depende do que considere muitas. Mais de duas, cinco, dez...
- Ou seja não é um homem fiel! - Alexandra pensou que ele era como Miguel, um don Juan.
- Isso também depende da mulher.
Alec saiu do carro e ela percebeu que tinham terminado a viagem, saiu do carro e olhou em redor, não estava no palácio, havia alguns carros estacionados e pessoas que caminhavam em grupo ou sozinhas, mas todas na mesma direcção.
- Vamos? - Alec estendeu-lhe a mão.
- Sim.
Caminharam em silêncio, embora a paisagem fosse lindíssima ela não conseguia esquecer a conversa anterior. Percebeu que não se importava se ele era fiel ou não, e duvidava que qualquer mulher que ele levasse para a cama estivesse preocupada com isso. Momentaneamente pensou que até ela esqueceria isso em troca de uma noite naqueles braços. Envergonhou-se dos seus próprios pensamentos e amaldiçoou a sua carência afectiva, se Miguel não a tivesse abandonado ela não se sentia tão sozinha, nem a perder tempo a pensar em Alec e nos braços dele.
- Alexandra?!
- Desculpe. - Tomou consciência que ele a chamava à algum tempo.
- Ainda está preocupada com Clara?!
- Um pouco. - Mentiu, não iria admitir que pensava nele.
- Vou tentar ocupar os seus pensamentos com coisas mais produtivas.
Alec segurou-lhe a mão e levou-a em direcção contrária das pessoas que caminhavam à frente deles, confirmou o que já sabia, gostava de sentir o calor das mãos dele. Ficou decepcionada quando ele lhe soltou a mão quando chegaram a um dos lados do palácio.
- Não é suposto entrarmos juntos?!
- Não necessariamente. - Alec colocou os óculos no alto da cabeça - Ora bem, deixe ver se me lembro de tudo correctamente. Quase todo o Palácio assenta em enormes rochedos, e a mistura de estilos que ostenta (neogótico, neomanuelino, neo-islâmico, neo-renascentista, com outras sugestões artísticas como a indiana) é verdadeiramente intencional, na medida em que a mentalidade romântica do século XIX dedicava um fascínio invulgar ao exotismo. Estruturalmente o Palácio da Pena divide-se em quatro áreas principais:
A couraça e muralhas envolventes (que serviram para consolidar a implantação da construção), com duas portas, uma das quais provida de ponte levadiça;
O corpo, restaurado na íntegra, do Convento antigo, ligeiramente em ângulo, no topo da colina, completamente ameado e com a Torre do Relógio;
O Pátio dos Arcos frente à capela, com a sua parede de arcos mouriscos;
A zona palaciana propriamente dita com o seu baluarte cilíndrico de grande porte, com um interior decorado em estilo cathédrale, segundo preceitos em voga e motivando intervenções decorativas importantes ao nível do mobiliário e ornamentação em geral.
- Desculpe. - Alexandra olhou para ele divertida com a cara que ele fazia ao enumerar as características do palácio - Tenho uma dúvida.
- Sim?! - Ele olhou-a seriamente.
- O palácio, sempre foi assim?!
- Inicialmente era uma pequena capela sob a invocação de Nossa Senhora da Pena. Isto durante o reinado de João II de Portugal. - Alec fez uma pausa como se tenta-se recordar-se de algo -No século XVI, Manuel I de Portugal no cumprimento de uma promessa, ordenou a sua reconstrução de raiz e doou-a à Ordem de São Jerónimo. Nessa altura era um convento de madeira, mas mais tarde foi substituído por um edifício de cantaria.
No século XVIII a queda de um raio destruiu parte da torre, capela e sacristia, danos que se agravaram com o terramoto de 1755, que deixou o convento em ruínas. Apenas a zona do altar-mor, na capela, com um retábulo em mármore e alabastro atribuído a Nicolau de Chanterenne, permaneceu intacta. Mas apenas mais tarde se adquiriram as terras circundantes e foram feitas várias obras de restauro.
- Estou surpreendida.
- Positivamente espero.
- Não sabia que era um entendido no palácio.
- Posso acrescentar que depois da morte de D. Fernando, o palácio foi deixado à sua segunda esposa, Elisa Hendler, Condessa de Edla, o que na época gerou grande controvérsia pública, porque já se considerava o palácio como monumento histórico. A viúva procurou então chegar a um acordo com o Estado Português e recebeu uma proposta de compra por parte de Luís I de Portugal, em 1889, em nome do Estado, que aceitou, reservando então para si apenas o Chalé da Condessa, onde continuou a residir. Chalé que faço questão de lho mostrar num outro dia.
- Faz questão?!
- Sim. Terei todo o gosto nisso.
- Como sabe tanto do palácio?
- Não a convenci com o relato?!
- Sim..Bem...pelo menos parecia convincente. Agora se a historia é fidedigna...
- Fui guia turístico durante as férias da faculdade. E durante vários anos!
- Sendo assim acredito piamente no que disse.
- Ainda bem. - Alec olhou-a momentaneamente - Não queria tirar fotografias?!
- Sim, Clara não me perdoaria.
Alexandra tirou fotografias no exterior do palácio, quando procurou outro ângulo percebeu que Alec não estava mais junto a ela. Procurou em redor, viu-o mais à frente a falar com um homem. Olhou pela objectiva da máquina fotográfica, ele era lindo. As calças de ganga e a t-shirt davam-lhe uma ar de masculinidade que a fez estremecer. Não resistiu e tirou uma fotografia e segui-se outra, os músculos evidenciavam-se a cada movimento que ele fazia, àquela distância a t-shirt pareceu-lhe pequena demais para as costas largas. Resistiu à tentação de o fotografar mais vezes. Para ela, Alec tornara-se tão interessante quanto o palácio.
- Pronta para entrar?!
- Vai dar mais alguma aula de história?!
- Se pedir com jeito.
- Acho que é suficiente.
- Ainda bem! - Alec sorriu - Confesso que me esqueci da maioria das coisas sobre o interior do palácio. Em alternativa podemos visitar o parque.
- O parque... não são apenas árvores?!
- Não, no parque podemos ver inúmeras construções de jardins, pontes, grutas, bancos de jardim, pérgulas e fontes.
- Parece lindo!
Alexandra seguiu Alec por entre as árvores. Aqui e ali bancos e casas que Alec disse terem sido usadas pelos criados do palácio. Ela estava a adorar aquela visita, nunca vira uma paisagem assim. Em algumas zonas ainda se vislumbrava um pequeno nevoeiro, dando a sensação de ter entrado num mundo mágico. A máquina fotográfica não parava, ela achava tudo digno de registo, fotografava uma ponte quando um animal passa a correr por entre as suas pernas, que a fez soltar um grito ao sentir o pêlo macio na sua pele e procurar refugio nos braços de Alec. Por alguns segundos, e sem se separar de Alec, olhou o local por onde o animal tinha desaparecido. Sentia o coração bater apressado, podia jurar que se tinha mudado para a garganta. De repente tomou consciência de onde estava e olhou-o nos olhos, o verde parecia-lhe mais acastanhado.
- Desculpe. Eu não...
- Eu também não.
Alexandra não percebia o que ele queria dizer, mas não queria saber. Assim como não queria sair dali, nem queria desviar o olhar daqueles olhos verdes. Inconscientemente mordeu o lábio inferior e ele percorreu o lábio dela com um dedo. Estremeceu, nunca uma caricia lhe pareceu tão sensual, algo dentro dela pedia mais. E quando ele a aprisionou junto a ele e se apoderou dos seus lábios ela não se afastou. Sentiu como ele contornava os seus lábios com a língua e fazia uma pequena pressão para ela entreabrir os lábios. Quando ela abriu os lábios e rodeou o pescoço dele, sentiu que ele aprofundava o beijo, exigindo mais, provocando-a e levando-a a sentir coisas que nunca imaginara.
- Nunca pensei! - Alec segurava-lhe o rosto entre as mãos e beijou-lhe os lábios vermelhos pela pressão exercida anteriormente - Quero-te, sei que sentes o mesmo.
- Sabe?!
Alec sorriu-lhe e o coração dela disparou, Alexandra parecia uma adolescente, sem saber que dizer ou fazer.
- Sei, vejo-o nos teus olhos. Desejas estar comigo, como eu desejo estar contigo. Fica comigo esta noite.
- Noite?!
- Noite, dia! Não importa, desde que fiques. Ficas?!
- Sim.
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