segunda-feira, 8 de maio de 2017

NOS TEUS BRAÇOS 3ª PARTE


Por muito que Alec tenta-se manter uma conversa, ela não conseguia descontrair, à medida que a distância entre o palácio e o hotel diminuía, na cabeça de Alexandra pairava a pergunta para a qual não tinha resposta. O que estava a fazer?! Ela não era assim! Era ponderada e media sempre as consequências dos seus actos... Só depois de tudo bem analisado resolvia o que fazer! O facto de estar ali, naquele hotel, era prova disso! Como podia ter aceite passar a noite com um desconhecido?! Principalmente depois do que Miguel lhe dissera?! Não podia fazer aquilo! Por muito que se sentisse atraída por ele, coisa que sentia, não podia! Conhecia-se perfeitamente, sabia que no dia seguinte iria arrepender-se. Pior que isso, tinha a certeza que Alec se arrependeria! Mas como dizer-lhe que mudara de ideias?! Tinha de arranjar forma de sair daquela situação! Quando saíram do carro, ela ainda pensava numa forma de lhe dizer que tinha pensado melhor e que não queria estar com ele!

- Está tudo bem? - Alec segurou-lhe a mão impedindo que entrasse no hotel - Pareces...
- Sr. Gordon ! - Um dos funcionários do hotel apareceu junto a eles - Desculpe, seria possível dispensar-nos uns minutos? É urgente.
- Claro! - Alec encostou os lábios à face dela e murmurou - Não demoro.
- Não tem problema. Eu... - Alexandra olhou-o timidamente - É melhor assim, desculpa.

Alexandra entrou no hotel sem lhe dar tempo de responder e dirigiu-se aos elevadores. Quando entrou no quarto o seu corpo tremia, nunca tinha estado numa situação assim, e tinha a certeza que ele também não. Era um homem bonito, exalava sensualidade e beijava como ninguém! Seguramente não era normal as mulheres negarem-se a passar uma noite com ele.
Mas ela não era uma mulher como as demais, Miguel tinha sido bem explicito, segundo ele, ela não sabia que fazer para agradar a um homem! E isso talvez se devesse à educação que tivera.

Desde que deixara a casa dos pais no Alentejo, devido ao valores que os pais lhe incutiram, viveu em constante luta interior, entre o que desejava fazer e o que era correto. Acabando sempre por vencer o correto, o que levou a que as amizades se afastassem. Não tinha piada sair com uma pessoa que não bebe uma única cerveja porque tem de conduzir, nem regressava a casa depois da meia noite.

Sendo filha única foi super-protegida e educada segundo a igreja e os bons costumes. Durante os tempos de escola não teve muitos amigos, pois gostava de ler ou brincar com o seu cão, enquanto eles preferiam jogos de computador. Não se recordava muito do pai pois tinha falecido era ela muito pequena, talvez por isso a mãe não se opôs quando a madrinha insistiu para ela ir estudar na cidade, onde se formou. Conheceu Miguel quando tinha quase dezassete anos e apaixonou-se. O namoro foi aprovado pela madrinha e tornaram-se inseparáveis. O que agradou à madrinha, pois demonstrava que ele tinha ideia de algo sério.
Quando a mãe faleceu, Miguel foi o seu apoio, ajudando-a a tratar de tudo. Anos depois, quando lhe disse que não sabia que fazer com a quinta, pois devido ao trabalho não tinha tempo para ir lá, mas também não queria vendê-la, ele colocou um anuncio no jornal e arranjou um inquilino.  A cada dia ela estava mais apaixonada, ele parecia tão sincero quanto aos sentimentos, que quando a ocasião se proporcionou ela acedeu a...

Umas batidas na porta interromperam os seus pensamentos, temendo que fosse Alec ficou em silêncio esperando que se fosse embora, mas as batidas voltaram a ouvir-se.

- Alexandra?! Está bem?!
- Um momento. - Ela respirou de alivio e abriu a porta ao reconhecer a voz de Clara. - Entre.
- Obrigada. Desculpe a ousadia, mas vi que Alec ficou na recepção e... Bem, estava curiosa.
- Curiosa?! - Alexandra olhou para ela, Clara estava rosada, nesse momento lembrou-se da visita ao palácio - Ah, sim, o palácio. Tem de ir...
- Querida, eu sei que o palácio é lindo. - Clara sentou-se no sofá - Quero saber como correram as coisas com Alec.
- Com Alec?! - Ela corou perante o olhar que Clara lhe deitou.
- É um pedaço de homem! Vocês ainda dizem pedaço?! - Soltou um riso envergonhado - O meu santo marido que me perdoe, mas que Alec é um pedaço de mau caminho, lá isso é.
- Acha?! - Alexandra fingiu estar ocupada com outra coisa. - Não reparei.
- Não?! Se não reparou é porque não está nada bem. - Clara piscou-lhe o olho - Minha querida, ele é a resposta ao seu pequeno problema, aposto que uma noite nos braços dele esquece o idiota que a deixou.
- E se eu não quiser esquecer?!
- Então desculpe que lhe diga, mas nesse caso a idiota é a Alexandra! E olhe que não acredito que seja!
- Talvez a Clara se engane a meu respeito.

Alexandra olhou para ela e Clara ficou em silêncio uns instantes, depois levantou-se e dirigiu-se à porta.

- Aceite o conselho de uma velha. É preferível arrependermos-nos do que fizemos, do que arrependermos-nos daquilo que não fizemos.

Alexandra ficou a pensar na conversa de Clara, arrepender-se do que tinha feito. Não tinha coisas das quais se arrepende-se, bem tinha uma. Devido aos últimos acontecimentos só se arrependia de ter feito amor com Miguel. Sempre pensou que quando o fizesse seria com o homem que seria seu marido e naquele momento ela assim pensava, mas depois descobriu que ele não pensava assim. Para ele, ela foi apenas uma forma de passar o tempo na faculdade. Mantendo o namoro durante anos porque segundo ele, não era todos os dias que se estava com uma virgem! Com raiva, atirou com a mochila para cima de uma cadeira. Não ia pensar em Miguel!
Sentou-se na cama e ficou a olhar o quadro de Monet, a imagem retratada recordou-lhe o parque e consequentemente o beijo que trocou com Alec, a recordação foi suficiente para estremecer. Tinha decidido refugiar-se no quarto, mas Alec podia ir procurá-la e se ele a beija-se, ela não estava segura de conseguir manter-se afastada dele. O que consequentemente seria mais uma vergonha. Apanhou a mochila, retirou uma garrafa de água do mini bar e saiu para explorar mais um pouco.

Mas ao sair do hotel caminhou rumo ao jardim, tinha ido até ali para pensar no que fazer a respeito do seu trabalho, não perder tempo nos braços de um desconhecido. Sentou-se num dos bancos sob a sombra fresca de uma árvore e observava os patos quando o telemóvel tocou.

- Alexandra?!
- Maria?! - Alexandra reconheceu a voz - Está tudo bem?!
- Oh minha querida, estou preocupadíssima contigo.
- Comigo?!- Alexandra sentou-se muito direita - Porquê?
- Acho que cometi um erro enorme, mas na altura pensei que... - Maria fez uma pausa - Miguel esteve aqui ontem. Perguntou se sabíamos onde estavas,  estava arrependido e precisava de falar contigo.
- Compreendo.

Alexandra deixou de ouvir Maria, disse que compreendia, mas não era assim. Não conseguia compreender, porque Miguel dissera que estava arrependido depois de tudo o que lhe disse?! Compreendia Maria, pois era uma romântica incurável, era ainda mais romântica que ela. Mas não devia de dizer a Miguel onde estava, ela queria tempo, queria pensar no que iria fazer. Amava Miguel, mas não conseguia esquecer que a tinha deixado, o que lhe tinha dito, nem a vergonha que a tinha feito passar diante dos colegas de ambos. Ou conseguiria?! Amava-o o suficiente para esquecer tudo isso?! A sua cabeça estava uma confusão!

-... ele deve de chegar aí não tarda. Achei melhor dizer-te.
- Obrigada.
- Desculpa, Alexandra.
- Não se preocupe, beijinhos.

Miguel estava chegar a Sintra! Há três dias atrás, durante a viagem, imaginou que ele estaria à sua espera no hotel com um enorme ramo de rosas pedindo desculpa, depois imaginou que aparecia no quarto, ou que o encontrava esperando por ela numa igreja qualquer. Mas agora que sabia que ele estava a chegar, não estava tão segura se queira as desculpas dele, nem se as aceitaria! Que se tinha passado nesses três dias em que esteve afastada dele?!  Uma voz no seu interior gritou-lhe o nome de Alec. Não! Ele não era o responsável! Ela amava Miguel desde os dezassete anos. Sabia que o amava, apenas estava magoada!  Por isso respondera ao delicioso beijo de Alec! Sim, era isso, estava magoada! Não era um simples beijo que a ia fazer mudar de ideias! "Simples?!" A voz voltou a encher a sua cabeça. Aquele beijo não tinha nada de simples! Deixara-a de rastos, desejando coisas que nunca desejara com os beijos de Miguel! Miguel! Tinha de pensar nele, vinha para se desculpar. Uma conversa sincera de ambas as partes resolveria tudo e depois regressaria a casa com ele. Mas quanta sinceridade podia haver da parte dela se fingia que o beijo de Alec não tinha acontecido?! Não podia pensar nisso! Decididamente tinha de esquecer o beijo de Alec. E aqueles olhos verdes brilhantes, e os braços fortes...

- Chega! - Ordenou-se a si própria- Vais por-te bonita para receberes Miguel.

Regressou ao hotel pensando em vestir algo especial para o receber. Afinal Miguel tinha ido até ali para resolver as coisas. Quando entrou, viu Clara que falava com Alec na recepção. Olharam para ela, por segundos temeu que Alec fosse ao seu encontro, mas ele permaneceu a falar com Clara e ela apressou-se a entrar no elevador. Quando o elevador se fechou lembrou-se que não tinha perguntado a Clara se estava melhor. Tinha sido indelicado da parte dela, teria de corrigir o erro na primeira oportunidade.

Tomou um duche e vestiu um vestido curto, sem ombros em azul marinho. Calçou um sapatos de salto alto e apanhou o cabelo. Colocou um pouco de água de colónia e um pouco de gloss nos lábios. Decidiu ir até ao bar e ler uma revista ou conversar com Clara até que Miguel chegasse.
Quando viu o seu reflexo no espelho do hall da entrada sorriu perante a ironia. Apesar de pensar em agradar a Miguel, tinha vestido um dos vestidos que ele detestava e apanhara o cabelo, coisa que também não lhe agradava. Mas naquele momento isso não a preocupou, ele magoou-a bastante e se pensava que teria o pedido de desculpas facilitado só por ter ido até lá estava enganado! A Alexandra que ele conhecia tinha sofrido algumas modificações. Levantou a cabeça confiante e entrou no bar, notou que algumas cabeças se voltavam para a observar. Sentindo-se bem consigo mesma sentou-se a ler uma revista junto à janela. Dali podia ver Miguel.
Tinha terminado a segunda revista quando conheceu o carro desportivo de Miguel, nunca percebeu porque gostava de se fazer notar, ao contrário dela, que preferia passar despercebida.

Quando levantou a vista o seu coração encolheu-se, Miguel entrava no bar, mas era seguido de Alec.  Miguel, que sempre lhe parecera um homem bonito, naquele instante perdera muito do seu encanto. Sorriu-lhe ao vê-la, mas ela apenas conseguia olhar para os olhos verdes que a fixavam. Forçou-se a afastar a vista quando Miguel lhe colocou a mão no braço.

- Ainda bem que estás aqui.
- Sim?!
- Claro, não sabes como é desagradável perguntar pela nossa noiva a estranhos.
- Noiva?! - Alexandra sentiu-se ligeiramente desapontada quando Alec saiu do bar. - Não tinhas terminado o noivado?!
- Por isso estou aqui. - Miguel olhou-a de cima a baixo - Estás linda.
- Achas?! Pensei que não gostavas do vestido.
- Bem, não é o meu favorito. Mas não vim para falar sobre a tua roupa.
- Suponho que não!
- Não podemos ir para o teu quarto?!
- Há algum problema em falarmos aqui?
- As pessoas podem ouvir.
- As pessoas não têm qualquer interesse na tua vida.
- Nossa. - Miguel segurou-lhe a mão e beijou-lha - Ainda estás magoada.
- Claro! Achas que basta apareceres aqui?!
- Pensei que como me amas podias esquecer.
- Duvido que consiga esquecer as palavras que me disseste! - Alexandra sentiu o seu estômago dar volta - Como foi?! "Deu para passar o tempo"- Ela olhou-o com o olhos húmidos - "O prazer de estar com uma virgem exige certos sacrifícios". Ah, e... " Pena que não mereceu os anos de espera" Queres que siga?!
- Não podes contextualizar a situação.
- Não?! Porquê?! Porque não sei satisfazer um homem na cama?!
- Não sabes como estou arrependido. Depois que partiste percebi o que significas para mim. - Miguel segurou-lhe o rosto e olhou-a nos olhos - Que queres que te diga ou faça?! Diz que eu faço!
- Fazes?!

Alexandra sentiu a respiração dele perto da sua boca, e depois a boca dele tocar a sua, os lábios a moverem-se sobre os seus...  Mas não sentia o formigueiro que sentira nessa manhã nos braços de Alec. Nem o desejo de o abraçar... Porque não sentia o que sentira quando Alec a beijara?! Porque pensava em Alec?! Afastou-se dele e olhou em redor, apenas uma ou duas pessoas estavam no bar e pareciam alheias ao beijo.

- Que se passa?! -Miguel olhou para ela enquanto ela se levantava.
- Não sei se consigo perdoar-te.
- Isso quer dizer que tenho de pedir um quarto para mim?!
- Não acredito! - Alexandra agarrou os óculos de sol - Se ficares no hotel acho bom que peças!

Alexandra deixou o hotel e dirigiu-se ao jardim. Sentia-se uma estranha aprisionada no próprio corpo, tinha a plena certeza que amava Miguel, como era possível ter falado com ele daquela maneira?! E porque o beijo de Alec lhe despertou duvidas sobre o que sentia?! Porque comparou o beijo de Miguel com o de Alec?! Até ali nunca o fizera!
Talvez porque até aquele dia não podia fazer comparação, pois não teve outro namorado além de Miguel. Mas para quê comparar?! Os homens não eram todos iguais?! Pelo menos assim lho dizia a madrinha vezes sem fim! Mas talvez a madrinha não tivesse sido beijada por um Alec!

Segundo a madrinha, ela apenas precisava de um homem que lhe proporciona-se o conforto de um lar e filhos, partindo do principio que Deus lhos concede-se, aí podia dizer que tinha um bom casamento. Alguns homens conseguem ser fiéis, mas a maioria não. "Está-lhes no sangue!" Dissera a madrinha muito séria! E se isso acontecesse ela teria de fingir que não sabia, pois o marido podia sentir-se pressionado e mesmo amando-a escolheria a amante por esta ser mais nova! Achou aquilo um exagero, pois a mãe amou o seu pai até que morreu e não acreditava que a mãe fosse amar o pai se este lhe fosse infiel! Na altura pensou que a madrinha devia de ser daquelas mulheres sozinhas, muito amarguradas, mas quando conversou com a empregada da casa, confirmou que não era um exagero, afinal a pobre tinha sido substituída pela amante do marido. Talvez a sua mãe tivesse sorte e tivesse conhecido um dos poucos homens que era fiel! A partir daí começou a dar mais valor a Miguel, ele tratava-a bem e não a pressionava para terem relações, como alguns namorados das suas colegas de trabalho. Miguel oferecia-lhe flores e levava-a a jantar fora nas datas importantes.

No último Natal, durante o jantar em casa dela, a madrinha tinha-lhe dito que ela tinha feito uma boa escolha, Miguel era filho de boas famílias e seria um bom pai. Tudo levava a crer que Miguel seria como o seu pai, um homem fiel!
Mas na passagem de ano aconteceu, ele bebera um pouco e ela deixou que dormisse no apartamento dela, mas no sofá. A meio da noite entrou no seu quarto e ao inicio tentou afastá-lo mas depois acabou por ceder, afinal iam casar no verão. Casamento que ele desfez depois de, entre as gargalhadas dos homens da empresa, contar que ela não era a mulher que ele imaginava, que não o satisfazia sexualmente e que aquilo que lhe interessava nela, ele já tinha!
Envergonhou-se imenso e regressou ao Alentejo onde chorou sobre a campa da mãe, pedindo desculpas por faltar ao que lhe prometera, por ir contra o que ela lhe tinha ensinado. No seu coração sabia que a desiludira como filha! Regressou a Lisboa e retomou o trabalho, mas podia ouvir as colegas murmurando nas suas costas. Não conseguia dormir nem trabalhar em condições, por isso pediu aquelas férias a António. Tinha que decidir o que fazer da sua vida, se regressava ao Alentejo e recomeçava uma vida que desconhecia por completo, ou se retomava a sua vida onde a tinha deixado.

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