Nicholas andava de um lado para o outro, sentando-se apenas entre um telefonema e outro. Nesses pequenos intervalos sentava-se junto a ela acariciando a cabeça dela ou simplesmente abraçando-a, enquanto ela permanecia encolhida no canto do sofá, de onde saía apenas quando ele atendia o telemóvel e para onde regressava ao perceber que não havia novidades.
Ao inicio da noite o telemovel de Nicholas tocou mais uma vez. Cansada de tanta chamada sem qualquer novidade, Alisia não se mexeu. Deixou-se ficar com a cabeça recostada na almofada olhando como ele andava nervoso pela sala. Por uns instantes ficou sem perceber as várias emoções que passaram pelo olhar dele. O seu coração ficou minúsculo quando viu umas lágrimas brilharem nos olhos cansados dele! Por uns segundos sentiu o seu mundo ruir, algo tinha acontecido!
- Vamos imediatamente.
Quando ele desligou o telemóvel, Alisia olhou para ele com os olhos cheios de lágrimas temendo perguntar onde iam.
- Priscilla?!
- Está em minha casa. - Nicholas abraçou-a ao ver as lágrimas dela - Chegou no barco da tarde e pediu a um táxi para a levar até lá. Zoe só percebeu à pouco que não sabias onde ela estava.
- Graças a Deus!
Alisia estava tão feliz que o beijou. Quando sentiu os braços dele ao redor da sua cintura, tentou afastar-se dele, mas ele não o permitiu, apertou-a com mais força, fazendo questão de a manter junto a ele.
- Vou pedir que preparem o avião para que vejas a tua filha ainda esta noite. - Nicholas limpou-lhe uma lágrima - Espero que depois desta confusão possamos conversar.
- Conversar?!
- Mas depois de veres Priscilla. Apenas quero cinco minutos.
- Cinco minutos?!
- Nada mais que isso.
Meia hora depois Alisia estava a bordo do avião privado de Nicholas e a caminho da ilha. Mais um pouco e podia estar com a sua filha. Apesar de suspeitar do motivo que a levou a ir até à ilha sozinha, não se sentia capaz de a repreender! Mas tinha de falar com ela. Era apenas uma criança, mas tinha de perceber que a preocupou e que incomodou imensas pessoas! Pessoas que ela nem conhecia! Pensar na quantidade de pessoas que Nicholas incomodou por ela, levou-a a olhar para ele, continuava a mexer no computador. Ele deixara a sua vida para estar ali a seu lado e ela nem lhe tinha agradecido!
- Obrigada. - Alisia fixou o olhar no chão.
- Não tens porque agradecer.
- Deixas-te as tuas obrigações.
- Adoro Priscilla. Faria tudo ao meu alcance para a encontrar.
- Eu sei.
Nicholas olhou para ela e depois voltou a concentrar a sua atenção no computador. Apesar da calma aparente, Alisia sabia que ele estava tudo menos calmo. A veia no seu pescoço pulsava ainda mais que quando Zoe telefonou. Alisia fixou o maxilar dele. Estava tenso, a força que ele fazia por se controlar era palpável. Os olhares encontraram-se e ele fechou os olhos momentaneamente, antes de voltar a fixar o olhar dela.
- Porque pensaste que tinha Priscilla?
- Não estava assim tão errada. - Alisia manteve o olhar dele.
- Isso não responde ao que perguntei. - Nicholas colocou o computador de lado - Talvez te seja mais fácil explicares porque apresentas-te queixa de mim a Joe.
- Joe?! - Alisia sentiu-se morrer por dentro. Esquecera aquele assunto! - Pensei que...- Pensaste que não chegaria a saber o que pensas a meu respeito?!
- Não era para saberes! - Alisia enfrentou-o, não tinha feito nada de mal - E eu apenas fiz o que achei correto.
- E não pensaste que o mais correto passava por falares comigo?! Foi mais fácil tirares conclusões.
- Não tirei...
Alisia calou-se quando ouviu uma voz anunciar que estavam a chegar ao destino.
- Falamos em casa.
- Não vejo motivo para tal!
- Pois eu acho que me deves isso!
Nicholas voltou a concentrar-se no computador dando o assunto por terminado. Alisia olhou para ele enquanto ele guardava o computador. Ele tinha razão, devia-lhe muito. E ouvir o que ele tinha a dizer era um preço muito pequeno comparado com o que ele tinha feito por ela! Mas não ia esconder que sabia a forma como ele ganhava a vida! Nem que vira Sarah!
- Não temos muito a falar. - Alisia olhou-o nos olhos - Mas se quiseres falar, falaremos!
- Não temos?!
- Não! Afinal sei o que fazes. Eu vi as raparigas, assim como ouvi algumas conversas. - Alisia desviou a vista sentindo-se incomodada com o olhar frio dele - Não me interessa o que fazes...
- Que pensas tu que eu faço?!
- Tu obrigas... Bem... tu tens... - Alisia não encontrava as palavras adequadas - Tens uma casa de meninas!
- Tenho uma casa "para" meninas não "de" meninas! Como pudeste pensar uma coisa dessas?!
- Como pude?! - Alisia estava irritada com a falta de ética dele - Pergunta antes, como podes tu negar isso! Eu vi aquela mulher que te levou a julgamento. Sarah!
- Que me levou?! Meu Deus!!!
Nicholas tirou o cinto quando o avião parou e saiu do avião antes dela. Quando ela se juntou a ele, Nicholas falava ao telemóvel e estava visivelmente irritado. Depois olhou para ela e passou-lho.
- Sim?!
- Olá Alisia.
Ao ouvir a voz da outra mulher o seu coração deu um salto!
- Olá Zoe. Está tudo bem?!
- Sim, apenas queria dizer que Priscilla adormeceu aqui em casa. Como disse a Nicholas, se preferir podem vir para a levar, mas ela está a dormir tão bem que tenho pena de a acordar. Mas se quiser eu...
- Não. Deixe-a dormir, passo aí na sua casa.
- Claro.
Quando deu o telemóvel a Nicholas este evitou o olhar dela e entrou no carro depois de lhe abrir a porta mas sem esperar que ela entrasse.
O silêncio dentro do carro era constrangedor, ele conduzia com alguma agressividade o que a levou a sentir um certo temor. Poucos minutos depois Nicholas parava junto a uma herdade enorme.
Olhou a construção, era bem maior que a dele. Devido à pouca luminosidade, pouco conseguia ver do entorno da casa. A casa em si era de pedra castanha e com algumas trepadeiras junto ás janelas. Percorreu o prédio com o olhar, apenas duas luzes estavam acesas. Quando bateu a porta do carro, a porta de casa abriu-se e Zoe veio ao encontro dela.
- Espero que tenha feito boa viagem.
- Sim, obrigada. Priscilla?!
- Entre. Ela adormeceu mal acabou de falar com Less. Estava muito cansada e assustada!
- Assustada?!
- Acho que são efeitos de ter feito uma viagem destas sozinha.
Zoe abriu uma porta, duas camas ocupavam o espaço. Numa delas a sua filha dormia tranquilamente. Ao ver a filha não conteve as lágrimas. Ajoelhou-se junto à cama e acariciou o cabelo da filha ao mesmo tempo que lhe dava pequenos beijos. A pequena mexeu-se e abriu um olho sonolenta.
- Mãe?!
- Sim, amor.
- Desculpa!
- Não te preocupes. - Alisia beijou a filha - Volta a dormir.
- Adoro-te.
- Eu também.
Alisia ficou até que a respiração de Priscilla se tornou calma e regular. Quando saíram do quarto Zoe olhou para ela e sorriu.
- Nicholas está à sua espera, mas se preferir ficar cá...
- Obrigada. Preferia ficar sim.
- Vou preparar uma cama e avisar Nicholas.
- Não se incomode, eu fico no quarto com Priscilla.
Zoe olhou para ela e depois saiu, segundos depois ouviu-se o barulho do carro a deixar a propriedade.
Alisia notou que algo incomodava Zoe, mas não perguntou o motivo. As discussões dela com Nicholas não lhe diziam respeito.
Quando Zoe a deixou sozinha pensou em Nicholas, a julgar pala cara de Zoe, ele não gostara da ideia de ela ter ficado ali. Mas tinha de compreender! Não ia deixar a sua filha. Não depois de tanto sofrimento, precisava de estar com ela! Mas isso era um sentimento que ele desconhecia. Antes de adormecer decidiu que depois de ouvir o que ele tinha a dizer, iria agradecer-lhe por tudo e depois, juntamente com a sua filha, deixariam a ilha. E elas, assim como ele, podiam regressar à vida que tinham anteriormente.
Mas o sol ainda não tinha nascido quando sentiu uma mão no seu ombro. Zoe olhava para ela. Olhou a cama da filha. Respirou aliviada ao ver que esta ainda dormia.
- Desculpe... - Zoe sussurrava - Nicholas quer falar consigo.
- Mas...
- Está na sala.
- Não vou deixar a minha filha!
- Pode ir descansada, eu cuido dela. Less não demora a chegar para irmos até à praia. Pode juntar-se a nós mais tarde.
Ficou indecisa a olhar Zoe, não queria deixar a sua filha mas também não queria duvidar de Zoe. Recordou que da sacada da mansão podia ver o extenso areal. Com isso em mente juntou-se a Nicholas. O olhar dele, assim como a roupa do dia anterior, indicava-lhe que ele não tinha dormido.
- Desculpa se te acordei. Como está Priscilla?!
- Bem, ainda dorme.
- Fico feliz em ouvir isso. Vamos?!
- Para tua casa!?
- Claro! - Nicholas olhou a sala onde o sol começava a entrar - Mais uma hora e não consegues dizer duas palavras seguidas aqui. E prefiro estar em casa onde sei que não nos vão interromper.
Nicholas saiu e ela seguiu-o até ao carro, quando ele arrancou começou a pensar que ir com ele não mudava as coisas que ela vira e ouvira. Nada do que ele dissesse alterava isso! Ela preferia deixar as coisas como estavam, quanto menos soubesse melhor. Ela não estava preparada para o ouvir falar de coisas que tanto a magoavam!
- Sei que te prometi que falávamos, mas...
- Prometeste e vais cumprir o prometido!
Nicholas aumentou a velocidade e ela teve de se segurar. Olhou para ele e notou que as mãos apertavam o volante com demasiada força. Ele estava furioso, precisava de descarregar em algum lado! Recordou a noite em que ele andou à pancada com outro!
- Nunca julguei os demais, e não quero começar contigo! O que fazes não me diz...
- Não vou permitir que deixes a ilha a pensar essas coisas de mim! Podem pensar o que quiserem! Todos menos tu!
Alisia olhou para ele sem saber como interpretar o estado de ânimo dele. Quando Nicholas parou o carro junto à entrada da mansão ficou uns instantes a olhar o vazio. Por algum motivo, para ele, era importante o que ela pensava dele. O semblante carregado dele, fixando o olhar num ponto indefinido levou-a a sentir pena dele.
- Porque é tão importante o que penso?! - Alisia colocou a mão no braço dele - Nicholas, diz-me?!
- Porque te amo! - Nicholas manteve o olhar fixo no volante - E não consigo suportar a ideia que me julgues capaz dessas atrocidades!
Alisia sentiu o ar do carro ficar pesado. Abriu a porta e encostou-se ao carro sentindo o coração saltar do peito. Recordou a sua mãe, ela dizia que até as pessoas de moral duvidosa sentem amor! Até sabia alguns nomes de pessoas que fizeram coisas horrorosas, mas que tiveram a seu lado mulheres que tratavam como deusas e as quais os amaram. Ele amava-a! E dizia que o magoava saber a opinião que tinha dele! Porque se sentia magoado!? Porque a amava ou porque se sentia acusado injustamente?! Talvez ela tivesse percebido mal a situação! Talvez as coisas não fossem como ela imaginava! Deveria dar-lhe o benefício da dúvida?! Deveria dizer-lhe que o amava?! Pensava nisso quando ele se colocou à sua frente e a levou a olhá-lo nos olhos.
- Quando Joe me ligou não queria acreditar que aquela era a tua opinião sobre mim! Queria falar contigo, explicar-te... - Nicholas respirou fundo - Joe disse que era melhor esperar. Tinha de me concentrar no julgamento.
- Julgamento que perdeste.
- Não! Não percebes?!
- Sinceramente não.
Nicholas afastou-se dela um pouco enquanto passava a mão pelo cabelo nervosamente. Depois voltou-se encarando-a.
- Apenas te peço que me ouças. Neste momento, mesmo correndo o risco de que me aches egoísta, essa é a minha única preocupação. Que aceites ouvir o que tenho a dizer e que me deixes tentar mudar a tua opinião sobre mim. Depois podes pedir-me que me afaste, que te leve ao aeroporto, ao porto... onde quiseres e o que quiseres.
Alisia olhou para os olhos tristes dele, sentiu o coração despedaçar-se ao ver a dor no olhar dele! Não podia negar que o amava! No fundo queria encontrar algo que lhe provasse que estava enganada a respeito dele! Que ele não era o monstro que ela imaginava. Alimentando essa pequena esperança seguiu-o até casa.
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