segunda-feira, 19 de junho de 2017

ESPERANDO UM SINAL 11ª PARTE




Nicholas tirou o casaco enquanto lhe indicava o sofá, mas ela ignorou o gesto dele e sentou-se num cadeirão junto à janela. Ali podia ver o mar e Priscilla quando esta fosse à praia.

- Queres café!?
- Não, obrigada.

Nicholas sentou-se no sofá em frente a ela e por uns minutos ficou em silêncio, como se estivesse a ordenar os seus pensamentos. Depois levantou a vista e fixou um ponto na parede.

- Quando decidi acolher aquelas mulheres, não pensei na opinião dos demais. Não me preocupei com isso na altura, nem quando Joe me propôs usar a casa para abrigar mulheres que estavam a braços com processos judiciais e precisavam de um sítio seguro. A minha única preocupação desde o inicio é ajudá-las! Sempre fiz o que achei mais correto, visando apenas o bem estar daquelas que frequentam a associação.
- Associação?!

Nicholas levantou-se e foi até ela mas não lhe tocou, apenas ficou a seu lado olhando o mar ao fundo com as mãos nos bolsos.

- Durante muitos anos a minha tia sofreu toda a espécie de maus tratos físicos e psicológicos. Cresci a ver como ela mentia a todos para desculpar o meu tio, como escondia as marcas desses abusos. Os abusos não a magoavam apenas a ela, a minha mãe também sofria com isso, e arrastava o meu pai nessa dor e quando comecei a perceber as coisas também eu fui incluído no doloroso pacote. No dia que a minha tia deu entrada no hospital com as costelas fracturadas e cheia de hematomas, jurei que iria fazer de tudo para ajudar outras mulheres que passavam pelo mesmo.

Alisia ouvia-o atentamente, enquanto as lágrimas corriam silenciosas pelo rosto ao ouvir o relato de todas as atrocidades que a tia foi vítima. Embora tivesse conhecimento disso, ela não conhecia pessoalmente nenhum desses casos. Apenas podia imaginar a dor que ele sentia ao recordar aquilo.

- Quando comprei esta propriedade, a casa onde dormiste estava em ruínas. Achei que era o sítio ideal. É isolado o suficiente para que se sintam seguras. Neste momento temos onze raparigas e oito mulheres adultas. Zoe foi uma das primeiras mulheres que ajudei. A maioria delas refaz a sua vida longe daqui, mas ela foi ficando, à alguns anos ofereci-lhe trabalho e hoje é ela que dá a cara pela associação. - Nicholas sorriu ligeiramente - Percebi que embora falem comigo, existem certos assuntos que preferem falar com uma mulher.
- As mulheres que vi...

Alisia teve dificuldade em falar por causa das lágrimas e Nicholas ajoelhou-se junto a ela segurando as suas mãos.

- Não chores! - Nicholas segurou-lhe as mãos - Todas elas estão aqui para fugir de alguém que as maltrata, um namorado, marido, até um pai!
- Desculpa! - Alisia olhava para ele por entre as lágrimas - Nunca imaginei que... Quando ouvi as conversas delas pensei que tu...

Alisia não conseguiu continuar.

- O que ouviste?
- Uma das raparigas estava a dizer a Zoe que não suportava quando ele lhe... Ela calou-se quando entrei e não ouvi o resto.  Esqueci o assunto por um tempo mas depois, quando te vi com Sarah lembrei-me da conversa e completei-a como me pareceu melhor.
- Neste caso, como te pareceu pior! - Nicholas olhou para ela tristemente - Essa rapariga é Ann, o marido além de a maltratar ainda a força a estar com ele!
- Ele pode fazer isso !?
- Legalmente não. Mas quem o impede!? E como provar isso?! - Nicholas sentou-se - Recordas quando fomos beber café na esplanada?
- Quando andaste à pancada...
- Sim. A rapariga que viste também está na associação e é amiga de Ann. Quando percebi que o homem que a seguia era o marido de Ann sabia o que ia acontecer. Ele não iria olhar a meios para saber as rotinas de Ann.

Alisia encolheu-se ao perceber o que implicavam as palavras dele.

- Ele não sabe onde ela está !?
- Claro que sim, mas como todos os cobardes prefere manter-se à distância e aproveitar quando ela sair para passear. Por isso insisto em que não saíam sozinhas. Podem acabar como Sarah.
- Sarah não está na associação!?
- Não, ela preferiu ficar no hotel. Achei que não haveria problema, devia de ter insistido. Mas apenas pensava em regressar para estar contigo. Quando saí nessa noite estava convencido que te importavas comigo, pelo menos assim pensei! E enquanto conduzia até cá decidi dizer-te o que faço quando não estou em algum hotel. Mas quando cheguei tu gritaste pensei que tinha acontecido algo. E quando te quis tocar fugiste.- O olhar dele escureceu - Nessa altura lembrei-me da conversa de Pete. Tu tens pena de todo o mundo! E eu não era excepção. Embora consentisses que te beijasse, estavas diferente e querias regressar.
- Pensei que tinhas...
- Eu sei o que pensaste. Ouvir Joe dizer o que pensavas de mim foi um dos momentos mais dolorosos da minha vida! Queria encontrar-te e dizer-te o que se passava mas Joe não o aconselhou. E como ele é mais experiente que eu nestes casos, acatei a decisão dele! Pensei que tinha tempo depois.
- Porque Joe não queria que falasses comigo?!
- Porque não era a primeira vez que o marido de Sarah ia a julgamento. Ela está casada à dois anos e quando ele a agrediu a primeira vez, ela estava num resort. O empregado do bar assistiu à discussão e à agressão. Ofereceu-se para ser testemunha, mas no julgamento arrasaram a reputação dele. Tudo porque o viram "segurar" a namorada com demasiada violência contra uma parede.
- Nesse caso ele também devia de ser acusado!
- Devia... se a namorada não gostasse de um certo grau de violência na relação!
-Oh!!! Estou a ver...
- Mas a defesa não o deixou explicar e o marido de Sarah saiu vitorioso do tribunal. Não podíamos correr o mesmo risco outra vez! Sarah pediu providência cautelar mas mesmo assim ele encontrou-a aqui e agrediu-a no meu hotel. Quando me telefonaram, senti-me tão culpado! Sarah estava no hospital com um braço fracturado e um corte profundo na cabeça. Não consegui evitar o pior, apenas restava minorar os danos. Fui ter com ela ao hospital e depois trouxe-a para aqui.
- Na noite que a vi contigo.
- Sim, aqui estava segura.
- Ainda não entendi porque não podias falar comigo!
- Porque se a defesa descobrisse o que pensavas que eu fazia, iriam usar-te como testemunha eu seria desacreditado e Sarah não teria hipóteses!
- Meu Deus!!! - Alisia encolheu-se ao perceber a situação.
- Felizmente conseguimos vencer. Não da forma que queríamos, mas conseguimos manter Sarah a salvo. No dia do julgamento nem a acompanhei a casa, apenas pensava em falar com Joe para que me desse a tua morada.
- Eu vi-te  sair do tribunal. - Alisia baixou a vista - Devia de ter percebido algo, tu não te mostravas envergonhado apenas muito abatido.
- Porque não sabia de ti! Precisava de esclarecer a situação, não podia permitir que continuasses com essa opinião sobre mim. Mas quando te vi, Priscilla tinha desaparecido e tu estavas tão frágil... Mais uma vez tive de adiar o que te queria dizer.
- Todo este tempo sabias o que pensava de ti e permaneceste a meu lado, cobrando favores para encontrares Priscilla!
- Não ia perder-te outra vez! Sei que ainda amas o teu marido, compreendo que...
- Não amo Mat! - Alisia olhou para ele - Nunca amei.
- Como não?! Então porque te casaste?! - Nicholas franziu o sobrolho.
- Porque tinha Priscilla!
- A filha que Deus te deu!
- Sim.

Nicholas abraçou-a quando as lágrimas recomeçaram. Segurou o rosto dela entre as mãos e beijou-lhe os lábios brevemente.

- Acreditas no que te disse?!
- Sim.
- Nesse caso. - Nicholas mantinha o olhar fixo no dela - Como o assunto está esclarecido e tendo em conta que não amas o teu marido, posso ter esperança de te conquistar?
- Como pensas conquistar uma coisa que é tua?!

Nicholas sorriu para ela antes de lhe soltar o rosto para a segurar pela cintura. Alisia rodeou-lhe o pescoço com um braço enquanto apoiava uma mão no peito dele sentindo o coração dele bater. Os bater do coração dela juntou-se ao dele no instante que os lábios se tocaram. Pouco depois ela estremecia nos braços dele perante o contacto das mãos dele, que procuraram as suas costas nuas. Alisia estava rendida a ele quando se ouviu uma voz.

- Mãe!!! Onde está King?!
- Bom dia para ti também! - Alisia olhou para o rosto afogueado da filha - Não achas que tens mais problemas que King?!
- Ups!!!
- É só isso que tens a dizer?! Ups?!
- Pensei no que fiz e sei que vou ficar de castigo para todo o sempre.
- Acho bem que penses assim!
- Mas podias aliviar um pouco, eu só queria...
- Tu querias vir e vieste! Sabes a quantidade de pessoas que incomodas-te com esta brincadeira de mau gosto?!
- Eu só queria falar com Nicholas...
- Sei que gostas de Nicholas, mas isso não é motivo. E não podes fazer o que queres só porque sim!
- E tu não podes fingir que não gostas dele só porque sim! - Priscilla olhou para ela com os olhos cheios de lágrimas.
- Touché! - Nicholas murmurou e Priscilla olhou para ele.
- Gostando ou não, isso não é motivo para saíres de casa sem avisar. Estava muito preocupada! Percorremos a cidade, fomos à escola, ao centro comercial...
- Isso tudo fica na cidade! - Nicholas sussurrou ao ouvido dela.
- De que lado estás?! - Alisia olhou para ele enervada.
- Não é uma questão de lado. - Nicholas sussurrou e depois falou de maneira que Priscilla pudesse ouvir - Ela está bem. E isso é que importa.
- É o mais importante, mas não é só isso que importa! - Alisia olhou para a filha - Não podes resolver as coisas assim. Tens de pensar nas outras pessoas!
- Foi a pensar em ti que o fiz! E não me arrependo. Até voltava a fazer o mesmo!
- Acho que não precisas. - Nicholas acariciou a cabeça dela. - E que querias dizer-me?!

Priscilla olhou a mãe que ainda não se tinha acalmado. Mas depois olhou para ele determinada.

- Que a minha mãe gosta de ti! Mas não gosta que andes rodeado de outras mulheres.
- Priscilla!!! - Alisia repreendeu-a envergonhada.
- Deixa-a continuar.
- Nem penses!
- Porque não?! - Nicholas voltou-se para ela - Acho que não é justo ser o único a sofrer!
- Como se fosses...

 Nicholas agarrou Alisia pela cintura e puxou-a para junto dele perante o olhar atento de Priscilla.

- Não... - Alisia tentava fugir dele. - A minha...
- Achas que posso beijar a tua mãe?!

 Priscilla olhou para eles e sorriu ao perceber  o que se estava a passar.

- Isso quer dizer que...
- Quer dizer que se a tua mãe aceitar casar comigo, tens de ir buscar King.
- Então podes beijar sim! Eu deixo!

Priscilla saiu a correr para a praia chamando por Less. Nicholas olhou para ela sorrindo.

- Vês?! Ela deixa.

Nicholas tentou beijá-la mas ela colocou uma mão nos lábios dele.

- Casar?!
- Agora que não temos segredos entre nós... Se me amas e eu te amo, porque não?!

Alisia olhou-o com os olhos tristes, ele dizia que não tinham mais segredos. Mas no mínimo, ela ainda tinha os dela. Não eram tão confusos como os dele, mas queria que ele soubesse os motivos porque casara com Mat.

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