quarta-feira, 14 de junho de 2017

ESPERANDO UM SINAL 8ª PARTE



Era a segunda noite que Alisia não conseguia dormir decentemente. Se adormecia, por minutos que fosse, sonhava com Nicholas, com os seus beijos e com as suas mãos percorrendo o corpo dela. Acordava agitada e mantinha-se acordada por longas horas. Ao contrário do sono que desaparecia, a imagem de Nicholas estava bem presente na sua mente e, por muito que tentasse, não conseguia deixar de pensar nele.
Aquela angústia acompanhava-a desde que fizera queixa dele. Encontrava algum consolo em saber que tinha feito o correcto! Mas se assim era, porque sentia a alma sangrar ao pensar nele?! Porque sentia aquele vazio no seu coração e uma vontade louca de chorar?!

Saiu da cama sem encontrar respostas e retomou a actividade que tinha deixado na noite anterior. Encaixotar as suas coisas! Mais uns dias e estavam na casa nova.
Ao guardar os livros de Priscilla algumas fotos espalharam-se no chão, quando as apanhou não conseguiu conter as lágrimas. Eram as fotos que Nicholas tinha tirado a Priscilla e Less no jardim. Pensava que eram todas das raparigas, mas uma era deles, sentados num banco. Recordava bem esse dia, a forma como a olhava, até conseguia sentir a respiração dele no seu rosto... Com as mãos trémulas agarrou a fotografia e sentou-se no sofá acariciando o rosto dele, como se assim lhe conseguisse tocar. As lágrimas não a deixavam ver a imagem nitidamente mas isso era indiferente, ela tinha a certeza que nunca iria esquecer nenhum traço do rosto dele.

- Tens saudades dele?!

Alisia limpou as lágrimas ao ouvir a voz da filha, mas pela forma que ela a olhava sabia que não ia conseguir esconder a verdade.

- Sim.
- Eu também. - Priscilla sentou-se ao lado dela no sofá - Dói muito amar?

Alisia ficou a olhá-la por uns instantes sem saber que responder. Amava-o! Aquela dor perante a situação que o envolvia, o vazio que se tornara a sua vida, os sonhos e as saudades... Como era possível que a sua filha tivesse percebido o que ela sentia antes dela?! Ou sabia e não queria assumir?!

- Um pouco. - Acabou por admitir. - Mas vai passar.
- Por isso tivemos de regressar? Porque gostas dele?
- Sim.
- Achas que ele é como Mat?!
- Não sei filha... não sei.
- Eu gosto dele. E acho que ele é...
- Eu sei, um príncipe! - Alisia deu um beijo no rosto da filha e levantou-se - Mas chega de conversa mole, vamos arrumar estas coisas ou não nos mudamos nunca.
- Pensei que íamos ficar até ao verão.
- A casa nova está pronta, não vejo porque esperar. Ou gostas mais das vizinhas do que aquilo que admites?!
- Tchi... até parece!


As duas riram e quando terminou o dia as coisas de Priscilla estavam todas empacotadas.

Durante duas semanas Alisia ocupava o tempo livre a arrumar as coisas na casa nova, o que mentalmente lhe fazia bem. Assim evitava pensar em Nicholas e no facto de se odiar por não deixar de o amar apesar de saber as coisas horrorosas que ele fazia! Na rádio deram início ao espaço noticioso, sentou-se a ouvir com atenção. Ouvir as noticias era um hábito que tinha adquirido, precisava saber se tinham resgatado a mulher que ela vira! A mulher que, juntamente com outras, Nicholas tinha em sua casa. Sentiu as lágrimas eminentes ao pensar nele, como podia amar alguém assim?! Tentando afastar aqueles pensamentos foi até ao jardim da frente onde a filha plantava uma roseira com a ajuda de Linos.
 No primeiro dia, na nova casa, achou que a filha teria alguma dificuldade em adaptar-se, mas ela tinha feito amigos na vizinhança com grande facilidade e estes ajudavam-na a fazer um jardim só dela.

- Mãe gostas?

Priscilla mostrava orgulhosa as suas flores enquanto Linos a acompanhava sorrindo.

- Está muito bonito.
- O pai de Linos deu essas aí, mas só dão flor no fim do verão.

Por alguns momentos ficou ouvindo a descrição das várias flores que compunham o pequeno jardim. Embora a sua mente divaga-se quando uma ou outra flor lhe recordava as que vira na ilha.

Na manhã seguinte Alisia acordou cedo e preparou a mochila de Priscilla. Como estavam a meio do ano lectivo decidiu que era melhor Priscilla terminar o ano e só depois mudar de escola. Durante esse tempo tinha de a levar e apanhar, era um pouco cansativo mas aproveitava para rever as vizinhas e fazer algumas entregas.

- Mãe?!
- Sim.
- Porque não vamos visitar Nicholas durante...
- Não!
- Mas tu...
- Esquece Nicholas! Ouviste?! Esquece!
- Sim mãe.

Alisia desviou o olhar do trânsito para olhar a filha, estava com a cabeça baixa, conhecia a filha demasiado bem para saber que estava magoada. Sentiu-se mal por falar com ela assim. Priscilla não tinha culpa de ela ser idiota e se apaixonar por um homem sem escrúpulos!

- Desculpa, não te queria gritar. Mas é melhor esquecermos Nicholas!
- Está bem.

Priscilla meteu os auscultadores e fez o resto do caminho em silêncio. Quando saiu do carro junto ao portão da escola, retirou um fone e deu-lhe um beijo com um sorriso forçado.

- E tu consegues?!
- O quê?! - Alisia olhou para a filha sem entender.
- Esquecer Nicholas.

Alisia abriu a boca mas voltou a fechá-la. Ali estava uma pergunta para a qual ela não tinha resposta.

- Ora aí está! - Priscilla recolocou o fone e entrou na escola sorrindo.

Apesar da sua pouca idade Priscilla era muito perspicaz. E começava a ficar mestra em fazer aquele tipo de perguntas e desaparecer por entre os colegas!


- Sim, já tomei nota. - Alisia mantinha o telemóvel encostado ao seu ombro tentando anotar a encomenda - É para este fim de semana.
- Pode vir entregar?
- Sim, posso.
- Então conto consigo no Sábado bem cedo.
- Até lá então.

Era a segunda encomenda para uma festa, os seus bolos e pasteis eram cada vez mais procurados. Se continuasse assim teria de arranjar alguém que a ajudasse. Priscilla apenas podia ajudar durante as férias e ainda faltavam umas semanas!

- ... Até à data as autoridades continuam sem novos desenvolvimentos.

Alisia olhou o ecrã. Ali estava novamente a fotografia da mulher que ela vira! Mas porque não tinham ido lá?! Muito bem que precisassem de tempo, para se organizarem, fazer planos ou o que quer que fizessem nestes casos! Mas já tinham passado demasiados dias! Não conseguia esquecer o que estavam a sofrer aquelas raparigas!
Num ataque súbito de frustração agarrou o telemóvel e ligou para o inspector.

- Boa tarde inspector.
- Menina Snow?!
- Sim.
- Algum problema?!
- Queria saber se já ...
- Menina Snow...
- Alisia, por favor. Trate-me por Alisia.
- Muito bem Alisia. Precisamos de tempo, posso assegurar-lhe que estamos a fazer os possíveis...
- Os possíveis?! - Alisia sentia-se tão inútil como Mat dizia que era - Já passaram...
- Alisia! - O inspector interrompeu-a com a voz um pouco elevada - Agradecemos a sua ajuda e compreendo que lhe pareça que nada fazemos, mas aconselho-a vivamente a manter-se afastada do assunto.
- Que quer dizer com isso?!
- Nada de mais. Apenas volto a pedir-lhe que não comente com ninguém o que viu. Assim que souber algo, será a primeira a saber. Boa tarde Alisia.

O inspector desligou deixando-a a pensar em toda aquela situação. Talvez se tivesse precipitado ao telefonar, que sabia ela de raptos e outros assuntos policiais?! Nada! Era melhor fazer o que o inspector lhe dizia, aguardar por notícias e manter-se afastada enquanto esperava.


- Mãe, logo posso vir para casa com Linus?!
- De onde?!
- Da festa! Não fizeste o bolo?!
- O bolo?! - Alisia sentiu o coração bater descontrolado.
- O bolo da festa, prometeste que fazias!!!
- Esqueci-me completamente! - Alisia sorriu ao ver o olhar desesperado da filha - Mas tenho tempo de o fazer.  Não te preocupes, logo à hora da festa terás o teu bolo. Mas explica-me o que vai Linus a fazer à tua festa!
- A professora disse que podia levar um amigo, como Linus não tem aulas eu convidei-o.
- Hum... Sei...
- Sabes?! - Priscilla olhou para ela e depois ficou muito vermelha - Só porque estás apaixonada eu também tenho de estar?!
- A minha menina é uma mulher!
- Oh mãe...
- Pronto... não digo nada mais!
- O bolo, não te esqueças. E posso?!
- Se ele vai, não vejo porque não.
- Obrigada mãe! Mas não te esqueças que tenho de ter o bolo antes das seis da tarde no salão!
- Será entregue à hora pretendida!
- Agradeço.

Nessa noite Alisia jantou sozinha e viu as notícias atenciosamente, mas nada de novo! Desligou a televisão desiludida! Apesar de cansada, começou a fazer os pastéis para a festa do fim de semana. Afinal não conseguia dormir sem que a filha estivesse em casa, assim sempre fazia algo útil!
Era quase meia noite quando as luzes de um carro iluminaram a sala e depois um outro carro passou. Segundos depois Priscilla entrou em casa sorrindo.

- Estava tudo tão bonito!
- Ainda bem que te divertiste.
- A professora agradece o bolo. Se tivesses visto a cara dela quando lhe entregámos o bolo.
- Era pequeno?!
- Ela esperava um mais pequeno. Tivemos de arranjar uma mesa só para o colocar. Por pouco não tínhamos espaço para dançar.
- E dançaram muito?!
- Linus dança divinamente... É como se flutuasse...
- Flutuar...
- Já não te digo mais nada!
- Porquê?!
- Estás com essa cara! Vais rir de tudo o que disser! Até do carro que nos seguiu!
- Que carro?!
- Um preto que se colou ao carro do pai de Linus.
- Não estarás a exagerar?!
- Linus é que disse! O carro veio atrás de nós desde a escola.
- Ora aí está! Possivelmente alguém que mora aqui perto!
- Apenas eu moro aqui!
- E não levaste Linus à festa?! Ou achas que só tu podes levar um amigo?!
- Tens razão, acho que nos deixamos levar pela imaginação.
- Acho é que andam a ver filmes a mais!


Quando o sol entrou pela janela da sala, já Alisia tinha a encomenda pronta a ser entregue. Restava colocar tudo na carrinha frigorífica que tinha comprado recentemente e à qual ainda se estava a adaptar!  Graças à ajuda de Priscilla ás nove da manhã estavam sentadas na esplanada a tomar o merecido pequeno almoço.
Sentia-se ali tão relaxada que relutava em regressar para casa. Mas se queria descansar antes de recomeçar as tarefas tinham de regressar!


- Mãe!!! Anda ver!!!

Perante a voz assustada de Priscilla, Alisia deixou o bolo e correu até à sala, Priscilla olhava o ecrã da televisão completamente estática! Seguiu-lhe o olhar. Um repórter ocupava o ecrã, ao fundo via-se as escadas do tribunal onde algumas pessoas se juntavam.

- Nicholas estava ali!
- Tens a certeza?!
- Sim. Estava com um senhor vestido de preto que falava por ele.
- Que dizia?!
- "Não comento" ou " O meu cliente fará declarações depois do julgamento"

Alisia sentou-se pesadamente no sofá! Um julgamento! Por fim o inspector conseguira salvar as pobres mulheres! Sentiu-se dividida. Por um lado sentia-se feliz por elas, mas por outro sentia o coração despedaçado por Nicholas. Com as lágrimas correndo pelo rosto permaneceu a olhar o ecrã, aguardando o fim do julgamento.

- Mãe!!!

Priscilla puxava-lhe o braço. Ultimamente estava tão cansada que adormecera!

- Já terminou?!
- Vão sair agora.

Alisia reconheceu-o imediatamente. Nicholas saiu acompanhado do advogado. A ela não lhe pareceu envergonhado, enfrentava as pessoas sem desviar o olhar mas, apesar da insistência do repórter, negava-se a falar com ele.  Apenas permitiu que fosse filmado pelos diversos canais de televisão que ali estavam. A maioria deles desistiu, mas o operador de câmara do canal que elas estavam a ver, continuou a acompanhá-lo e elas puderam vê-lo até que ele entrou no carro.  Pouco depois a atenção voltou-se para a entrada do tribunal. Ela reconheceu a mulher ao fundo. Estava elegantemente vestida com um vestido comprido em tons cinza e o cabelo estava mais curto. Ainda tinha algumas marcas no rosto, mas sorria. Sentiu-se feliz por ela. Estava livre dele!


Durante uns dias Alisia sentia-se morrer por dentro. Era com grande esforço que saía da cama para fazer as tarefas diárias. Felizmente Priscilla estava a terminar o ano lectivo e podiam tirar uns dias para descansar. E tentar esquecer Nicholas! Depois de Priscilla, essa a sua prioridade. O seu médico tinha-lhe receitado uns comprimidos para a ajudar a dormir mas não tinham grande efeito nela.
Em resultado das noites mal dormidas, adormecia em qualquer lado. Até ela própria se admirava de conseguir fazer os bolos e pasteis! Se bem que muitas vezes tinha a sensação que fazia as coisas automaticamente, pois não se recordava de as fazer. A única coisa que ela se lembrava era de Nicholas, ele ocupava os seus pensamentos praticamente as vinte e quatro horas do dia. A excepção era Priscilla, e ultimamente nem ela a fazia abstrair-se totalmente dele!

- Levamos este?
- O quê?!
- Este champô. Tinhas dito que querias mudar.
- Podemos levar.

Priscilla meteu o frasco no cesto e dirigiu-se para a caixa. Alisia seguiu-a como se fosse ela a filha e não o inverso. Priscilla sentou-se no carro e esperou que ela começasse a conduzir.

- Sei que me vais gritar, mas acho que devias falar com Nicho...
- Não!
- Não dormes e estou preocupada contigo!
- Desculpa, não era minha intenção preocupar-te.
- Sei que ele gosta de ti e de mim!
- As coisas não são como tu pensas!

 Ao ouvir filha dizer que ele gostava delas recordou as outras raparigas e pensou na sua filha no lugar de uma delas, pois esse era o destino dela se permanecessem junto a ele! E por muito que sofresse, por não estar com ele, isso ela não iria permitir! Preferia morrer de amor, se isso fosse possível! Alisia acelerou e Priscilla teve de se segurar.


- Mãe! Estás a assustar-me!
- Desculpa. - Alisia abrandou um pouco. - Vais ver que estes dias longe de tudo isto vão fazer-nos bem.
- Sim.

Alisia olhou a filha, estava de cabeça baixa, como fazia quando estava triste. Olhou o trânsito e sentiu o coração gelar. No lado oposto do cruzamento, Nicholas conduzia um carro desportivo. Sentiu o estômago dar-lhe voltas. Como era possível que o deixassem sair depois do julgamento?! O lugar dele era na cadeia e não ali nas ruas onde podia magoar alguém mais. Desviou o olhar quando o carro dele passou, por momentos temeu que ele a reconhecesse, mas tal não aconteceu!

Mesmo em casa não conseguia deixar de pensar nele, por momentos sentiu-se a maior idiota ao cimo da terra! Nicholas tinha dinheiro, como tal era praticamente intocável! Seguramente tinha pago uma boa quantia ao inspector para que não fosse acusado! Tinha de ser isso, só assim conseguia sair do tribunal incólume. E isso justificava a falta do telefonema que o inspector tinha prometido fazer! Mas se ele pensava que a levava por idiota estava enganado.

- Inspector como está?! - Alisia fingiu a voz mais calma que conseguiu.
- Alisia! Que surpresa! Não esperava um telefonema seu.
- Acredito que não. Mas como ficou de me ligar e não o fez, pensei em ser eu a telefonar.
- Fez bem.
- Fiz?!
- Claro. Se pudesse encontrar-se comigo para falarmos um pouco. Que lhe parece um café?
- Não o quero sobrecarregar, sei que deve de andar ocupado.
- Um pouco sim. Mas temos sempre tempo para as pessoas que nos ajudam.
- Pessoas como Nicholas?!
- Como Nicholas?! Que sabe a respeito?!
- Sei que a... - Alisia fez uma pausa - Digamos a "contribuição"  dele foi preciosa. Pelo menos para si!
- Vejo que não é apenas uma cara bonita!
- Não inspector. Sei juntar dois mais dois.
- Por momentos tive medo que deitasse tudo a perder. Mas cumpriu o que prometeu e graças a isso fez-se justiça.
- Se você o diz...
- Não foi o esperado, mas todos tiveram o que mereciam. Principalmente a sra. Linch.
- É esse o nome dela?!
- Sarah Linch. Uma excelente mulher, não merecia o que lhe fizeram. Mas finalmente está livre de todo aquele sofrimento.
- Ainda bem.

Por uns instantes o inspector calou-se e ela ouviu várias vozes do outro lado, pouco depois as vozes silenciaram-se.

- Peço desculpa Alisia, mas tenho de tratar de uns assuntos.
- Com certeza.
-Mais uma vez obrigada.

Alisia ficou a olhar o telemóvel incrédula com o inspector. Não fez questão de negar o suborno. Porque faria?! Ela não tinha provas! Teria de ver o lado bom da situação. A liberdade de Sarah!
Sarah Linch estava livre de Nicholas!  Mas infelizmente não podia dizer o mesmo dela.

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