terça-feira, 13 de junho de 2017

ESPERANDO UM SINAL 7ª PARTE




Alisia deu mais uma volta na cama sem conseguir dormir. Talvez porque Nicholas saíra e ainda não tinha regressado, ou porque não ficou convencida com as respostas de Zoe. A insónia obrigava-a a reviver a conversa que interrompera entre Zoe e uma das raparigas e a que tivera mais tarde com Zoe.

Quando terminou desinfectar a ferida a Nicholas, pensou ir até à praia e dirigiu-se à cozinha para avisar Zoe. Esta falava com outra rapariga, mesmo sem pretender acabou por ouvir parte da conversa.

- Tenho mesmo de ir?!
- Acho melhor fazeres o que ele disse. Sabes o que aconteceu a Lily!
- Sei... Mas não suporto quando ele me...

Alisia encostou-se ligeiramente à porta e esta fez barulho, o que as levou a terminarem a conversa. Entrou e assim como da outra vez a rapariga desapareceu. E quando questionou Zoe sobre o trabalho de Nicholas não foi tão bem sucedida como esperava.

- Nicholas tem alguns hotéis. - Zoe respondia-lhe contrariada. - Não percebo qual o interesse.
- Nenhum. Apenas curiosidade. - Alisia ficou com a sensação que ela evitava responder-lhe. - Os hotéis, são aqui na ilha?!
- Na sua maioria!
- Ou seja, também tem fora da ilha...
- Sim!
- A rapariga que...
- Olhe... - Zoe olhou-a - Se quer saber algo mais terá de lhe perguntar.

Zoe saiu depois disso e deixou-a sozinha com as suas suspeitas. Porque tinha a rapariga de ir e onde?! Porque devia de lhe obedecer?! E que acontecera a Lily?! Todas aquelas perguntas faziam eco na sua cabeça formando um quadro nada agradável.
Quando chegou a madrugada, ela continuava intrigada, e quanto mais pensava no assunto mais convencida ficava que lhe escondiam algo! Mas o quê?!
Saiu da cama quando ouviu o barulho de um carro e dirigiu-se à janela. O jardim estava apenas iluminado pela luz da lua, a claridade não era a melhor, mas deu para ver que Nicholas saía do carro com uma mulher jovem. Acompanhou-os com o olhar até à entrada da casa e aí, graças à luz da entrada, viu com mais nitidez a mulher. Tinha uma espécie de faixa branca na cabeça e chorava, depois entraram e deixou de os ver.

Voltou para a cama pensando nas conversas e no que acabara de ver. Quem era aquela mulher?! Priscilla tinha comentado que além das que estavam na cozinha com Zoe, eram mais duas ou três! À excepção daquela mulher, todas elas eram muito novas, pelo menos mais novas que ela! A mais velha era Zoe, e parecia haver uma certa intimidade entre ela e Nicholas! Recordou as conversas interrompidas quando ela chegava e a forma como elas desapareciam depois. " Elas têm medo dele" as palavras de Priscilla ecoaram na sua cabeça. A elas juntou-se a frase que ela interrompera à rapariga  " Não suporto quando ele me..."  e ela deu um salto na cama quando o seu subconsciente terminou a frase com o que achava certo. " Não suporto quando ele me toca"

- Não! - Falou alto, como se assim se convencesse de que estava errada. As suas suspeitas não podiam estar certas! - Não!
- Estás bem?!

 Nicholas entrou naquele instante e ela ficou a olhá-lo, com os olhos muito abertos, incrédula com a direcção que tomavam os seus pensamentos. Ele dirigiu-se à cama e ela encolheu-se, sentiu asco dele ao pensar no que ele fazia.

- Alisia?!
- Não me toques! - As lágrimas caíam descontroladas.
- Mas que se passa?!
- Mãe?!

Priscilla entrou ensonada e depois de olhar para Nicholas com os olhos muito abertos, subiu para cima da cama abraçando Alisia.

- Está tudo bem amor. - Alisia beijou o cabelo da filha - Amanhã voltamos para casa.
- Amanhã?!

Falaram os dois ao mesmo tempo. Priscilla parecia ter acordado totalmente e Nicholas estava visivelmente admirado com a súbita decisão dela.

- Mas ainda faltam três dias! - Protestou Priscilla.
- Eu sei. Mas temos de ir.
- Priscilla posso falar a sós com a tua mãe?
- Não! Ela fica.
- Priscilla, fazes favor?!

 Nicholas olhava para a pequena que acabou por anuir e sair da cama.

- Não quero falar contigo!
- Mas eu sim! - Nicholas sentou-se na cama e ela saiu pelo lado oposto - Mas que se passa contigo?! Acaso achas que te vou forçar a algo?!
- Quero ir para casa. - Alisia cruzou os braços no peito.
- Foi pelo que aconteceu esta tarde?! Achas que eu...
- Não acho nada! - Interrompeu-o e recuou um pouco mais. - Afinal não te conheço!

 Alisia recuou quando ele se aproximou, mas ao retroceder mais um passo sentiu as costas na parede. Olhou para ele com os olhos cheios de lágrimas, naquele instante teve medo dele!

- Não?! - Nicholas falava suavemente - Pois eu acho que nos conhecemos muito bem.

 Nicholas ocupou o pouco espaço que havia entre eles e Alisia sentiu o calor do corpo dele chegar ao seu. Estremeceu ao recordar as noites que passaram juntos. Ele fora carinhoso com ela, até se mostrara surpreendido e preocupado por ser a primeira vez dela! Não, ele não podia forçar aquelas raparigas! Mas recordou as notícias que muitas vezes ocupavam os noticiários, no início eram sempre bem tratadas, os problemas surgiam depois. Quantas jovens eram iludidas com a promessa de uma vida melhor?!
Estava a lutar com os seus pensamentos quando Nicholas levantou uma mão e retirou-lhe o cabelo do rosto, ela fechou os olhos ao sentir a mão dele.
Alisia sentia a respiração dele no seu rosto e foi incapaz de se mexer, segundos depois tinha os braços ao redor do pescoço dele e a língua de Nicholas percorria os seus lábios, pedindo que os abrisse. Quando ela cedeu, ele apertou-a contra o seu corpo e ela gemeu.

- Vais dizer-me que se passa?

Alisia olhou para ele, estava perto demais. Não conseguia pensar com claridade! Tinha de resistir-lhe, mas como, se ele a subjugava com um simples beijo?! Tinha de pensar, mas para isso precisava de sair daquela casa...

- Não foi nada, acho que foram emoções a mais.
- Emoções?!
- Sim. Fiquei preocupada quando te vi sangrar.

Alisia olhou-o com os olhos brilhantes pelas lágrimas e  Nicholas acariciou-lhe o rosto sem deixar de a olhar nos olhos.

- Sentes o mesmo que eu, porque lutas contra isso?!
- Lutar?!
- Sim. Podias ficar...
- Não! - Alisia afastou-se dele - Não posso. Priscilla tem de voltar para a escola e eu tenho...
- Priscilla pode frequentar a escola aqui.
- Não! Não vamos ficar!
- E se eu precisar de ti?!
- Para quê?!

Alisia sentiu o coração encolher ao recordar uma proposta parecida.

- Nunca conheci uma mulher como tu. Eu posso...
- Não!
- Deixas-me terminar?!
- Não é preciso! Não vou aceitar! - As lágrimas começaram a cair ao recordar a sua vida depois de casar com Mat. - E se não te importas, preferia regressar amanhã.

Nicholas olhou-a como se a estivesse a ver pela primeira vez. Um arrepio percorreu o seu corpo ao notar como o olhar dele ficava gelado.

- Se é isso que queres...

Alisia ficou a olhar a porta depois de ele sair. Priscilla entrou minutos depois e abraçou-a. Ficaram uns instantes abraçadas enquanto as lágrimas corriam pelo rosto dela e pouco depois ouviram um carro arrancar.

Quando o dia nasceu elas já tinham as malas preparadas, esperava que ele não tivesse mudado de ideias quanto a deixá-las ir. Mas apenas Zoe esperava por elas na sala. Sentiu uma mistura de alivio e decepção.

- Obrigada por tudo. - Alisia abraçou Zoe. - Nicholas ainda não regressou?!
- Não. Mas não se preocupe, ele tratou de tudo.
- Agradeça-lhe por mim.
- Adeus Zoe. - Priscilla beijou o rosto da mulher - Vou ter saudades de Less e suas também.
- Eu também.

Pouco depois um táxi parou na porta para as levar ao porto. Por alguns momentos pensou que Nicholas estaria no barco para a dissuadir, mas apenas eram esperadas pelo mesmo homem que as acompanhou na viagem até ali.

Durante a viagem, apenas se esquecia de Nicholas quando Priscilla chamava a sua atenção para algo. E para grande admiração dela, Priscilla não perguntara o motivo da partida antes do previsto. A única coisa que preocupava a sua filha, era que King não comia desde que subiram ao barco. Mas a cabeça dela estava ocupada com aquelas raparigas. Nessa noite não conseguiu conciliar o sono e agora ali estava, a olhar o sol nascer, enquanto sentia que devia de ter feito algo por elas, mas o quê?! Ela sabia que ele as forçava, disso ela tinha a certeza.  Mas além das meias conversas que ouvira, não tinha provas que corroborassem a sua suspeita. E não tinha como provar que as conversas existiram de facto. Perante um tribunal, Zoe e a outra rapariga tomariam o partido dele e não dela! Devia de ter ficado...

- Mãe?! - Priscilla puxou-lhe a camisa - Mãe?!
- Desculpa.
- Estamos a chegar.
- Então vamos preparar-nos.


Duas semanas depois de ter regressado Alisia tinha pesadelos recorrentes com Nicholas e as raparigas. O que levava a que as suas noites fossem esgotantes. Felizmente os seus problemas financeiros pareciam pertencer ao passado, tinha bastantes encomendas o que lhe ocupava a cabeça durante o dia. A pastelaria do centro comercial assinara contrato com ela e estava à espera de assinar com um novo cliente. Com a maioria de clientes na cidade ponderava mudar-se nesse verão, durante as férias escolares de Priscilla. Era um novo recomeçar para elas.

- Mãe!
- Sim.
- Estou perdida.
- Pensei que estavas na sala?!
- Não brinques! Com este trabalho tenho possibilidades de subir a nota!
- Peço desculpa. Qual o tema?!
- Falar sobre uma notícia que nos chamasse à atenção.
- Pois... - Olhou para a filha, à muito tempo que não viam as notícias - Teremos de as ver primeiro.
- Eu fiz pesquisa no computador. Mas aparece tanta coisa que nem sei por onde começar!
- E tens ideia do que pretendes?
- Queira algo que fosse importante mas que não fosse muito triste.
- Deixa-me acabar aqui e já te ajudo.


Enquanto procuravam um tema adequado para o trabalho, ligaram a televisão. Toda a ajuda era preciosa. Priscilla lia temas uns atrás de outros: assaltos, incêndios, pequenos delitos, pessoas desaparecidas... Aquele era um bom tema.

- Não! Já o escolheram. Tem de ser algo diferente.
- E sabes sobre o que os teus colegas vão escrever?!
- Anotei em algum lado...

Priscilla desapareceu em direcção ao quarto e ela continuou a pesquisar até que a sua pesquisa foi interrompida pelo pivô do noticiário.

- ...ainda se desconhece o paradeiro da esposa do empresário. Tendo em conta a ausência de um pedido de resgate, as entidades competentes suspeitam de tráfico sexual ou...

Mas Alisia já não ouvia, a sua atenção prendia-se na fotografia da mulher! Era ela! Estava diferente, bem vestida, maquilhada e com o cabelo comprido, mas era a mesma mulher que Nicholas tinha levado para casa naquela noite! Tinha a certeza! Sentiu o coração apertar perante a certeza das suas suspeitas. Ele obrigava as mulheres a prostituírem-se!
Se quando deixou a ilha tinha a sensação que devia de fazer algo, agora tinha a certeza!

Alisia esfregava as mãos nas calças de ganga. Estava nervosa e os olhares que os inspectores lhe deitavam não ajudavam a que relaxasse! Mandaram-na esperar por um superior que estava numa reunião. Tentando abstrair-se reviu o que fez nessa manhã e o que lhe restava fazer. Deixara Priscilla na escola e fizera a entrega dos bolos. Depois de almoço tinha marcado com uma imobiliária para ver uma casa. Esperava acertar desta vez, estava cansada de ver casas. Se continuasse assim, Priscilla terminava a escola e ainda não tinham casa! As que eram acessíveis não tinham condições. as que tinham condições...

- Menina Snow?!

Alisia levantou a vista, um homem de meia idade sorria para ela.

- Sim.
- Inspector Mak.
- Alisia. - Ela aceitou a mão dele envergonhada - Desculpe, mas estou um pouco nervosa.

O homem sorriu e ela notou que as rugas em redor dos olhos ficavam mais acentuadas. Tinha os olhos azuis e a barba bem aparada. Embora fosse forte não o podia considerar gordo, no geral era um homem charmoso.

- Não tem motivo para tal. - O inspector desligou o bip que acabara de tocar - Faça favor de me acompanhar.
- Vamos demorar?!
- Depende do que tiver a dizer. Acompanhe-me se faz favor.

Alisia seguiu-o por um corredor, sentia um aperto no peito por ir entregar Nicholas, mas sabia que era o mais correto a fazer. Quando se sentou na cadeira ouviu a porta do gabinete fechar-se, o inspector rodeou a secretária cheia de papéis e olhou para ela sorrindo.

- Segundo me disseram queria falar-me sobre uma pessoa desaparecida.
- Sim, sei onde ela está. - Alisia lembrou-se que a tinha visto à duas semanas atrás - Bem, estava lá à duas semanas.
- Vamos por partes. De quem estamos a falar?
- Da esposa daquele empresário...aquela que passou nas notícias.
- Tem a certeza?! - O inspector abriu uma gaveta e tirou de lá uma pasta. - Não a confundiu com outra pessoa?
- Não! Era ela, sem maquilhagem e o cabelo mais curto mas era ela! Tenho a certeza.

O inspector saiu da secretária e ficou a olhá-la por uns instantes antes de olhar para os carros que passavam na rua.

- E sabe de quem era a casa onde a viu?
- Sim, era a casa de Nicholas. - Alisia sentiu um nó na garganta ao dizer o nome dele - Nicholas Prat.
- Tem a certeza?!
- Absoluta! - Alisia olhou para o inspector  e levantou-se - Já percebi que não acredita em mim!
- Eu não disse isso! - Ele sentou-se novamente e fez sinal para ela fazer o mesmo - Falou com mais alguém a respeito?
- Não estou a perceber...
- Se falou com mais alguém sobre o que viu! Uma vizinha, o namorado...
- Claro que não! Apenas falei com o agente que me atendeu lá em baixo e não disse quem era a pessoa.
- Óptimo! Como deve de compreender quantas menos pessoas souberem melhor.
- Porquê?! A ideia não é encontrar a pobre mulher?!
- Sim, mas convém apanhar também os responsáveis.
- Estou a perceber.
- Ainda bem. Diga-me uma coisa. A mulher estava bem quando a viu?
- Não lhe sei responder com sinceridade.
- Mau... Viu-a ou não?!
- Claro que vi! Apenas não lhe posso responder a isso. Ela estava viva e caminhava pelo seu pé. Ainda que amparada por Nicholas, mas tinha um penso ou uma ligadura à volta da cabeça.
- Ele ou ela sabem que os viu?
- Não.
- Não sabe ou não a viram?!
- Não me viram.

Durante uma hora Alisia respondeu ás mais variadas perguntas sobre Nicholas e a tal mulher. Começava a achar que a consideravam suspeita quando o inspector lhe disse que podia ir para casa.

- Inspector, posso pedir-lhe um favor?!
- Diga.
- Pode telefonar-me quando a encontrarem?
- Para quê?!
- Apenas quero saber se está bem.
- Sim, será um prazer. Mas a menina terá de me fazer um a mim.
- Claro, o que puder.
- Não comente com ninguém, mas ninguém mesmo, sobre este assunto.
- Pode confiar em mim.

Enquanto conduzia pensava no pedido do inspector. Como se ela fosse comentar com alguém aquilo! Já lhe era doloroso demais pensar que Nicholas era capaz de abusar de uma jovem, não era necessário andar a falar nisso! Só de pensar que o ajudou dava-lhe um arrepio! Até aquele dia nunca se tinha arrependido de ajudar alguém! Esperava que o apanhassem e que recebesse uma pena bem severa!
Ao imaginar Nicholas na prisão sentiu uma dor no peito e duas lágrimas deslizaram pelo seu rosto. Afastou aqueles pensamentos, fizera o que devia! Agora restava-lhe esquecer que o conhecera e seguir em frente.

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