quinta-feira, 20 de julho de 2017

O REFÚGIO 8ª PARTE





Algo incomodava Ellen de tal modo que não conseguia dormir. Talvez a discussão dessa tarde ou porque lhe doía o corpo depois de terem feito amor como dois adolescentes. Coisa que acontecia com bastante frequência.

 Depois do passeio e durante o resto da semana, Luc provou ser um amante atencioso e o facto de não estar em plena forma não o impedia de desfrutar do momento. Nesses dia Ellen percebeu que o que lhe faltava em força física era compensado em imaginação. E tirando a cama, não havia recanto naquela casa onde não tivessem feito amor. Nessa mesma tarde tinham feito amor em cima da máquina de lavar. Era coisa típica de adolescentes, mas Luc não lhe podia tocar sem que o seu desejo dispara-se em flecha.

 Olhou para ele e sentiu o desejo crescer dentro dela. Reprimindo a vontade de lhe tocar, saiu da cama e sentou-se junto à janela a ver a chuva bater nos vidros. Niel chegaria no dia seguinte e, mesmo que não fosse imediatamente, ela não tardaria a deixar aquela casa e Luc. Esperava conseguir despedir-se dele sem se emocionar.  Nunca gostou de despedidas! Fossem por breves períodos ou definitivas! Abraçou os joelhos junto ao peito e fechou os olhos.

Iria sentir a falta de Luc. Se não fosse a mentira que involuntariamente tinha contado por causa do trabalho, podia aceitar a proposta dele e ficar. Mas o medo de ser descoberta aumentava a cada dia que passava. E ela tinha a certeza que um dia ele iria descobrir e quando esse dia chegasse não sabia qual a reacção dele. Mas certamente não ficariam amigos! Recordou que Luc tinha uma relação muito complicada com os jornalistas. Se por um lado acenava para eles quando saía com modelos ou outra celebridades, havia outros aspectos que tentava manter no mais absoluto segredo.
Mas nem sempre o conseguia com sucesso. Recentemente tinha circulado o rumor que Luc subornara um fotografo amador porque o fotografou a sair de um hospital. Mas as fotografias saíram na impressa da mesma forma.
Se soubesse que ela estava ali para escrever sobre ele tentaria suborná-la também. Ou na pior das hipóteses iria beijá-la até ela perder a razão e concordar com ele! E ela sabia que ele venceria. Não podia arriscar, tinha de sair dali assim que terminasse o artigo. A sua carreira, e consequentemente a sua vida, dependia daquele artigo. Aquela era a única forma de se ver livre de Jim. Depois da publicação podia trabalhar para qualquer revista. Ela sabia que um artigo daqueles podia fazer toda a diferença. As revistas que tinham artigos sobre ele eram as mais vendidas, mesmo que o artigo fosse mais que explorado por todas as revistas da impressa rosa. Não importava, todos queriam saber o que o Luc MacKeane fazia e com quem andava. Mas aquele artigo era diferente, era mais pessoal, um artigo que exporia Luc como nunca ninguém o tinha visto! Aquela edição seria a mais vendida de todas e o seu nome seria falado por meses.
Luc ficaria furioso quando visse as revistas, mas isso era um dos lados negros de se ser famoso. Talvez tentasse desmentir, não seria a primeira vez, mas mesmo que Luc o tentasse, ela tinha fotografias da mansão e da pequena aldeia, assim como dele junto ao portão ou a fazer os exercícios. Sabia que não era correta a forma como conseguira as informações, nem as fotografias, mas tivera de o fazer. Pensar no muito que o podia magoar, quando descobrisse que o tinha enganado, fez uma lágrima deslizar pelo rosto. Sentindo-se mais só que nunca, abraçou os joelhos com mais força e deixou que outras lágrimas seguissem o caminho da primeira.

- Ellen?!
- Sim?! - Ellen limpou as lágrimas.
- Voltei a acordar-te?!
- Não. - Ellen emocionou-se com a preocupação dele -  Apenas não consigo dormir.
- Tens a certeza que foi pelos acontecimentos da tarde?!

Ellen amaldiçoou a facilidade com que ele tinha de perceber como se sentia.

- A nossa discussão não tem nada que ver com a minha insónia.
- Então porque não voltas para a cama?!
- Não queria acordar-te.
- Nesse caso, como estou a cordado, vou fazer-te companhia. - Luc saiu da cama.
- Não é preciso.
- Não, mas eu quero. - Luc sentou-se frente a ela - Ficamos aqui a analisar o que te incomoda.
- Está tudo analisado.
- Que pena.
- Porquê?! - Ellen endireitou-se esperando o pior.
- Por momentos pensei que estavas a ponderar ficar.

Ellen respirou fundo e olhou-o nos olhos.

- Já falámos disso.
- Eu sei. Não queres reconsiderar?
- Não há nada a reconsiderar.
- Porque não?! Não gostas de viver aqui?
- Mas porque não gostaria?! Adoro a casa e sabes isso muito bem.
- Então não suportas a ideia de viver com um inválido.
- Não digas idiotices! Sabes perfeitamente que não és nenhum inválido!
- Por enquanto sou! Não consigo levar-te para a cama, nem carregar-te em braços...
- E porque o deverias fazer?! Não preciso que me leves para a cama, posso muito bem ir sozinha!
- Isso quer dizer que vais ficar?! - Luc agarrou-lhe a mão.
- Claro que não! - Ellen olhou-o ao perceber a facilidade com que ele manipulava as palavras - É melhor mudarmos de assunto. Foi assim que começámos a discutir.
- Mas terminámos da melhor maneira. - Luc sorriu-lhe maliciosamente  - Se esquecermos que o local não era o mais confortável...


 Ellen estremeceu, se fecha-se os olhos podia ver os corpos suados, ela sentada em cima da máquina, agarrada a ele, como se ao soltá-lo caísse num precipício, enquanto ele lhe acariciava as costas e as pernas que ela mantinha ao redor da cintura dele impedindo que ele se afastasse...
O calor que começava a conhecer demasiado bem voltou a percorrer o seu interior.  Afastou aqueles pensamentos, não podia permitir que a manipulasse assim.


- Desculpa mas não posso.
- Sinceramente não entendo as mulheres. Que mais queres?! Entendemos-nos bem a nível sexual e quando eu recuperar...
- É me indiferente se estás recuperado ou não! - Ellen levantou-se e olhou-o exasperada. - Quer acredites ou não, tinha vida antes de tu apareceres!
- Não disse o contrário.
- E o sexo não é tudo na vida. Tenho o meu trabalho e Jim... - Calou-se ao perceber o que estivera prestes a dizer.
- Desculpa - A fisionomia de Luc mudou instantaneamente - Esqueci que tens outras pessoas dependentes dos teus cuidados.

Olharam-se em silêncio. Ellen não sabia como interpretar o olhar dele.  Quando Luc soltou a mão dela e se levantou, ela podia jurar que ele estava triste e furioso ao mesmo tempo. Mas se assim era não o demonstrou.

- Vou fazer-te um chá para te ajudar a dormir.
- Obrigada.


Um som irritante acordou Ellen. Sentou-se na cama e olhou para a almofada vazia ao lado. Apesar da discussão, Luc beijara-lhe o cabelo e abraçara-a durante toda a noite. Mexendo-se apenas quando ela se mexia, aí ele afrouxava o braço para depois voltar a apertá-la junto ao peito. Adormecera sentindo a respiração dele no seu pescoço.
Uma pancada mais forte interrompeu as recordações dela, saiu da cama e seguiu o som. Luc estava na cozinha, vestindo apenas as calças do pijama batendo algo com um martelo de madeira.

- Bom dia.
- Bom dia. - Luc sorriu-lhe - Conseguiste dormir?!
- Sim, obrigada. Que estás a fazer?!
- Não é óbvio?!
- Óbvio é. - Ellen abafou o riso ao saltar um pedaço de carne - É normal bateres bifes a esta hora e congelados?!
- Se os quero para o pequeno almoço...
- Ao pequeno almoço?!
- Porque não?! Existe alguma lei que o proíba?!
- Acho que não. Apenas penso que não será o pequeno almoço mais aconselhado. Mas se tens mesmo de os comer agora, podias descongelá-los no microondas.
- Se entendesse essa geringonça! - Luc apontou com o martelo para o aparelho - Para que complicam estas coisas?! Chegava perfeitamente um botão para descongelar e outro para cozinhar.
- Deixa-me ver...
- Vou deitá-lo no lixo e comprar outro! O do apartamento é bem mais explicito.
- Acho que... - Ellen rodou o botão até ao peso que lhe pareceu ter o bife - Já está, podes colocar o bife a descongelar.
- No mínimo deviam trazer um livro com instruções.
- E trazem. - Ellen começou a rir ao retirar o pedacinho de carne do peito dele.
- Estás a rir-te de mim?! - Luc acenou o martelo na frente dela - Estás?!
- Se estiver?! - Ellen olhou-o nos olhos.
- Não gosto que se riam de mim... Mas acabei de ter uma ideia. - Luc largou o martelo e colou o corpo ao dela. - Uma excelente ideia.
- Luc!!! Estava a brincar! Não...

Mas Luc calou os protestos fingidos dela com um beijo. Pouco depois a camisa dela deslizou até ao chão assim como as calças do pijama dele. O bip do microondas foi abafado pelos gemidos de prazer deles. Luc estava entre as pernas dela quando se ouviu o som de uma porta a bater.

- Niel!

Luc apanhou a camisa dela e deu-lha enquanto vestia as calças à presa e saía da cozinha. Ellen sorriu e dirigiu-se para o seu quarto. Esqueceram-se da chegada de Niel!

Depois de tomar duche, Ellen foi até à cozinha e ligou a máquina para fazer café. Tirou o bife do microondas e sorriu ao recordar a cara dele quando ouviram a porta. Olhou para o relógio. Niel tinha chegado à mais de meia hora. Algo não estava bem! Nem quando teve de lhe suturar a perna demorou tanto tempo! Sentindo um aperto no peito foi até ao quarto dele, a porta estava entre aberta. Não via Niel, apenas as costas de Luc que olhava para a janela.

-  Foi a minha irmã. - Niel falava muito baixo. - Apenas posso pedir-te desculpa.
- A culpa não é tua.
- É sim. Era minha obrigação verificar!
- Agora não podemos fazer nada.
- Compreendo que não voltes a confiar em mim. Afinal permiti que uma jornalista tivesse acesso à tua casa. Sei o que significa...

Ellen permaneceu imóvel! A sua mentira chegara ao fim. Niel tinha descoberto que não era enfermeira e acabava de o revelar a Luc.
 Que lhe diria quando lhe pergunta-se?! Como explicar-lhe!? E quem lhe garantia que ele a deixava explicar!? E mesmo que a ouvisse, no seu intimo sabia que o que fizera não tinha perdão. Nada justificava o que tinha feito!
Nada e tudo... Acrescentou mentalmente ao recordar a ameaça de Jim.

O som de algo a cair tirou-a da inércia em que se encontrava. Que estava a fazer ali parada?! Tinha de sair dali e depressa! Foi até ao quarto sentindo o coração bater ferozmente e atirou as suas coisas para dentro da mala. Vestiu um casaco à pressa e saiu em direcção ao muro caído. Se andasse depressa podia chegar à povoação antes que dessem pela saída dela.

Caminhou o mais rápido que a mala lhe permitiu e depressa trocou o caminho de terra batida por uma estrada de alcatrão. O céu negro cumpriu a ameaça e começou a chover, como se a quisesse castigar de alguma forma. Os sapatos estavam completamente encharcados assim como o seu casaco, estava a pensar seriamente em regressar quando um autocarro parou junto a ela.


- Há muito tempo que não apanhava ninguém por aqui. - O homem sorriu ao olhar para ela.
- Obrigada. - Ellen olhou para trás antes de entrar - Quem diria que choveria assim?
- Os meus ossos adivinhavam que estas chuvas iam durar.
- Os seus ossos?!
- Esqueça, coisas de velhos.
- Segundo dizem chove por dias seguidos.
- E quem lhe disse não a enganou. Ora bem, diga-me. Cidade ou povoação?
- Para a cidade...
- Um bilhete pra cidade então. - O homem estendeu-lhe o pequeno papel - Foi a que mais aguentou.
- Desculpe?!
- A enfermeira. Fizemos pequenas apostas no bar, ninguém esperava que ficasse tanto tempo.
- E quem ganhou?! - Ellen fingiu interesse.
- Ninguém!

O homem olhou pelo espelho retrovisor e reiniciou a viagem. Ellen olhou as árvores que passavam a grande velocidade pensando no que diria Luc ao perceber que tinha partido. Agarrou o seu bloco e reviu as notas sobre ele. Durante a viagem foi reescrevendo o artigo, tentando ser o mais fiel possível à situação. Teve cuidado redobrado na escolha da palavras, não podia passar a ideia que tiveram um envolvimento.
Quando o autocarro parou ela tinha o artigo revisto e pronto a ser enviado. Assim que conseguisse ligar-se à internet iria descarregar as fotos e escolher quais poderia usar.

Ficou no hotel da cidade para reorganizar o artigo e adicionar as fotografias, mas à medida que ia vendo as fotos de Luc, a indecisão tomou conta do seu coração. Quando bateram na porta do quarto do hotel saltou na cadeira, olhou para o computador. A imagem de Luc sem camisa, a fazer os exercícios de fisioterapia, ocupava o ecrã. Esquecera o tempo a olhar para ele, respirou fundo e desligou o computador quando voltaram a bater.

- Serviço de quartos!
- Um momento.

Ellen abriu a porta e recebeu o que seria o seu jantar. Depois de agradecer ao rapaz, voltou a ligar o computador e ligou a aplicação para apresentar as mesmas em slides. Pouco depois, um aperto na garganta impedia-a de comer e as lágrimas começaram a deslizar pelo seu rosto. Atribuiu aquela crise de choro à saída abrupta da mansão. Respirou fundo e ligou o rádio tentando abstrair-se dos seus pensamentos. Mas não conseguia esquecer Luc. Naquele estado não iria fazer o trabalho.
Precisava dormir e recuperar das noites mal dormidas na companhia de Luc. No dia seguinte teria tempo para fazer o trabalho.


Mas não o fez. Nem no dia seguinte, nem durante o resto da semana em que ficou refugiada no quarto, tentando perceber porque não conseguia ser objectiva e concluir aquele trabalho. Os dias eram passados a reescrever e a apagar o artigo que supostamente estava escrito. Acrescentava detalhes que depois achava demasiado pessoais e apagava-os sem pensar duas vezes. Depois passava o resto do dia a pensar em Luc e no que estaria a fazer. Durante as noites, se dormia sonhava com ele, se permanecia acordada, recordava todas as vezes que fizeram amor. A sua pouca experiência com os homens, não a prepararam para o prazer explosivo que sentira nos braços de Luc. Naquele momento, porque tornara-se mais uma, ela compreendia perfeitamente o que as mulheres que passaram pela cama dele sentiam.  Como recuperavam daquela sensação de desamparo, daquele vazio que lhe percorria o corpo e lhe corroía a alma?!

Depois de mais uma noite mal dormida, onde as lágrimas foram a sua companhia permanente, estava decidida a regressar a casa e retomar a sua vida. Viver das recordações dos dias que vivera com Luc, assim como deixar o desgosto instalar-se, não era saudável psicologicamente.
Inicialmente tinha pensado ficar até decidir que escrever pois não queria chegar à redacção sem o artigo terminado. Nada lhe daria mais gozo que esfregá-lo na cara de Jim, mas estava a tornar-se mais complicado do que tinha pensado e ficar ali não ajudava a decidir que fazer.
 Ligou para o aeroporto e conseguiu voo nessa mesma noite. Arrumou as suas coisas e pediu a conta, tinha a certeza que quando chegasse a casa tudo voltaria ao normal. Tinha vivido uma aventura com Luc MacKeane. E um aventura com ele virava a vida de qualquer mulher do avesso. Principalmente de uma como ela, sem larga experiência sexual.
Apenas precisava de tempo. Tempo para esquecer Luc e reajustar a sua vida.



- Como é?! - Jim olhava para ela irado - Não estou a ouvir bem!
- Não o encontrei. Quem te informou não o fez com exactidão.
- E que fizeste estes dias todos?! Estiveste mais de uma semana fora!
- Estive a falar com os supostos vizinhos.
- Como supostos?!
- Não te disse?! - Ellen olhou-o com doçura fingida - Eles não se recordam de ninguém com esse nome. Mas por alguns euros podem dizer o que quiseres.
- E porque não o fizeste?
- Estava a ser irónica! Não quererás escrever um artigo cheio de mentiras.
- Tu e a tua ética!

Ellen olhou para ele. Conhecia-o demasiado bem para saber que tinha algo em mente. Observou como ele se dirigiu até à janela, e ficou em silêncio a observar a vista que o sétimo andar lhe proporcionava e depois voltou-se para ela.

- Bem. Nesse caso tenho um novo trabalho para ti. Swan despediu-se e como tal alguém terá...
- Não contes comigo.
- Como?!
- Entreguei a minha demissão antes de subir. E estive a falar com os directores que compreenderam a minha posição.
- A tua posição?!

Ellen sorriu ao ver o olhar dele.

- É demasiado doloroso trabalhar a teu lado.
- Doloroso?!
- Tendo em conta que vivemos juntos...
- Eles acreditaram nisso?!
- Não imaginas o efeito que umas lágrimas bem colocadas fazem!
- Para quem não quer mentir...
- Uma mulher tem de usar as suas armas. - Ellen agarrou a maçaneta da porta - Sendo assim vou indo.
- Estás a esquecer-te que tens de dar um mês de aviso?! O que quer dizer que...
- Sim eu sei, mas eles deram-me esse mês. Como podes ver basta-me sair e não podes fazer nada para o impedir.
- Espero que não tenhas esquecido a nossa conversa antes de ires para a Irlanda.
- A nossa conversa?!
- Sobre as consequências de não conseguires a entrevista.
- Como podia esquecer...
- Não vais conseguir trabalho noutra redacção. Vou certificar-me disso!

Ellen segurou o olhar carregado de ódio dele. Não percebia se a odiava por não lhe dar a entrevista que tanto queria, se porque deixava de estar sob as ordens dele.
Quando partiu para a Irlanda tinha medo do que ele podia fazer para destruir a carreira dela, mas naquele momento não lhe importava. Sabia que aqueles pedidos e exigências da parte dele seriam recorrentes, se cedesse iria fazer com ela o mesmo que fez com Gwem. E para ela, fazer jornalismo não era mentir ás pessoas ou usá-las!  Jim podia tirar-lhe o trabalho que tanto gostava, mas não podia tirar-lhe a sensação de ter feito o correto. E quando a direcção lesse a carta que ela, com a ajuda de Gwen tinha enviado aos recursos humanos, talvez Jim tivesse uma surpresa. E nessa altura, talvez ela conseguisse voltar a trabalhar no que realmente gostava.

- Faz como entenderes. - Ellen encolheu os ombros.
- Voltarás...
- Não contes com isso.


Quando passou pela porta do edifício onde estava a redacção, fechou os olhos e sorriu. Tinha de procurar um novo emprego. Talvez devesse começar naquele instante, antes de Jim começar a espalhar o seu veneno e destruir todas as suas hipóteses. Mas não estava preocupada com o que Jim pudesse fazer, a única coisa que a preocupava estava resolvida desde a noite anterior.

Na noite anterior tinha destruído todas as notas que tinha sobre Luc.
Depois de passar dias e noites indecisa sobre o rumo a dar ao artigo, finalmente percebeu porque lhe era penoso escrever sobre ele. Não tinha o direito de colocar a vida dele num pedaço de papel para que todos lessem e invadissem a sua privacidade. Mas não era apenas a parte moral que a impedia de escrever sobre ele, o seu coração também não aceitava que destruísse a magia daqueles dias.
Com os olhos marejados de lágrimas e o coração desfeito destruíra o artigo, assim como a maioria das fotografias, e adormecera a chorar, sentindo mais uma noite, a falta do calor do corpo dele.

Ellen olhou o céu e ajeitou o casaco antes de partir rumo a uma vida incerta, uma vida longe do homem que amava.

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