quarta-feira, 30 de agosto de 2017

APÓS O ENTARDECER 4ª PARTE




Ao atirar a bola em direcção de Diana, Mellisa percebeu que os seus temores não tinham fundamento. A menina gostava da companhia dela, estando ou não o pai presente.

Quando Joshua partiu, no dia anterior, ela temeu que a menina ficasse triste, mas Diana parecia familiarizada com as saídas do pai e ainda mais com a ausência da mãe.

A atitude despreocupada de Diana reavivou a curiosidade dela. Independentemente de ser ou não casada com Joshua, madame Bianca continuava a ser mãe de Diana. Então porque não estava ali com a filha!? Principalmente porque se aproximava o aniversário da menina!

Cada vez entendia menos as pessoas! Se ela tivesse a felicidade de ter um filho não se afastaria dele um só segundo! Não de livre e espontânea vontade! E se tivesse um marido ou companheiro como Joshua não o deixaria assim, nem olharia para outro homem! Joshua era tudo o que uma mulher podia desejar. Além de lindo, era atencioso, educado, carinhoso...


Aproveitando a distração dela, Diana atirou-lhe com água e começou a rir.

- Achas engraçado!?
- Sim...

Diana começou a correr ao longo da praia e Mellisa seguiu-a.

- Vais ver...

Pouco depois ela alcançou a menina e deitou-a na areia. A pequena soltava gargalhadas.

- E agora!? Já sei...

Mellisa começou a fazer-lhe cócegas.

- Não... Chega... - Diana ria entre cada palavra - Pára...
- Agora não achas engraçado?!

Mellisa fingiu que se distraía e Diana começou a correr novamente. Quando Mellisa a alcançou levantou-a no ar e colocou-a nos ombros. E entre as risadas da menina entraram na água onde brincaram mais um pouco.
Algum tempo depois, com Diana mais calma, saíam da água e iniciaram o regresso a casa. Cantavam uma canção infantil quando Diana começou a correr.

- Pai!

Mellisa olhou para cima e ali estava ele, a razão da sua constante distracção. Vestia umas calças castanhas e uma camisa bege. Apesar da distância podia sentir o olhar dele no corpo dela. 
Naquele momento, talvez devido aos seus pensamentos anteriores, sentiu-se nua com o pequeno bikini e o páreo. Era uma tolice, pois estavam na praia e as mulheres passeavam em bikini constantemente. Percebendo o ridículo da situação, ajeitou os óculos de sol e juntou-se eles.

- Boa tarde Joshua. - Os nervos levaram-na a tratá-lo pelo nome.
- Mellisa.
- Íamos para casa mas se preferir ficar...
- Não... - Joshua olhou para a filha - Vejo que se divertiram.
- Sim. Mell brincou comigo!
- Eu vi.

Mellisa perguntou-se quanto tempo ele estivera a vê-las brincar. Sentiu-se espiada. Se ele tinha chegado mais cedo, porque não fora ao encontro delas?! Acaso pensava que quando não estava, ela tratava Diana de forma diferente!?

- Vamos Mell? Diz que sim!

Ela olhou para eles, estava embrenhada de tal forma nos seus pensamentos que não ouviu o que diziam.

- Sim. Mas agora é melhor irmos tomar banho.
- Posso usar o teu perfume?
- Diana! - Joshua repreendeu a filha.
- Mell deixa, ela é minha amiga. Não és!?
- Claro que sim.
- Vês!?

Diana olhou para o pai e sorriu. Depois apertou os braços à volta do pescoço dele e deu-lhe um beijo no rosto.

- Gosto muito de ti papá.
- E eu de ti. Mas isso não te dá direito a um gelado maior.
- A dois!?
- Veremos.

Mellisa olhou para Joshua e não conseguiu evitar sorrir. Ele adorava a filha e, como qualquer pai, fazia de tudo para a ver feliz.
O pai dela também seria assim!? Também a tinha levado ao colo!? Também lhe tinha dito que gostava dela!? Como gostava de ter respostas para todas aquelas perguntas. Melhor que isso, gostaria de ter recordações!

Quando chegaram a casa, Joshua insistiu em dar banho à filha enquanto ela tomava duche. Mellisa olhou o vestido azul em cima da cama. Sem saber muito bem onde iam, e com as escolhas limitadas, escolheu o melhor vestido que tinha levado, um vestido de seda, com pequenas mangas apoiadas nos ombros e saia um pouco acima dos joelhos.    Entrou no duche sem perceber quando concordou em ir passear com eles.

Gostava de estar com Diana, mas o facto de estar constantemente com eles estava a mexer com os seus pensamentos! Tinha de sair, conviver com outras pessoas! Podia dizer-lhe que gostaria de desfrutar das horas que supostamente tinha direito. Seria uma boa forma de pensar em algo que não fosse os seus pais ou ele! Mas isso significava deixar Diana, e não podia deixar a pequena! Não depois de esta lhe ter dado um diminutivo. E também lhe tinha prometido a ele que o ajudava. O facto de querer cumprir a promessa nada tinha que ver com as coisas que ele lhe fazia sentir! Bastava recordar o breve toque para a sua imaginação disparar como se fosse uma adolescente...

Um arrepio despertou-a da divagação. Escovou o cabelo vigorosamente tentando afastar aqueles pensamentos. Ele estava a pagar-lhe para cuidar de Diana, não para fantasiar ou sonhar com ele.
Pensando estar atrasada, apanhou o cabelo e colocou um pouco de perfume antes de se juntar a eles. Mas ao chegar à sala percebeu que Diana estava sozinha. A menina vestia um vestido azul céu com um laço e usava uma trança, ao vê-la olhou para ela a sorrir.

- O teu vestido é bonito.
- Obrigada, o teu também é muito bonito.
- O pai é que escolheu. Eu queria o das flores.

Mellisa sorriu à menina e ajeitou o laço do vestido. Ao levantar-se o seu olhar ficou preso em Joshua que entrava naquele momento.
As calças castanhas tinham dado lugar a umas pretas conjugadas com uma camisa branca com dois botões abertos deixando a descoberto um pouco do peito. Com o cabelo ainda húmido, era a personificação da sensualidade.

- Prontas!?
- Sim.

O grito entusiasmado de Diana, não deixou perceber que ela estava extasiada. Para acalmar o seu coração, que parecia querer sair do peito, recordou Rick, o seu ex-namorado...

Rick era o seu ideal de homem. Alto, loiro, de olhos azuis, com o corpo de um deus. Quando o conheceu no ginásio perdeu-se de amores por ele.  Rick era o seu sonho tornado realidade... A paixão arrebatadora, levou-a a aceitar namorar com ele uma semana depois de o conhecer e não tardou a conhecer a mãe dele. A mãe de Rick era uma mulher doente, doente e complicada. Quando soube as dificuldades que ela tinha para se movimentar, prontificou-se a ajudar para que ele tivesse tempo livre, tempo para estarem juntos. E durante algum tempo, apesar do trabalho, ela pensou que era impossível ser mais feliz.
Mas quando a mãe dele faleceu as coisas entre eles colapsaram.
As discussões eram frequentes, assim como as desculpas para não estarem juntos. Sentia que nada tinham em comum, o amor não passara de uma atracção passageira. Quando olhava para ele não via mais o homem dos seus sonhos.  Continuava bonito, educado e loiro como ela sempre idealizou, mas faltava algo. Algo que ela esperava encontrar num outro homem igualmente loiro. Porque o homem dos seus sonhos seria loiro.

O que sentira por Rick não passara de atração, o tipo de atracção que sentia ao ver Joshua. E ela sabia que sentir-se atraída por ele apenas lhe traria mais complicações.



- Mell, não queres ver!?
- Desculpa linda. Estava distraída.
- Mellisa deve estar cansada. - Joshua ajudou a filha a sair do carro - Talvez preferisse ficar em casa.
- Não... - Mellisa sentiu-se mal perante o olhar triste da menina. - Estava a pensar no teu aniversário.
- O pai diz que é surpresa.
- Sim!? Que sorte!
- Posso ir até à pedra grande!?- Diana olhava para ela sorrindo - Posso?!
- Isso tens de perguntar ao teu pai.
- Posso pai?!
- Se tiveres cuidado para não te sujares. Não vais querer mostrar a cidade a Mellisa com o vestido sujo.
- Vamos à cidade!?
- Se não te sujares...

Mellisa olhou para a pequena enquanto se afastava. Era cómico vê-la andar tão devagar, olhando para o chão antes de dar um novo passo.

- É um amor de menina.
- E gosta muito de ti. Conheces Recife?
- Não. Mas penso conhecer um dia.
- Pessoalmente acho que a cidade é mais bonita após o anoitecer. - Ele olhou para a filha - Vamos jantar lá, e ver parte da cidade. Não se consegue ver muito em tão pouco tempo, mas espero que gostes.

Mellisa olhou-o sem saber que dizer, ele ia levá-la a ver a cidade! Que devia dizer!? No mínimo devia agradecer!
Abriu a boca mas não saiu palavra alguma, apenas um suspiro, ao sentir a mão dele tocar-lhe no rosto quando uma madeixa saiu do lugar. Olhou para a mão dele, os dedos brincavam com o pedaço de cabelo dela. Voltou a olhá-lo nos olhos por uns instantes. Mellisa pensou que ia desmaiar quando o seu coração começou a bater tresloucado e as suas pernas começaram a tremer... Naquele momento não queria saber se devia ou não sentir-se atraída por ele. Apenas conseguia pensar na mão dele a percorrer-lhe o corpo...
Queria confirmar se as mãos dele eram tão hábeis como lhe prometia aquele breve toque...

Que lhe estava a acontecer!? Nunca sentiria nada assim! Sabia que se devia afastar mas não era capaz!


- Pai! Mell! Olhem!

A voz da pequena chegou até ela como uma luz no meio do nevoeiro, aproximando-se pouco a pouco.

- Estou a ir.

Foi ele que se mexeu primeiro, ela permaneceu no mesmo local sentindo as pernas tremer. Como podia sentir um desejo tão grande com um simples toque?!

No minuto seguinte entravam num barco. Durante a viagem até Recife, Mellisa tentou afastar as sensações que tinham invadido o seu íntimo. Não era uma mulher inexperiente, mas não imaginara sentir nada tão avassalador...  Os sinais de alarme começaram a disparar na sua cabeça. Não se podia permitir nada daquilo...
Precisava concentrar-se em Diana, estava ali para trabalhar. Se queria viver um romance de Verão, o homem que lhe pagava o salário não era a melhor escolha. Precisava passar algum tempo a sós. Estava decidida, depois do aniversário de Diana ia pedir-lhe para sair, havia muitos homens solteiros na ilha, encontrar um que lhe despertasse o mínimo interesse não devia ser difícil! A culpa era da sua decisão idiota. Depois do namoro fracassado decidiu dar um tempo. Pensar no que queria... Mas estar sem namorado não significava viver como uma freira! Porque não podia ser como todo o mundo?! Porque tinha de sentir algo para ter um relacionamento?! Se não estivesse há tanto tempo sozinha não se sentiria assim!


- Acho que a capela Dourada merece mais que uma visita.

A voz dele chamou-a à realidade. Ao olhar o interior do edifício, Mellisa teve de concordar, a Capela Dourada era uma das igrejas mais bonitas que ela já vira. E para onde quer ela olha-se o brilho amarelo que envolvia as madeiras talhadas nas paredes era surpreendente. Imagens e pinturas sacras complementam o conjunto visual da capela, que impressionava pela enorme quantidade de ouro empregada nas suas paredes e pelo trabalho esculpido à mão.

- A capela foi construída entre os séculos XVII e XVIII. - Joshua murmurava -  Fica dentro do Convento e Igreja de Santo António. Toda ela é riquíssima em detalhes de ouro.
- É linda!
- Outro dia viremos com mais tempo.
- Outro...
- Estou com fome... - A voz de Diana sobrepôs-se à dela.
- Vamos jantar agora mesmo.

Enquanto caminhavam pela rua, Mellisa pensava no que ele dissera. Outro dia... Ele queria voltar e estava a inclui-la a ela.

- Sempre que estou em Recife venho aqui.
- E vem muitas vezes?
- Mais do que gostaria.
- Parece não gostar do que faz.
- Adoro o que faço. - Ele olhou para Diana - Mas às vezes sinto que estou a perder imensa coisa.

A forma como ele olhava para Diana mostrava como ele gostava da filha e como se culpabilizava por não a poder acompanhar. Sentiu o coração encolher, assim como ela, ele também achava que um pai deve acompanhar um filho.

- Podia conciliar o trabalho com a vida privada.
- Não é tão simples. - Ele fez sinal a um jovem que passava - Mas hoje não é dia para falar sobre isso.

O jantar correra lindamente, assim como o passeio pelas ruas da cidade. Mas agora, sem Diana para se ocupar, pois adormecera durante a viagem de regresso, ela tentava manter uma conversa o mais natural possível. O que revelou ser mais complicado do que ela imaginava, pois bastava sentir o cheiro do afther-shave dele para ela se perder em divagações.

 - Que fazes profissionalmente? - Joshua olhava para ela. - Disseste que cuidar de crianças era um trabalho de Verão.
- Sim, sou assistente num hospital.
- Num hospital?! Ninguém diria!
- Porquê?! Sou bastante competente no que faço!
- Não duvido. Mas tendo em conta a forma como cuidas de Diana, diria que cuidaste de crianças toda a vida.
- Ajudei a minha tia a cuidar do filhos.
- Teus primos...
- Sim.
- Não eras muito nova para essa responsabilidade?
- Tive de as assumir muito cedo.
- Os teus pais...
- Os avós de Diana chegam amanhã?
- Assunto proibido?!

Mellisa não respondeu, apenas fixou a pequena que dormia no colo dele. O sentimento de vazio e abandono voltou a invadir o peito dela. Se ela tivesse recebido o carinho que ele dava a Diana, ela não sentiria aquele vazio, aquela sensação...

- Apenas não gosto de falar disso. Acho que estamos a chegar.
- Sim.

Mellisa seguiu-o até ao carro em silêncio. Diana dormia agarrada ao pescoço do pai como se estivesse na sua própria cama.

- Talvez fosse melhor levá-la ao colo até casa.
- Se conseguires conduzir.
- Estava a pensar em levá-la eu. Torna-se mais cómodo para ela.
- Eu percebi.


Mellisa sentou-se no banco e ele deitou a filha nos braços dela, ao fazê-lo uma mão dele roçou na perna nua dela e ela estremeceu. O toque dele era quente e suave como ela sonhara...

- Estás bem?!
- Sim. - A voz dela não passava de um sussurro, esperava que ele atribuísse isso ao facto de Diana estar a dormir.
- Nunca adormeceu durante um passeio.
- Está cansada. Passámos o dia na praia.

Durante algum tempo estiveram em silêncio, apenas se ouvia o barulho do motor.


- Tens namorado?
- Não!

 Como não estava à espera de uma pergunta tão pessoal, Mellisa respondeu instantaneamente. Olhou para ele de lado, o que interessava se tinha ou não namorado?!

- Desculpa. Foi uma pergunta impertinente.
- Não tem importância.
- Não?!
- Porque deveria ter?!
- Por nada.

Mellisa ficou a olhar para ele enquanto ele deu a volta ao carro e lhe abriu a porta.

- Eu consigo sair.
- Acredito, mas não vais carregar com ela. - Ele olhou-a - Prometo tocar-te o menos possível.

Mellisa sentiu as faces ficarem vermelhas, assim como ela, ele também tivera consciência que a tinha tocado. Apenas não o tinha demonstrado. Ou tinha interpretado o tremor dela como algo incómodo.
Fechou a porta do carro e seguiu-o até ao quarto da menina onde ele esperou por ela.


- Podes abrir a cama?
- Deixe-me só tirar-lhe o vestido.

Com a menina deitada em cima da cama, Mellisa tirou-lhe o vestido com o maior cuidado que conseguiu para não a acordar. Quando acabou de a deitar, beijou a testa da menina e saiu fazendo o menor barulho possível. Ao fechar a porta do quarto a ténue luz da sala chamou a sua atenção. Ela tinha-a acendido quando entraram, quando se inclinou para a desligar avistou o mar através da janela. O luar fazia-o parecer um manto de prata.
Sentindo-se atraída pela visão saiu para a sacada e encostou-se à grade. Era uma vista magnífica!

Um leve ruído foi suficiente para perceber que não estava sozinha. Não precisou de se voltar para saber quem era, voltou-se tentando evitar outra situação constrangedora mas ele estava mais perto do que ela imaginara e esbarrou nele. Olharam-se por uns instantes, até que ela fechou os olhos consciente do calor do corpo dele junto ao dela... Deu um passo atrás, mas ele impediu-a colocando uma mão nas costas dela.

- Diana continua a dormir... - Foi a única coisa que se lembrou de dizer.
- Sim?!



Foi a última coisa que ouviu, no segundo seguinte os lábios dele, procuravam os dela beijando-os suavemente. Um fraco murmúrio de protesto saiu da sua boca. Joshua olhou-a fixamente para depois a apertar contra o próprio corpo e voltou a beijar os lábios entreabertos dela. O beijo, embora suave, era mais profundo que o anterior e exigia uma resposta dela. Resposta que saiu em forma de gemidos. Quando ele roçou os lábios dela com a língua, ela rodeou o pescoço dele e esqueceu que não se podia deixar levar pelo desejo. Estava a ponto de se render totalmente quando ele se afastou.

 







Sem comentários:

Enviar um comentário