Ellen acordou com o miar de Neve.
- Sabes que não deves subir para a cama. Vamos, lá para fora!
Neve saltou da cama e, como se a entendesse, dirigiu-se para a porta entreaberta.
Ellen levantou-se sorrindo e foi espreitar o jardim.
Os responsáveis pela decoração estavam a fazer um trabalho magnífico. Os toldos e a maioria das decorações já estavam espalhados pelo jardim. Aparentemente estaria tudo pronto a tempo.
Levou a mão à cabeça ao sentir uma pontada na têmpora. A dor tornara-se recorrente devido à ansiedade que ultimamente sentia.
No dia anterior, depois do enorme pequeno-almoço que comera, ela e Amelie tinham ido a pé até à vila. Com a desculpa de precisar de algo para a dor de cabeça, deixara Amelie na pastelaria e tinha ido à farmácia comprar um teste de gravidez.
Não tinha muita esperança em estar grávida, mas o olhar de Prue, em direcção à sua barriga, e a insistência para que se alimenta-se devidamente aumentava a sua desconfiança. E se a isso juntasse a alteração nas suas preferências alimentares, poderia ser possível. Quando chegasse a casa essa seria a primeira coisa a fazer, mas Luc chegara primeiro que elas e as suas intenções foram goradas.
- Dormiste bem? - Luc entrou e sorriu ao vê-la.
- Sim. Que estão a fazer?! - Ellen olhou para o jardim - Ainda não trouxeram as cadeiras? Falta apenas um dia e...
- Não te preocupes, Leroy é especialista neste tipo de eventos - Luc abraçou-a - Desculpa por te deixar sozinha.
- Amelie ajudou-me.
- E ontem comentou o cansada que estás. Por isso hoje não vais fazer nada. - Luc colocou as mãos nos ombros dela - Eu vou preparar o pequeno almoço e tu vais voltar para a cama.
- Mas eu...
- Tu vais descansar mais um pouco, e eu vou verificar tudo com Leroy. E, se não acontecer nenhum percalço, vamos almoçar fora e passear. Precisas espairecer.
Luc saiu depois de ela voltar para a cama. Ellen olhou a porta fechada, se ele ia falar com Leroy, tinha tempo para fazer o teste.
Agarrou a mala e dirigiu-se à casa de banho.
Seguiu as instruções à risca e sentou-se à espera do resultado.
Quando olhou novamente para o teste e o seu mundo desmoronou-se. Dera negativo! A ansiedade deu lugar a uma enorme frustração. Olhou novamente o teste na esperança que este tivesse um resultado diferente. Mas tudo permanecia igual, tudo menos o seu desejo de chorar! Esse tinha aumentado.
- Ellen!? Está tudo bem!? - Luc bateu na porta da casa de banho.
- Sim, não demoro.
Ellen olhou o seu reflexo no espelho. Tinha os olhos vermelhos, aquele não era o aspecto esperado de uma noiva. Lavou o rosto antes de regressar ao quarto.
- Que fazes fora da cama?!
- Estou cansada de estar deitada.
- Mas precisas descansar.
- Para descansar não preciso ficar deitada! - Ellen sentou-se no cadeirão junto à janela.
- De certeza que está tudo bem? - Luc olhava-a fixamente.
- Podes parar de perguntar isso!?
Ellen levantou-se rapidamente quando sentiu as lágrimas eminentes e, sem olhar para ele, voltou para a cama.
Por algum tempo apenas se ouvia a respiração agitada deles. Ellen mortificou-se por aquele ataque de raiva. Obrigou-se a controlar as lágrimas e olhou para ele, Luc permanecia no mesmo local, olhando para ela em silêncio.
- Desculpa. - Ellen sentou-se na cama. - Estou nervosa.
- Esquece. Vou ver se Prue preparou o teu pequeno almoço .
- Eu vou...
- Não! - Luc interrompeu-a - Tu ficas aí!
Luc deixou o quarto e ela ficou a pensar porque falou com ele daquela forma, como se ele fosse o culpado daquela situação. Ela não era a única que desejava um filho!
Não era justo ser indelicada com ele, mas a possibilidade de ser mãe tinha despertado nela um desejo até então adormecido. Naquele momento não havia nada que desejasse mais!
Recostou a cabeça e deixou as lágrimas caírem.
- Não me vais dizer que está tudo bem...
Ellen abriu os olhos e viu-o, estava frente a ela com o tabuleiro do pequeno almoço.
- Está sim, eu é que estou a ser idiota.
- Queres falar disso!?
- Podemos falar depois? Agora só preciso de um abraço.
Luc abraçou-a e depois de chorar sentiu-se um pouco melhor. Mas isso não devolveu o sorriso ao seu rosto, e durante a manhã esteve alheia a tudo, respondendo apenas ao que lhe perguntavam directamente. Por algumas vezes o seu olhar se cruzou com o de Amelie e o de Luc, e aí forçava um sorriso.
Para evitar os olhares deles, a meio da tarde regressou para o quarto com o pretexto de tomar banho.
- Que se passa contigo!? - Luc entrou e fechou a porta - Queres deixar-me louco!? Porque não falas comigo!? Estás arrependida. É isso!? Não queres casar!?
- Claro que sim!
- Então fazes o favor de me explicar que se passa!?
Ellen olhou para ele, a preocupação dele era evidente, assim como o medo de a perder. Um bebé é uma dádiva num casal, não de uma pessoa só.
- Não estou grávida.
- E era suposto estares!?
- Eu queria! - Ellen não conseguiu controlar as lágrimas - Não tinha a noção do quanto desejava ser mãe! Desculpa...
- Não imaginas o feliz que me fazes por saber que partilhamos esse desejo. - Luc beijou-lhe a testa. - Mas um filho é motivo de felicidade, não desse estado de nervos em que te encontras.
- Mas falas tanto nos filhos que teremos...
- Teremos no futuro. Não neste momento. Afinal regressei agora, vamos casar... É justo ter a minha esposa para mim por uns tempos.
- Não ficas aborrecido!?
- Aborrecido!? Amo-te, independentemente do número de filhos que possamos vir a ter. Se os tivermos fico muito feliz, se tal não se proporcionar serei igualmente feliz.
- Tens a certeza!?
- Absoluta.
Ellen rodeou-lhe o pescoço com os braços e puxou-o até ela. Os lábios tocaram-se e beijaram-se carinhosamente. Pouco depois os beijos intensificaram-se e estenderam-se ao peito nu dela. Ellen deitou a cabeça para trás e deixou-se guiar pelas doces sensações que ele lhe despertava. Entre gemidos e beijos, Luc pegou-a ao colo e levou-a até à casa de banho. Ali retirou-lhe a roupa interior e segundos depois a roupa dele juntava-se à dela. Com ela ao colo, e sem se separarem, entrou no chuveiro. Ellen arrepiou-se ao sentir a parede fria nas suas costas, Luc beijou-a apaixonadamente enquanto suportava o corpo dela com o seu. Ellen abriu os olhos quando sentiu que ele a segurava com demasiada força.
Já tinham feito amor ali, mas ele parecia-lhe diferente. Mais apaixonado, mais impetuoso...
Ellen deixou de pensar quando ele aumentou o ritmo dos movimentos, levando-a a esquecer tudo ao seu redor. Ainda respirava com dificuldade quando ele começou a lavar-lhe as costas e a depositar pequenos beijos no seu pescoço.
- Tenho de descer. Leroy deve perguntar-se por onde ando.
- Precisas de mim?!
- Não, mas acho que Amelie queria falar contigo.
- Cinco minutos e desço.
Ellen juntou-se a eles pouco depois e retomaram os últimos preparativos. Leroy era incansável e além de pessoal igualmente incansável, tinha ideias originais para a decoração. Ellen teve de reconhecer que Leroy merecia todos os elogios que lhe pudessem fazer.
As flores chegaram pouco depois e o pessoal do catering chegou com as arcas e os frigoríficos necessários para o evento.
Quando regressaram ao quarto era tardíssimo e estavam exaustos, mas satisfeitos com o resultado.
A música enchia o ar naquela tarde de festa e Ellen dançava com Niel, enquanto Luc dançava com Gwen.
Sorriu ao recordar o dia.
Tinha sido uma correria pois decidiram fazer tudo em casa. Prue dizia que, devido às circunstâncias, era uma insensatez. Mas perante a insistência dela, acabou por ajudar na decoração da sala e ajudou-a a receber os primeiros convidados. O pároco tinha concordado em celebrar o casamento no jardim da mansão. Foi uma cerimónia simples, mas muito elegante. Os convidados elogiaram o trabalho de Leroy e a restauração que eles tinham feito na mansão e recordaram as festas que os pais de Luc davam. Quando o marido de Gwen a conduziu até ao altar, ela olhou para os convidados. Na sua maioria, eram todos amigos de Luc, ela apenas tinha convidado Edson e a esposa, e Gwen e o marido desta, que era também seu padrinho. Ao caminhar na direcção de Luc, sentiu saudades do seu pai. Mas o olhar de Luc ajudou-a a pensar apenas nos momentos felizes. E quando disseram o sim, a felicidade estava espelhada no olhar deles e ainda estava quando se despediram dos convidados nessa noite.
- Bom dia. Pronta para o seu primeiro dia de casada? - Luc olhava para ela apoiado no braço.
- Bom dia. - Ellen sorriu-lhe. - Temos planos?!
- Amelie e Niel convidaram-nos para almoçar. Mas se não quiseres, ficamos em casa.
- Não! Seria indelicado da nossa parte.
- Sim, possivelmente. - Luc levantou-se - Tendo em conta que vamos de viagem.
- Viagem!?
- Temos direito a lua de mel.
- Por mim podemos ficar por casa.
- Já notei que adoras a casa, mas quero mostrar-te alguns dos locais mais lindos do mundo.
- Nesse caso, coloco-me nas tuas mãos.
- Hum... Agrada-me a ideia.
- Luc... Temos de ir...
- Eu sei.
Luc beijou-lhe os lábios brevemente e entrou na casa de banho. Teriam toda uma vida para desfrutar da companhia um do outro.
Ellen sorriu para Amelie e pressionou a têmpora, a dor de cabeça tornara-se mais forte. A voz de Amelie tornou-se quase imperceptível. Falava algo sobre os dois cachorros.
- Niel! Niel!
Porque Amelie chamava por Niel!? Os olhos pesavam tanto... Ia dormir só um...
- Não te preocupes.
As vozes, da mesma forma que se afastaram, começavam a aproximar-se. Amelie terminara de falar e ela não se recordava do tema! Adormecera por muito tempo !? E na casa de Amelie!? Que vergonha!
- Ellen!? Como te sentes!? - Niel segurava-lhe o pulso.
- Bem.
Ellen abriu os olhos lentamente. Não estava na sala de Amelie. As paredes brancas e aquele cheiro... Estava no hospital?!
Sentiu uma mão quente segurar a dela, seguiu o braço e viu Luc que olhava para ela com um olhar preocupado.
- Que aconteceu!?
- Nada de preocupante, mas vamos esperar pelos resultados. - Niel sorriu - É a primeira vez que desmaias?
- Desmaiei!?
- Sim. E deste-me um susto de morte. - Luc acariciou-lhe o rosto.
- Tenho dores de cabeça, mas nunca desmaiei!
- E além das dores de cabeça, algo mais!?
- Não.
- Muito bem.
- Como bem!? - Luc exaltou-se.
- Como te disse, não te preocupes. Apenas preciso dos resultados para confirmar as minhas suspeitas.
- Niel... Tenho algo grave?
- Grave!? Não...
Nesse momento o telefone do escritório tocou. Niel atendeu sob o olhar preocupado deles. Desligou depois de agradecer e olhou para eles sorrindo.
- Agrada-me ser portador de tão boas notícias. Na minha especialidade não é comum...
- Bolas Niel! Deixas de enrolar!?
- Muito bem... Dentro de meses serão pais.
- Como!?
- Não é possível! - Ellen olhou para Niel.
- As análises comprovaram que estás grávida..
- Eu fiz um teste à dias e deu negativo.
- Podes assegurar!? - Luc apertou a mão ela.
- Claro! Eu suspeitei quando Ellen deixou de beber café. Depois falei com Prue e garantiu-me que "a menina come coisas que nunca comeu e fica branca com o cheiro do gás queimado". " Uma mulher naquelas condições precisa descansar, não de festas" E parece que comeste quase um bolo de chocolate inteiro! Felicidades papás!
- Obrigada.
Ellen olhou para Luc e as lágrimas caíram em cascata pelo rosto dela.
- Luc?!
- Não era isso querias!?
- Sim... Não estou a acreditar... Vamos ter um bebé!
- Um filho!
A barriga de Ellen estava enorme e os pequenos incómodos foram desaparecendo com o passar dos meses. Quando Luc não estava, Amelie dividia o tempo entre o abrigo e ela. E nos últimos dias, esta mudara-se para a mansão. Luc ficaria fora uns dias e queria alguém para fazer companhia a Ellen. Para ela não se aborrecer, mas ela não parava um segundo. Entre Leroy, que tinha levado o catálogo para escolherem a cor do quarto do bebé, Amelie que tinha levado os dois cachorros para a mansão e Prue que insistia em tratá-la como uma criança, tinha muito com que se ocupar.
Colocou o catálogo de lado e olhou o relógio, Luc estava atrasado para a primeira ecografia, mas ela não podia esperar mais.
Antes de sair avisou Prue que Niel ia deixar as casotas dos cachorros e foi com Amelie à clínica.
Amelie ficou retida na recepção por uma amiga e ela foi fazer a ecografia sozinha. Quando saiu ainda estava entre o incrédula e o assustada. Sentou-se numa cadeira para respirar fundo e tentar acalmar o seu coração.
- Ellen! - Luc aproximou-se com Amelie - Não consegui chegar a tempo. Desculpa.
- Vamos ter gémeos! - Ellen olhou para ele fixamente.
- Gémeos!?
- Sim...Acreditas?!
- Não posso!!! - Amelie sentou-se na cadeira ao lado, tão atónita como eles.
- Gémeos?! - Luc voltou a repetir.
- Sim. Na próxima consulta já conseguimos saber o sexo deles.
- Prometo que não faltarei. Meu Deus... Gémeos! A partir de agora não volto a deixar-te sozinha.
E Luc cumpriu o prometido, quando, numa madrugada fria de inverno, Ellen entrou em trabalho de parto ele estava a seu lado. E aí continuou até que Linus e Elleine nasceram.
- Meu Deus! - Luc sorria para Ellen com Elleine nos braços. - São tão pequenos!
- Mas vão crescer. E depressa. - Ellen beijou o pequeno Linus. - Depois teremos saudades deste tempo.
- Quando tiveres saudades, podemos pensar num irmão para eles.
- Num irmão?! Ao menos deixa-os começar a andar.
- Muito bem. Quando começarem a andar pensamos nisso.
FIM
Sem comentários:
Enviar um comentário