Ellen entrou no escritório de Amelie e sentou-se enquanto esta terminava de falar ao telemóvel. Pedira a Luc que a deixa-se no abrigo enquanto ele estava em reunião.
Estavam juntos à duas semanas e tinham marcado a data do casamento, mas como falavam tão pouco, ela sentia que não o conhecia, ou que concordava com ela só para dormirem juntos.
Como fizera com Neve, inicialmente aceitou que o levasse, mas no dia seguinte inventou um pretexto para não o levarem. Assim como...
- A que devo a honra!? - Amelie interrompeu os pensamentos dela.
- Preciso falar contigo.
- Está tudo bem entre vocês!?
- Penso que sim.
- Pensas... Que se passa!?
- Luc... Parece diferente.
- Diferente!? Como diferente?
- Não sei explicar.
Ellen sentiu-se ridícula, ali estava a lamentar-se com Amelie, a melhor amiga dele. Possivelmente, assim que saísse dali, iria contar tudo a Luc.
- Desculpa. Não devia de ter vindo.
- Claro que devias! Senta-te e diz-me que te incomoda. É por causa do casamento? Não estás segura?
- Como estar totalmente segura quando Luc vive rodeado de mulheres lindas!? Ele diz que me ama, mas... Não sei...
- Não sabes!? Conheço-o desde sempre e nunca mostrou grande interesse por nenhuma mulher. Foste a primeira por quem manifestou algo sério.
- Então porque mal fala comigo?! Porque parece que o único interesse que tem por mim é sexual!?
- Nisso não te posso ajudar. Mas posso assegurar-te que te adora - Amelie fez uma pausa - Porque não falas com ele?
- Porque sempre que tento, beija-me e diz que temos tempo.
- Café!? - Amelie sorriu ligeiramente.
Durante alguns segundos apenas se ouviu a máquina de café e a respiração pesada dela.
- Luc é complicado. - Amelie sentou-se em frente a ela- Sabes, nunca vi Luc tão preocupado como quando, na noite do leilão, me trouxe a este mesmo gabinete. Estava desesperado, ao início dizia coisas sem sentido, depois acalmou-se e disse que era um idiota. Que tinha arruinado tudo com a mulher da vida dele, mas que não estava disposto a perdê-la por uma estupidez. Estava a falar de ti.
- Tenho medo de ser apenas um capricho. Que um dia acorde e perceba que não...
Ellen começou a chorar e Amelie segurou-lhe a mão.
- Ellen, se tens dúvidas devias falar com ele. Expor o que sentes. Sei que se amam, e teria imensa pena que não se dessem uma oportunidade, mas isso é um assunto vosso. Já me imiscuí demais.
- Imiscuíste!?
- Sim. Achas que ele faria tudo sozinho?! Não, eu ajudei-o! - Amelie olhou-a nos olhos - Quando percebi que eras a mulher que Luc amava, fiquei atónita. O destino fora cruel com ele, finalmente amava uma mulher, mas não era correspondido! - Amelie parou uns segundos - Sempre suspeitei que escondias algo, mas pensei que fosse por causa de Jim. Até que ele veio falar contigo. Aí percebi, tu não amavas Jim, mas Luc! E embora não parecesses o tipo de mulher que fosse traí-lo na primeira oportuni...
- Nem na primeira, nem na última! - Ellen interrompeu-a ofendida.
- Desculpa, não era isso que pretendia dizer. Queria confirmar que estava certa. Que o facto de deixares a editora e te negares a escrever o artigo, era porque amavas Luc. No dia que te pedi para lhe ligares queria ver a tua reacção ao falares com ele. Sabes que tens uns olhos muito expressivos!? É impossível não ver o amor que sentes. Durante o telefonema presencie as mudanças do teu rosto, vi uma mistura de saudade e dor. E no minuto seguinte tentavas disfarçar a curiosidade. Estavas nervosa e preocupada, enquanto Luc estava tão eufórico que mal me deixou falar. Ele não sabia que trabalhavas aqui, e estava desesperado para ter uma oportunidade para falar consigo. Não vou dizer que me obrigou, foi com o maior prazer que o ajudei. Quando deixei a minha casa sentia que tinha feito a minha parte, o resto estava nas vossas mãos. Nas mãos de dois teimosos que se amavam.
- E graças a ti tudo se esclareceu.
As duas mulheres olharam para a porta quando ele falou. Não o ouviram entrar.
- Luc! - Amelie olhou para ele - Peço desculpa...
- Não tens porque pedir desculpa. Eu fiquei de explicar, mas acabo sempre por adiar.
- Já percebi. Mas não devias de o fazer.
- Temos tempo. - Luc beijou-a e os olhos dela encheram-se de lágrimas. - Já lhe disseste? - Luc sentou-se e alheio às lágrimas, puxou-a para junto dele.
- Já! - Amelie respondeu por ela - Se ainda estiverem interessados podem levar Neve, mas terão de esperar um pouco mais para levar os vossos meninos. Ainda são muito pequenos.
- Interessados!? Nossos meninos!?
- Sim. - Amelie olhou-o surpreendida - Neve e os dois cachorros.
- Dois cachorros!?
- Não falaram sobre isso ?
- Sim!
- Não!
Falaram ao mesmo tempo e olharam-se, enquanto Amelie agarrava uns papéis e abanava a cabeça.
- Vês ao que me refiro!? - Ellen olhou para ela.
- Não me vou intrometer.
- Esta confusão é por causa de Neve?
- É sim! - Ellen semicerrou os olhos - E concordaste!
- Concordei!?
- Vou deixar-vos...
Ellen levantou-se assim que Amelie fechou a porta. Sabia que o momento não fora o apropriado, mas ele tinha concordado.
- Sim concordaste! Agora vais dizer que não!? É próprio de ti...
- Não quero discutir! - Luc interrompeu-a - Sei que no momento estava concentrado noutro assunto.
- E isso é a única coisa que tem a tua atenção!
- Sabes que não é assim! Lembro-me perfeitamente que falaste em Neve e dois irmãos.
- Sim!
- Logo, são três gatos.
- Os irmãos não terão de ser obrigatoriamente de Neve!
- Isso já percebi!
- E já não é sem tempo!
- Meu Deus! - Luc começou a rir.- Não acredito!
- Ainda bem que achas piada!- Ellen estava irritada.
- Tens de concordar que tem alguma. Como é possível pensarmos em casar se...
- Pensarmos!?!! Acho que não pensámos de todo! Aliás, eu não quero...
Ellen viu-se silenciada pelos lábios de Luc que pressionavam os dela exigindo uma resposta. Quando ela se rendeu, Luc segurou o rosto dela entre as mãos e olhou-a fixamente.
- Não voltes a dizer, insinuar, ou pensar sequer, que não queres casar comigo ou que me vais deixar.
- Tu é que...
- Posso falar sem que me interrompas, ou ameaces desaparecer?! - Luc falou depois de a beijar novamente - O que me parece impossível não é o facto de casarmos, porque isso é ponto assente! É decidirmos casar quando não conseguirmos falar de coisas triviais! Temos de melhorar a nossa comunicação.
- Se não pensasses só em sexo!
- Eu não penso em sexo, penso em fazer amor. Existe uma pequena, mas importante diferença. E se há culpados nesta história, esse alguém és tu. Amo-te. Nunca esqueças isso. Preciso de ti e de estar contigo tanto como do ar que respiro. - Luc sorriu - Com Neve e todos os irmãos que desejes. Sejam eles dois ou duzentos, desde que isso te faça feliz.
- Queres dizer que podemos ficar com eles!?
- Se estiveres segura disso. Sabes que cachorros são cães pequenos, certo!?
- Que piadinha!
- Não estou a brincar. Apenas quero saber se não terás problemas com eles quando crescerem.
- Penso que não. Vou acompanhar o crescimento deles.
- Caso contrário vais dizer-me?!
- Sim.
- E quando tiveres dúvidas, sejam de que tipo for, falas comigo!? Não tenho nada contra falares com Amelie, mas preciso saber o que te incomoda, o que sentes... Não quero que me escondas nada, sejam coisas boas ou más. Prometes?
- Prometo.
Ellen olhou para o café, fazia dias que era incapaz de o beber. Sempre gostou do café forte, então porque não conseguia bebê-lo!? Deixara de gostar do café, e do bolo de maça. E apesar de pedir a Prue, a cozinheira, para fazer outro, esta insistia em fazer aquele pois era o preferido de Luc. Se tivesse enjoos desconfiava de uma possível gravidez, mas além da ausência deles, a menstruação não falhara. Talvez fosse dos cozinhados mais...
- Ellen!?
- Desculpa.
- Está tudo bem!? Luc voltou a ser idiota!?
- Não, tem sido incansável. Desdobra-se em atenções e não me pode tratar melhor. Eu é que estava distraída.
- Ainda bem. - Amelie sorriu - Nesse caso devem ser nervos, vão casar dentro de dias e Luc não está. Bem que podia ter adiado a reunião!
- Ele chega amanhã à noite.
- Que compreensivo, chegar nas ante-vésperas do casamento!
Ellen sorriu perante o sarcasmo de Amelie.
- Obrigada por me ajudares. E por seres minha madrinha.
- É uma honra e um prazer enorme. Como te estava a perguntar, foste fazer a última prova do vestido!?
- Sim, está perfeito.
- Óptimo. Jantamos juntas!?
- Obrigada, mas vou directamente para casa.
- Claro, fazes bem, pareces cansada. Quando Luc chegar vou dizer-lhe das boas! Olha que deixar a noiva tratar de tudo sozinha.
- Não estou sozinha, tenho-te a ti e ele contratou tanto pessoal que me sinto intrusa na minha própria casa.
- Queres que vá contigo?
- Obrigada, mas não é preciso. Assim que chegar a casa vou deitar-me.
- Então, amanhã bem cedo estou lá.
- Combinado.
Ellen esforçou-se por sair da cama. Há uma semana que Amelie se mudara para casa de Niel, para a ajudar com os preparativos do casamento. Amelie chegava cedo e partia noite cerrada, o que deixava Ellen exausta.
Mas além do cansaço, ela sentia que havia algo mais, pouco dormia e comia miseravelmente. Sentia fome, mas mal começava a comer parecia que tinha comido um banquete! Pensara em falar com Niel, mas Amelie devia de ter razão, eram apenas nervos. Embora vivesse com Luc à alguns meses, casar era um passo importante.
Quando descia as escadas chegou até ela o cheiro a bolo de chocolate. Finalmente Prue acedera aos seus pedidos e tinha feito um bolo sem ser de maça.
Entrou na cozinha sorrindo, disposta a agradecer a Prue mas esta não estava. Sentou-se à mesa e para sua surpresa, comeu quase metade do bolo e bebeu dois copos de sumo de laranja!
- Bom dia menina. - Prue olhou para ela sorrindo.
- Bom dia Prue. O bolo está divinal. Obrigada.
- De nada menina. Vejo que recuperou o apetite.
- São os nervos. - Ellen levantou-se - Se Amelie chegar estou no escritório.
- Com certeza menina.
Ellen olhou para Prue. Sorria imenso, o que não era normal. Geralmente era uma mulher reservada, que pouco falava e muito menos sorria. Algo a deixava feliz, talvez a ideia do casamento. Um casamento é sinal de felicidade! Ou haveria algo mais!? Talvez um namorado!?
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