segunda-feira, 4 de setembro de 2017

APÓS O ENTARDECER 6ª PARTE





Quando Mellisa tirou o vestido da caixa, e dedicou algum tempo a apreciá-lo, teve de admitir que Joshua tinha bom gosto. Não era longo como ela achava que devia ser um vestido de noite, chegava-lhe apenas aos joelhos, mas parecia feito propositadamente para ela.
O vestido era drapeado em seda preta, com alças finas, o cinto por debaixo dos seios, que passaria despercebido se não tivesse uma rosa branca aplicada, evitava que o tecido esvoaçasse mais que o desejado. Leve, fresco e elegante. Tudo o que se pode pedir a um vestido de verão.
Sem sapatos de salto alto, calçou as sandálias de cunha com tiras pretas e deixou o cabelo solto. Olhou-se mais uma vez e gostou do resultado final.

Ao fechar a porta do quarto sentiu um leve formigueiro no estômago.
Estava nervosa! A culpa era do beijo! Melhor, dos beijos! Se não se tivessem beijado não estaria assim! Fechou os olhos e encostou a cabeça à porta respirando fundo.

- Estás a chorar?

Mellisa sobressaltou-se ao ouvir Diana.

- No teu aniversário!?
- Dói-te a cabeça?
- Não. Mas obrigada por perguntares. Precisas de alguma coisa ?
- O pai pediu para chamar-te.
- Te chamar. - Joshua corrigiu a filha - Vamos chegar atrasados.
- Tenho de levar Tedy.

Diana entrou no quarto e Mellisa olhou-o nos olhos.
Joshua aproximou-se ao mesmo tempo que segurava a mão dela. Sem desviar a vista acariciou-lhe o rosto com a mão livre.

- Fica-te muito bem
- Obrigada. É lindo.

Joshua afastou-se quando ouviu a porta do quarto da filha.

- Já estamos. - Diana segurou a mão dela e olhou para o pai. - Podes segurar a mão de Mell, eu não me importo!
- Não!?

Se não fosse a vergonha que sentiu, ela própria teria dado uma gargalhada ao ver como ele ficava sem fala.
Mas contrariamente ao que esperava, Joshua não se afastou, olhou a filha uns instantes e depois de lhe sorrir, voltou a agarrar a mão dela.

- Nesse caso agradeço, e aceito a permissão.
- Joshua, não sei se é boa ideia.
- Eu acho estupenda!
- Eu também.

Mellisa olhou para Diana e o seu coração encolheu ao ver o sorriso da menina. E porque não? Ela gostava de sentir o toque dele, e se ele queria segurar a mão dela, ainda que brevemente, ela não se iria opor.

Enquanto ele conduzia, ela observou-o. Estava com um fato preto e camisa branca. A escolha dele pareceu-lhe um pouco séria para um jantar com quem já fora da família. Mas se eles fossem como a filha, exigiriam elegância e sobriedade.

- Tenho de sentar-me junto da avó?

Diana, que até ali cantava para Tedy, interrompeu o seu reportório musical.

- Seria agradável. - Joshua olhou para a filha.
- Eu queria ficar com Mell. - Diana abraçou Tedy - Porque têm de vir!?
- Porque é o teu aniversário.
- E porque gostam de ti. - Mellisa voltou-se para a menina - As avós adoram os netos. Gostam de lhes contar histórias, passear com eles, comer gelados...
- Faço isso contigo.
- Os teus avós querem estar contigo. - Ele estacionou o carro e olhou para a filha - Vais comportar-te e ponto final.

Mellisa olhou para ele sem acreditar no que ouvia! Onde se tinha metido o homem com quem tinha saído de casa?! Ao olhar para Diana recordou quando a viu no aeroporto. A alegria tinha desaparecido do olhar dela, dando lugar a uma menina triste.
Quando viu que ele se afastou na direcção de outro carro que acabava de chegar, tirou Diana do carro e sorriu-lhe.

- Vais ver que o jantar termina num instante. E eu vou estar sempre perto de ti.
- Já não deixo que segure na tua mão.
- Fazes muito bem. - Mellisa sorriu perante a ingenuidade da menina. - Mas podias sorrir.
- Não quero.
- Oh, que pena! Gosto tanto do teu sorriso.
- Está bem ...
- Obrigada. És uma menina linda.

Mellisa beijou o rosto dela e juntaram-se a Joshua e ao casal junto à entrada do restaurante.

A avó de Diana, depois de olhar descaradamente para ela, abraçou a neta efusivamente. A menina esforçou-se por manter o sorriso, durante o que lhe pareceu ser o abraço mais longo que ela tinha presenciado, e continuou sorrindo enquanto o avô a envolvia num abraço mais comedido.

Joshua falava com os avós de Diana em espanhol, e apesar de não entender o que diziam, a conversa parecia fluir entre eles. Mas em determinados momentos era palpável uma certa tensão entre eles. Não conseguia explicar como, nem porquê. Algo no olhar dele, a forma como movimentava as mãos ao falar... Pequenas coisas que a faziam acreditar que não estava tão descontraído como aparentava.
Em alguns momentos teve a sensação de ser o motivo da conversa, ao mesmo tempo que era observada, como se estivesse a ser avaliada.

Quando serviram o café, ao ver a pobre Diana ser apertada novamente nos braços da avó, desejou "salvá-la" dos constantes beijos e abraços a que era submetida. Eram tantos que até ela se sentia sufocar.

Quando Diana conseguiu fugir da avó, procurou refúgio no colo dela.

- Ainda demoramos? - Diana sussurrou-lhe ao ouvido.
- Acho que não.
- Quero ir para casa.

Mellisa beijou-a ternamente e ao olhar para eles, reparou que eles a observavam em silêncio.

O olhar de Joshua era indecifrável. Mas os avós de Diana pareciam emocionados.
Ela estendeu a mão até ao braço dele chamando a sua atenção.

- Joshua. Desculpa interromper, mas demoramos? Diana está cansada. O dia foi cansativo para ela.
- Tens razão.

Ela tentou retirar a mão, mas Joshua segurou-a por cima da mesa e entrelaçou os dedos nos dela. Com algum receio olhou para os avós de Diana, mas estes pareciam não se importar. Apenas as constantes variações de pressão, que ele exercia na sua mão, lhe indicavam que estava sujeito a uma grande tensão.

Quando se despediram dos avós de Diana, ela foi surpreendida por receber, entre palavras incompreensíveis para ela, um abraço apertado e emotivo da mulher.

Diana soltou um suspiro quando o carro dos avós se afastou e encostou a cabeça na cadeira.
Mellisa olhou para ele, tinha o semblante carregado, como se estivesse preocupado com algo.
Pouco depois, a respiração tranquila de Diana, indicou-lhe que esta adormecera.

- Ela fica sempre assim!?
- Como?
- Triste e nervosa.
- Geralmente.
- Devias permitir que tivessem mais contacto.
- Mais contacto...
- Apenas penso no melhor para Diana.
- Por isso mesmo não devia permitir que se aproximassem dela.
- Não achas isso um pouco cruel?
- Cruel?! Não sabes o que é crueldade!


Mellisa sentiu aquelas palavras como facas no seu coração. Crueldade... Podia não ser no mesmo contexto, mas ela sabia o que era a crueldade. Tivera de viver sem o carinho de uma mãe, ou do pai! Os tios tratavam-na bem, mas não como a uma filha. Nestes anos todos nunca se deram ao trabalho de responder ás cartas que enviara! Nem lhe devolveram as chamadas! No presente momento podia considerar-se órfã! Haveria maior crueldade que ser-se privado do carinho daqueles que amamos!?

Depois daquela conversa, Mellisa sentiu as lágrimas nos olhos e fixou o olhar no exterior. Queria chegar a casa quanto antes, o ar dentro do carro estava pesado demais, apenas se ouvia a respiração de Diana.
Quando chegaram a casa ela apanhou Tedy no banco do carro e foi preparar a cama da menina. Joshua seguiu-a com a filha nos braços e ficou a observá-la enquanto ela lhe tirava o vestido e a deitava.
Mellisa tapou a menina com o lençol e passou por ele sem lhe dirigir palavra. Ele tinha-a magoado, o facto de lhe pagar para cuidar da filha não lhe dava esse direito. Nem isso, nem os beijos que trocaram.

- Mell...
- Estou cansada. Se não te importas vou dormir.



Sem esperar resposta Mellisa entrou no quarto, e depois de fechar a porta sentou-se na cama a olhar o vazio.
Que sabia ele da vida dela!? Nada! Supusera que ela não sabia o que era sofrer. Como estava enganado...
Ela sofrera e continuava a sofrer, mas a vida não a tornara sínica como ele. Ele achava-se no direito de afastar Diana dos avós porque não se entendia com a mãe desta. E ia semeando o rancor no pequeno coração da menina, e a julgar a atitude dela, ele estava a fazer um bom trabalho. Diana não gostava dos avós! Se ele pudesse imaginar sequer o mal que estava a fazer à filha...


A última coisa que recordava, antes de adormecer, era de colocar o vestido no roupeiro. Mas devia de ter adormecido em má posição pois acordou com dor no pescoço. Com dor e com sede! Massajando o pescoço, olhou o relógio na mesa de cabeceira. Duas da manhã. Vestiu uma camisa de dormir por cima da roupa interior e foi à cozinha apanhar água.
Enquanto bebia água olhou lá para fora, o som do mar chegava até ela... Abriu a porta e sentou-se nas escadas a olhar o mar.  A nostalgia acomodou-se no seu peito com o suave murmúrio das ondas.

Aquele lugar era lindo. Um verdadeiro paraíso. Podia ficar ali para sempre... Porque não!? Ninguém a esperava em casa! Nem um mísero gato! Se não regressasse, ninguém iria notar a sua ausência! Ninguém se preocupava com ela! Com a visão turva pelas lágrimas olhou as estrelas. Se ao menos a mãe estivesse com ela...

- Posso sentar-me?

Mellisa limpou as lágrimas ao ouvir a voz dele.

- Não vejo porque não.

Mellisa tapou as pernas, o melhor que conseguiu, com a camisa e desejou ter levado os pijamas. As camisas de dormir dela eram minúsculas. Sempre detestara sentir o tecido enrolar-se na cintura durante a noite, por isso optava por pijamas ou camisas pequenas. Como ia para o Brasil optou pelas camisas de dormir. Devia de ter vestido um roupão...

- Também estás com insónias!?
- Não. Vim beber água.
- Aqui fora!?
- É um local tão bom como outro qualquer. - Mellisa olhou-o aborrecida e mostrou-lhe o copo da água - Mas vou entrar agora.
- Fica. - Joshua segurou a mão dela impedindo que se levantasse - Não pretendia ser rude contigo.
- Tens o direito de saber onde estou e o que faço. Afinal estás a pagar-me para estar aqui.
- Não digas isso. E não me referia a este momento. Estava nervoso e descontei em ti.
- Acontece.

Mellisa levantou-se decidida a voltar para o quarto, mas quando colocou a mão na porta para a abrir, sentiu a mão dele sobre a sua. Ela tentou afastar-se mas ele segurou-a pelos ombros e voltou-a de modo a encará-lo. Soube que não tinha forças para lhe resistir quando ele lhe colocou a mão no pescoço e começou a brincar com o cabelo dela. Ao sentir o calor da mão dele, entreabriu os lábios e ele apoderou-se deles. Os lábios dele exigiam que lhe devolvesse a mesma paixão que ele depositava, ao mesmo tempo que a língua dele brincava com a dela até que ela gemeu e colocou os braços ao redor do pescoço dele. Sentiu a mão dele arrastar a camisa de dormir até chegar aos seios acariciando-os até fazê-la estremecer de prazer. Pouco depois viu-se entre o corpo dele e a parede enquanto ele lhe tirava a camisa de dormir. Sem deixar de a beijar tirou-lhe o soutien e depois despiu a camisa dele. Ao sentir a pele nua contra a dele estremeceu de desejo, entreabriu os olhos ao ouvir um barulho estranho, pela primeira vez desde que chegara, as persianas da cozinha eram fechadas, envolvendo toda a habitação na total escuridão.

Não conseguia ver nada, apenas conseguia sentir as mãos dele percorrendo o corpo dela, beijando-o até levá-la a suspirar e depois a suplicar que terminasse com aquela doce tortura. Quando ele a sentou na bancada da cozinha e se colocou entre as pernas dela, ela sussurrou o nome dele. No momento que ele a penetrou, apoderou-se da boca dela e apertou-a contra o peito, estreitando a distância a cada movimento.

Na segurança da escuridão os  corpos moviam-se como se fossem um só, entregues ao prazer que o momento lhes proporcionava. Quando ela explodiu de prazer ele abraçou-a e calou os gemidos com um novo beijo, pouco depois era ele que estremecia nos braços dela.


A água escorria pelo corpo dela, enquanto ela se perguntava como fora capaz. Nunca tinha feito sexo numa cozinha. Nem em qualquer outro lado sem ser no quarto! Com Rick tudo era dentro dos bons costumes. Até a atracção que sentira por ele era controlada! Nada comparado com a avalanche de desejo que sentia ao estar com Joshua! Como explicar aquela atracção avassaladora que sentia?! Ou como conseguira passar a maior parte da noite na cama dele...

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