sexta-feira, 8 de setembro de 2017

APÓS O ENTARDECER 7ª PARTE




Apesar da conversa animada de Diana ela não conseguia afastar os acontecimentos da noite anterior da sua cabeça. E quanto mais pensava no que tinha acontecido, mais se convencia que tinha cometido o maior erro da sua vida.
Na primeira vez estava emocionalmente debilitada e deixara-se levar pelo desejo, mas quando ele a levou pela mão até ao quarto, ela seguira-o esquecendo tudo por completo. E mortificava-se por isso, não pensara uma só vez em Diana, nem na mãe desta!


- Queres mais?

 Mellisa despertou do seu devaneio quando algo bateu levemente na sua mão. Olhou para o objecto, um açucareiro...  Porque Joshua lhe estendia o açucareiro?!

- Desculpa?!
- Perguntei se queres mais açúcar!
- Não obrigada.

Joshua colocou o açucareiro na mesa e olhou para ela.

- Estás à mais de meia hora a mexer o café.
- Estou?!
- Sim. Algo te incomoda?
- Não... Sim...- Mellisa olhou para Diana que dava uma bolacha a Tedy - Não...
- Podes ser mais especifica?!
- Coisas minhas.

Mellisa bebeu o café sob o olhar dele.

- Terminaste o pequeno almoço? - Joshua olhou para a filha.
- Sim. MasTedy ainda não.
- Acho que ele preferia comer na praia. Porque não preparas umas bolachas para levar?! - Joshua sorriu para a filha.
- Vamos, eu ajudo-te. - Mellisa segurou a mão da menina.
- Tu ficas!

Perante aquela simples, mas brusca ordem, as duas olharam para ele. Diana retirou a mão da dela enquanto olhava o pai com olhos húmidos. Ao ver a expressão de Diana, Melissa preparou-se para abraçá-la, mas esta, muito rapidamente, limpou a lágrima que escorria no rostinho e depois de agarrar Tedy com força, levantou o nariz para o pai.

- Não lhe vais gritar! - Diana estava vermelha - Eu não deixo.

Mellisa olhou para ele. Joshua olhava a filha com o sobrolho franzido, como se tentasse interpretar o que ela pensava. Depois acariciou-lhe o rosto e sorriu-lhe.

- Prometo que não lhe grito.
- Prometes?!
- Prometo! - Joshua levantou a mão em sina de juramento - E tu achas que consegues lavar os dentes e vestir o fato de banho sozinha?
- Já não sou bebé!
- Claro que não.


Apesar da caricata situação, Mellisa sentiu vontade de chorar, aquele ser pequenino enfrentara o pai quando achara que ele lhe ia gritar.


- Quando é que cresceu?! - Joshua passou a mão no cabelo.
- Crescem rápido.
- Infelizmente depressa demais. - Joshua olhou para ela - Agora diz-me. Que se passa contigo?
- Nada!
- Nada?! Estás distraída desde que saíste do banho. Por acaso foi devido ao que aconteceu entre nós!?
- Sim... Não devias...
- Sério?! - Joshua interrompeu-a - Vais dizer que te forcei ou algo do género!?
- Claro que não! - Ela calou-se e olhou para a porta - O que queria dizer era que não devias... Bem, que devíamos pensar em Diana. Dormir na tua cama não foi a melhor das ideias!
- Não dormimos propriamente, mas podias ter dito que não.
- Eu sei que sim! Que não... - Ela esfregou as mãos ao ver que se estava a perder no raciocínio - Sei que podia dizer que não, mas apanhaste-me desprevenida. Não esperava que...
- Não esperavas?! Pois eu sabia que era questão de tempo! O desejo é mais que evidente! E de ambas as partes! Ou vais negá-lo?!
- Claro que não!
- Então não percebo essa mudança de comportamento.
- A única cama onde dormi, sem ser a minha, foi a do meu namorado.
- Já percebi. Queres que assuma a culpa porque te sentes ofendida moralmente!
- Agora é que me ofendeste! Não te estou a culpar de nada!  - Mellisa olhou para as mãos - Para ti pode ser normal mas para mim não é!
- Normal?! Achas que meto na minha cama as amas da minha filha?!
- Não é isso... É que... Eu...

Mellisa assustou-se com a rapidez com que ele se levantou e foi até à porta da cozinha. Depois voltou e segurou-lhe o rosto e olhou-a nos olhos.

- Não tomas a pílula?! É isso?!
- Claro que tomo!

 Mellisa retirou a mão e, temendo que ele percebesse que mentia, afastou-se dele. Não tomava nada desde que deixara Rick! E até ele mencionar o facto, ela não tinha pensado nisso! Como pudera ser tão inconsciente?! Tinha de ir à farmácia o mais rapidamente possível.

- Então que foi?
- Bianca!
- Que tem?
- Vive contigo. Podem não estar casados, mas é...
- Não vive, nem nunca viveu.
- Não?!
- Viste algo que indique a presença de outra mulher?
- Não, mas...
- Então esquece.

 Joshua puxou-a pela mão e beijou-lhe os lábios. Quando sentiu o calor dos lábios dele, esqueceu que não tomava a pílula, Bianca e até Diana. Apenas queria ficar ali, nos braços dele, sentindo o calor do corpo dele contra o dela. Sentiu-se desamparada quando ele se afastou e a olhou nos olhos.

- Logo... Prometo que logo retomaremos este momento. E sem interrupções.


Quando se juntaram a Diana, para passar mais um dia na praia, o seu olhar ainda brilhava pelo desejo que lhe despertou aquele beijo. Desejo que acalmaram durante a noite nos braços um do outro.



Diana corria feliz à frente deles quando passeavam junto à marina. Ao chegarem mais perto da água, Diana parou olhando para o mar.

- Pai!
- Sim, está pronto.
- O que está pronto?
- O veleiro.
- É do pai. - Diana falou orgulhosamente e depois olhou para o pai - Posso ir ver?
- Claro. E outro dia podemos passear nele.
- Tens um veleiro?
- Tenho alguns. Entre outros tipos de embarcações.
- Todos teus?!
- Todos, até que os venda. - Joshua colocou-lhe o braço nos ombros - Tenho alguns estaleiros onde fabrico barcos de recreio e outros. Não sabias?
- Não.
- Um dia vou levar-te a viajar num deles.

Mellisa olhou nos olhos dele e desejou que aquela simples frase se tornasse numa promessa.



- Podes ajudar a fazer o castelo? - Diana estendia-lhe o balde com água.
- Claro. Com ponte?
- Com uma gruta... Consegues fazer?
- Não sei.

Pouco a pouco a areia ganhou forma e quando terminou a torre, Diana fez Tedy rei e senhor do castelo. Sorriu ao vê-la brincar alegremente e recordou os últimos dias.

Tirando aquele dia, Joshua passava a maior parte do tempo com elas, de manhã iam à praia e almoçavam no restaurante mais próximo. Regressando a casa na hora de maior calor onde ficavam a ver televisão. Durante aqueles momentos Mellisa sentia que fazia parte de uma família. Daquela família.
 Diana sentava-se no meio deles e Joshua colocava a mão no pescoço dela acariciando-o. Mellisa adorava aqueles momentos tanto como as noites que passava com ele.
Na última semana dormira com ele todas as noites, mas temendo a reacção da menina, saía do quarto antes dela acordar.

Embora gostasse de estar com ele, ela evitava dar mostras de maior intimidade diante de Diana. A menina não se importava que o pai segurasse a mão dela, mas dormirem juntos não era o mesmo que segurar a mão!


- O pai não vem?
- Ele disse que não demorava.
- Tenho fome.
- Já?! Ora bem, gelado ou bolo?
- Bolo.
- Então teremos de esperar que o pai chegue.
- Podemos ir para casa.
- Acho que percebi. Queres comer o bolo de chocolate que está no frigorífico. - Ela levantou-se sorrindo - Vamos lá então.

Diana apanhou Tedy de cima da torre do castelo e estendeu-lhe a mão.

Quando avistaram o carro de Joshua, Diana largou a mão dela e começou a correr na direcção da casa. Ela sorriu e apressou o passo.
Ao entrar em casa ficou admirada de ver Diana sentada no sofá, a alegria parecia ter desaparecido do seu rosto.

- Que foi linda?
- Ele está a gritar outra vez.
- O pai?!

Que pergunta parva. Claro que era ele, quem mais poderia ser?! Olhou para a menina encolhida no sofá como se o pai estivesse discutindo com ela. Onde estava a menina corajosa que tinha enfrentado o pai?!  Mellisa desviou a vista da menina quando a voz irritada chegou até elas.

- Vou acabar contigo! Ouviste?!

Depois daquela frase apenas o som de qualquer coisa a cair e um toque de telemóvel que foi ignorado.

- Anda. Vamos passear.

 Mellisa estendeu a mão à menina e, com Diana cabisbaixa, saíram de casa.

Diana caminhou ao lado dela em silêncio e quando chegaram à praia a menina permaneceu deitada na toalha abraçada a Tedy. Sentiu um nó na garganta ao ver a pequena abraçada ao seu companheiro. Como ela compreendia o que Diana estava a sentir...


- O teu pai adora-te. Tenho a certeza que não o faz intencionalmente.
- Inte.. Inte... Que é isso?
- Intencionalmente significa que não é propositado. Que o faz sem querer. Neste caso, o teu pai grita, mas não o faz para te magoar. Nenhum pai gosta de ver os filhos sofrer.
- Não gosto quando ele grita.  - Diana insistia.
- Ninguém gosta...
- Gritou com Bianca e ela foi embora.

Ela ficou branca ao ouvir a menina falar na mãe, a dor que começava no seu coração estendia-se pelo corpo todo. Era esse o motivo da ausência de Bianca?! Por isso nunca viveram juntos?! Não podia ser assim tão difícil viver com ele.  Negava-se a aceitar aquele motivo! Tinham discutido por algo mais grave. Tinha de ser por alguma situação que a pouca idade de Diana não lhe permitia entender. Afinal era normal os casais discutirem, os seus tios discutiam imenso mas continuavam juntos.

- Sabes que é normal os...
- Podia namorar contigo.
- Como?!
- Eu nunca mais chorava. Nunquinha!
- Oh linda, as coisas não são assim.
- Eu vi.
- O quê? - O coração dela encolheu-se - O que viste?
- O pai beijou-te.
- Foi?!
- Como na televisão. - Diana continuou como se estivesse a relatar uma história -  Na boca. Com olhos fechados e tudo. Por isso não me viste. E eu gosto de ti...
- Oh linda!

Mellisa abraçou a menina sem saber que lhe dizer. Como explicar que estava ali apenas mais uma semana?! Como dizer-lhe que o que havia entre ela e o pai dela era apenas uma atracção sem amor?! Apenas desejo... Como explicar que existe algo mais básico, mais selvagem que o amor a uma criança?

- Que aconteceu? - Joshua arrebatou-lhe a filha dos braços - Magoaste-te princesa?!
- Quero Mell!

 Diana estendeu os braços para ela e, apesar do olhar assustado dele, ela agarrou-a sem pensar duas vezes. 

- Se não se magoou podes explicar-me o que aconteceu?
- Depois.

Ela encarou-o firmemente e abraçou a menina que começou a chorar fazendo o seu coração em pedaços. Pouco depois Diana adormecia nos braços dela enquanto ele continuava a olhar para elas incrédulo.

- Vamos para casa. - Joshua esticou os braços para apanhar a filha - Para que ela possa dormir na cama.

Quando ele retirou a filha dos braços dela e se dirigiu para casa, ela seguiu-o em silêncio.
Silêncio que iria manter apenas até deitar Diana, pois tinha muita coisa para lhe dizer. Coisas que fazia questão de o obrigar a ouvir assim que deita-se Diana. A mãe desta podia não estar ali para a defender, mas estava ela!  E gostasse ele ou não, o facto de partilharem a mesma cama dava-lhe alguns direitos.

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