domingo, 3 de dezembro de 2017

ENCONTROS AZARADOS 4ª PARTE



Caterine acenou a Nathan. Enquanto ele caminhava na sua direcção pensou em como era bonito. As calças de ganga e a camisola castanha, não escondiam nem um pouco o corpo perfeito dele. Os ombros largos, os braços fortes, as pernas compridas...
Nathan tinha um corpo de tirar a respiração a qualquer mulher! Era realmente muito bonito. Bonito e sensual. Principalmente quando sorria e os olhos cinzentos ganhavam um brilho especial.

- Desculpa. - Nathan beijou-a brevemente - Tive um telefonema de última hora.
- Não te preocupes.
- Claro que me preocupo! Não gosto que esperem por mim. Muito menos quando se trata de uma mulher bonita como tu. - Nathan sentou-se e sussurrou-lhe - Bonita e que me tira o sono.
- Pobrezinho... - Apesar de se sentir lisonjeada ela tentou brincar.
- Tens de regressar ao escritório?
- Não.
- E que fazes esta noite? - Nathan sorriu.
- Jantar e dormir. - Caterine olhou para ele surpreendida com o interesse dele. -  Porquê?
- Fui convidado para um jantar. Pensei que talvez gostasses de me fazer companhia.
- Fazer-te companhia... Nesse jantar não há ninguém que te possa acompanhar?!
- Preferia a tua companhia. É apenas um jantar familiar.
- Um jantar com os teus pais?!
- Os meus pais faleceram à algum tempo.
- Sinto muito. Não sabia. Eu...
- Esquece. Que dizes?! Aceitas?

Caterine olhou para ele, os olhos dele mostravam uma sombra que ela nunca tinha visto. E sentiu que de alguma forma devia de o compensar por lhe recordar os pais.

- Sim. Mas tenho de ir a casa, preciso mudar de roupa.
- Estás perfeita.
- Sim... Este vestido é o indicado para um jantar com pessoas que não conheço!
- Não vejo porque não o seja. O vestido é lindo, um pouco recatado mas lindo.
- Recatado!? - Caterine alisou o vestido esticando o tecido que teimava em deixar a descoberto boa parte das suas pernas.
- Um pouco. O comprimento é perfeito mas podia ter um decote algo mais... Assim... - Nathan gesticulava - Podia ver-se um pouco... Só um pouco... Algo como... Bem, podia ter decote!
- Estás a insinuar algo?! - Caterine estava a divertir-se com o embaraço dele.
- Sabes o que quero...

O telemóvel dela tocou interrompendo a conversa deles. Olhou para o ecrã. Lori...

- Desculpa, tenho de atender.
- Ainda bem! - Ele fez uma careta - Vou pedir um café. Cappuccino?!
- Obrigada. - Caterine sorriu e atendeu a chamada - Aconteceu alguma coisa?
- Quase. - Lori sussurrava - Jess está no duche tenho de ser breve. Podes encomendar o bolo?
- Já tratei disso.
- És um amor!
- O preferido dela. E pedi para fazerem umas entradas. Sei que queres fazer o jantar mas...
- Obrigada.
- Pensei em aliviar-te um pouco. E estava a pensar mandar fazer as sobremesas.
- A sério?! Isso ajudava-me imenso. Queria fazer tudo mas no outro dia Jess ficou preocupada.
- Então?!
- Estava de rastos! - Lori riu baixinho - Preciso regressar à vida activa. Tanta inactividade está a acabar comigo. Jess chegou e percebeu que estava cansada. Depois de responder a mil e uma pergunta acho que a convenci que foi apenas por insistir em subir as escadas em vez de usar o elevador. Por isso tenho de abrandar, se te encarregares disso... Não ouço a água, desculpa mas tenho de desligar.
- Depois manda a lista do que queres.
- Sim, sim.
- Problemas? - Nathan colocou a chávena em frente a ela
- Apenas uma amiga atrapalhada.
- Tens de ir vê-la?!
- Não. Já está resolvido.
- Ainda bem.

Uma hora depois Nathan abria a porta do carro a Caterine. Ela nem queria acreditar ao perceber que estava em Notting Hill. Olhou encantada para as casas, já ali tinha estado algumas vezes mas percebeu que, independentemente das vezes que ali fosse, ficaria sempre fascinada. Aquele bairro tinha sido eternizado pelo clássico dos cinemas “Um lugar chamado Notting Hill” ! Ela própria vira o filme vezes sem fim. E sempre que o via, reconhecia que conseguiram retratar toda a magia do bairro. Pacato, agradável, mas que não ficava assim tão distante do burburinho londrino... Tinha a sensação que a qualquer momento seria tele-transportada para um lugar longe, a par da correria da metrópole. Notting hill era um lugar mágico, com os seus cafés, lojinhas e casas no estilo vitoriano todas lindíssimas. Apenas duas coisas transformavam a atmosfera tranquila do lugar. A feira de antiquário da Portobello Road, e o Notting Hill Carnival, o carnaval que acontecia em Agosto. Toda aquela atmosfera era surpreendente!
Sentindo-se arrepiar segurou a mão de Nathan enquanto ele tocava à campainha.

- Nathan! Não te esqueceste! - Uma senhora de idade avançada, mas muito jovial, abriu a porta e envolveu Nathan num abraço -  E vens acompanhado.
- Espero não incomodar. - Caterine sorriu quando foi abraçada.
- Incomodar minha querida?! Nunca recebemos visitas. Entrem. Como é mesmo o teu nome?!
- Caterine.
- Tive uma tia que se chamava Caterine.
- É mesmo?!
- Sim, mas sentem-se.
- Obrigado. - Nathan olhou para as escadas - Rose como está?
- Mais calma.
- Que disse o médico?
- Achas que ela quer ir ao médico?! Teimosa como uma mula!
- Mulas?! Onde estão as mulas?!

Caterine voltou-se e na sua frente apareceu uma cópia exacta de Mabell. Nunca tinha visto duas pessoas com tamanha semelhança! Naquele momento apenas as distinguia porque Rose era mais extravagante na indumentária. Mabell vestia um vestido azul marinho com um casaco branco enquanto Rose vestia um vestido verde seco com enormes flores amarelas e brancas.

- Nathan estava a comentar que as mulas estão em extinção.
- Sim, também ouvi dizer isso. Se visses mais notícias e menos telenovelas também saberias.

Nathan levantou-se sorrindo e beijou Rose na face o que deixou a mulher visivelmente encantada. Caterine sorriu ao ver o rosto corado de Rose. Podia não gostar de novelas, mas apreciava a atenção que Nathan lhe dava. Se Rose fosse mais nova ela poderia sentir ciúmes... Ao perceber o que estava a pensar envergonhou-se. Como poderia ponderar ter ciúmes de uma mulher que poderia ser mãe dele?! Ou porque teria ciúmes se eram apenas amigos?! Amigos que se beijam e que desfrutam da companhia um do outro.

Durante o jantar Caterine ficou fascinada com Mabell. Esta tinha toda uma vida repleta de histórias fantásticas. Mas emocionou-se quando lhe falou dos pais, de quando compraram aquela casa num leilão e de como sentia pena por se verem obrigadas a venderem pois não tinham descendentes a quem a deixar.

- Obrigada Mai. - Mabell agradeceu à rapariga que colocou em cima da mesa um prato enorme com um paris brest - Desta vez a sobremesa foi feita por mim .
- Meu Deus! Como consegue fazer isto?! - Caterine olhava encantada para o prato.
- Não faço à tanto tempo! Espero que esteja delicioso. Embora tenha a certeza que não se compara ao bolo de chocolate que trouxeste na tua última visita Nathan. Mas desde que esteja comestível fico satisfeita.
- Sabes que ficam sempre bem. Se a mãe te ouve não vai gostar! Sabes que ela detesta essa tua insegurança!

Caterine olhou para Mabell esperando uma resposta, mas esta apenas sorriu enquanto servia à irmã um pedaço de paris brest. Quando deixou o prato em frente a Rose, esta segurou a mão de Mabell e apertou-a com força. Naquele momento, algo que ela não percebia, acontecia entre elas e Caterine ia jurar que viu lágrimas nos olhos de Mabell.
Havia entre elas uma cumplicidade e um carinho palpável.
Pouco depois Rose subiu para cuidar de Kitt. O gato que, segundo Mabell, tinha desaparecido à mais de sete anos.
Mabell chamou por Rose quando eles se despediram mas ela não desceu. Pedindo desculpas pela irmã, acompanhou-os à porta onde ficou até eles desaparecerem na última curva.

- São amorosas! - Caterine olhou para trás despedindo-se mentalmente de Notting hill.
- Sim. E isso deixa-me preocupado.
- Porquê?!
- Não percebes!? Receberam-te com o mesmo carinho com que me receberam a mim!
- Estás com ciúmes!?
- Claro que não! - Nathan olhou para ela por uns segundos - Qualquer um pode aproveitar-se delas, basta que lhe dêem um pouco de atenção que são recebidos como se fizessem parte da família! Elas estão tão sozinhas que não tomam qualquer cuidado. O que é demasiado perigoso! Acho que estariam melhor um lar ou então que pudessem contar com alguém que cuidasse delas as vinte e quatro horas do dia.
- Mas não têm Mai?!
- Ela está apenas três vezes por semana ou quando Mabell lho pede.
- Ou seja, neste momento estão sozinhas naquela casa enorme.
- Sim. E embora me preocupe com Mabell a minha maior preocupação é Rose. Tu viste.
- Alzheimer?!
- Os médicos não sabem ao certo. Dei o número de um médico amigo para que elas fossem visitá-lo mas como pudeste comprovar não é assim tão simples.
- Já as conheces à muito tempo?
- Não. E foi um acaso que me levou a conhecê-las. - Nathan sorriu - Passei o dia a ver casas nos arredores do parque, como estava cansado psicologicamente resolvi conhecer o parque. Passeava tranquilamente quando Mabell me abordou com uma fotografia de Rose. Estava muito preocupada, pois a irmã tinha desaparecido. Ao início achei a preocupação exagerada, dada a idade de Rose, mas como Mabell não parava de chorar ofereci-me para a ajudar. Algum tempo depois encontrei-a sentada num banco completamente molhada e a dar de comer a uns patos que apenas ela via. Coloquei-lhe o meu casaco nas costas e ela olhou para mim sorrindo. Pensei que estava tudo bem, mas no minuto seguinte atirou o casaco para o chão e começou a pedir socorro aos gritos porque eu a estava a assediar! Fiquei sem saber que fazer, então falei-lhe nos patos, de como eram bonitos. Olhou para mim com os olhos muito abertos e disse: Está louco?! Não estão aqui patos nenhuns! Que foi me fez?!
Naquele momento chegou Mabell e, enquanto se refugiava no abraço de Rose, disse-lhe que não sabia o que eu lhe tinha feito, mas que algo tinha sido, pois tinha a roupa molhada!
- Que coisa!
- Apenas se acalmou quando Mabell lhe disse que não precisava assustar-se, que eu era um familiar afastado.
- Mas elas têm de procurar ajuda! Se algo acontece a Mabell quem ajuda Rose?!
- Já vi que percebeste a minha preocupação. A maioria das pessoas pode achar que não me devo intrometer, mas acho que alguém deve fazê-lo! Por isso vou jantar com elas duas vezes por semana. Compro a sobremesa e passo algum tempo com elas.

Caterine olhou para ele de soslaio, ele não só era lindo como tinha um coração enorme! Não era qualquer pessoa que abdicava do seu tempo para estar com alguém que mal conhece e possivelmente sem nada em comum!

- Porque não falamos com uma assistente social?! - Caterine saiu do carro.
- Falamos?! - Nathan abriu a porta do prédio - Estás a oferecer-te para ajudar!?
- Gostaria muito! E penso que o melhor será pedir ajuda a um especialista.
- Também pensei nisso e fiz uma pesquisa. Dada a situação de Rose o mais certo é separarem-nas. Mabell ainda é autossuficiente, já Rose precisa de outros cuidados.
- Mas separá-las, principalmente na idade delas, é uma crueldade!
- Por isso optei por não fazer nada. Pelo menos por enquanto. - Nathan parou junto à porta do apartamento dela - De certeza que irei encontrar uma solução, até lá vou continuar a visitá-las. Vejo-te amanhã?!
- Sim.

Quando Nathan a beijou, Caterine sentiu uma certa nostalgia, como se aquele beijo tivesse o poder de lhe recordar a solidão em que ela própria vivia. E ela não queria estar sozinha.
Sem pensar segurou a mão dele e abriu a porta.

- Caterine... Não tenho...

Caterine colocou um dedo nos lábios dele e olhou-o nos olhos.

- Não digas nada.

Nathan fechou a porta com uma mão enquanto a puxava para si com a outra. As bocas procuraram-se desesperadamente enquanto, entre tropeções e beijos, chegaram ao quarto. Caterine lutava contra as roupas de Nathan com a mesma urgência que ele lutava com as dela. Pouco depois os corpos deliciavam-se com os beijos e carícias que se davam mutuamente. E quando a lua espreitou timidamente para dentro do quarto, Caterine entregou-se a Nathan.


Sem comentários:

Enviar um comentário