Caterine respirou fundo quando Nathan lhe beijou o pescoço e permaneceu abraçado a ela.
Na penumbra procurou a fotografia da sua mãe. Seria aquele sentimento de plena felicidade, mas que ao mesmo tempo lhe parecia tão fugaz, o que a sua mãe sentia quando estava com Gino!? Ou seria aquela doce letargia que a fazia desejar não sair dos braços de Nathan!?
Sentimentos que apareceram repentinamente e que a levavam a questionar-se porque tinha convidado Nathan para a cama dela. Tudo era estranhamente familiar...
Aquela sensação recordou-lhe Barry, embora não senti-se o desejo de permanecer nos braços dele, sentira algo parecido. Nunca sentiu falta de Barry, apenas das noites que passava com ele! Disso ela sentia falta.
Não do sexo em si, da companhia, das conversas, dos passeios...
Conhecera Barry numa festa de verão a que fora sem a mínima vontade. Barry era charmoso e desfez-se em atenções com ela levando-a a acreditar que tinham sido feitos um para o outro. Depois de algumas semanas, com muitas rosas à mistura, aceitou namorar com ele. Barry nunca ficava para passar a noite, mas passava boa parte das mesmas no pequeno apartamento que a sua mãe tinha arrendado e onde ela vivia desde que tinha começado a trabalhar.
Alguns meses foram suficientes para perceber que aquela relação não tinha qualquer futuro. Contrariamente a ela, ele não nutria qualquer sentimento por outra pessoa que não ele próprio, ela percebeu isso quando ele descobriu que...
- Em que pensas?!
- Em nada. - Caterine mentiu.
- Nesse caso tens de procurar ajuda. Os teus nadas aumentam os teus batimentos cardíacos. - Nathan afastou-se um pouco dela - Estás a pensar no que aconteceu?
- Em parte. - Caterine voltou-se de forma a encará-lo - Não te conheço e no entanto...
- Pois eu sinto que te conheço desde sempre. - Nathan apertou o corpo dela contra o seu - E estou disposto a ajudar-te a conhecer-me melhor.
- Sim?!
- E penso começar agora.
Nathan beijou-lhe o pescoço e ela gemeu enquanto o corpo estremecia de desejo ao desfrutar das carícias dele. Carícias que se entenderam a todo o corpo até que se renderam ao desejo que sentiam.
Quando adormeceram Caterine tinha um sorriso nos lábios.
- Deus do céu! - Caterine saiu da cama à pressa.
- Que aconteceu?
- Que aconteceu?! Nunca cheguei atrasada! Tinha uma reunião às oito horas.
- Sempre podes ir às oito de amanhã.
- Engraçadinho! Ei...Pára... - Caterine reclamou quando ele a puxou de regresso à cama.
- Vejo-te logo à noite?
- Se quiseres.
- Vou pensar.
- Depois manda mensagem.
- Às dezanove!?
- Combinado.
Caterine sorria enquanto vestia o casaco. Sentia-se feliz. Nathan fazia com que se sentisse assim, e ainda sorria quando encontrou Jess e Lori na pastelaria.
- Acho que a nossa Caterine viu o passarinho azul. - Jess sorria atrás da chávena do café - Não te parece?!
- Sim... - Lori concordava - Sorri para todos, anda a cantarolar... Sim. Definitivamente viu o passarinho azul.
- Até parece que sou mal educada!
- Não és. Mas tens de concordar que andas muito feliz. E nós estamos felizes por ti. Agora diz lá. Quando vamos conhecer o príncipe encantado !?
- Ainda é cedo. Apenas o conheço à duas semanas e...
- E depois?! A tua mãe percebeu que amava Gino mal o viu. E foi feliz até que ele partiu para outro mundo!
- Sim eu sei. Mas...
- Nada de mas. Queremos conhecer o homem.
- Na festa de Natal. Vou convidá-lo.
- Correção, vais... - Jess calou-se quando o seu telemóvel tocou. - Não acredito!
- Que foi!? - Lori espreitou por cima do ombro de Jess. - Quem é?
- Harry. - Jess atirou com o telemóvel para dentro da mala. - Não estou com paciência.
- Devias falar...
- Devíamos era falar do príncipe de Caterine.
- Concordo. Como é?! Alto, baixo?! Gosta de crianças?! De cães ou gatos?! Café ou chá?! Praia ou montanha?!
- Deus do céu! Mal o conheço. Acham que lhe perguntei isso tudo?
- Não... - Jess piscou um olho - Acredito que terão coisas mais interessantes a fazer.
- Não tens solução! - Caterine atirou um guardanapo à amiga - Mas não há muito a dizer. É alto, cabelo escuro, os olhos... - Ela calou-se quando o telemóvel de Jess voltou a tocar - É melhor atenderes.
- Não! - Jess ignorou o som até que este se calou para voltar a tocar segundos depois - Oh bolas! - Ela atendeu furiosamente - Que queres?! Não... Já disse que não vou... - Jess tamborilava com os dedos na mesa - Muito bem. Cinco minutos! Não mais!
- É insistente.
- Teimoso! Nunca conheci ninguém assim! - Jess levantou-se - Peço desculpa mas tenho de ir falar com o meu querido irmão.
- Queres que te acompanhemos?
- Agradeço, mas prefiro não ter assistência quando me humilhar.
- Não permitas tal coisa! - Caterine levantou-se e seguro-lhe a mão - Teu irmão ou não, não têm o direito de te dizer o que fazeres da tua vida.
- Eu sei. Mas de toda a família, a sua rejeição é a que me doí mais.
- Onde te vais encontrar com ele?
- No escritório.
Caterine e Lori ficaram em silêncio observando como Jess caminhava pela pastelaria como se fosse enfrentar a pena de morte.
- Ela adorava Harry. - Lori sentou-se - Ainda ponderei em convidá-lo para os anos dela mas dada as circunstâncias não é boa ideia.
- Não. É melhor não. - Caterine mordeu a sandes - E como vão os preparativos?
- Tudo controlado. Ainda não percebeu nada. - Lori fez uma pausa - Porque não levas o teu namorado ao jantar?
Caterine engasgou-se com a sandes e Lori sorriu ao ver como ela ficava vermelha.
- Ele não é meu namorado! É apenas um amigo.
- Agora chamam-se assim?! Pois bem, leva o teu amigo.
- Vou dizer-lhe. Mas não prometo nada.
- Gostava de o conhecer. Acho que já estava na hora de teres alguém que te fizesse sorrir.
- Sempre sorri!
- Mas não com esse brilho no olhar. Por isso sei que ele é especial e não apenas um amigo.
- Todos os meus amigos são especiais! Tu, Jess, Ann, Jin...
- Claro!
- Vamos a coisas mais práticas. As sobremesas. Como fazemos?!
- Pensei em que, talvez...
Caterine e Lori entregaram-se aos últimos preparativos para a festa surpresa de Jess. Caterine revia mentalmente a sua agenda para os dois dias antes da festa quando bateu na porta do escritório de Jess.
- Posso?! - Ao não obter resposta Caterine espreitou pela porta. Uma Jess com os olhos cheios de lágrimas olhava a porta sem se mexer. - Estás bem?
- Bem?! Não sei.
- Que aconteceu? Ele foi mal educado para contigo?
- Não... Não sei. Ainda estou em choque.
- Isso já vi.
- Não o deixei falar. Disse tudo o que tinha cá dentro.
- E ele!?
- Não disse grande coisa. Também não lho permiti. Apenas se limitou a balbuciar palavras isoladas.
- Isso quer dizer que continua tudo igual.
- Acho que sim. Ele apenas dizia que devia de tentar entender o lado dele. Que esperava ter sobrinhos.
- Olha agora! Sobrinhos! Mas quem pensa que é? A vida é tua. O facto de estares com Lori não quer dizer que não possam ter filhos. Assim como se estivesses com um homem te obrigava a tal! - Ela revirou a vista - Se eu o vejo vai ouvir das boas!
- Agradeço a preocupação mas acho que não o vou voltar a ver.
- Se vem para te aborrecer é melhor ficar longe.
- Sim. Mas vamos trabalhar que a vida continua - Jess esfregou a testa - Tens uma aspirina?! Dói-me a cabeça e ainda tenho de ir ao banco.
- Queres que vá por ti?!
- Não te importas?
- Não. Preciso passar no centro comercial para ver as flores.
- Então agradeço.
Caterine não conseguia afastar a imagem de Jess. Era muito raro ver a amiga assim, cabisbaixa. O amor dela por Lori estava a destruir o amor que os seus familiares lhe tinham. Naquele momento percebeu a sorte que teve ao nascer no seio de uma família compreensiva. Compreensiva e liberal. Talvez um pouco liberal demais, mas crescera convicta que cada um era livre de escolher o seu próprio caminho.
- Caterine?!
Caterine voltou-se ao ouvir a voz familiar. O rosto sorridente de Barry apareceu à sua frente.
- Barry! Que surpresa!
- Porquê!? Achavas que depois de casar ia esquecer os amigos menos afortunados?!
Ele passou a mão pelo cabelo e ela teve a sensação que aquele gesto, assim como as palavras cuidadosamente escolhidas, apenas visava ostentar o anel de ouro que tinha no dedo anelar.
- Casaste?! - Caterine fingiu interesse.
- Sim. - Ele ajeitou os óculos de sol no alto da cabeça. - Imaginas?! Eu casado!
Caterine achou o gesto tão ridículo que teve de fazer um esforço para controlar o riso.
- Sim. É difícil de imaginar.
- Foi tudo tão repentino. Precisava de te esquecer - Barry fez uma pausa quando ela tossiu - Estás bem?
- Sim. - Caterine teve pena da mulher que tinha de acordar ao lado dele todos os dias - É deste clima londrino.
- Por isso comprei casa nas Maldivas. Como tenho um barco é fácil...
- Olha só amor. - Uma mulher aproximou-se. - Gostas?
Caterine olhou para a mulher e, devido à enorme quantidade de maquiagem desta, teve dificuldade em perceber a idade dela. Numa das mãos trazia um bikini minúsculo em tons verde seco.
- É lindo amor! - Barry beijou a face da mulher. - Mal posso esperar para te ver com ele.
- Amor...
- Oh, sou tão mal educado! - Barry olhou para Caterine - Amor, apresento-te Caterine. Uma amiga.
- Caterine! - A mulher olhou para ela - Como a Caterine Deneuve!
- Mas mais pobre. - Caterine não resistiu. - Gostei de te ver Barry. E de a conhecer. Mas sabe como é, nós pobres temos de trabalhar.
Caterine sorriu enquanto se afastava, Barry não perdera tempo. Casara com a mulher dos sonhos dele. Uma mulher rica!
Aquele encontro recordou-lhe o motivo da separação deles. Ela não era a herdeira da fortuna de Gino.
A sua mãe conhecera Gino no hotel onde esta trabalhava. A sua mãe era uma mulher vistosa, para os padrões de beleza actuais tinha peso acima da média. As suas curvas voluptuosas e os peitos fartos chamaram a atenção de Gino, um magnata italiano. Bastaram dois cafés para perceberem que não podiam viver um sem o outro. Gino era casado, assim como ela mas isso não os impediu. Afastaram-se apenas o tempo necessário para tratarem dos divórcios. Quando se juntaram a sua mãe, apesar dos protestos de Gino, insistiu em assinar um papel renunciando a toda e qualquer parte da fortuna dele. Gino cuidou dela como uma filha, o que levou Barry a acreditar que um dia ela herdaria toda a fortuna de Gino. Ainda recordava aquela noite.
- Não entendo. - Barry vestia as calças.
- O quê?!
- Porque insistes em viver neste apartamento quando podias estar numa boa vivenda ou até mesmo na mansão.
- Na mansão?! A minha consciência não o permitia.
- Ora essa! Duvido que o teu pai se importasse.
- O meu pai ?!
- Sim. Não me parece que Gino seja desses pais antiquados que...
- Gino não é meu pai! De onde tiraste essa ideia?
- Como não?! - Barry ficara branco como a cera.
- Gino é apenas, e só, o homem com quem a minha mãe vive.
Barry ficou em silêncio por algum tempo. Como se avaliasse a situação.
- Mas ele tem filhos!?
- Acho que não. Pelo menos nunca falou neles.
- Nem irmãos ou sobrinhos?!
- Não sei . - Caterine olhou para ele de sobrolho franzido.
- Isso quer dizer que quando ele morrer a fortuna...
- Não acredito no que estou a ouvir! Tu estás comigo por causa do dinheiro de Gino? Porque achas que um dia serei dona do que é dele?
- Não! Claro que não. Apenas...
- Não sei a quem ele vai deixar a sua fortuna quando esse dia chegar, nem estou preocupada com isso. Apenas espero que esse dia demore imenso tempo!
Depois disso Barry saiu. E durante uns dias Caterine não soube nada dele. Esses dias foram suficientes para ela perceber que não sentia nada por Barry. Pelo menos não sentia amor! Gostava da companhia dele e da forma como ele a tratava. Mas não o amava. E foi isso mesmo que lhe disse quando ele lhe telefonou dias depois.
Sorriu ao recordar como Barry e Nathan eram diferentes. Barry apenas pensava nele e no seu próprio bem estar, não se importando com quem enganava e magoava no percurso. Nathan era atencioso, preocupado com o bem estar dos demais. Ele seria incapaz de magoar alguém em proveito próprio.
A chuva batia no vidro do carro dificultando a condução. Olhou para o relógio, eram praticamente vinte horas e tinha combinado às dezanove com Nathan.
A reunião com Jess, para tratar dos últimos preparativos para o casamento dos Roice, prolongara-se atrasando a sua saída.
Abriu a porta do apartamento na esperança de ver Nathan no sofá mas este não estava. Um frio imenso percorreu o seu corpo aumentando a cada passo que dava no silencioso apartamento. O seu olhar parou numa folha em cima da almofada. Agarrou-a com as mãos a tremer e leu-o sentindo o coração bater na garganta.
Afinal não nos vamos encontrar esta noite. São exactamente, espera, vou confirmar. Sim, são exactamente dezanove horas e quarenta minutos. Deduzo que a tua ausência se deva ao trabalho. Espero não te ter causado nenhuma reprimenda por parte da tua entidade patronal ao colaborar para o teu atraso de hoje. Para que tal não se repita esta noite vou dormir no hotel. Pronto admito, não estou preocupado com o teu atraso e contribuía com o maior dos prazeres para que tal se voltasse a repetir, vou para o hotel porque não estás aqui e como não sei a que horas vais regressar é o mais sensato a fazer.
Nathan
P. S - Cappuccino às dez?!
Ofereço eu, por deixar-te sozinha numa noite fria como esta.
Caterine releu a pequena narrativa. Afinal ele esperara por ela. E tinha-a convidado para beber cappuccino no dia seguinte. Atirou-se para cima da cama e pela primeira vez em muito tempo, adormeceu com a almofada húmida pelas lágrimas, e desta vez a causa não eram as saudades que sentia da sua mãe.
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