domingo, 4 de fevereiro de 2018

O CONTRATO 2ª PARTE



- Peço imensa desculpa.

A rapariga da lavandaria olhava para o talão que ela lhe tinha dado como se o visse a primeira vez.

- Vai demorar muito? Tenho outros assuntos a resolver e não queira chegar atrasada.
- Uma hora no máximo.

Bella olhou para a agenda, tinha de estar em casa de dona Luísa às onze e às quatorze em casa de dona Joana.

- Uma hora... Sim, acho que posso esperar.
- Obrigada. Vou tratar dele pessoalmente.

Bella saiu para beber um café e passeou pelo jardim, onde leu uma revista. Pouco depois a sua atenção era chamada por um grupo de adolescentes que discutiam a beleza de Ana versus Rita. Sorriu levemente ao recordar o tempo em que a sua maior preocupação era saber se o Artur era digno de ser representante dos estudantes.

Os sinos ouviram-se ao longe e ela olhou o relógio. Faltava apenas dez minutos para recolher o fato. Com passos apressados dirigiu-se à lavandaria onde a rapariga já tinha o fato dentro do respectivo saco. Agradeceu e dirigiu-se ao carro. Percebeu que o trânsito tinha aumentado desde que chegara. Todo aquele barulho, aquela agitação que ia aumentar até chegar a noite... Não sentia saudades de nada daquilo, felizmente na pequena vila estava livre de todo aquele ruído.

Apesar do ligeiro atraso conseguira chegar a horas para levar a encomenda de dona Luísa ao posto dos correios e deixar o sr. Jacinto na estação. Durante a viagem este comunicou que ia deixar a casa na vila para viver com a irmã que era viúva à muitos anos. Como a sobrinha ia casar, a irmã ficava sozinha em Faro e tinha-o convidado a morar com ela. Já o tinha feito em outras ocasiões, sem que ele aceitasse, mas desta vez, devido à idade, ele não hesitou. Quando o abraçou desejou-lhe as maiores felicidades, mas enquanto via o comboio afastar-se não conseguia deixar de pensar que tinha colocado um anúncio para contratar uma pessoa e que a partida dele deixava um espaço na sua agenda. Espaço demasiado grande, já que ele a tinha contratado três dias por semana. Perguntou-se se dona Luísa sabia daquela partida e lho tinha ocultado para não a preocupar. Na pequena vila todos sabiam o que se passava. Todos menos ela! Como é que não tinha percebido que o sr. Jacinto se ia embora?! Os mais velhos partiam fugindo da solidão, os mais jovens partiam procurando melhor vida. Se os jovens continuassem a trocar a vila pela cidade, dentro de poucos anos não restava nenhum jovem na povoação. O som de um comboio a chegar tirou-a daquele torpor, encolheu os ombros e dirigiu-se ao carro, afinal não resolvia nada ficar ali a pensar na despovoação da vila.

O som da chave a rodar na fechadura dava o dia por terminado. Finalmente estava em casa! Bella deixou-se cair no sofá exausta. Quando aceitou a parceria com o sr Abreu, o dono de uma empresa de construção e agente imobiliário da região, estava longe, muito longe, de imaginar que as casas depois de remodeladas dariam tanto trabalho a limpar. Depois de três dias de intenso trabalho conseguiram terminar as limpezas no solar. Reconheceu que a maioria desse trabalho coube a Marisa.
Todos os dias, ao nascer do sol, deixava Marisa no solar e ali ficava sozinha até que ela chegasse depois do almoço ou a meio da tarde.

Bella espreguiçou-se e algo caiu ao chão. Abriu os olhos e viu o tecto da sala. Na noite anterior estava tão cansada que adormecera no sofá em frente à lareira. Felizmente tivera a ideia de comprar uns sofás que mais pareciam uma cama e podia dormir lindamente neles.
O seu olhar parou no relógio e quase caiu do sofá ao ver as horas. Tinha marcado as entrevistas para essa manhã! Agarrou os sapatos e tomou um duche o mais rápido que conseguiu. Quando a primeira rapariga tocou à campainha ela já estava sentada à secretária.

O sol entrava pela sala iluminado o espaço. Bella colocou mais uma folha em cima da mesa e olhou para a rapariga que tinha na sua frente. Era mais jovem que ela, de cabelo loiro e olhos azuis. Morava numa aldeia vizinha e ouvira falar do anuncio na pastelaria. Embora não tivesse terminado os estudos, as referências que trazia eram muito boas. Trabalhara anteriormente no escritório de um armazém e numa bomba de gasolina.

- Preciso de uma pessoa para ajudar tanto no trabalho de campo, como no escritório.
- Trabalho de campo?!
- Pode ser preciso limpar uma casa ou cuidar de um bebé. Ir ao banco ou à câmara.
-  Eu tenho dois irmãos mais novos, penso que não será muito diferente. E tratava da contabilidade do meu pai enquanto ele foi proprietário de um mini-mercado.
- Bom, vamos tentar. - Bella calou-se quando Marisa entrou na sala - Bom dia Marisa. Não sei se conheces a Graça. Ela vai ficar connosco.
- Bom dia.  - Marisa sorriu à rapariga.- Um par de mãos extra dá sempre jeito.
- Marisa está comigo à quase cinco anos mas não sabe conduzir. Por isso preciso de uma pessoa com carta.
- Não sei nem quero aprender! - Marisa fez uma careta - Já andam doidos a mais na estrada.
- Se tu o dizes. - Bella sorriu e olhou para Graça. - O primeiro dia de qualquer serviço é feito por mim, sempre. Depois trabalhamos um dia ou algumas horas juntas para explicar como quero as coisas. Se não gostas ou não podes fazer algo, prefiro que mo digas. Mais que um negócio somos uma extensão da família que nos contrata. Por isso agradeço que não se comente nada do que eventualmente se possa ver ou ouvir quando estamos com quem nos paga o salário.
- Compreendo.
- Mas acima de tudo conto contigo para conduzir. Espero que não tenhas problemas com isso.
- Não tenho, eu até gosto.
- Ainda bem. Quando podes começar?
- Amanhã?!
- Isso seria perfeito.

 Bella acompanhou Graça até à porta seguida de Marisa e ficaram a olhar para a rapariga enquanto esta se afastava no carro.


- Achas que vai conseguir? É muito nova.
- Vamos ver. - Bella entrou em casa - Vou encomendar os bolos. Queres que te deixe na sociedade?
- Tenho de ir comprar uns pratos de papel e os balões. Mas se me deixares junto ao jardim dava jeito.
- Então vamos.

Bella passou a manhã na câmara para pedir umas licenças para a dona Luísa e toda a tarde no hospital com dona Joana para uma consulta. Embora sentisse o coração apertado, por ter contratado Graça apesar de ter menos um cliente, para sua surpresa o dia passou rápido. Geralmente quando estava preocupada com algo achava os dias intermináveis.
Ao deixar dona Joana em casa recusou o convite dela para jantar. Naquele momento só queria chegar a casa e relaxar.

Respirou fundo ao fechar a porta de casa. O dia tinha finalmente terminado e ela podia descansar o corpo dorido devido ás cadeiras desconfortáveis do hospital. Via o noticiário quando o telemóvel tocou.

- Estou sim.
- Bella.
- Olá sr Abreu. Como está?
- Bem, mas um pouco preocupado. Queria pedir-te um favor.
- Se eu puder...
- Lembraste do solar?
- Não está do seu agrado?! - Bella levantou-se repentinamente.
- Está perfeito! - O sr. Abreu tossiu levemente. - Entreguei a chave ao novo proprietário e dei-lhe o teu número de telemóvel. Sei que tens muito trabalho, mas não consegues encaixá-lo na tua agenda?
- E ele precisa de quê?
- Inicialmente para organizar a biblioteca. Acho que é professor ou algo do género e penso que tem filhos. Ele perguntou se conhecia alguém para ajudar a organizar a casa. Alguém de confiança. Pensei que podias estar interessada.
- Obrigada. Vou tentar não o deixar mal.
- Sei que não deixarás.


Algum tempo depois ainda pensava na conversa do sr Abreu. Se o novo proprietário precisasse dela dois dias por semana seria perfeito. A desistência do sr Jacinto não teria qualquer impacto na contabilidade pois seria apenas uma substituição. Se bem que apanhar as limpezas do solar e outras tarefas tornava-se complicado pois ficava a mais de meia hora de distância e não podia mandar Marisa a pé! Sem esquecer que andava muito atarefada com a organização da festa anual da junta de freguesia. Mas devia tanto ao sr Abreu que era impensável dizer que não. E agora tinha Graça para a ajudar nas tarefas que exigiam deslocação. Tudo se resolveria. Bastava sentar-se e verificar os horários e reajustar alguns de fosse preciso.

Apesar de, possivelmente, ter um novo cliente não conseguiu dormir muito bem. O que lhe originou uma dor de cabeça ao acordar e que a acompanhou por algum tempo.


 Dias depois Bella observava o pequeno Tomás enquanto este bebia o biberão.
Durante um curto espaço de tempo sonhou que teria bebés tão lindos como aquele, mas não passou de um sonho. Agora sentia-se feliz em poder cuidar, ainda que ocasionalmente, dele ou dos primos. O telemóvel tocou assustando Tomás.

- Sim?!
- Bella?! Está tudo bem?
- Sim. Estou a cuidar de Tomás.
- Ainda? - Marisa fez uma breve pausa - Bem, já terminámos de decorar o salão para a festa. Precisava das flores.
- Os pais de Tomás ainda não chegaram. Vai com Graça apanhar as flores. A florista já as deve ter preparadas. Ah! E apresenta-lhe Graça.
- Certo.

Bella olhou para o telemóvel e sorriu. Marisa trabalhava com Graça à quase uma semana e não fizera nenhum comentário sobre esta. Isso era bom sinal, muito bom mesmo.

Três horas depois, Bella ajudava Marisa e Graça a terminar de decorar o salão para a festa dessa noite. As rosas vermelhas sobressaiam por entre os miosótis. As velas colocadas dentro de taças com água davam um ar elegante ás mesas. Assim como as cadeiras forradas com tecido branco adornadas apenas com um laço preto.

Quando deixaram o salão, Bella estava orgulhosa do resultado. A decoração da festa anual estava a seu cargo à alguns anos e ela gostava de perceber que, com a ajuda de Marisa, se superava ano após ano.


Com a toalha do banho enrolada ao corpo, Bella olhava para o roupeiro tentando escolher que vestir.
Acabou por se decidir por uns calções de lã castanhos conjugados com uma camisola de gola alta em tons castanhos e brancos. O telemóvel interrompeu a escolha dos sapatos.


- Estou sim.
- Menina Martins?!
- A própria.

Perante o silêncio que se fez depois daquela pequena frase, com um sotaque que ela não conseguiu decifrar, Bella desviou o telemóvel para confirmar que a chamada não tinha caído. Situação que foi confirmada por uma pancada seca no outro lado da linha.

- Na imobiliária deram-me o seu número.-  A voz masculina continuou - Preciso dos seus serviços. Isto se estiver interessada.
- Sim. - Aquela voz pertencia ao homem que o sr Abreu queria que ela incluísse na sua lista de clientes. - O sr Abreu disse que talvez telefonasse.
- Sendo assim sabe do que se trata.
- Vagamente. - Bella procurou uma caneta - Se me der dois minutos para fazer a sua ficha...
- Ficha?! Só quero organizar a biblioteca!
- Mesmo assim. - Bella falou calmamente, como se falasse para uma criança - Tenho de preencher a ficha para futuras referências.
- A menina parte do princípio que vou precisar de si futuramente.
- Geralmente assim é. E mesmo que seja apenas para organizar a biblioteca, preciso de certas informações para a factura.
- Factura?! Não preciso de factura! E não é apenas uma mulher a dias?!
- Não! - Bella não gostou do tom que ele usou. Principalmente quando disse "apenas"! Respirou fundo tentando controlar a resposta que aquele homem merecia ouvir. Mesmo que fosse apenas mulher a dias, merecia respeito. - Tenho uma empresa onde presto vários serviços. Serviços que podem ser solicitados individualmente ou em pacotes.
- Pacotes?!
- Sim. Quando nos encontrar-mos entrego-lhe uma brochura. -Bella agarrou uma folha - Se me disser  a que horas quer que me apresente.
- Ás sete. Imagino que saiba onde é o solar.
- Sei sim. Ás sete lá estarei.

Bella ficou a olhar para o telemóvel depois de desligar. O facto do novo proprietário do solar apenas querer organizar a biblioteca, gorava os planos dela. Com os dias apenas parcialmente preenchidos, teria muita dificuldade em manter Graça mais que dois dias por semana. Sentou-se no sofá desanimada e agarrou uma revista que folheou ao acaso. As imagens sucediam-se e de repente sorriu.
O sr Abreu disse que ele tinha filhos. E se bem recordava a mansão estava vazia, não tinha nenhum móvel! E isso significava que teriam de lhos entregar e por conseguinte limpá-los. O que significava trabalho! Trabalho para ela.
Sentindo-se mais animada regressou ao quarto e para a escolha dos sapatos. Escolha que recaiu nuns sapatos de salto alto lindíssimos. Mas que se arrependeu de ter escolhido entre uma valsa e uma rumba.

 Um som irritante começou por ouvir-se ao longe e aproximou-se lentamente. Quando Bella percebeu que era o toque do seu telemóvel, sentou-se rapidamente na cama pedindo para que não tivesse de sair àquela hora da madrugada.

- Muitos parabéns!
- Parabéns?! - Bella olhou o relógio sem querer acreditar no que via - Dona Luísa, por acaso sabe que horas são?!
- Sei sim. Cinco e meia. Assim como sei que tens de estar no solar às sete. Pensei em acordar-te para que não chegues atrasada.
- Deus do céu!

 Bella sentou-se na cama, já tinha esquecido como as notícias se espalhavam com rapidez na pequena comunidade. Muitas vezes acrescentavam algo e deturpavam a mesma, mas isso não impedia que continuassem a fazer circular a novidade. Apenas Deus sabia o que seria verdade nas conversas que circulavam na vila.

- Eu sempre disse. Quando se fecha uma porta, Deus abre sempre uma janela.
- Pois. - Ela também tinha esquecido o gosto de dona Luísa por ditados populares. - Isso quer dizer que já sabe.
- Sim, mas isso não impede de vires lanchar comigo. Aliás quero que me contes tudo sobre o novo proprietário do solar.
- Hum... quer fazer-me acreditar que não sabe nada?!
- Bella Martins!!! Acaso estás a insinuar algo?!
- Apenas estou a dizer que as pessoas tendem a contar-lhe tudo. Eu inclusive! Não foi consigo que desabafei quando terminei o namoro?!
- Ah, sim... Mas fica a saber que apenas me disseram que era historiador e que tinha tantos livros que os homens das mudanças levaram três horas a carregar enormes caixas.
- Tantos?! - Bella conteve o riso.
- Sim. - Dona Luísa fez uma pausa - Ele sempre quis recuperar o solar, pois este era do pai e não gostou quando a mãe, aproveitando a ausência dele para fazer o estágio, vendeu o solar sem a sua aprovação. Acho que nem se fala com ela porque além de vender o solar, apaixonou-se por um espanhol, que conhecia da juventude, com o qual fugiu depois de vender o solar por tuta e meia.
- A mãe?!
- Sim. Porquê?! Acaso achas que as pessoas ricas não se apaixonam?
- Tenho a certeza que sim, mas não acha que à algo nessa história que não bate certo?
- Menina Bella, a pessoa que me contou não é de mexericos!

Bella olhou para o tecto sorrindo. Reconhecia o tom de voz de dona Luísa. Esta apenas a tratava por menina quando estava a perder a paciência. Se havia coisas que dona Luísa detestava era que a tomassem por uma vulgar coscuvilheira e que não acreditassem na sua palavra.

- Acredito piamente. E acho lindamente se ela fugiu com o amor da sua vida. Mas pense comigo nas inconsistências. Se a mãe vendeu o solar, visto este ser herança por parte do marido, não se deve ter divorciado, logo ficou viúva. Se não precisou de autorização do filho para o vender era porque este era menor, se era menor não podia estar a estagiar...
- E onde queres chegar!?
- Que me parece pouco provável que a mãe dele tenha vivido no solar. Pelo menos durante o tempo que dizem ter vivido.
- Dizes bem, pouco provável. Mas não impossível e por isso quero que me contes tudo o que descobrires
- Sabe o que lhe vou contar? Que tenho de me levantar. Ou este telefonema apenas serviu para me atrasar.
- Ai... Desculpa filha!

Bella ainda sorria quando parou o carro junto ao solar. Olhou em redor tentando perceber se o novo proprietário já estava em casa.
As janelas encontravam-se todas fechadas e não via nenhum carro no pátio. Rodeou a casa tentando perceber porque a mandara chegar cedo se não estava. Naquele momento um barulho vindo da casa do jardim chamou a sua atenção. Talvez fosse o jardineiro que, assim como ela, tivesse sido convocado bem cedo. Afinal o jardim, embora estivesse limpo, já vira melhores dias. A porta de madeira estava entreaberta e ela ficou a olhar para o homem que, de costas para ela, colocava uma caixa na prateleira.

 Sem conseguir desviar a vista percorreu as calças de ganga escura e permitiu-se apreciar mais demoradamente as costas largas cobertas por uma camisa vermelha aos quadrados que se agarrava ao corpo, principalmente aos braços fortes. Por momentos pensou que o tecido fosse rasgar a qualquer instante. Tinha a certeza que aqueles braços eram capazes de providenciar protecção a qualquer mulher, assim como noites de prazer e loucura. Ao ouvir um gato miar tomou consciência dos seus pensamentos e retrocedeu encostando-se à parede fria desejando que o homem não tivesse notado a sua presença. Levou a mão à cara ao perceber que se sentia afogueada. Fazia imenso tempo que não perdia tempo a apreciar um homem, muito menos por um que não conhecia. Mas estava ali para trabalhar não para apreciar e muito menos pensar nos braços fortes daquele desconhecido. Desviou-se da parede e respirou fundo ao dar o primeiro passo em direcção à casa, mas acabou nos braços que à minutos atrás apreciava.

- Desculpe. - Bella levantou o rosto para encarar o homem que a mantinha entre os braços.
- Não precisa desculpar-se. É bastante agradável ter algo que não seja uma caixa entre os braços.


Aquela voz... Não podia ser! Bella deu um passo para trás tentando fugir do calor que os braços lhe transmitiam mas tropeçou no pobre gato que miou desalmadamente e não caiu sobre o bicho porque ele voltou a segurá-la entre os seus braços.

- Tenha cuidado!
- Procuro o dono do solar. - Bella fingiu não o reconhecer. Era menos embaraçoso.
- Encontrou-o. Imagino que seja a menina Matias.
- Sim. - Bella mexeu-se tentando ver-se livre daquele toque que a desconcertava. - Pode soltar-me?
- Não vai cair?!
- Se controlar o seu gato não terei qualquer problema!
- Controlar?!

Bella sentiu o rubor voltar. Porque dissera aquilo?! Controlar! Quem a ouvisse pensaria que estava a falar de algum animal perigoso e não de um inofensivo gatinho.

- Não é boa ideia dar total liberdade a um animal tão pequeno num espaço desconhecido. - Bella ajoelhou-se para apanhar o animal.
- Como sabe que lhe é desconhecido?
- Porque estive aqui anteriormente e não o vi. Logo só pode ter vindo consigo.
- Tem razão, chegámos ontem. Ele tem o péssimo habito de me seguir para todo o lado.
- Se não tem cuidado vai ficar sem ele rapidamente.
- Além de limpar casas também é especialista em animais?
- Como diz uma amiga: Sou conhecedora de tudo, especialista em nada.

Bella voltou a olhar para ele. Ele continuava o olhar para o pequeno gato que ela mantinha no colo e por momentos pareceu-lhe perdido nos seus próprios pensamentos.

- Entramos?! - Ele acenou em direcção à casa.
- Quanto mais depressa começar mais depressa termino.
- Terminamos.
- Vai ficar?!
- Algo contra?! - Ele olhou-a de sobrolho carregado - A última vez que permiti que fizessem as coisas por mim fizeram uma boa confusão! Por isso prefiro estar presente, principalmente quando mexem nos meus livros.
- Desculpe. Geralmente quando me contratam é porque querem ver-se livres de determinada tarefa e não porque querem ajuda. - Bella não estava habituada a que ficassem a vê-la trabalhar mas não ia permitir que ele percebesse isso. Sorriu enquanto mantinha o olhar dele e percebeu que ele tinha os olhos castanhos escuros, quase pretos.
- Com o tempo vai perceber que certas coisas prefiro ser eu a fazê-las. Depois de si.
- Obrigada. - Bella percebeu que não sabia o nome dele - Desculpe mas não me disse o seu nome.
- Marc.

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