sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

O CONTRATO 3ª PARTE




Bella caminhava ao lado dele levando o gato nos braços. Enquanto se dirigiam a casa permitiu-se observá-lo. Era mais alto que ela, tinha o cabelo castanho escuro e algo encaracolado.
Tinha um corpo bem proporcionado, parecia ser o tipo de homem que passava parte do tempo livre no ginásio. E também parecia suspeitar de tudo o que lhe diziam, pelo menos foi essa a ideia que o  breve encontro, e a conversa sobre o gato, lhe deixou.


- Menina Martins?!
- Desculpe! - Bella olhou para o gato para evitar o olhar dele e reparou que o animal adormecera nos seus braços - Adormeceu!
- Pode deitá-lo naquela manta.

 Marc apontou para uma manta enrolada na ponta do sofá e voltou a atenção para uma caixa enorme. Abriu-a e tirou uns quantos livros que colocou cuidadosamente em cima da secretária.

- Pode começar por separar por ordem alfabética.
- Autores?!
- Não. Títulos.

Bella tirou o casaco e começou a separar os livros. Inicialmente o silêncio pareceu-lhe um pouco constrangedor mas pouco depois embrenhou-se na tarefa e teve de concordar que, comparado com o choro de Tomás ou com os gritos dos primos, aquele silêncio era um bálsamo para a sua cabeça.

- Acho que já merecemos o almoço.

Bella olhou para o tabuleiro que ele colocava em cima da secretária perguntando-se quando é que ele teve tempo de ir comprar ou preparar aquilo sem que ela desse pela sua ausência.

- Almoço?!
- Sim. É aquela coisa que as pessoas normais fazem a meio do dia.
- Nem dei pelo tempo passar. - Bella massajou as costas doridas.
- Além de almoçar, parece-me que precisa descansar um pouco.
- Sim, é verdade. Não costumo estar tanto tempo no mesmo sítio. - Bella agarrou o casaco - Daqui a uma hora regresso.
- Sente-se e coma. Não é nenhum manjar mas foi o que consegui fazer. - Marc estendeu-lhe um copo de sumo. - Ontem falou nuns panfletos.
- Tenho-os no carro.
- Depois. Agora vamos comer, entretanto fale-me desses pacotes.

Bella explicou que tinha dois tipos de pacotes. O simples, que incluía a casa e a roupa. O normal, que incluía o anterior e as compras para a casa. E o extra, que era uma junção dos anteriores com acompanhamento, nas mais variadas situações, a idosos ou bebés. Tais como consultas e fisioterapia ou outra situação em que precisassem de companhia. E tinha o contrato, onde não especificava nada em concreto mas no qual ela se comprometia a realizar todas as tarefas que lhe fossem pedidas desde que as mesmas estivesses incluídas em qualquer pacote.

- Ou seja, - Marc agarrou outra sandes - se não estiver interessado num pacote, mas assinar contrato por, digamos um ano, posso beneficiar de qualquer serviço desde que faça parte dos pacotes?!
- Sim.
- Então qual a vantagem dos pacotes?
- O preço.
- Não entendo. Os serviços não são os mesmos?!
- Sim, mas são estipulados anteriormente. Cada cliente sabe quando e a que horas vou fazer determinado serviço. No final do mês, independentemente do tempo que leve nas tarefas, o valor a pagar é sempre o mesmo. Com o contrato não há nada agendado, o cliente tem direito a oito horas de serviço diário, que pode usar num só dia ou acumular para o dia seguinte se for necessário.A única ressalva que há é o aviso com um dia de antecedência. Pode fazê-lo através de qualquer das plataformas, telemóvel, email...
- E se surgir um imprevisto?
- Como o quê?
- Não sei, algo que não estava incluído no pacote previamente pago mas que é preciso fazer.
- Acontece com demasiada frequência. - Bella sorriu ligeiramente, quase todos os seus clientes tinham imprevistos daquele tipo - Com alguma manobra consigo sempre resolver a situação.
- E no caso de um contrato? Se não conseguir avisar com a devida antecedência, não realiza o trabalho?
- Nunca estive nessa situação. Geralmente consigo encaixar todos os imprevistos. As pessoas conhecem-me desde que era criança e dão o seu melhor para ajudar quem precisa. Com o tempo vai perceber que as pessoas das aldeias estão sempre disponíveis para ajudar e que...

Bella calou-se quando ele murmurou algo que não entendeu.

- Desculpe, não entendi.
- Disse que ainda bem. Parece ser bem sucedida.
- Não me posso queixar. Tenho bastante trabalho.
- Foi isto que pensou fazer toda a vida?
- Nem todos podemos fazer o que queremos. - Bella acariciou o pêlo do gatinho que se deitou junto a ela - Como se chama?
- Fénix.
- Fénix?! Como a ave?!
- Conhece a lenda da Fénix?
- Acho que todos conhecem a ave que renasce das próprias cinzas.
- Sim, penso que sim. Acho que um pouco por todo o mundo, embora com algumas alterações, se conta a lenda da Fénix. A esperança na ressurreição, a imortalidade.  - Marc deu um pouco da sandes ao animal - Sabia que na China, a ave sagrada toma o nome de Feng e representa a Grande Imperatriz (nossa Mãe Divina, ou seja, Deus Mãe dentro de todos nós); e que pintada junto a um Dragão, simboliza a confraternidade inseparável? E que na Índia, a versão local do mito da Fênix: trata-se de uma ave que, ao atingir a idade de 500 anos, realiza uma autoimolação nas vésperas da Primavera num altar feito de galhos e resinas de olíbano, mirra e outras plantas sagradas, que foi especialmente preparado para esse fim por um sacerdote. Porém, é a própria ave que acende o fogo?! Na mitologia egípcia, tomada...

Bella olhou para ele assombrada. Como era possível saber tudo aquilo?! Se, dentro de vinte e quatro horas, lhe perguntassem sobre a Fénix não saberia dizer muito mais do que a Fénix é uma ave que renasce das próprias cinzas!

Talvez devido às lendas que se seguiram à de Fénix, ou porque estava a fazer um trabalho completamente diferente, o dia passou rapidamente.
 Ao fechar a porta do carro suspirou consciente que o dia tinha terminado mas apenas ali no solar. Antes de se deitar tinha de organizar o dia de trabalho de Marisa e Graça. E imprimir um contrato. Ele queria assinar um contrato! E por um ano! Teria de reorganizar a agenda. O mais complicado eram os primeiros dias, depois de ver como era a rotina da casa ela iria conseguir acompanhar o ritmo das limpezas. Conseguia sempre! Mesmo com crianças estas precisavam de ir para a escola e a mãe certamente não ia querer uma ou duas mulheres diariamente invadindo a sua privacidade. Sim, os primeiros dias eram os mais complicados, depois de ultrapassados elas conseguiriam.


- A lista da ti Maria. - Bella deu um papel a Graça - Depois de comprares tudo, ligas a Marisa e ela diz-te o que tens de fazer. Durante a manhã vou estar com dona Luísa e depois vou para o solar, se precisarem de algo telefonem.
- Sempre ficamos com o solar? - Marisa agarrou um saco.
- Sim, mas o doutor Garcia quer assinar contrato.
- Lá teremos de mexer em tudo outra vez.
- Mexer?! - Graça olhava para elas sem perceber muito bem.
- Já tratei disso.

 Bella voltou o monitor do computador na direcção delas e começou a explicar como seria a vida delas nos primeiros dias. Marisa não ficou surpreendida mas Graça pareceu um pouco assustada.

- Não te preocupes rapariga. - Marisa deu-lhe um saco - Parece pior do que realmente é. Explico melhor no caminho. - Marisa voltou-se para ela - Mas aviso já, não contes comigo para servir nas festas. Nem para lhes ficar com os filhos!
- Já tinhas deixado isso bem claro quando te contratei. Nada de crianças.
- Isso. Prefiro trabalhar doze horas seguidas. - Marisa voltou-se para Graça - Tu sabes o que me fizeram os filhos dos Olives no primeiro dia?! Olha...

Bella sorriu ao vê-las sair. A explicação da reorganização da agenda iria ficar para depois. Naquele momento, para Marisa, o mais importante era esclarecer Graça sobre a maldade infantil. Marisa nunca esqueceria, nem perdoaria, a Victor e Mané, os filhos dos Olives, por terem colocado dentro da mala dela um sapo.
O telemóvel interrompeu as divertidas recordações.

- Sim?!
- Por acaso estás esquecida de mim?
- Estava a preparar-me para sair dona Luísa.
- Vou colocar a chaleira ao lume.

Bella colocou o telemóvel dentro da mala e desligou o computador.
Pouco depois deixava a sociedade onde foi pagar as cotas da dona Luísa e dirigiu-se para casa desta onde a esperava a organização das contas da sociedade e uma boa dose de conversa.

- E de onde tiraste a ideia que é casado?
- Suponho que seja pois o sr Abreu disse que tinha filhos.
- Se foi o Fernando que disse...
- Foi sim senhora. - Bella sorriu ao ver dona Luísa ficar vermelha. Tinham namorado na juventude e contrariamente a ele, que casara, ela nunca o esquecera. - Mas não é tão velho como dizem por aí.
- Não?!
- A única coisa que corre por aí, e  que é verdade, é que tem imensos livros.
- Esta gente quando se põe a inventar...
- É verdade.
- Olha, esqueci-me de te dizer. A Tininha, está grávida!

Enquanto se dirigia ao solar Bella recordou que dona Luísa, apesar de gostar de falar da vida alheia, era o mais parecido que tinha a uma mãe. Sempre que precisou ela estava lá, mesmo a altas horas da madrugada quando viu Bruno abraçado a outra mulher numa discoteca. Mulher que se revelara ser sua esposa quando o foi confrontar. Nessa noite Dona Luísa abrira-lhe a porta e esteve a seu lado enquanto ela chorava e relatava a sua triste sorte. Os anos passaram e muito tempo depois continuava a ouvir os seus problemas e as suas pequenas vitórias.

- Olá Fénix. - Bella acariciou o animal que estava deitado aproveitando uma nesga de sol. - O teu dono está à volta dos livros?
- Não. Decidiu fazer uma pausa.

Bella quase mordeu a língua.

- Desculpe. Pensei que...
- Eu sei. Trouxe o contrato?
- Sim. - Bella entregou-lho - Se tiver alguma dúvida...
- Já lhe digo.

Bella esperou que ele dissesse algo mas não o fez. Leu-o e entrou em casa sem dizer uma palavra. Pouco depois foi a vez de Fénix entrar e ela seguiu-lhe o exemplo.

- Aqui tem. - Marc entregou-lhe uma das cópias e guardou a outra numa gaveta. - Já posso reservar os seus serviços para amanhã?
- Depende do que precisa. Tenho coisas agendadas e não as posso adiar.
- Tenho de me ausentar e preciso que alguém receba os homens das mudanças.
- Durante a manhã?
- Não. Ao final da tarde.
- Nesse caso estou livre. Que pretende que faça?
- Nada. Apenas que os receba e lhes diga onde colocar as coisas. Depois envio-lhe um email com os detalhes, agora vamos voltar para os livros.


Algumas horas depois as chamas brincavam na lareira e Bella estava absorta num filme de ficção cientifica quando o telemóvel anunciou a chegada de uma mensagem.

 " Email com instruções enviado. Desejo-lhe uma boa noite.
Marc"

Abriu o email e leu-o:
Entrega das caixas -Solar
Caixas números ímpares primeiro piso.
Caixa 1 primeira porta à esquerda
Caixa 3 segunda porta à esquerda...
O email continuava até chegar à caixa número vinte e dois que pertencia à cozinha.

P.S- Não retire as minhas coisas das caixas.

Animou-se um pouco perante a perspectiva do dia seguinte. Talvez o mais complicado do dia fosse cuidar de Ricardo que estava doente. Sempre exigia mais cuidados que dar ordens aos homens das mudanças. Guardou o telemóvel e voltou a concentrar-se no filme mas o cansaço venceu-a e pouco depois adormecia.


Quando aceitou ficar com Ricardo para que Magda, a mãe deste, pudesse ir ao supermercado não imaginava o que a esperava.
 Ricardo estava doente à dois dias e parecia melhorar, daí terem-lhe pedido para ficar com ele por umas horas, mas mesmo com a medicação a febre voltara durante a manhã e ela foi obrigada a telefonar aos pais.
Gostava de cuidar de crianças e geralmente não se preocupava se os pais se atrasavam, mas naquele momento desejou que Magda chegasse rapidamente.
 O som do telemóvel interrompeu a sua pobre tentativa de animar Ricardo que chorava compulsivamente devido à febre mas não conseguiu atender. Tentando baixar-lhe a febre deu-lhe um banho morno e vestiu-lhe um pijama mais fresco, mas nem a febre cedia, nem ele deixava de chorar. Sem saber que mais poderia fazer começou a cantar-lhe e a caminhar pela casa com ele ao colo e depois de muitas lágrimas Ricardo finalmente adormecera vencido pelo cansaço e pela febre. E ainda dormia nos seus braços quando o entregou à mãe.

Ao entrar no solar recordou a chamada e procurou o telemóvel dentro da mala. O nome do dr. Garcia aparecia nas chamadas perdidas. Sentindo um ligeiro nervosismo devolveu a chamada.

- Dr. Garcia?
- Dr. Garcia?!

Ao ouvir a voz de uma mulher Bella desviou o telemóvel para verificar se tinha marcado outro número por engano. Mas depois recordou que ele era casado e sorriu.

- Peço desculpa por estar a incomodar. Sou Isabela Martins, estou no solar acho que...
- Marc!

Bella calou-se perante o grito do outro lado. Os ruídos que chegavam até ela iam mudando, risadas, cães a ladrar, vozes de crianças, o choro de um bebé, passos, novo choro e novamente passos, desta vez mais próximos.

- Menina Martins... Já tinha desistido de si.
- Desculpe, desistido?!
- Como não atendeu pensei que não ia conseguir falar consigo.
- Ah. Estava a cuidar de um bebé e ele tem febre. Não consegui atender. Peço desculpa.
- Coitado! Espero que recupere rápido.
- Eu também. - Bella fez uma pausa esperando que ele dissesse algo - Precisa de algo mais?
- Vou ficar mais dois dias, se puder arranjar alguém para a ajudar a organizar as coisas por aí agradecia imenso.
- Organizar?!
- Tirar as coisas e colocar no lugar. Ou isso não faz parte da sua lista?!
- Claro que sim. Mas talvez a sua esposa gostasse...
- A minha esposa?! Quem foi que disse que sou casado?!
- Desculpe dr. Garcia não pretend...
- Vamos esclarecer dois pontos. Primeiro, não sou casado. E segundo, dr Garcia era o meu pai. Agradecia que me tratasse por Marc.
- Não seria muito correto da minha parte. Eu sempre tratei os meus clientes...
- Olhe, faça como entender.

O silêncio que se impôs deixou Bella incomodada, não o via, mas a julgar o tom de voz, podia jurar que ele estava furioso.

- E quando pensa voltar?
- No fim de semana e, sei que não a avisei com vinte e quatro horas de antecedência, mas pode cuidar de Fénix? Pensava regressar esta mesma noite e não providenciei nada.
- Sim, claro que cuido.
- Se preferir pode dormir num dos quartos.
- Dormir aqui?!
- Para evitar as viagens.
- Obrigada, mas penso que não será necessário.
- Como disse anteriormente, faça como entender.

Bella ficou a olhar para o telemóvel. Ele tinha desligado! Estava irritado por dizerem que era casado, isso ela podia entender. Também detestava quando as pessoas se ocupavam a "cuidar" da vida dela. Mas nunca tinha sido mal educada com ninguém por isso. Sorriu ao imaginar o ar de satisfação de dona Luísa quando soubesse que tinha razão. Ela fora a única a dizer que ele não era casado. Além do sr Abreu, a vila inteira dizia que era e até diziam que tinha filhos. Por isso quando aquela mulher atendera o telemóvel e ouvira as crianças, pensou que era a esposa dele. Nada que não fosse possível!
E nada do que disse justificava a atitude dele.
O som de uma carrinha a parar no pátio acabou com a divagação dela.
Enquanto os homens deixavam as caixas nas respectivas habitações verificou a agenda e começou a arrumar algumas coisas na casa de banho.


O sol nascia e Bella olhava para o monitor do computador cheio de gráficos com as mais variadas hipóteses. Mas as tarefas não se encaixavam como ela queria e apagava o gráfico para o voltar a refazer.

  Durante a manhã tinha de cuidar de Ricardo e de Bianca. Como era em diferentes locais ocupava o tempo dela e de Graça. À tarde tinha uma reunião na câmara por causa da proposta que tinha feito, à quatro meses, para ficar com as limpezas da mesma. Marisa tinha de preparar as refeições e limpar a casa da ti Maria. De tarde tinha de levar dona Joana a visitar uma amiga ao hospital e o sr Pedro precisava de ir à cidade. Inicialmente pensou fazer isso quando fosse à câmara mas agora...
 Se conseguisse convencer o sr Pedro a ir mais cedo talvez pudesse fazer tudo. E se Graça ficasse... Sim, era a única alternativa! Ia deixar Marisa no solar durante a manhã e ela iria depois de deixar o sr Pedro e a dona Joana na cidade.
Graça ficava com a limpeza da casa da ti Maria depois da mãe de Bianca chegar e quando terminasse ia ao solar apanhar Marisa. Esta trataria das refeições enquanto Graça ia à câmara pedir nova reunião e trazia dona Joana e o sr Pedro ao final do dia.
Satisfeita com a resolução do problema agarrou o telemóvel e marcou o número do sr Pedro.


- Para que quer um homem solteiro uma casa destas?! - Marisa olhava o lustre pendurado do tecto da sala. - Três salas, uma biblioteca, sala de leitura com lareira e mini bar. Oito quartos e sete casas de banho! Deus do céu! Eu perdia-me aqui! E não estou a contar a casa do jardim e a garagem!
- Talvez pense casar brevemente.
- Só pode. Viste bem a cozinha?! Aquele fogão é que dava jeito.
- Podias pedir-lhe para te deixar cozinhar. - Bella brincou com ela - Quem sabe se ele não se perdia de amores pelos teus cozinhados. Sabes o que se diz dos homens.
- Que são idiotas?!
- Que se conquistam pelo estômago.
- Se cozinhar bem fosse um requisito para casar metade das mulheres não casava!
- Incrível! Descobriste o motivo dos divórcios.
- Pensava que a idiotice era exclusiva dos homens.
- Que piadinha.

Bella agarrou a caixa vazia e colocou-a no corredor. Embora à vez, tinham passado o dia anterior a organizar as coisas e a tarde estava a chegar ao fim sem que terminassem. Marisa tinha uma consulta na cidade e ela tinha de dar o dia por terminado antes do que pretendia.

- Vamos?! - Bella agarrou mais uma caixa vazia.
- Onde?
- Não tens uma consulta?
- Sim. Mas tu não precisas ir.
- Olha...aprendeste a conduzir!
- Não. Mas achas que com esta idade não me sei desenrascar?! A minha boleia não tarda.
- Boleia?!
- Graça vai deixar-me na cidade quando for para casa e tu podes adiantar ou terminar aqui.
- E por acaso pensaste no regresso a casa?
- Venho com um vizinho.
- Hum... Gostei! Tudo planeado.
- Aprendi com a melhor.

As duas riram e dirigiram-se a outra divisão. Graça não tardou a chegar e ela ficou sozinha até que o corpo deu sinais de cansaço. Mas cansada ou não, faltava apenas a casa de banho do andar de baixo e não ia sair dali sem terminar.


Bella acordou sobressaltada. Sonhara com Fénix a cair num buraco. Ao sentar-se na cama recordou que não o tinha visto na noite anterior. Deixara-lhe uma lata de paté mas quando saiu estava tão cansada que não se lembrou de o procurar. E se acontecesse algo ao pobre animal?! Nunca descuidara nada. Porque não tinha procurado Fénix?! Porque ficara a trabalhar até à exaustão?! Porque partira do princípio que ele estava a dormir no sofá?! O dr Garcia nunca lhe perdoaria se algo lhe acontecesse!

Sem comentários:

Enviar um comentário