Bella seguiu-o com o olhar até ele dobrar a esquina. Mexeu-se no banco e olhou para os flocos de neve que aumentavam de tamanho.
Não... definitivamente não era boa ideia ficar ali.
Saiu do carro e caminhou o mais depressa que conseguiu tentando alcançá-lo. Quando chegou à esquina ele estava encostado a uma parede como se esperasse por ela.
- Recuperaste o bom senso.
- Tenho de reconhecer que ficar no carro não era razoável.
- Ainda não consigo entender porque não fazes o que te peço!
- O problema é que tu não pedes. Dás ordens!
- Dou ordens?!
- Sim! E sem consultar seja quem for! Isto para não falar que nunca avisas das decisões que tomas!
- Isso é que não! - Ele parou na entrada de um prédio.
- Claro! Assim como disseste que íamos dormir em casa da tua irmã! Acho que essa mensagem ou email se perdeu algures!
- Não podia dizer o que não sabia! Ela telefonou quando estava no solar, nessa altura estavas no carro.
- Porque não o disseste quando voltaste?
- Sinceramente ainda tentava assimilar o facto de me teres expulsado da tua casa!
Marc subiu os poucos degraus que davam para a entrada e abriu a porta para ela passar.
- Não te expulsei!
- Não?! Pois pareceu!
Marc aproximou-se do balcão e uma senhora de meia idade olhou para ele e sorriu. Bella afastou-se um pouco e telefonou a Graça para ir levar dona Antónia a casa da filha desta. Ela tinha prometido levá-la no dia seguinte para o aniversário do neto, mas devido à neve os seus planos tinham sido alterados. Olhou para Marc, como ainda conversava com a senhora telefonou a Marisa.
- Isto só a mim! Com tanto trabalho que temos e eu aqui, encurralada no meio da neve! Só espero que não demorem muito a abrirem as estradas.
- Não acredito!
- Mas podes acreditar. Está a nevar. - Bella olhou para a neve que caía cada vez mais forte.
- Nisso eu acredito. - Marisa soltou uma gargalhada - O que me custa acreditar é no facto de estares encurralada numa pousada, com um homem que mais parece um deus e estás a pensar no trabalho!
- No que querias que pensasse?
- Tenho de te explicar?! Pensei que soubesses que fazer! - Marisa estava divertida - És nova, ele é novo e...
- E tu velha e meio doida.
- E tu idiota! Achas que não reparei na forma como olha para ti?!
- É um cliente!
- E quem está a reparar nessa ninharia?! - Marisa continuava - Aproveita e fica tranquila que nós cuidamos de tudo por aqui.
- É disso que tenho medo... Que vocês cuidem de tudo...
- Diverte-te que só se vive uma vez!
Bella olhou para o telemóvel. Marisa tinha desligado sem lhe dar tempo de se despedir!
Olhou para Marc, era um dos homens mais atraentes que conhecera e o único que conseguia tirá-la do sério em questão de segundos! Mas bastava um beijo dele para ela se render. Então porque não admitia o que sentia?! Marisa tinha razão e ela estava a complicar uma coisa simples?! Estava a colocar entraves a uma coisa tão básica como a atracção que sentia por ele?!
Talvez fosse o medo de sofrer como sofreu quando descobriu que Bruno era casado, que a levava a agir assim. Mas Marc não era casado!
E se desde os primórdios dos tempos os homens, e as mulheres, tinham desejos e procuravam-se para os satisfazer, porque insistia ela em fugir do que sentia?! Ele despertava nela os mais básicos dos sentimentos, a noite em que dormiram juntos era a prova disso. Quando pensou que ele se ia embora não pensara em nada mais, apenas no que sentia e queria! Ele! E mesmo furiosa com ele bastava um olhar para sentir o desejo renascer e sentir os beijos dele queimando a sua pele, as mãos percorrendo o seu corpo...
- Então é assim... - Marc aproximou-se dela - Há apenas um quarto, por isso temos de o partilhar.
- Está bem. - Bella ainda estava embargada pelas recordações.
- Nem sonhes que vou dormir... - Marc calou-se e olhou-a com o sobrolho carregado - Que disseste?!
- Que podemos partilhar o quarto. - Bella colocou a mão no braço dele - Já que, enquanto durar este nevão, vamos ter de nos suportar, acho melhor sermos amigáveis um com o outro.
- Amigáveis...
- Somos adultos, penso que conseguiremos ter um convívio saudável!
- Se tu o dizes...
Marc começou a subir as escadas e ela seguiu-o. Pouco depois ele fechava a porta atrás dela. Bella olhou em redor.
Contrariamente ao que esperava o espaço era dividido entre um sofá castanho, que ocupava o lugar principal em frente a uma lareira eléctrica, e uma cama de madeira rústica. Ao lado desta, uma porta que dava acesso à casa de banho, com azulejos brancos e um espelho que ocupava uma boa parte da parede principal, dava a ideia de ser mais ampla do que realmente era.
Ao desviar a atenção da casa de banho, o seu olhar perdeu-se na enorme cama com uma colcha de lã verde seco. Acariciou a colcha e a imagem deles na cama formou-se na sua mente provocando-lhe um arrepio que lhe percorreu a espinha... Sentiu-se uma virgem na noite de núpcias! Não podia dividir a cama com ele! O desejo que sentia era tão intenso que se o fizesse tinha a certeza que se atiraria nos braços dele.
- Só há uma cama... - Bella sussurrou como se falasse para si mesma.
- Sim. Mas não te preocupes. Estarás segura!
Marc parecia aborrecido, talvez não gostasse da ideia de dormir no mesmo quarto que ela. Talvez preferisse ter um quarto só para ele, mas naquele momento não lhe restava outra alternativa.
- Podes ficar na cama. - Bella achou injusto dormir na cama quando era ele que pagava o quarto - Eu durmo no sofá. Afinal sempre preferi o sofá!
A breve referência ao sofá avivaram as recordações daquela noite e o desejo apoderou-se novamente dela. Decididamente era muito perigoso dormir no mesmo espaço que ele
- Não vou permitir que durmas no sofá! Se alguém vai dormir no sofá serei eu.
- Mas tu é que pagas o...
- Mon dieu! Ça sera possible?! - Marc falava calmamente - Dormes na cama e não se fala mais nisso.
- Tens a certeza?!
- Claro.
Bella olhou novamente para a cama, pareceu-lhe enorme em comparação com o sofá.
- Vou procurar um restaurante onde possamos jantar - Marc agarrou a chave do quarto.
- Obrigada mas não tenho fome. Acho que vou descer um pouco e ver se encontro alguma revista.
- Se é isso que preferes.
Desceram juntos e quando Marc saiu, ela ficou a olhá-lo desde a sala. Caminhava com passos firmes, parecia-lhe indiferente ao frio e à neve.
- O seu marido faz-me lembrar o meu falecido.
Bella voltou-se e viu a dona da pousada a olhar para Marc.
- Não estamos casados. Apenas...
- Esta minha cabeça! Esqueço-me sempre que vocês vivem juntos antes de casarem. O que me parece lindamente. - A mulher sorriu - Sou Adelaide.
- Bella. Prazer.
- Igualmente. Não quer um café?! Deve estar gelada, este nevão apanhou muita gente desprevenida.
- Aceito sim, obrigada.
- Os homens como ele gostam de controlar tudo. Eu passei uns maus momentos até perceber como o meu marido "funcionava".
- Funcionava?!
- Os homens são como as crianças. Apenas precisamos descobrir como levá-los a fazer o que queremos. Depois é fácil! - Adelaide deu-lhe uma chávena - No meu caso era tudo uma questão de psicologia. Bastava dizer que gostava de uma coisa, muito subtilmente é claro, que no dia seguinte essa mesma coisa era-me oferecida. Se queria ir a determinado local bastava dizer que devia ser giro, ou: Já nos imaginaste ali?! E dias depois íamos de viagem. A única coisa que nunca me permitiu foi trabalhar.
- Porquê?
- Gostava de me ter em casa à espera dele. Dizia que a maior alegria da vida dele era chegar a casa e ouvir a minha voz em resposta ao Olá dele. - Adelaide suspirou - Era um bom homem. Teimoso, mas muito bom homem.
- Faleceu à muito tempo?
- Quase vinte anos.
- Sinto muito.
Adelaide contou que depois de ficar viúva pensou em fazer algo, mas pensar em trabalhar era como se estivesse a ir contra os desejos do marido. Por isso foi adiando, um dia após um nevão, uns turistas perguntaram-lhe se sabia onde podiam dormir e isso deu-lhe a ideia. O marido apenas não queria que estivesse fora de casa. A casa era enorme e já tinha ponderado vendê-la, mas se a adapta-se para receber hóspedes podia satisfazer o desejo dos dois. Das imensas salas fizera sete quartos de casal e três de solteiro, mandara construir uma casa de banho nos quartos e tinha uma sala com lareira onde os hóspedes podiam conviver. Pensara ampliar a cozinha, de modo a poder servir refeições, mas isso acarretava mais responsabilidades e teria de contratar uma cozinheira. O que nem sempre se justificava, por isso não acabou por desistir da ideia.
Quando lhe perguntou se isso não afastava os clientes, Adelaide assegurou-lhe que não. Afinal não precisavam de se deslocar muito longe para comer pois havia um restaurante numa rua próxima.
O telefone tocou obrigando Adelaide a despedir-se de Bella, que depois de terminar o café subiu. Tomou um duche e meteu-se na cama vestindo apenas a única peça de roupa confortável que tinha limpa. Uma t-shirt! Ao olhar para o relógio percebeu que Marc saíra à mais de uma hora. Agarrou o livro e sentou-se a ler preocupada com ele, mas o sono acabou por vencê-la. Quando acordou viu um vulto que se mexia no sofá e voltou a pensar em como o sofá era pequeno e a cama grande.
- Marc... - Bella sussurrou.
- Sim.
- Estás acordado?
- Que te parece?!
- Estava a pensar... - Ela fez uma pausa
- Em quê?
- Que o sofá é pequeno. Podias dormir aqui.
- Acho melhor não.
- Sabes que é uma idiotice dormires aí quando a cama é enorme.
- Talvez seja. Mas é preferível isso a correr o risco de me acusares sabe lá Deus de quê!
- Tu é que sabes. Mas estás a ser infantil. - Bella sentiu-se desapontada e admirada por sentir saudades do calor do corpo dele, do cheiro dele, do abraço... Em suma, sentia saudades dele!
Pouco depois ouviu algo que ela reconheceu como um impropério em espanhol seguido de algo em Francês, depois algo caiu e no minuto seguinte Marc juntava-se a ela.
- Recuperaste o bom senso?! - Bella sentiu-se dividida entre o soltar uma gargalhada ou abraçá-lo.
- Apenas porque o sofá me está a matar as costas.
- Pobrezinho...
- Dorme Bella. Dorme. É mais seguro para os dois.
- Boa noite Marc.
- Buenas noches.
Os beijos de Marc percorriam o corpo dela levando-a a novas sensações e a novos suspiros de prazer. Bella agarrava-se às costas dele impedindo que ele se afastasse. A cada movimento ela sussurrava o nome dele. Marc agarrou-lhe as mãos e beijando os peitos dela, segurou-lhas por cima da cabeça ao mesmo tempo que lhe mordiscou parte do lábio inferior. O que a levou a gemer de dor, ao sentir o sabor do sangue ela abriu os olhos, queria perguntar-lhe porque lhe tinha feito aquilo! Mas Marc dormia a seu lado.
Por uns segundos ficou a olhar o quarto na penumbra. Demorou a perceber que estava aninhada nos braços dele e tinha a mão sobre o peito nu. Ia jurar que, tal como ela, quando ele se deitou também tinha uma t-shirt vestida!
Levou uma mão aos lábios e depois apalpou o corpo procurando a t-shirt que tinha subido ligeiramente. Perceber que não passara de um sonho entristeceu-a e percorreu o peito dele com a mão ao mesmo tempo que lhe beijava o braço levemente.
- Assim fica difícil. - Marc sussurrou-lhe. - Como queres que me controle se me provocas?!
- Estou a provocar-te?!
Bella voltou a sentir a mesma sensação que sentira quando o beijou em frente à lareira levando-o a estremecer de desejo. Confiante beijou-lhe o braço e depois o peito.
- Sim... - Marc rodou o corpo e Bella ficou debaixo dele - E sabes muito bem disso!
- Sei?! - Bella fingiu inocência.
- Sabes... - Marc beijou-lhe o pescoço e ela suspirou - Acho que adoras provocar-me. Nos dois sentidos!
- Quem diria que conseguia tal coisa!
- Mucho más de lo que piensas.
Bella ofereceu-lhe os lábios e ele não recusou a oferta. Bastaram poucos segundos para que a pouca roupa caísse no chão junto à cama enquanto ele percorria o corpo dela com beijos e carícias que a levavam, uma e outra vez, a um quase clímax. Quando ele colocou a uma perna entre as dela ela estremeceu de antecipação e olhou-o nos olhos. O brilho que viu neles era tão intenso que a assustou e encolheu-se ligeiramente. Mas os movimentos cadenciados dele fizeram-na esquecer o brilho e tudo mais, naquele momento apenas conseguia pensar no prazer que ele lhe proporcionava.
Quando leu o email, Bella não queria acreditar no que estava a ler.
Aquele email era do mesmo homem com quem tinha vivido três dias que jamais esqueceria?! Não podia ser!
Bastaram três semanas, depois daquele fim de semana, para tudo voltar a ser como antes.
Nos dias que passaram na pousada fizeram amor como se estivessem em plena lua de mel, apenas desciam para comer ou, se o tempo o permitisse, passear um pouco. Durante o último passeio, Marc contou-lhe que a mãe vivia em França, na casa que pertencera aos avós, e que esperava conseguir convencê-la a visitar o solar durante o verão. Bella falou-lhe do pai e de como sentia a sua falta mas quando Marc perguntou pelos namorados, ela apenas sorriu e respondeu perguntando pelas namoradas dele. Ele olhou-a seriamente e apenas disse que queria aproveitar o tempo que estava com ela. Depois rodeou a cintura dela com o braço e beijou-lhe o cabelo antes de regressarem à pousada onde voltaram a fazer amor.
No dia seguinte anunciaram que as estradas já estavam transitáveis e em questão de minutos estavam no carro rumo a Chaves.
Depois do regresso e durante os primeiros dias, encontravam-se quase todas as noites. Parecia terem chegado a um acordo, durante o dia ela tratava dos outros serviços com Marisa e Graça e tudo o que dissesse respeito ao solar, era adiado para o fim do dia de forma a dormirem juntos.
Marisa tinha-a visto chegar a casa em pleno nascer do dia, uma ou duas vezes, mas ao vê-la apenas sorria. Bella devolvia o sorriso e o dia prosseguia como sempre.
No início da segunda semana Bella recebeu uma carta da câmara a comunicar que ficara com o serviço de limpeza dos edifícios, o que a obrigou a recusar muitos dos convites de Marc para dormir no solar e as noites que passavam juntos foram trocadas por encontros esporádicos onde acabavam a fazer amor como dois adolescentes, na garagem, no casa do jardim ou na bancada da cozinha. E mesmo que estes tivessem lugar quase ao cair da noite, nunca mais se estenderam até ao amanhecer.
A meio da semana Marc enviou um email a dizer que não precisava dela por uns dias. Que ia estar ausente mas que levava Fénix e quando regressasse entrava em contacto com ela.
Três dias depois, ela estava a deixar a roupa em casa da dona Antónia quando o viu a tomar café com David, o padre da freguesia. Sentiu um desejo enorme de chorar perante o silêncio dele. Temendo que ele a visse, e percebesse como a magoava a indiferença dele, entrou no carro apressadamente. Mas ao chegar a casa percebeu que estava a ser injusta para com ele, pois tinha um ramo de flores em cima da secretária com um cartão onde ele anunciava a sua chegada e os desejos de falar com ela no dia seguinte.
Depois desse encontro, onde lhe disse que tinha de voltar a sair e lhe pedia que cuidasse de Fénix, nunca mais o vira.
Até aquele momento, em que recebera o email, não sabia que ele tinha regressado.
Releu o email que lhe pareceu ainda mais frio que quando o lera pela primeira vez e lhe recordava as ordens de outrora.
Sábado às dez horas no solar. Precisas de roupa para dois ou três dias e um casaco.
Marc
Controlando a vontade de chorar escreveu um " Lá estarei" mas quando ia clicar para enviar, apagou a mensagem e desligou o computador sem dar qualquer resposta.
A caminho da casa de dona Luísa recordou as palavras de Adelaide. Ele era o tipo de homem que gostava de controlar e ela tinha de reconhecer que enquanto atendeu aos desejos dele tudo correu lindamente. O Marc frio e distante sempre estivera ali, ela é que se negara a vê-lo.
- Estou a chegar dona Luísa. - Bella atendeu assim que o telemóvel tocou. - Aliás, estou à sua porta.
- Estava a ver que não!
Bella sorriu ligeiramente ao guardar o telemóvel e segundos depois a porta abriu-se mostrando uma dona Luísa sorridente.
- Tive tantas saudades tuas! - Dona Luísa envolveu Bella num abraço.
- Estive fora apenas três dias.
- Só?! Então porque tem sido Graça a trata-me da contabilidade à quase um mês?! E não me estou a queixar!
- Ainda bem. - Bella fechou a porta - Porque me vou ausentar novamente.
- Vais?!
- Sim. Marc precisa de mim por mais três dias.
- Hum... Marc... Pois... E vais em trabalho?!
- Claro que sim! O que está a magicar?!
- Eu?! Nada não... Mas fala-me de Marc. Como é?
- Teimoso! Autoritário e tira-me do sério!
- Ou seja, um homem! - Dona Luísa riu - E conseguiu fazer-te esquecer Bruno?
- Antes não tivesse! - Bella calou-se ao ver o sorriso na cara de dona Luísa.
- Já era mais que tempo de arranjares alguém.
- Eu não arranjei ninguém! Não no sentido que lhe está a dar.
- Não?!
- Não!
Bella acabou por contar a dona Luísa como era a convivência com Marc, sem mencionar as noites que dormiram juntos e os sentimentos confusos que ele despertava nela.
- Mas se assinaste um contrato com Marc, ele está no seu direito. Pelo que dizes respeita o tempo de aviso que estipulaste.
- Ele manipula o meu tempo, é como se quisesse que trabalhasse exclusivamente para ele. Exige e exige! Se não fosse porque prometi ao sr Abreu já lhe tinha dito com quantos paus se faz uma canoa!
- Já?! Não haverá nada mais?
- Há! Irrita-me profundamente!
- Não posso dizer-te o que sentes mas conheço-te desde que eras uma criança e acho que vai além de te irritar. E quanto ao facto de lhe dizeres algo, tu nunca te calaste por nada nem por ninguém! Lembro-me perfeitamente que depois de terminares com Bruno, ele insistiu em reatar durante meses, chegou mesmo a deixar a esposa e a alugar uma casa na vila para te conquistar e tu nem o deixavas abrir a boca. Porque não fazes o mesmo com Marc? Porque não lhe dizes o que pensas?
Nessa noite, enquanto preparava a agenda do dia seguinte perguntava-se porque não lhe fazia frente como fizera a Bruno? Porque tolerava que ele orientasse, ainda que indirectamente, a sua agenda laboral?! A cada dia que passava delegava cada vez mais trabalhos a Graça. Felizmente as pessoas gostavam de Graça e esta parecia cada vez mais à vontade. Mas aquilo tinha de terminar, ela tinha de tomar as rédeas da sua vida novamente. Com ou sem contrato ele era apenas mais um cliente com os mesmo direitos que os demais! E em lado nenhum dizia que ele podia escolher quem realizava as tarefas que precisava!
Abriu o email dele e escreveu:
" Neste fim de semana estou indisponível, mas Graça pode acompanhar-te.
Bella"
Hesitou momentaneamente ao clicar no enter mas acabou por enviar a resposta ao mesmo tempo que uma lágrima escorria pelo seu rosto.
Enquanto subia as escadas em direcção ao quarto repetia uma e outra vez, que estava mais que na hora de impor limites nas exigências dele.
Mas se estava tão certa disso porque as lágrimas insistiam em cair?!
Ao apanhar um pijama da cómoda o espelho devolveu-lhe o seu reflexo e ficou uns instantes a olhar para os seus próprios olhos húmidos pelas lágrimas e depois falou para o seu reflexo: Sabes porque não lhe dizes nada? Porque te faz sentir coisas que nunca sentiste e te faz vibrar de desejo apenas com um olhar.
Por isso permites que faça de ti o que quer.
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