terça-feira, 20 de março de 2018

O CONTRATO 11ª PARTE



O sol espreitava timidamente por entre as nuvens quando Bella saiu da pousada para beber café. No dia anterior não se sentira com coragem de regressar a casa, precisava de um pouco de espaço, de tempo para assimilar o que sentia por Marc e decidira ficar na primeira pousada que encontrara perto da fronteira.
Enquanto bebia café pensava que mais uma vez o destino tinha sido cruel para com ela. Mais uma vez, à semelhança de outrora, voltavam a fazer dela idiota e voltava a sentir-se enganada, como quando descobriu que Bruno era casado. Mas desta vez o seu coração não estava ferido como naquela época, desta vez estava desfeito, cada vez que fechava os olhos via Marc beijando aquela mulher e isso dilacerava o seu coração. Sentindo as lágrimas nos olhos fixou um ponto distante e tentou pensar em coisas que a faziam sorrir.

- Bella?!

Bella voltou-se ao reconhecer a voz.

- Xavier! Que surpresa.
- Surpresa é ver-te por aqui. - Xavier olhou em redor - Marc está contigo?
- Não. Estou sozinha.
- Pensei que ias ficar para o fim de semana. Posso?!  - Ela anuiu e Xavier sentou-se na cadeira ao lado.
- Resolvi partir mais cedo.
- Eu apenas passei para deixar umas lembranças. O normal entre amigos.
- São amigos à muito tempo?
- Desde os tempos de faculdade. Mas ultimamente sinto que já não sou bem vindo como antigamente, a amizade vai-se deteriorando.
- A sério?!
- Infelizmente. - Xavier fez sinal a uma rapariga - Insisto para que tomes o pequeno-almoço comigo.
- Não tenho muita fome.
- Mesmo assim tens de provar o nosso bolo de chocolate, é fantástico. Vais adorar.
- Nosso?! - Bella olhou para ele fixamente.
- Sim. Esta pastelaria é minha. Não sabias?
- Não.

Falaram durante algum tempo sobre a pastelaria e sobre os tempos de estudante e quando ela decidiu regressar à pousada ele insistiu em acompanhá-la. Ainda que por breves e esporádicos momentos Xavier conseguira afastar Marc do seu pensamento, e sentia-se agradecida por isso. Quando chegaram à porta da pousada ele tentou beijá-la mas ela desviou o rosto e colocando uma mão no peito dele evitou que os lábios se tocassem.

- Xavier... - Bella mantinha a mão no peito dele - Agradeço a companhia mas está na hora de ires.
- Marc... - Xavier baixou a cabeça momentaneamente - Devia calcular... Bom, não me podes recriminar por tentar. Ao menos um beijo de amigos?!

Bella não respondeu e ele retrocedeu um pouco, nesse instante ela viu Marc dentro do carro do outro lado da estrada. Ao cruzar o olhar com o dele percebeu que estava furioso. Olhou para a sua mão, esta ainda repousava no peito de Xavier. A primeira reacção foi dirigir-se a Marc mas recordou o beijo dele com outra mulher e sorriu para Xavier.

- Vemos-nos por aí.
- Talvez mais cedo que o esperado.
- Adeus Xavier. - Bella murmurou ao entrar na pousada.

Por uns instante pensou que Marc entrasse e exigisse explicações sobre a sua saída da festa e sobre aquele encontro com Xavier, mas quando espreitou pela janela percebeu que a rua estava vazia. Como Marc descobrira que estava ali?  Xavier teria visto Marc chegar e para o irritar tinha tentado beijá-la?! Sabia que existia uma certa rivalidade entre Marc e ele, notava-se sempre que eles estavam juntos, mas não queria acreditar que Xavier era capaz de uma coisa dessas.

Aproveitou a manhã para descansar e a meio da tarde pediu um táxi que a deixou em casa quando a noite tomava conta da pequena vila. Respirou fundo ao fechar a porta. O silêncio parecia enorme contrastando com a alegria que se vivia na casa de Carmen. Todos tinham alguém... todos menos ela! Até Marc tinha Fénix para lhe fazer companhia! Sentindo raiva por voltar a pensar nele encheu a banheira e desejou ficar ali até deixar de sentir aquele vazio, aquela dor que lhe oprimia o peito.

As olheiras mostravam bem as noites mal dormidas assim como a sua falta de apetite mostrava como andava triste. Fazia um esforço enorme para trabalhar e evitava ainda com mais esforço as chamadas de Marc que começaram ao terceiro dia da chegada dela a casa. Sempre que este telefonava, durante o dia, pedia a Graça que atendesse e lhe dissesse que estava fora em serviço, se ele telefonava de noite deixava tocar o telemóvel até ele desistir.
Tinha retirado serviço a Graça e Marisa para se manter ocupada e não pensar em Marc, o que a obrigava a trabalhar até altas horas, mas quando teve uma tontura durante a manhã reconheceu que estava a exagerar, que tinha de abrandar. Notava que Marisa começava a ficar preocupada com ela, pelos olhares que lhe dirigia mas quando esta lhe perguntou que se passava apenas sorriu.
Nessa tarde Marisa só foi para casa depois de lhe fazer uma sopa e frango assado com legumes e depois de insistir que se alimentasse em condições. Sabendo que a amiga tinha razão obrigou-se a comer uma tigela de sopa e tentava comer um pedaço de frango quando a campainha tocou.

- Não precisas vir confirmar se estou a comer. Não sou mais criança! - Bella abriu a porta sorrindo  segura de que era Marisa mas ao ver Marc o pouco ânimo que tinha desapareceu.
- É bom saber!
- Que fazes aqui?!
- Como não atendes o telefone não me restou alternativa.
- Pois perdeste tempo. - Bella ficou entre a porta meio aberta impedindo a entrada dele.
- Já tinha chegado a essa conclusão, afinal Xavier não precisou de se esforçar tanto para...

A sua mão bateu em cheio na face dele impedindo que continuasse a frase.

- Sai daqui! - Bella sentia as lágrimas escorrer pelo rosto - Sai!

 Bella gritava ao mesmo tempo que lhe indicava a rua. Quando ele retrocedeu ela fechou a porta e encostou-se a ela sentindo o coração bater mais que nunca. Depois recordou uma outra situação e abrindo a porta gritou para a escuridão da noite.

- E desta vez podes ter a certeza que te expulsei!

 Durante dois dias não soube nada dele. Ela desejava esquecê-lo como ele a esquecera a ela. Mas além de ter de lidar com o amor que a consumia, naquele momento tinha de lidar com a dor que lhe causava o facto de a ter magoado.
Ele pensava que ela tinha algo com Xavier, talvez porque ela lhe dera essa ideia, porque do lugar de onde ele estava, a mão que ela usara para afastar Xavier podia ser interpretada de outra forma, aquela cena na entrada da pousada podia ser considerada uma despedida entre dois amantes. Que não era, mas mesmo que assim fosse, ele não tinha carácter para a julgar. Ele beijara outra mulher diante da família dele depois de passar a noite com ela. Se nessa altura se sentia magoada, depois do que lhe dissera na outra noite sentia-se duplamente magoada e ofendida. Ele devia de saber que ela nunca iria dormir com Xavier! Nem com qualquer outro homem! Não depois de estar com ele.
Se ao menos pedisse desculpas... Mas porque iria pedir?! Ele considerava-se um ser supremo, quase um semi-deus e os deuses não pedem desculpa. Têm sempre razão!
Ela é que fora idiota ao pensar que se iria divertir, que não ia entregar o seu coração. Mal o viu e o seu coração disparou devia de ter percebido que ele era o tipo de homem que a podia magoar e muito. Mas iludira-se e alimentara a esperança que ele era um homem diferente do que imaginara ao início mas isso apenas tinha sido um engodo, uma forma de a levar para a cama!
Bastava um beijo e ela rendia-se. Tinha sido assim desde o inicio e não precisou de lhe prometer nada para ela aceitar dividir a cama com ele!
Mas não entendia porque ele insistira para dormirem juntos na casa de Carmen! Ou porque tinha de ser ela a cuidar das coisas dele! Porque lhe dera a entender que se importava com ela...
Levou uma mão à cabeça cansada de tanto pensar, quanto mais pensava no assunto mais confusa ficava. A única coisa sensata a fazer era manter-se afastada dele. Para bem da sua saúde física e mental! Estremeceu ao ouvir o telemóvel e falou o mais normalmente que conseguiu.


- Faço por si boa tarde.
- Diz-me que é mentira! - Carmen falou sem a cumprimentar.
- Olá Carmen.
- Porque é mentira! Só pode ser!
- Não te estou a entender.
- Diz-me que não foste para a cama com Xavier!
- Desculpa?! - Bella levantou-se tão rapidamente que a cadeira caiu.
- Não te conheço bem, mas não acredito que fosses capaz de uma coisa dessas... Xavier jura que sim e...
- Claro que não! - Bella levou uma mão ao peito - Juro-te que não. Deus do céu! Que lhe deu para dizer isso?
- De Xavier eu...

Bella olhou para o telemóvel ao deixar de ouvir Carmen, a chamada não tinha caído mas pouco se ouvia do outro lado. Escutou mais atentamente e percebeu o som de passos e vozes de crianças e depois voltou a ouvir passos e finalmente Carmen falou.

- Tenho de desligar.
- Está tudo bem?
- Sim.

Bella deixou cair a cabeça entre as mãos. Xavier dissera a Carmen que tinham dormido juntos! Se Carmen sabia Marc também! O seu coração deu um salto ao recordar a noite em que ele a acusou de "facilitar a vida" a Xavier! Se àquela conversa juntasse a cena a que Marc assistiu... começava a compreender a atitude dele. Compreendia a atitude, não o motivo. E se ele podia beijar quem quisesse, ela também!

Bella acordou com o som insistente do telemóvel. Olhou para o relógio, duas da manhã! Recordando a teimosia de Marc, desligou a chamada e voltou-se na cama tapando a cabeça com a almofada. Adormeceu pouco depois mas som do telemóvel voltou a acordá-la. Dizendo alguns impropérios agarrou o telemóvel. Ao ver o número do hospital o seu coração deu um salto.

- Sim?!
- Bella?! Desculpa acordar-te. - Maria, a enfermeira que era sua amiga desde a faculdade, falava com a calma própria da profissão - O sr Fernando deu entrada no hospital esta tarde.
- O sr Fernando? Que aconteceu?!
- O coração. Ele está muito agitado por causa dos seus meninos e pediu para te ligar. Sei que é tarde para vires até cá mas podes falar com ele?! De modo a tranquilizá-lo um pouco.
- Claro que sim.
- Vou levar-lhe o telemóvel.

Enquanto Maria ia relatando o estado do sr Fernando ela amaldiçoou-se por não ter atendido a chamada da primeira vez. Com tanta gente que lhe poderia ligar, porque tinha de pensar que era Marc?! Mas ela sabia a resposta a essa pergunta. Porque o amava e tinha saudades de ouvir a voz dele!

- Bella?! - A voz do sr Fernando arrastava-se.
- Olá sr Fernando. - Bella controlou as lágrimas - Não se esteja a esforçar.
- Os meus meninos...
- Não quero que se preocupe com isso. Prometo que vou cuidar deles.
- Obrigada...

Uma respiração ofegante chegou até ela e depois a voz de Maria desejando as boas noites ao sr Fernando.

- Obrigada Bella. Ele não parava de falar nos meninos. Chegámos mesmo a pensar que eram duas crianças.
- Para ele é como se fossem. Desde que a mulher faleceu que tinha perdido a alegria e nunca mais foi o mesmo homem, pelo menos até os encontrar. Agora são a sua única companhia.
- Não te importas se falarmos noutra ocasião?!
- Claro que não. Vai lá cuidar dos teus doentes.

Depois daquela notícia não conseguiu conciliar o sono e quando o dia nascia ela já se encontrava junto a Mily e Timi. Pouco depois regressava a casa consciente que tinha de resolver aquela situação.
Em casa dela não podiam ficar pois não tinha condições para albergar dois cães daquele porte. Mas não os podia levar para o canil, talvez Marisa os pudesse levar por uns dias para a sua quinta. Mas isso seria um trabalho extra para ela e os gatos não iam gostar dos novos inquilinos. Tinha de pensar numa outra solução!
Se eles se mantivessem sossegados na sala da lareira... Não lhe restava alternativa. Era isso ou ir a casa do sr Fernando várias vezes ao dia! Estavam melhor ali com ela e sempre lhe faziam companhia.
Procurou umas mantas e umas almofadas velhas e depois de as colocar no chão junto à lareira voltou a casa do sr Fernando pronta para regressar com dois novos amigos.

- Vamos rapazes... entrem mas nada de correrias. - Bella afastou-se e eles correram pela sala cheirando tudo em redor - Nada de porcarias! - Exclamou ao ver Timi levantar uma pata mas o aviso foi tarde demais - Oh não...
- Bella, eu preciso... - Graça entrou nesse instante e foi rodeada pelos dois animais - Que aconteceu?!
- O sr Fernando está no hospital e tenho de cuidar deles.
- E parece que já começaram a marcar o território.
- Pois... - Bella começou a lavar o chão - Estavas a dizer que precisavas...
- Preciso falar contigo. Pedir-te desculpas mais precisamente.
- Porquê?
- Recordas que me pediste para cuidar das coisas do solar?
- Sim.
- Chegou um email eu pensei que fosse trabalho e abri, mas era de carácter pessoal. Não pretendia...
- Pessoal?!
- Sim.
- Não te recordas do que se tratava? - Bella sentia o coração aos pulos.
- Sim, mas acho que deves lê-lo. - Graça tirou-lhe a esfregona da mão - Eu faço isso. É o penúltimo e também deves ler o de ontem.
- Obrigada.

Bella sentou-se e abriu a caixa de emails, sentiu um arrepio ao abrir o dele.

" Nem sei por onde começar. Um pedido de desculpas seria o ideal mas não por aqui. No mínimo mereces um pedido de desculpas pessoalmente. O que me leva a perguntar se estarás disposta a perdoar a minha falta de confiança em ti! No fundo devia de saber que serias incapaz de tal mas que posso dizer para justificar o que disse? Nada justifica o que disse mas nos últimos dias as coisas fugiram ao meu controle e não gosto quando isso acontece. Ou talvez seja porque não é a primeira vez que Xavier o faz. Ou então porque preciso de uma desculpa para que tudo funcione como pretendo. Independentemente da razão sei que não merecias o que disse, assim como sei que não mereço que me perdoes, mas mesmo assim tenho esperança que o faças.
Fico a aguardar notícias tuas.
Marc"

Ao terminar de ler as lágrimas caíam em cascata na secretária. Ele tinha pedido desculpa... Devia telefonar-lhe?!
Abriu o último email dele.

" O teu silêncio leva-me a pensar que ainda estás aborrecida comigo. Tens razão para isso mas podemos ao menos falar?!
Marc"

Não... não podiam. Sabia que estaria perdida quando ele lhe pedisse desculpas pessoalmente. E ele tinha de perceber que não pode dizer o que pensa sem pensar no muito que magoava as pessoas.
Mas aquela distância estava a acabar com ela, sentia falta dele, dos beijos e abraços dele. Mas ela amava-o e ele apenas a desejava. Era melhor acabar assim, enquanto estava magoada com ele. Não devia de ter lido o email. Agora sabia que ele estava arrependido do que tinha dito.
Abriu o email mais uma vez e escreveu...

" Dadas as circunstâncias o melhor é mantermos-nos afastados. Se pretenderes que Graça trate das tuas coisas no solar perfeito, caso contrário e dado o nosso envolvimento é melhor anular o contrato. Bella"

Clicou em enviar e saiu do computador. Sem olhar para Graça, bateu na perna e os dois cães aproximaram-se dela.

- Vou levá-los à rua.

Apertou o casaco e dirigiu-se ao campo onde se sentou numa pedra a olhar para os dois animais que corriam livremente. Recordou quando os levou a passear com Marc e pouco depois a visão tornava-se turva pelas lágrimas. O vento aumentou de intensidade e o céu ficou mais cinzento mas ela não se importou, um pouco de chuva ia aliviar a sua tristeza. Sorriu ao ver Mily que passou por ela a correr ao mesmo tempo que latia, seria uma pena serem obrigados a ficarem fechados. Procurou Timi com o olhar, este escavava um buraco um pouco mais à frente.

- Devia saber que estarias aqui.

Bella levantou-se apressadamente ao ouvi-lo. Marc acariciava Mily que se esfregava nas pernas dele.

- Que queres?
- Temos de começar por melhorar a nossa comunicação.
- Não há  necessidade disso, afinal não temos nada para dizer.
- Isso quer dizer não aceitas o meu pedido de desculpas?
- Existe limite para tudo e tu excedeste-o!
- Sei que sim.

Marc falava calmamente o que suscitou a curiosidade dela, olhou-o nos olhos, parecia-lhe abatido cansado e tinha a barba por fazer. Nunca o vira assim! Estaria doente?! Ou seria Michele?!


- Está tudo bem?!
- Depende. - Marc aproximou-se dela.
- Depende de quê?! - Bella retrocedeu e quase caía em cima da pedra onde estava sentada.


Marc não respondeu, apenas manteve o olhar dela e depois beijou-a. Ao sentir os lábios dele sobre os seus colocou as mãos no peito e empurrou-o, mas ele apertou o corpo contra o dela anulando o espaço entre os dois corpos e procurou a sua pele por debaixo da grossa blusa de lã. A intenção de o afastar desapareceu no momento que sentiu a mão dele nas suas costas. Lutava contra o desejo que sentia mas o seu corpo parecia ter outra opinião e um gemido involuntário saiu da sua garganta quando a língua dele lhe tocou nos lábios forçando-os a abrirem-se. Bella relaxou o corpo e ele deixou de a beijar para a olhar nos olhos.

- Senti a tua falta. - Marc segurava o rosto dela entre as mãos.
- Pois eu não senti a tua! - Bella tentava controlar as lágrimas.
- Não mentes bem. Nunca te disseram isso?
- Não! -  Bella agitou os braços e afastou-se dele - Mas isso talvez seja porque não estive com tantos homens assim, afinal não tenho a tua experiência!
- Não é tanta como dizem. Acredita em mim.
- E porque deveria?! Tu não acreditaste! - As lágrimas recomeçaram a cair - Aliás nem me deste o beneficio da dúvida. - Bella fechou os olhos e respirou fundo - Sabes que mais?! Isso não interessa. O que fazes fora ou dentro da tua cama é problema teu não meu!

Bella manteve o olhar dele e viu como este perdia o pouco brilho que tinha anteriormente. Por instantes desejou abraçá-lo e dizer-lhe que não sentia nada do que dissera mas a imagem dele beijando aquela ruiva em casa de Carmen ofuscava-lhe os pensamentos e não a deixava pensar em nada mais.
Mily e Timi regressaram e começaram a rodeá-la como faziam sempre que queriam um biscoito.
Concentrou-se nessa tarefa para evitar olhá-lo nos olhos, pouco depois ouviu os passos dele na terra batida. Ainda o conseguiu ver chegar à estrada e entrar no carro. Pouco depois a chuva começou a cair e ela deixou-se ficar sob a chuva gelada até que os cachorros começaram a latir.


- ... Garcia não está por isso penso que podíamos tentar. - Graça olhava para ela - Que dizes?
- Marc não está?

 Bella tentou concentrar-se na conversa de Graça. Até àquele momento em que falaram em Marc, ela estava perdida nas brincadeira de Mily e Timi. Que para sua surpresa adaptaram-se muito bem à casa e desde que os levasse à rua duas vezes por dia mantinham-se sossegados junto à lareira o resto do dia.

- Mandou email a dizer que ia sair. - Graça agarrou um papel - Como estava a dizer, Rosa quer que organizemos o casamento dela. Penso que como temos mais tempo livre, visto o dr Gracia não estar durante o fim de semana devíamos aproveitar.
- Olha para ela - Marisa colocou as mãos na anca - Até parece que é a dona do negócio.
- Peço desculpa se dei isso a entender. - Graça ficou vermelha - Mas acho que se continuamos a perder clientes e não os substituimos, em pouco tempo nem Bella tem negócio nem nós trabalho.
- Tens razão. - Bella olhou para o papel que ela tinha na mão - Um casamento...
- É apenas um almoço e o lanche. Se ajudar Marisa com a cozinha penso que conseguimos.
- A ideia é boa mas estás a esquecer-te que não temos quem ajude a servir as comidas.
- Tenho umas amigas que podem estar interessadas.

Bella olhou para ela e depois para o papel onde estava anotado as exigências dos noivos. Apesar de ser mais nova, Graça tinha boas ideias. E razão... Tinham perdido três clientes em dois meses e se o sr Fernando precisasse de cuidados específicos ela não lhos poderia proporcionar o que significava menos um cliente. Tinham de renovar os seus serviços!

- Muito bem. - Bella sorriu para Graça - Se conseguires reunir as raparigas, ou rapazes, para servir podes organizar o casamento. É apenas um fim de semana mas se as pessoas gostarem quem sabe!
- Isso quer dizer que aceitamos?
- Sim. É sempre dinheiro em caixa.
- Loucas... estão as duas loucas! - Marisa olhou para o tecto e depois sorriu para elas - E eu mais por entrar nisso. Bem, vamos lá a ver que tipo de bolo quer a noiva!


Bella registava mais um cliente na agenda quando Graça entrou apressada.

- Bom dia! Desculpa o atraso.
- Bom dia! - Bella desviou a vista do computador - Estás esquecida que hoje entravas mais tarde?
- Entrava?!
- Sim.Vamos tratar da contabilidade e ... - Bella foi interrompida pelo telemóvel - Faço por si bom dia.
- Preciso que venhas ao solar.

Bella sentiu o chão fugir sob os seus pés ao ouvir a voz de Marc. Do Marc que ela conhecia do primeiro dia. Arrogante e autoritário.

- Infelizmente não posso. Mas posso pedir a Graça para...
- Quero-te a ti!
- Isso vai ser impossível. Como te expliquei no email se aceitares Graça ficaremos encantadas de continuar a trabalhar para ti caso contrário...

Bella ficou a olhar para o telemóvel quando ele desligou, encolhendo os ombros olhou para Graça e sentou-se novamente em frente ao computador.
 Algumas horas depois o telemóvel voltava a tocar mas antes de atender Bella olhou para o ecrã, ao ver o número de Marc estendeu o telemóvel a Graça.

- Estou ocupada.
- Claro. - Graça deixou tocar mais uma vez - Faço por si bom dia. Sim... Claro... Compreendo perfeitamente. - Graça estendeu-lhe o telemóvel - Acho melhor falares com ele.
- Diz. - Bella atendeu rispidamente aborrecida por se ver obrigada a falar com ele.
- Preciso de uma pessoa.
- Já te disse que Graça pode...
- Não! Graça não pode! 

Mal ele acabara de falar o choro de um bebé ouviu-se nitidamente. Parecia-lhe o choro de Bea. Mas não podia ser. Estava a imaginar coisas.

- Então nada feito.
- O que queres que faça para perceberes que preciso de ti?!
- Não! Tu queres uma mulher que satisfaça os teus caprichos e eu não... - Bella calou-se ao ouvir mais nitidamente o choro - É Bea?
- Sim. - Por instantes apenas se ouviu o choro aflito de Bea - Não sei que fazer... não a consigo acalmar.
- A tua irmã?
- No hospital.
- Estou a ir.

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