sexta-feira, 16 de março de 2018

O CONTRATO 10ª PARTE



O reduzido luar entrava no quarto incidindo sobre a cama onde eles estavam. Bella respirava com dificuldade quando acariciou o peito de Marc e este respirou fundo ao mesmo tempo que a abraçava.

- Não queres ficar esta noite?
- Eu ouvi bem?! - Bella apoiou-se no braço e sorriu - Estás a perguntar-me se quero ficar?!
- Realmente não entendo as mulheres. - Marc sentou-se na cama de costas para ela - Queres ou não que te peça opinião?
- Quero. - Bella abraçou-o pelas costas. - E a ambas perguntas.

Marc voltou-se e beijou-a ao mesmo tempo que apertava o corpo contra o dela.

- Se eu abdicar do meu tempo vais ao aniversário dos gémeos?
- Como assim?!
- Segundo o contrato deves trabalhar oito horas por dia para mim. Se eu abdicar delas, vais?

Bella olhou para ele admirada. Ele não sabia que tinha aceitado o convite de Carmen?! Talvez Michele não tivesse oportunidade de comentar com ele. Afinal assim que os gémeos acordaram nunca mais conseguiram manter uma conversa normal. E durante a viagem de regresso, como tinham decidido viajar com Carmen para a ajudar com as crianças, também não conseguiram falar sobre o assunto. Talvez pudesse ter abordado o assunto quando chegaram ao solar, mas nessa altura estavam concentrados em satisfazer outras necessidades.

- Eu falei com a tua mãe e...
- Não me interessa a justificação que lhe deste. Diz-me apenas se sim ou não!

Bella sabia que embora não estivesse a mentir, também não estava a ser totalmente correta, mas talvez fosse bom ter mais tempo para os seus clientes e também para ela.

- Sim.

Como reacção à sua resposta Marc beijou-a longamente e em questão de segundos ela respirava com dificuldade pelo desejo que ele lhe provocava.

- Mas espero receber algo em troca da minha boa vontade.
- Nesse caso não é boa vontade! - Bella apertou-se contra ele - Estavas a pensar em algo concreto?
- Um espaço na tua agenda para me visitares. Ainda que ocasionalmente.
- Hum... - Bella beijou-lhe o peito - Acho justo... Todas as noites parece-te bem?
- Perfeito.


A semana terminava e ela sentia-se mais feliz que nunca. Durante essa semana tivera mais tempo para o seu trabalho e à noite desfrutava da companhia de Marc. Na manhã seguinte à primeira noite que passou no solar tentou sair cedo mas ele impediu que saísse da cama. Durante a viagem pensou que não tinha porque sair cedo, as pessoas não tinham nada que ver onde dormia. Era solteira! Por isso podia dormir onde bem lhe apetecesse . E foi isso que fez. Saindo do solar apenas depois do pequeno almoço. E tinha de confessar, gostava do tempo que passava com ele. Sentia-se tão realizada que tinha pedido a Graça para a substituir no último trabalho do dia de forma a chegar ao solar a tempo de fazer o jantar. Revia as indicações para o fim de semana quando o telemóvel tocou.

- Faço por si boa tarde.
- Finalmente! - A voz de dona Luísa fez-se ouvir do outro lado - Desde que dormes no solar que ninguém te mete a vista em cima!
- E quem lhe disse que durmo no solar? - Bella sorriu.
- Sobre isso falamos quando vieres beber chá. Tenho o bolo sair do forno.
- Veja lá não vá ele sair cozinha fora.
- Parece que recuperaste a alegria. - dona Luísa deu uma gargalhada - Não te atrases.

Bella sorriu para o telemóvel. Parecia que a notícia se tinha espalhado pela vila. Bem, ela também não fazia questão de esconder a situação. Não tinha motivos para tal! Gostava da companhia de Marc e pensava aproveitar isso.


- Então é verdade que passas as noites no solar.
- Sim.
- Isso quer dizer que o assunto é sério?
- Para mim tudo é sério! - Bella ficou muito séria - Tentei negar o que sinto mas desisti. Gosto de estar com ele. E todo o tempo me parece pouco. Acho que nunca desejei estar com Bruno com esta intensidade.
- Fazes bem. Marc é um belo homem!
- Dona Luísa!!! - Bela sorriu maliciosamente - Nunca imaginei ouvi-la dizer tal coisa de um homem que não o ...
- E sempre será a minha paixão! Mas minha linda, estou apaixonada não cega! - Dona Luísa segurou a mão dela -  Apenas te peço para teres cuidado, não gostaria que te magoasses novamente.
- Desta vez apenas penso desfrutar da vida não entregar o meu coração.
- Queres que me informe mais sobre ele?
- Mais?! Como assim?! - Bella olhou-a seriamente, conhecia dona Luísa demasiado bem para saber que esta já sabia tudo o fosse possível saber sobre Marc - O que andou a perguntar?
- Não te alarmes. Apenas cuidei de me informar se não tinha uma mulher escondida algures!
- E tem?!
- Não. Apenas namoradas. Isso incomoda-te?
- Deveria? Sei perfeitamente que Marc teve outras mulheres mas gosto da companhia dele e não penso deixar de me encontrar com ele por isso.
- Seria uma estupidez se o fizesses. Não se encontram muitos homens com bom coração.
- Isso do bom coração...
- Uma pessoa que salva um animal só pode ter bom coração!
- Qualquer pessoa salva um animal.
- Sim, mas tens de concordar que nem todos se atirariam ao rio, muito menos em pleno inverno, para salvar um gatinho! 
- Um gatinho?!
- Sim. A Rosário é que sabe a história toda.
- Ou seja, falou com a Rosário sobre Marc.
- Apenas perguntei umas coisas. Afinal é dona do supermercado onde ele faz compras. Tens medo do que as pessoas possam comentar?
- É-me completamente indiferente. - Bella encolheu os ombros - Não penso deixar de o ver por causa de comentários alheios.
- As pessoas adoram-te. E apenas querem ver-te feliz.
- E por agora sou.

Marc preparava o jantar sob o olhar de Bella. Ela tinha chegado mais cedo que o normal e tinha-o surpreendido a tratar do jardim. Ao vê-la apenas sorriu e guardando as luvas nas calças de ganga, já desbotadas, aproximou-se e beijou-a.
Percebeu que o seu coração disparava a cada movimento dele durante a preparação do que seria o jantar. Tentando pensar em algo que não o corpo dele recordou a conversa com dona Luísa mas principalmente a história do gatinho. Seria Fénix?! Teria ele salvo o pobre animal de um triste fim?! Ela tinha presenciado a forma como ele tratava Milly e Timi, e tinha a certeza que ele gostava de animais, mas atirar-se a um rio gelado?! Não seria altruismo a mais?!


- Estás muito calada.
- Estava a pensar. - Bella bebericou um pouco de vinho verde. - Tens a certeza que não queres ajuda?
- É nisso que estás a pensar? No jantar?!
- Estava a pensar em Fénix.
- Que tem ele? -Marc voltou-se e encarou-a.
- Nada. Apenas estou curiosa quanto à forma como chegou a ti.
- E porque suscita a tua curiosidade um simples gato?!
- Porque não combina contigo.
- Não combina?!
- Não... Um cão é mais o teu estilo. Um pit bull ou um rottweiler.
- E porque não um gato? - Marc parecia divertido.
- É muito... soft.
- Soft?! Sei...

 Marc limpou as mãos e colocou um tabuleiro no forno. Depois serviu-se de um copo de vinho e sentou-se junto a ela a olhar para o copo.

- No dia que vim ver em que estado estava o solar parei junto a um riacho e fiquei a observar como a água corria livremente. Do outro lado do rio um homem atirou um saco plástico para a água. Naquele momento pensei que aquele homem devia ser multado por atirar lixo para o rio. - Marc acariciou Fénix que nesse instante se aproximara deles - Acho que disse uns quantos impropérios antes de voltar para o carro. Já tinha o carro em marcha quando vi que o saco se mexia demasiado para ser lixo... Pouco depois um ser pequenino saiu do saco e mergulhou nas águas geladas. Por instantes fiquei paralizado com tudo aquilo mas quando dei por mim entrava na água para o tirar. A água estava algo turva pelas chuvas e tive alguma dificuldade mas finalmente consegui. Quando o retirei da água pareceu-me que não respirava. Senti-me mal por ter demorado tanto... Mesmo assim levei-o comigo. Coloquei-o no meu casaco e olhei para ele. Estava imóvel... Não conseguira salvá-lo! Sem saber que fim dar ao corpo do pobre animal comecei a dirigir. Alguns metros depois ouvi um miado muito fraco. Não queria acreditar. Estava vivo!  Parei na primeira povoação que encontrei, comprei comida e quando dei por mim tinha em cima do balcão tudo o que ele precisava. A senhora gostou tanto dele que acabou por oferecer a caminha.
- Dona Rosário...
- Conheces?
- Todos conhecem dona Rosário.
- Como é normal numa aldeia.
- Sim. - Bella colocou a mão no braço dele - Foi por isso que lhe chamaste Fénix?
- Achei o nome adequado.
- Concordo!
- Um rottweiler... - Marc entrelaçou os dedos nos dela e fez uma careta. - Não sei se gosto da comparação!

Bella olhou as mãos entrelaçadas e sorriu. Gostava do Marc que descobrira nos últimos dias.

- Ainda tens o pitt bull! Mas prefiro o rottweiler. Sim, são gordos, atarracados, mas muito... - Naquele momento ouviu-se a campainha do forno.
- Gordo e atarracado... - Marc levantou-se - Salva pelo soufflé.
- Tu sabes fazer soufflé?!
- Entre outras coisas.
- Que outras coisas?! - Bella olhou para o soufflé, estava realmente muito bonito.
- Depois do jantar prometo mostrar-te.

Perante aquela promessa Bella olhou-o nos olhos e percebeu em que coisas ele estava a pensar. Sentindo o desejo apoderar-se dela sorriu perante a expectativa de mais uma noite nos braços dele.




- Marc... Pára... - Bella tentava fugir do beijo dele - A tua irmã pode entrar a qualquer momento!
- Está a deitar os gémeos. - Marc beijou-lhe o pescoço - O que vai levar um bom bocado.

Bella sorriu e deixou-se envolver pelo abraço dele enquanto as bocas se uniam.

- Marc, Pablo... Desculpem...

Bella desejou ter um buraco onde se pudesse esconder mas Marc parecia não se importar.

- Não quer dormir? - Marc afastou-se um pouco mas manteve o braço na cintura dela.
- Quer que leias uma história.
- Muito bem. Uma história a caminho.
- Obrigada.

 Carmen bateu levemente no braço do irmão quando este passou por ela e aproximou-se de Bella.

- Desculpa. - Bella sentiu as faces ficarem vermelhas - Eu não queria... Não pretendia... É que...

As palavras atropelavam-se na sua garganta, sentindo-se cada vez mais envergonhada, Bella olhou para Carmen, esta continuava a olhar para ela sorrindo. Que dizer?! Justificava a indiscrição?! Falar no assunto não seria pior que ignorá-lo?! Diziam que perante certas circunstâncias o melhor era fingir que não aconteceram, deviam ser ignoradas, falar nelas apenas tornava o momento mais embaraçoso. Mas por outro lado, porque justificar-se?! Eram adultos! E ambos sem qualquer compromisso! Mas estava numa casa que não era dela, nem de Marc! Abusara da hospitalidade de Carmen ao beijar Marc! O melhor era explicar o que se passava.

- Eu não costumo dormir com os meus clientes! - Atirou sem pensar muito.
- E eu a pensar que ficavam acordados! - Carmen piscou-lhe o olho mas o sorriso desapareceu ao ver o olhar de Bella - Desculpa. Não pretendia ser indelicada mas estás tão nervosa que me apeteceu espicaçar-te um pouco.
- Deves pensar que eu...
- Calma! - Carmen segurou-lhe a mão e levou-a até uma cadeira - Não penso nada! Nem tenho que pensar! É perfeitamente normal.
- Não pareces muito surpreendida.
- E não estou. Qualquer pessoa que os veja juntos percebe que existem algo entre vocês. Eu percebi isso. Apenas não percebo porque dormem em quartos separados.
- Isso seria...
- Normal?! - Carmen voltou a sorrir - Percebo que em Murat, Marc preferisse quartos separados. A mãe tem outra idade e podia ficar aborrecida com tal liberdade, mas aqui?! Quando pediu para ter dois quartos preparados pensei que...
- Já adormeceu. - Marc entrou nesse instante e ficou a olhar para elas - Está tudo bem?
- Por isso se quiserem dormir juntos...  - Carmen sussurrou e depois levantou-se - Não tens do que te preocupar, apenas conversámos.  Fiquem à vontade, eu vou deitar-me.

Bella manteve o olhar fixo na mesa até Marc se aproximar e lhe tocar no ombro.

- Estás aborrecida?
- Não é caso de estar aborrecida. Preferia que ela não soubesse!
- Por algum motivo em especial?
- Porque... Porque... - Naquele momento Bella não encontrava motivo algum - Ora! Porque sinto que estou a faltar ao respeito à tua irmã! Estamos em casa dela e...
- Esquece isso. - Marc puxou-a para junto de si - Agora que ela sabe aceitas dormir comigo?!
- Não sei se isso... - Bella estremeceu quando sentiu os lábios dele no seu pescoço - Marc... assim não... Eu não...
- Tu não...
- Marc... Por favor...
- Adoro quando dizes o meu nome. - Marc apoderou-se da boca dela - Principalmente quando estou a beijar-te entre outras coisas.



As vozes das crianças chegaram até ela como se estivessem a atravessar uma espessa neblina. Abriu os olhos lentamente e ao ver a almofada amarrotada que estava no outro lado da cama, recordou que estava no quarto de Marc. Sentou-se na cama rapidamente pensando na noite anterior. Marc beijara-a e ela rendera-se sem mostrar reservas e sem pensar em Carmen ou nas crianças. Desejava-o de tal forma que não lhe conseguia resistir. Saiu da cama e dirigiu-se ao quarto onde tinha as suas roupas o mais rapidamente que consegui, não sabia como iria reagir se a vissem sair do quarto de Marc.

Se Carmen sabia onde ela passou a noite não o comentou o que aligeirou o estado de nervos dela. Michele chegou a meio da tarde e pouco depois os convidados começaram a chegar. Percebeu que eram familiares e amigos mais íntimos mas ela apenas reconheceu Xavier, que depois de uma troca de olhares com Marc, manteve-se afastado dela.
Marc e Pablo faziam uma corrida com os carros telecomandados que ele lhe tinha oferecido. Com Carmen e Michele a conversar com os convidados ela ofereceu-se para dar o lanche a Bea.
Como estava muito barulho foi para outra sala de onde podia ver como Marc brincava com o sobrinho no jardim. Gostava do novo Marc. Do homem que entrara num riacho para salvar um gatinho, do homem que brincava com os sobrinhos... Definitivamente deste Marc ela gostava.
Bea agitou os braços exigindo a sua atenção e ela concentrou-se na pequena. A voz de duas mulheres que falavam em espanhol, juntou-se à de Bea.
Bella sorriu perante as inconfidências que estava a ouvir. Tinha uma certa piada, pois como pensavam que ela não entendia espanhol, falavam com a maior descontracção sobre a filha da vizinha que casou com o jardineiro, o filho de um amigo tinha sido traído pela esposa enquanto esteve fora... Pouco depois ouviu o nome de Marc e ficou mais atenta.

- Mas ele não ia casar com Olívia?
- Sim. Acho que na primavera.
- Será que se separaram?
- Oh sim... Antes de ele ir para Portugal.
- Eu sempre duvidei desse casamento. Se bem que não esperava que fosse a noiva a cancelar o casamento. Mas com o historial dele... Que se podia esperar?! Marc muda de mulher como quem muda de camisa!
- Essa foi boa! Mas estás enganada. Já o vi com a mesma camisa duas vezes, mas com a mesma mulher?! Nunca! Isso era novidade.
- Se bem que esta é gira.
- É... Mas não como Nina. Lembras-te de Nina?!
- Foi antes ou depois de Paloma!?
- Não sei, mas penso que depois. Antes não foi aquela francesa... a Adrianne?!

Bella sentia o sangue a ferver nas veias. Fechou os olhos tentando afastar-se daquela avalanche de mulheres e da dor que sentia no seu coração. Sabia que ele tivera outras mulheres mas não sabia que ouvir os nomes delas a iria magoar daquela forma. Respirou fundo e sorriu para Bea. Estava a ser idiota. Marc nunca lhe ocultou que teve outras mulheres. Mas porque não lhe tinha dito que ia casar? Tinha-lhe tão pouca consideração que achava que ela não merecia saber?! Depois da festa tinha de falar com ele, apenas queria entender porque não lho dissera.
Controlando as lágrimas limpou a carinha de Bea e subiu para a deitar. Bea adormeceu num instante e ela pode refrescar a cara antes de descer. Quando se aproximou da porta que dava para o jardim a imagem de Marc beijando outra mulher paralisou-a. Naquele momento apenas tinha consciência das lágrimas que queimavam o seu rosto. Queria sair dali!
Entrou na primeira porta que encontrou e encostou-se respirando agitadamente.
Precisa sair dali! Mas como?! Um táxi... Precisava de um táxi! Tinha visto um número algures... Fechou os olhos e respirou fundo algumas vezes até que se acalmou ligeiramente. Pouco depois recordou que o número estava no frigorífico. Limpou as lágrimas e dirigiu-se à cozinha.
Depois de pedir o táxi passou novamente pela janela que dava para o jardim. Os convidados continuavam ocupados com a abertura das prendas. Nunca dariam pela ausência dela. Ao vê-lo com o sobrinho nos braços percebeu que não gostava do novo Marc. Amava-o!
Ao tomar consciência dos seus sentimentos por ele percebeu que mais que nunca precisava afastar-se dali. Afastar-se até saber que fazer.
Meia hora depois Bella saía da vivenda sem que notassem a sua partida.

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