- Eu sabia que eras a tal. - Michele sorria para Bella - Assim que Marc disse que te tinha deixado sozinha a terminar de organizar a biblioteca eu percebi isso. Não imaginas como fica quando mexem nas coisas dele.
- Não só imagino como sei. - Bella devolveu o sorriso.
- Também foste alvo de alguns olhares reprovadores ou de alguns gritos?!
- Mais ou menos.
- Eu nem penso em mexer nos seus preciosos livros! E se por ventura dobro alguma página?!
- Estão a falar de livros?! - Marc entrou naquele momento e olhou para as duas como se estivesse à espera de uma má notícia - Não acredito!!! Mexeram nos meus livros? Qual deles foi?! Eles sabem que não...
- Calma! - Bella aproximou-se dele sorrindo - Ninguém mexeu nos teus livros. Estamos apenas a conversar.
- E não têm outro tema de conversa?! - Marc olhou para a mãe - Se pensas que o meu "cuidado" com os livros é novidade para Bella estás enganada. Não temos segredos um para o outro.
- Acho lindamente. Um casamento não avança baseado em segredos e mentiras.
- Casamento?! - Bella olhou para Michele
- Claro! Está na hora de pensarem em casar e dar-me netos.
- Mãe não achas que, além de te precipitares, te estás a intrometer em assuntos que não te dizem respeito?
- Como não me dizem respeito?
- Já pensaste que talvez Bella tenha outros planos?
- Como assim?!
- Talvez ela não pretenda ter filhos.
- Não entendo porque não quereria. - Michele olhou para ela - Ela adora crianças. Ou não?!
- Gosto sim.
- Vês?! - Michele olhou o filho - Talvez sejas tu que penses em adiar.
- Claro que não!
Marc olhou para ela e por momentos tudo aquilo lhe pareceu uma idiotice enorme. Estar ou não, casada com Marc não ia alterar em nada o que sentia por ele. Queria ser a mãe dos filhos dele, filhos que seriam lindos e teriam o feitio dominador do pai.
- Apenas pensamos...
- Marc... - Carmen entrou na cozinha visivelmente agitada. - Pablo caiu...
- Deus do céu!
Mari e Bea dormiam mas ela não conseguia. Depois da queda de Pablo, Marc e Carmen saíram para o hospital seguidos de Michele que não queria deixar os filhos sozinhos naquele momento. Pablo apresentava um hematoma com uma ferida, que devido ao sangue não conseguiam perceber a dimensão. Aparentemente não se tratava de nada grave mas nada melhor que ser visto por um médico. Quando falou com Marc ainda aguardavam a chegada do cirurgião pois Pablo precisava de levar alguns pontos.
Quando regressaram a casa era quase meia-noite e Pablo dormia. Ao ver o penso na cabeça do pequeno não conseguiu evitar que algumas lágrimas caíssem.
- Fez um pequeno corte. - Marc sossegou-a - Nada de mais.
- Imagino o que deve ter chorado.
- Chorou mais a mãe que ele.
- Quando nascerem os teus falamos! - Carmen olhou para o irmão com as mãos na anca. - Como se pudesse ignorar o sofrimento do meu filho.
- É um corte, apenas isso.
- O que seja!
Dois dias depois Bella olhava para a caixa das pílulas. À alguns dias que não a tomava! Na noite que Pablo caiu nunca lhe ocorreu tal coisa e no dia seguinte saíram para passear em Coimbra regressando demasiado tarde e ela estava tão cansada que se esquecera novamente. Mas na noite anterior à queda de Pablo também se esquecera. Estavam a falar de Bea quando ela se lembrou e saiu da mesa repentinamente para confirmar a suspeitas.
- Não...
Incrédula deixou escorregar o corpo pela parede da casa de banho. A caixa da pílula ainda estava na sua mão. Como se pudera esquecer de tomar a pílula e por três dias seguidos?! Naquele momento sentiu-se uma adolescente imatura. Tinha sempre tanto cuidado! Um novo olhar aos minúsculos comprimidos levou-a às lágrimas. Mas tanto ela como Marc queriam filhos. Então porque se incomodava com o facto de se esquecer?
- Bella?! - Marc bateu na porta - Está tudo bem?
Ao ouvir a voz dele as lágrimas aumentaram e apesar de tentar dizer algo as palavras não saíam.
- Vou entrar. - Marc entrou no segundo seguinte e ajoelhou-se junto a ela abraçando-a - Que se passa?! - Marc falava junto ao ouvido dela mas apenas obtinha soluços como resposta - Não fiques assim, qualquer que seja o problema vamos resolvê-lo juntos. - Marc embalou-a por minutos enquanto ela chorava compulsivamente - Tudo se vai resolver.
- Achas?!
- Claro. - Marc ajudou-a a levantar-se - Vamos para o quarto. Queres contar-me o que aconteceu?
- Esqueci-me delas.
- Delas?!
- Sim. - Bella olhou para ele com os olhos cheios de lágrimas - Posso estar grávida!
- Grávida?! - Marc beijou-a - Grávida! Vou ser pai! - Marc afastou-se ligeiramente e depois olhou fixamente para ela - Mas tu querias esperar.
- Apenas queria fazer as coisas de outra forma.
- Outra forma? - Marc olhou-a com os olhos semi-cerrados - Que queres dizer com isso?
- Não queria filhos. Não assim.
- Não assim... - Marc afastou-se dela - Continuas com dúvidas quanto ao que sentes por mim?
- Dúvidas? - Bella sentiu um aperto no coração ao ouvi-lo. - Claro que não! Amo-te e acho que nunca deixarei de o fazer.
- Prometi a mim mesmo ser paciente e fazer as coisas como tu queres. Mas talvez seja melhor voltar a fazer as coisas à minha maneira.
- Ou seja, decides e realizas sem me consultar.
- Em parte... Não fiz nada do que queria porque tu querias ser consultada, querias ser incluída nas decisões.
- E quero! Não penses que...
- Deixa-me continuar. - Marc colocou-lhe um dedo nos lábios. - Quando percebi que te amava planeei a forma certa para te conquistar. Não fiz nada porque, sempre que tentava aproximar-me tu me afastavas. Durante semanas pensei que me odiavas. Quando disseste que me amavas não queria acreditar na sorte que tinha, naquele momento soube que nada nem ninguém me iria separar de ti. Irias sem minha. Tendo isso em vista idealizei um pedido de casamento especial, algo româ...
Bella sentiu o seu coração encher-se de alegria e beijou-o. Ao sentir o gosto salgado das lágrimas Marc abraçou-a fortemente ante de a olhar fixamente.
- Não me deixas terminar.
- Não é preciso.
- Isso quer dizer que não preciso de te levar a Paris, nem a Veneza?
- Talvez na lua-de-mel.
O sol escondia-se detrás do solar quando, dois anos depois, Bella caminhava pelo jardim segurando a mão da pequena Fernanda ao mesmo tempo que acariciava a barriga que começava a evidenciar um novo membro da família e recordava todos os acontecimentos daqueles anos. Depois de ponderar a situação acabou por decidir entregar o seu negócio a Marisa e Graça e empenhou-se a cem por cento na organização do seu casamento que se realizou na pequena vila onde os convidados enchiam a pequena capela, seguido de uma recepção no salão da vila onde a festa continuou mesmo depois de eles saírem para o aeroporto para iniciarem a merecida lua-de-mel que começou em Paris e terminou em Madrid depois de uma semana em Veneza. Ao passear com Marc pelo museu do Prado pensou que não podia ser mais feliz. Mas o nascimento de Fernanda provou que estava enganada. A felicidade que a invadiu ao ver a filha eclipsava toda a felicidade que sentira até então.
- Tia!!!
- Mari! - Bella abraçou a sobrinha - Como estás crescida!
- A avó diz que sou uma mulherzinha.
- E tem razão. - Bella sorriu a Carmen que se aproximou naquele momento - Pelos vistos o teu irmão esqueceu-se de te apanhar.
- Foi levar as malas ao quarto. - Carmen agarrou Fernanda ao colo e cobriu-a de beijos - Quem é a minha sobrinha preferida?!
- Oh mãe... - Mari puxou as calças da mãe - Não tens mais sobrinhas.
- Não?! Descubro cada coisa! - Carmen sorriu enquanto colocava Fernanda no chão e esta afastou-se segurando a mão de Mari -A minha mãe já chegou?
- Estava a descansar.
- Depois vou vê-la. - Carmen olhou para a barriga de Bella - Menino?!
- Menina.
- Ui... uma casa de mulheres. Marc vai dar em louco.
- Achas?! - Marc apareceu naquele momento e abraçou Bella - Outra menina apenas quer dizer que tenho de continuar a tentar.
- Marc!!! - Bella sentiu as faces ficarem vermelhas.
- O que foi?! - Marc beijou-a - Conheces melhor forma de mostrar o quanto te amo?
- Acho que estou a mais...
FIM
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