Apesar da noite mal dormida Bella sentia-se feliz. Saber que Marc também a amava era suficiente para a tranquilizar. Tinha consciência que ainda precisavam falar sobre determinadas coisas mas teriam tempo quando Carmen regressasse a casa. Só nessa altura teriam tempo e privacidade para conversar.
Deu a última colher de papa a Bea e olhou para os gémeos que continuavam a olhar para o jardim cabisbaixos. A chuva que caía com intensidade nos últimos dias obrigava-os a permanecer em casa e por muito que tentasse não os conseguia alegrar.
- Estou sim. - Bella ajeitou Bea no colo para atender o telemóvel
- Olá Bella.
- Carmen! Como estás?
- Melhor, obrigada. Não vejo a hora de regressar.
- Não tentes apressar as coisas.
- Isso quer dizer que os meus filhos se estão a comportar?!
- Claro que sim.
- Duvido muito. Principalmente no que diz respeito a Bea. Sei que o erro é meu, mas sinto tanto a sua falta!
Bella sentiu um aperto no coração ao ouvir Carmen emocionar-se ao falar dos filhos. Apenas podia imaginar o que ela estava a sentir.
- Eles são uns amores. Queres falar com eles?
- Sim, mas primeiro quero falar com Marc.
- Ele não está, saiu cedo e não sei a que horas regressa.
- Pensava que... - Carmen ficou uns instantes em silêncio - Sinto muito toda esta situação. A sério! Se eu soubesse os problemas que iria causar...
- A que vem esta conversa?! - Bella interrompeu-a
- Apesar do que digas sei que estou a causar transtorno mas penso resolver isso quanto antes. Quando Marc chegar podes pedir-lhe para me telefonar depois?
- Sim, claro.
Bella chamou os gémeos e ficou a observar os rostos deles enquanto falavam com Carmen. Por alguns minutos sentiu pena das crianças, ali, afastadas da mãe há mais de um mês! Sabia que estavam felizes mas ninguém substitui uma mãe. Por muito que ela cuidasse deles, por muito que gostasse deles, porque gostava, não era a mãe! O amor de uma mãe é enorme, disposto a todos os sacrifícios e nunca se... Fechou os olhos momentaneamente. Que sabia ela do amor de mãe?! Nada!
- Está tudo bem? - Marc beijou-a.
- Sim.
- Então para quê esse olhar perdido?
- Estou apenas um pouco triste.
- Posso saber porquê?
- A tua irmã telefonou e falou com os gémeos.
- E isso deixou-te assim?!
- Devem sentir saudades dela. - Bella olhou para Bea que dormia - Ela pediu para lhe telefonares.
- Faço isso depois.
- Vais sair outra vez?
- Não... - Marc puxou-a para junto de si - Vou aproveitar o momento de paz que se vive aqui para colmatar as saudades que tenho tuas já que nem de noite te tenho só para mim.
- Também sinto a tua falta mas sabes que Bea não dorme sozinha.
- Eu sei. Só espero que os nossos filhos não nos ocupem a cama. - Marc beijou-a carinhosamente.
- Nossos?!
- Sim. - Marc olhou-a fixamente - Ou não?
- Sim. - Bella fez uma pausa e depois acrescentou rapidamente - Claro que sim.
Bella olhou para ele e por momentos deixou de o ver. Claro que queria filhos, sonhara com isso toda a vida mas também sonhara casar e que esses mesmos filhos nasceriam dentro de um casamento feliz. E ele apenas dissera que a amava. Não falara em casar. Se bem que não falaram praticamente nada pois havia sempre alguma das crianças exigindo a atenção deles! E essa atenção era constante, dia e noite.
Durante as noites Bea chorava se não estava com ela e durante o dia, além de Bea, ainda tinham os gémeos que com os dias de chuva ficaram mais irritados e por conseguinte precisavam de mais atenção. Marc, embora fizesse a maior parte do trabalho em casa, alguns dias tinha de ir até à faculdade e aí ela ficava sozinha, desdobrando-se para chegar a todos. No geral estava a ser muito complicado. E ele agora falava em filhos?! Ela não queria filhos de uma relação. Podia ser antiquada mas os filhos dela não nasceriam de uma paixão! Mas ela amava-o! Não era uma paixão! Porque falara em filhos se mal tiveram tempo de falar?!
Oh Deus... Se d. Luísa ali estivesse e ouvisse os seus pensamentos diria-lhe: "Rapariga estás a por o carro à frente dos bois! Dá tempo ao...
- Mas?!
- Desculpa, não ouvi.
- Disseste que queres filhos mas depois ficaste pensativa.
- Esquece.
- Não, não vou esquecer!
- Esquece, não é nada.
- Na semana passada disseste que não querias começar com mentiras.
- Não te estou a mentir.
- Está a ocultar. O que vai dar no mesmo.
- Não é bem a mesma coisa!
- Percebi... Queres filhos, mas não meus.
- Não digas disparates.
- Disparates?!
- Sim, disparates. Se te amo de quem seriam os filhos?!
- Então que se passa?
- É apenas uma parvoíce. Esquece.
- Mesmo assim, quero saber
- Sempre pensei em ter filhos. - Bella sorriu-lhe e colocou as mãos em redor do pescoço dele pensando numa forma de adiar a conversa - Mas temos de perceber como nos vamos adaptando um ao outro. Ainda é cedo para pensarmos nisso.
- Tens dúvidas quanto à nossa "adaptação"?! - Marc beijou o pescoço dela - Eu não tenho nenhumas, amo-te e sei que nos "encaixamos" na perfeição.
- Marc... - Bella foi interrompida por um beijo apaixonado - As crianças...
- Estão a ver televisão.
Um novo relâmpago iluminou os céus enquanto Bella olhou para os gémeos que permaneciam concentrados no filme que Marc comprara essa manhã.
Bella olhou para Marc quando ele levantou a voz ao falar com a irmã. Pelo olhar dele não estava a gostar do que ouvia.
- Isso é um disparate e não quero que penses isso! Ouviste?! Estamos muito bem. Se vais insistir desligo o telemóvel! - Marc calou-se uns instantes - Eu avisei! - Marc desligou e olhou para ela - Não acredito nesta mulher!
- Aconteceu algo? - Bella olhou para as crianças e falou baixo - Está pior?
- Não. Apenas acha que... - Marc calou-se e atendeu o telemóvel - Estás mais calma?!
Bella sorriu ao vê-lo afastar-se em direcção à biblioteca e ela sentou-se junto aos gémeos. Quando Marc regressou não falou no assunto e ela não perguntou o que Carmen achava, nem a respeito do quê. O serão passou tranquilo entre alguns jogos com os gémeos e as risadas de Bea.
Quando esta acordou a meio da madrugada, Bella sentou-se na cama tentando que voltasse a adormecer mas sem sucesso. Apenas o conseguiu quando a colocou entre eles e apenas por algum tempo, já que Bea acordou quando Marc saiu da cama.
- Não precisas de nada? - Marc olhou para Bea.
- A esta hora?!
- Eu sei que é cedo mas vou levar Mily e Timi a passear.
- Tenho a certeza que não vais levar a manhã toda.
- Isso não impede de sentir saudades tuas. - Marc beijou-a longamente - Amo-te.
- Eu também.
Bella olhou para Bea quando a campainha tocou. Os olhos bem abertos de Bea mostravam-lhe que estava desperta à algum tempo. Temendo que a campainha voltasse a tocar e acordasse os gémeos, desceu o mais rápido que conseguiu com Bea ao colo.
- Carmen?! - Bella olhou por cima do ombro desta tentando perceber se estava sozinha.
- Bom dia Bella. - Carmen agarrou a filha - Olá meu amor. Quantas saudades...
- Mas que fazes aqui? - Bella corou ao perceber o quão idiota parecia a pergunta - Desculpa, o que queria dizer era se...
- Eu entendi. Não te preocupes. - Carmen entrou em casa - Os gémeos ainda dormem?
- Sim. Marc saiu mas não deve demorar.
- Óptimo. Tens café?
- Sim, claro.
Bella levou Carmen até à cozinha em silêncio. Sentindo o olhar de Carmen começou a fazer café e colocou duas chávenas em cima da mesa, quando voltou a olhar para Carmen, esta abraçava e falava com a filha.
- Desculpa todo este transtorno.
- Não tens porque pedir desculpas.
- Tenho sim. Principalmente porque sabia o que o meu irmão sentia por ti. - Carmen olhou para ela fixamente - Deus!!! Ele ainda não te disse?!
- O quê?!
- Desculpa... Não queria... Pensei que ele...
- Ainda não falámos muito mas penso que o essencial está esclarecido.
- Não era sem tempo! - Carmen sentou a filha na cadeira e deu-lhe uma bolacha - Por isso tinha de regressar. Conheço os meus filhos. Os gémeos são mais independentes mas Bea... Quando o meu marido morreu sentia-me tão só que quando ela nasceu pareceu-me perfeitamente normal dormir com ela. Agora é incapaz de dormir sozinha. Marc deve estar louco com ela no meio de vocês.
- Conseguimos controlar a situação.
- Mas precisam de privacidade, coisa que não conseguem com três crianças rondando pela casa aos gritos. Já tenho o voo marcado para regressar a casa e...
- Regressar?! - Bella quase que se engasgou com o café - Não podes ir para casa assim! Ainda não estás em condições de ficar sozinha com eles!
- Isso não interessa, vou arranjar alguém que me ajude até...
- Nem penses nisso!
A voz de Marc fez-se ouvir e as duas mulheres olharam para ele.
- Um bom dia para ti também! - Carmen olhou para ele sem se intimidar.
- Não mudes de assunto. Que ideia louca é essa de ires para casa?!
- Sei quando estou a mais!
- Nunca estarás a mais. Compreendo que tenhas saudades dos teus filhos e que prefiras estar na tua casa mas ires assim?! Achas que a mãe não me ligou?! O médico concordou com a viagem desde que tivesses alguns cuidados.
- Aquela mulher! Não sou mais criança.
- Não?! A julgar a forma que estás a agir parece!
- Se há alguma criança aqui és tu! - Carmen levantou o nariz na direcção do irmão.
- Eu?!
- Sim... Quem estava apaixonado perdidamente e tinha medo de o admitir?! Eu não!
- Não mistures as coisas.
- Tinhas tanto medo de perder Bella que não percebias que ela também te amava. Eu vi isso logo, mas tu nem percebeste isso quando ela deixou a festa porque beijaste a tua ex!
- Não beijei! Foi ela que me agarrou. Querias que arruinasse a festa dos teus filhos?!
- Era bem melhor que...
Bella sorriu ao vê-los discutir, os argumentos de ambos recordavam-lhe as discussões dos namorados em que se atacavam mutuamente sem olhar se tinham ou não razão. Até Bea olhava para eles com a bolacha na mão.
- Vamos vestir?! - Bella agarrou Bea ao colo - Acho que isto vai demorar.
Enquanto vestia Bea, Bella pensava na situação de Carmen. Esta estava sozinha, sem o marido para a ajudar naqueles dias mais complicados. Ela não tinha irmãos, mas podia imaginar a preocupação de Marc para com a irmã. O facto de namorar, por assim dizer, com Marc, tornava Carmen familiar dela. E numa família cuidam uns dos outros. Não podiam permitir que enfrentasse aquela situação sozinha. Carmen não podia regressar a uma casa onde ninguém a ia ajudar.
Quando desceu as vozes, embora mais calmas ainda não tinham chegado a acordo.
- ... entender.
- Tu é que não entendes. Sei que Bella me ama, assim como ela sabe que a amo. E ambos sabemos que precisas de nós.
- E eu sei que precisam e querem estar a sós!
- E porque não ficas aqui uns dias? - Bella sentou Bea na cadeira e olhou para eles. A julgar pelo olhar deles nem deram pela saída delas - Ambos têm alguma razão. Precisamos conversar e ter alguma privacidade mas se vais ficar sozinha, Marc, assim como eu, vai ficar preocupado contigo. E isso não vai ajudar em nada.
- É uma óptima ideia. - Marc abraçou-a pela cintura - Vais ficar e pronto.
- Tens de parar de dizer aos demais o devem fazer. - Bella beijou-lhe a testa - Isso irrita as pessoas.
- Gostei. - Carmen sorriu - Como foi ela a convidar, e porque sei que ainda preciso de ajuda, vou aceitar.
- Só porque foi ela?!
- Claro! - Carmen piscou o olho a Bella - Tendo em conta as namoradas dele nunca pensei vir a gostar da minha cunhada. Mas enganei-me.
- Mãe!!!
A chegada dos gémeos não permitiu que a conversa continuasse nem durante o pequeno almoço nem durante o resto do dia.
Cunhada... Carmen chamara-a de cunhada! Gostou da forma como Carmen o disse e mais ainda do à vontade de Marc ao ouvi-lo. Era como se ele tivesse a certeza que assim seria. Que ela seria sua...
A boca de Marc apoderou-se da sua deixando-a incapaz de pensar em algo mais. Quando se afastou dela podia ver o brilho nos olhos dele com a mesma intensidade que sabia ter nos seus.
- Obrigada. - Marc apoderou-se da boca dela novamente.
- Porquê?!
- Por seres como és. E por me amares.
- Hum... devo agradecer o facto de também me amares?!
- Não. - Marc rodou o corpo de modo a ficar com o corpo nu dela colado ao seu - Carmen tinha razão quando me disse que devia dizer-te o que sentia. Mas todos diziam que eras independente, que não querias saber de homens...
- Todos, quem?!
- As pessoas na aldeia. Fiz algumas perguntas. - Marc olhou-a nos olhos - Quando tropeçaste em Fénix e te tive nos meus braços percebi que tinhas de ser minha. Não conseguia deixar de pensar em ti, invadias os meus sonhos impedindo-me de dormir, perturbavas o meu trabalho. Tinha de arranjar forma de te ter a meu lado, pelo menos até a obsessão por ti passar. Sempre detestei que mexessem nas minhas coisas, mas se essa era a única forma de estar contigo, que assim fosse. Daí o contrato, queria uma forma de te prender a mim. Quando estivesse cansado de ti tudo voltaria ao normal.
- Oh fantástico! Irias usar-me e mandar-me para casa depois.
- Não ia usar-te! Iríamos passar bons momentos juntos como sempre fiz com outras mulheres. Pensei que tu não serias excepção. Mas acabaste por ser. Quando percebi estava perdidamente apaixonado e não sabia que fazer. Amava-te e tu arranjavas desculpas para não estares comigo.
- Não podia! Também tinha medo.
- De mim?!
- De que me magoasses, que te aproveitasses do que sentia por ti.
- Nunca te iria magoar. Não propositadamente.
- Olívia?! É intencional?
- Olívia nunca significou nada.
- Então porque ias casar com ela?
- Nunca casaria com ela! Saí com ela algumas vezes mas ela sabia que não era nada sério. Assim como todos os demais, também eu fui apanhado de surpresa com a notícia do casamento. - Marc afastou um pouco de cabelo dela - Dias depois de sair com ela, a minha mãe adoeceu. Carmen não podia ir até Murat porque estava grávida, então fui eu. Quando regressei soube que ia casar! Neguei e falei com o pároco para desmarcar o casamento e me aconselhou a falar com a suposta "noiva". Quando a ia confrontar deu-se o acidente do meu cunhado. Como deves compreender, o casamento, não era a minha maior prioridade. Achei que as pessoas iam acabar por esquecer.
- Parece que não.
- Pois... Quando ela apareceu na festa, o primeiro impulso foi dar-lhe um safanão e dizer-lhe que te amava, que apenas queria estar contigo e que dela apenas queria distância. Mas estava em casa da minha irmã e era a festa de aniversário dos meus sobrinhos. Não podia arruinar o dia deles. Só percebi que tinhas presenciado o beijo quando a minha irmã me disse que tinhas ido embora e me chamou idiota. Fiquei sem saber que fazer. Precisava encontrar-te. Não podia ficar ali à espera, por isso saí sem rumo mas depois de algumas horas a conduzir percebi que estava a agir precipitadamente. Regressei e depois de telefonar para todos os taxistas e pousadas que conhecia finalmente encontrei-te. Fiz a viagem alimentando a ideia que se tinhas partido era porque sentias algo mais que uma atracção por mim, mas ao ver-te com Xavier tudo se desmoronou. Estavas com outro homem. Com um homem que não tinha escrúpulos em se aproveitar de uma mulher.
- Ele não desceria tão baixo!
- Não o conheces! - Marc sentou-se na cama - Tenho um casal amigo... Bem já não é casal, não depois de Xavier se intrometer. Durante uma festa ela bebeu um pouco demais e acabaram por discutir sobre um disparate, não era a primeira vez que tal acontecia. Apenas era a primeira vez que Xavier estava presente. Ao ver a forma como se afastaram, Xavier aproveitou a fragilidade da minha amiga para a levar a dormir com ele. Ela nunca olharia para ele se não estivesse um pouco embriagada. É um verme! Por isso detesto que continue a visitar a minha irmã.
- Carmen sabe disso?
- Disse-lho quando regressei sem ti.
- Porque não o fizeste antes?
- Não queria afastar a única pessoa que continuava ao seu lado depois que ficara viúva e que a sua situação financeira não era mais a mesma. Pensei que ele não se arriscaria com Carmen, afinal era esposa do seu melhor amigo.
- Nunca devias de ter escondido isso da tua irmã.
- Agora sei. Assim como sei que isso não justifica as coisas horríveis que te disse.
- Esquece isso tudo. Não interessa mais.
- Acreditas em mim?
- Sim.
- Tens consciência que conquistaste toda a minha família?
- Toda a família? - Bella beijou-lhe o pescoço - Isso é um record.
- Até a minha mãe, ela disse que sabia que eras a mulher indicada quando...
- Psiu... - Bella beijou-lhe os lábios levemente - Podemos deixar essa parte para depois?!
- Depois... - Marc beijou-a enquanto se deitava levando-a com ele - Acho lindamente.
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