No dia seguinte acordou com dor de cabeça de tanto pensar o que levara Erick a deixá-la após o beijo. Nunca iria imaginar que ele fugiria, porque fugira, sem dizer uma única palavra. Por mais que pensasse não compreendia porque ele agira assim. Não eram mais crianças! Até ela, que tinha apenas Steven como referência, sabia bem onde aquele beijo os poderia levar. Olhou o relógio quando o despertador tocou, ainda tinha tempo de ir correr antes de Tim chegar para a levar ao hospital. Apesar da confusão que ia na sua cabeça o seu coração bateu mais depressa perante a possibilidade de encontrar Erick.
Após percorrer o carreiro até à aldeia, sem o encontrar, sentiu a tristeza apoderar-se do seu coração. Onde estaria?! Tinham combinado encontrar-se para caminhar. Ou não?! A sua cabeça estava uma confusão tão grande que já não tinha a certeza de nada. Lembrou-se que ele trabalhava no hospital. Talvez tivesse surgido alguma emergência e ele fosse chamado. Regressou ao solar mais triste e confusa do que quando saíra. E ainda enumerava os possíveis motivos para a ausência de Erick quando Tim a chamou.
Após percorrer o carreiro até à aldeia, sem o encontrar, sentiu a tristeza apoderar-se do seu coração. Onde estaria?! Tinham combinado encontrar-se para caminhar. Ou não?! A sua cabeça estava uma confusão tão grande que já não tinha a certeza de nada. Lembrou-se que ele trabalhava no hospital. Talvez tivesse surgido alguma emergência e ele fosse chamado. Regressou ao solar mais triste e confusa do que quando saíra. E ainda enumerava os possíveis motivos para a ausência de Erick quando Tim a chamou.
Durante a viagem agradeceu por Tim falar por ambos. Muitas vezes nem esperava que ela participasse na conversa. Era uma espécie de monologo. Um monologo bastante divertido onde o tema de conversa conseguia sair do que ela considerava ser expectável.
Preocupada com a ausência de Erick caminhou pelos corredores do hospital sem o encontrar. Decidida a saber algo dele dirigiu-se ao balcão das enfermeiras para obter alguma informação mas recordou que apenas sabia o nome próprio. Suspeitava que ele era médico ou enfermeiro mas não tinha a certeza e tendo em conta a sorte que tinha ainda iria virar a chacota do hospital se confundisse o cargo. Temendo isso apenas perguntou se podia ver a sua mãe.
Antes de entrar no quarto fechou os olhos e respirou fundo. Precisava esconder a confusão que lhe ia na alma.
Preocupada com a ausência de Erick caminhou pelos corredores do hospital sem o encontrar. Decidida a saber algo dele dirigiu-se ao balcão das enfermeiras para obter alguma informação mas recordou que apenas sabia o nome próprio. Suspeitava que ele era médico ou enfermeiro mas não tinha a certeza e tendo em conta a sorte que tinha ainda iria virar a chacota do hospital se confundisse o cargo. Temendo isso apenas perguntou se podia ver a sua mãe.
Antes de entrar no quarto fechou os olhos e respirou fundo. Precisava esconder a confusão que lhe ia na alma.
- Vieste cedo.
- Pensei que ias gostar de ter companhia. - Valerie tirou o casaco e aproximou-se da cama - Como estás?
- Bem. - Lana beijou o rosto da filha - Como está Trash?
- Melhor que tu e que eu.
- Acredito. - Lana mexeu-se na cama inquieta - Estiveste a chorar?
- Claro que não.
- A julgar a tua cara e esses olhos húmidos não sei se acredite. Steven?!
- Quer acredites quer não, não sei dele desde que cheguei.
- Então que se passa?
- Nada. É apenas cansaço. - Valerie dirigiu-se à janela - Tens uma vista bonita.
- Queres falar sobre a vista?
- Porque não?
- Porque não podemos fugir das coisas para sempre. E sou tua mãe. Sei que aconteceu algo que mexeu contigo.
- Pensei que ias gostar de ter companhia. - Valerie tirou o casaco e aproximou-se da cama - Como estás?
- Bem. - Lana beijou o rosto da filha - Como está Trash?
- Melhor que tu e que eu.
- Acredito. - Lana mexeu-se na cama inquieta - Estiveste a chorar?
- Claro que não.
- A julgar a tua cara e esses olhos húmidos não sei se acredite. Steven?!
- Quer acredites quer não, não sei dele desde que cheguei.
- Então que se passa?
- Nada. É apenas cansaço. - Valerie dirigiu-se à janela - Tens uma vista bonita.
- Queres falar sobre a vista?
- Porque não?
- Porque não podemos fugir das coisas para sempre. E sou tua mãe. Sei que aconteceu algo que mexeu contigo.
Valerie olhou para a mãe. A perna envolta em ligaduras deva-lhe um ar ainda mais frágil. Não era boa altura para falar da sua quase traição ou da traição confirmada de Steven. Era um assunto para quando a mãe se sentisse melhor.
- Só estou preocupada contigo. Nada mais.- Pois sim... Olha. Gosto de te ter aqui mas acho que precisas de ocupar essa cabeça. Por isso preferia que ficasses com Trash. Não deve demorar a ter as crias.
- Ela sabe o que tem que fazer melhor que eu.
- Isso é evidente. Mas tu prometeste ficar para cuidar dela. Só assim consenti ficar aqui.
- Estás a expulsar-me?
- Apenas estou a recordar-te a tua promessa. Não há necessidade de ficares aqui o dia todo. Já basta uma prisioneira. E depois, as drogas que me dão são boas.
- Drogas?!
- A medicação para as dores.
- Oh mãe!
- Promete que vais resolver isso que te incomoda antes de ires ver de Trash. Afinal só temos uma vida e tu já perdeste muito da tua com quem te faz sofrer.
- O que queres dizer com isso?
- Que está na hora de virares a mesa. Ou como diria o teu pai, está na hora de seres tu a dar as cartas. Vá! O que esperas?! Sou velha mas não parva e se a tua felicidade não está ao lado de Steven já é altura de cortar as amarras!
- Acho que as drogas estão a afetar o teu discernimento. Sempre foste contra o divórcio! - Valerie sentia o coração bater apressado - E se bem te lembras não tenho trabalho nem bens dos quais viver. Resumindo, não tenho nada nem ninguém!
- Eu não sou ninguém?
Valerie olhou para a mãe admirada pela brusquidão com que disse aquela frase. E não foi a única pois no minuto seguinte entrou uma enfermeira que estava de passagem no corredor.
- Está tudo bem? - A enfermeira olhou para as duas - Hoje estamos um pouco agitadas.
Valerie observou atentamente a enfermeira enquanto esta mediu a pressão arterial e depois de lhe devolver o olhar tocou a campainha.
- Há algum problema?
- Não se preocupe, o médico vem já. Pode aguardar lá fora uns instantes?
Embora contrariada saiu do quarto. Que teria acontecido? Estariam a esconder-lhe algo? A apreensão aumentou quando um médico entrou no quarto. Não era o mesmo do dia anterior. Sentiu as pernas fraquejar e procurou a cadeira mais próxima. Onde estava Erick agora que precisava de um ombro amigo?! Ele tinha prometido estar com ela! Porque faltara ao que dissera?! Se algo acontecesse não teria forças...
- Menina Dow?!
- Sim?! - Valerie olhou o médico consciente que tinha os olhos cheios de lágrimas.
- Não precisa ficar nervosa. - O médico voltou-se para a enfermeira que saía do quarto. - Traga um copo de água com açúcar se faz favor. Estou a ver que o nervosismo é hereditário.
- A minha mãe?
- Ela está bem, apenas um pouco nervosa. Dada a medicação que está a fazer não deveria ter a pressão arterial tão elevada. Tenho a certeza que foi um pico devido à agitação. A ideia das visitas é acalmar os doentes não o oposto.
- Peço desculpa, não era minha intenção. Estávamos a falar e depois ela...
- Não se preocupe mais com isso. - O médico voltou-se para a enfermeira que regressava com o copo pedido - Obrigado. Beba isto, ordens médicas.
- Obrigada. - Embora contrariada Valerie bebeu o liquido de uma vez - Estava a dizer?
- Estava a dizer que lhe dei um leve sedativo. Nada de mais. A preocupação da sua mãe tem que ver com alguém chamado Trash.
- A gata...
O olhar divertido do médico demonstrava que achava aquela preocupação tão idiota como ela.
- É normal nestas idades direcionar os sentimentos. Os filhos casam, vão para longe e nem sempre é fácil.
- Quer dizer que o doutor acha normal?
- Bom, não sou psicólogo mas não me parece que seja algo que mereça preocupação. A si só lhe posso dar um conselho. Vá para casa e cuide de Trash. A sua mãe irá ficar mais tranquila e neste momento é o que importa.
- Sim. - Valerie levantou-se e estendeu a mão ao médico - Obrigada por tudo.
- Ela está bem, apenas um pouco nervosa. Dada a medicação que está a fazer não deveria ter a pressão arterial tão elevada. Tenho a certeza que foi um pico devido à agitação. A ideia das visitas é acalmar os doentes não o oposto.
- Peço desculpa, não era minha intenção. Estávamos a falar e depois ela...
- Não se preocupe mais com isso. - O médico voltou-se para a enfermeira que regressava com o copo pedido - Obrigado. Beba isto, ordens médicas.
- Obrigada. - Embora contrariada Valerie bebeu o liquido de uma vez - Estava a dizer?
- Estava a dizer que lhe dei um leve sedativo. Nada de mais. A preocupação da sua mãe tem que ver com alguém chamado Trash.
- A gata...
O olhar divertido do médico demonstrava que achava aquela preocupação tão idiota como ela.
- É normal nestas idades direcionar os sentimentos. Os filhos casam, vão para longe e nem sempre é fácil.
- Quer dizer que o doutor acha normal?
- Bom, não sou psicólogo mas não me parece que seja algo que mereça preocupação. A si só lhe posso dar um conselho. Vá para casa e cuide de Trash. A sua mãe irá ficar mais tranquila e neste momento é o que importa.
- Sim. - Valerie levantou-se e estendeu a mão ao médico - Obrigada por tudo.
Cuidar de Trash! Ela tinha ido para cuidar da sua mãe não de uma gata prenha! Quem diria que aquele ser sujo e assustadiço iria ter um lugar tão importante na vida da sua mãe?! Ela tinha percebido que a mãe ficara muito abalada quando viu a gata mas nunca iria imaginar que essa preocupação atingiria aquelas proporções. Mas que fazer?! Se até o médico achava que naquele momento era o melhor a fazer.
- Menina?!
- Sim? - A voz de Tim tirou-a dos pensamentos.
- Sim? - A voz de Tim tirou-a dos pensamentos.
- Queria pedir-lhe um favor. - Tim apertou o velho chapéu em sinal de nervosismo - Gostaria de sair mais cedo hoje. Preciso comprar umas coisas que a minha esposa pediu. Sabe... o meu filho faz anos hoje e nós até pensámos em convidá-la mas imagino que neste momento não tenha vontade de festas. É que está a atravessar um momento menos bom e compreendemos que não tenha a mínima vontade mas se quiser ir teremos todo o gosto em recebê-la. A minha esposa até contratou um mágico. Imagine!
- Porque não disse?! - Valerie sorriu e levantou a mão ao ver que ele ia começar a falar novamente - Em primeiro lugar os meus parabéns! Em segundo nem deveria ter vindo trabalhar. Vá já para casa. Não quero discussão. Vamos!
- Obrigado menina.
- Até amanhã Tim.
O filho de Tim fazia anos... Precisava comprar algo ao menino. Ainda não sabia o quê mas no centro comercial não faltavam opções. Pensar no centro comercial recordou-lhe a última vez que lá esteve. Steven não tinha dado sinais de vida desde então. Teria desistido dela? Esperava que sim. Assim como esperava que ele concordasse com o divórcio.
Esperava?! Não tinha que esperar, tinha que lutar! E independentemente do que Steven queria a vontade dela também era para ser levada em conta. E a sua mãe tinha razão. Estava na hora de agir, de virar a mesa. E para isso precisava de falar com ele, colocar todas as cartas na mesa e decidir o que iriam fazer dali para a frente. Sentiu um frio na barriga. E se ele não aceitasse o divórcio? Se ele negasse tudo o que ela vira e sabia ser verdade? Que faria? Iria lutar pela sua independência? E se após ser confrontado com a inegável verdade, Steven lhe cedesse o divórcio do que viveria? Não podia viver à sombra da sua mãe. Oh Deus! Deus... Ele iria ajudá-la ou iria castigá-la pelos beijos e pelos pensamentos menos próprios que tinha sempre que pensava em Erick?
- Porque não disse?! - Valerie sorriu e levantou a mão ao ver que ele ia começar a falar novamente - Em primeiro lugar os meus parabéns! Em segundo nem deveria ter vindo trabalhar. Vá já para casa. Não quero discussão. Vamos!
- Obrigado menina.
- Até amanhã Tim.
O filho de Tim fazia anos... Precisava comprar algo ao menino. Ainda não sabia o quê mas no centro comercial não faltavam opções. Pensar no centro comercial recordou-lhe a última vez que lá esteve. Steven não tinha dado sinais de vida desde então. Teria desistido dela? Esperava que sim. Assim como esperava que ele concordasse com o divórcio.
Esperava?! Não tinha que esperar, tinha que lutar! E independentemente do que Steven queria a vontade dela também era para ser levada em conta. E a sua mãe tinha razão. Estava na hora de agir, de virar a mesa. E para isso precisava de falar com ele, colocar todas as cartas na mesa e decidir o que iriam fazer dali para a frente. Sentiu um frio na barriga. E se ele não aceitasse o divórcio? Se ele negasse tudo o que ela vira e sabia ser verdade? Que faria? Iria lutar pela sua independência? E se após ser confrontado com a inegável verdade, Steven lhe cedesse o divórcio do que viveria? Não podia viver à sombra da sua mãe. Oh Deus! Deus... Ele iria ajudá-la ou iria castigá-la pelos beijos e pelos pensamentos menos próprios que tinha sempre que pensava em Erick?
Sentindo que sufocava decidiu dar um passeio. Caminhar sozinha reforçava a sensação que mais que nunca sentia falta de Erick e das conversas que tinham. Ele tinha o condão de a levar a esquecer tudo o que a rodeava. Quando estava com ele as suas preocupações dissipavam-se como se nunca tivessem existido. Ele fazia-a sentir segura. Naquele momento parou como se estivesse colada ao chão. Tudo aquilo que ela estava a sentir, toda aquela avalanche de sentimentos lhe diziam que estava apaixonada. Como era possível?! Que sabia dele?! O nome e que trabalhava no hospital. Nem tinha a certeza se era médico ou enfermeiro! Onde ele vivia ou o número de telemóvel era-lhe completamente desconhecido. E mais importante, os sentimentos eram recíprocos ou ele sentia apenas uma atracção física? Recordou uma frase do seu pai. " Tudo acontece exactamente quando tem que acontecer. Nem antes, nem depois"
Talvez Erick não fosse o "tal" mas apenas tivesse aparecido na sua vida para lhe mostrar que podia amar e que tinha o poder de desencadear desejo numa outra pessoa. Naquele momento sentiu-se livre.
Estava na hora de colocar um ponto final no seu casamento. Não queria viver ao lado de um homem que o único sentimento que a fazia sentir era medo e insegurança. Iria lutar pela sua liberdade, iria ser dona da sua vida. Nem que para sobreviver tivesse que varrer ruas.
Depois veria onde a levava a sua amizade com Erick. Não sabia o que ele sentia por ela mas ela estava decidida a desfrutar daquela paixão enquanto pudesse.
E para isso precisava de se libertar de Steven. Se bem que o facto de ele ter arranjado uma amante libertava-a de qualquer obrigação moral que pudesse ter. Afinal se ele podia quebrar os votos do matrimónio ela também tinha esse direito. Ou o facto de ser mulher era uma condicionante? Perante a sociedade sim. As mulheres sempre foram prejudicadas nesse...
E para isso precisava de se libertar de Steven. Se bem que o facto de ele ter arranjado uma amante libertava-a de qualquer obrigação moral que pudesse ter. Afinal se ele podia quebrar os votos do matrimónio ela também tinha esse direito. Ou o facto de ser mulher era uma condicionante? Perante a sociedade sim. As mulheres sempre foram prejudicadas nesse...
O som de uma mensagem interrompeu aquelas divagações. Era a sua mãe a pedir para levar roupa interior. Ao colocar o telemóvel no bolso percebeu que estava em frente ao moinho.
Aquele lugar tinha algo de mágico e sentia uma espécie de satisfação ao saber que aquele lugar pertencia à família. Talvez o pudesse recuperar e fazer dele uma pousada ou algo do gênero. Não se importava de viver ali...
Um fio de fumo branco saía da chaminé do moinho. Ficou feliz por a associação ter decidido alugar o espaço. Era uma pena esconder aquela beleza do mundo.
Não querendo incomodar o inquilino deu a volta ao moinho e foi até à queda de água. Sentou-se numa pedra junto à margem e apertou o casaco. O vento fustigava o seu rosto como se a quisesse castigar pelas decisões que tomara. O padre August dizia que Deus arranja sempre forma de nos dizer o que devemos ou não fazer. Mas muitas vezes não percebemos a mensagem ou então interpretamos de forma errónea. Ou como nos dá mais jeito.
Deus arranjaria forma de a castigar por se divorciar? Não. Deus não seria tão cruel com ela. Melhor que ninguém Ele sabia o que ela tinha passado com Steven.
Enquanto aguardava um táxi olhou o céu da cidade. As nuvens cinzentas passeavam calmamente como se esperassem que as pessoas que corriam apressadas pela cidade resolvessem abrigar-se do frio e chuva que elas anunciavam.
Apertando o cinto da parka entrou no táxi. Sentia uma certa apreensão em ir a casa, talvez pelo medo do que pudesse encontrar, por isso combinara com Steven na pastelaria do centro comercial. Tinha ficado surpreendida por ele ter concordado sem colocar qualquer obstáculo. Um encontro num lugar público dava-lhe uma certa segurança mas a determinação que a tinha invadido no dia anterior parecia diminuir a cada minuto que passava.
Olhou o relógio, tinha chegado antes da hora combinada. Era melhor assim, pelo menos teria tempo para se acalmar.
Embora não tivesse tomado o pequeno almoço pediu apenas um café pois sentia o estômago às voltas.
Agradecia à rapariga quando o avistou. Caminhava confiante, determinado, mas não lhe parecia irritado. Diria até que ele estava calmo. Demasiado calmo. O que não lhe inspirava muita confiança.
- Chegaste cedo. - Steven depositou um beijo no rosto dela agindo como se não estivessem à tanto tempo sem se falar- A tua mãe está melhor?
- Sim. Obrigada.
- Só vais beber café?
- Sim. - Valerie olhou para ele sentindo o corpo tremer. Como abordar o assunto que a levara ali?
- Ainda bem que ligaste. - Steven fez sinal à empregada e sorriu- Deveria ser eu a ligar, seria o mais correto.
- Não importa quem o fez.
- Para mim importa! - Steven calou-se quando a empregada se aproximou - Esta conversa deveria ter tido lugar à mais tempo. Rita está constantemente a recordar-me que não posso adiar mais. E tem toda a razão.
- Rita?!
- Acho melhor começar pelo princípio. Pelos motivos que me levaram a casar contigo.
Steven levou a mão ao bolso e tirou uma fotografia que lhe estendeu. Ao agarrar a fotografia percebeu que as mãos dele tremiam mais que as suas. Olhou-a e ficou admirada com a semelhança entre ela própria e a mulher da fotografia. Podiam ser irmãs! Olhou para ele sem entender.
- Essa mulher foi o meu primeiro amor. Até conhecer Rita nunca imaginei que pudesse amar alguém com tanta intensidade. Estava completamente apaixonado e para mim não era concebível a vida sem ela. Assim como eu, ela gostava de festas, de conviver com os amigos e viajar. Poucos meses depois de nos conhecermos ela aceitou o meu pedido de casamento. Não podia acreditar na minha sorte. Não podia ser mais feliz e acreditava que ela também o era. - Steven fechou as mãos nervosamente - Um dia ela disse que precisava de fazer uma viagem com o pai, coisa que era recorrente. Eu como qualquer apaixonado, e na minha ingenuidade, decidi fazer-lhe uma surpresa. Paguei a um dos empregados do barco para me colocar no camarote do lado de modo a surpreendê-la. Idiota como era comprei as flores mais caras que encontrei, pedi champanhe e preparei um jantar romântico no meu camarote. Quando ouvi vozes no outro lado pensei que ia explodir de felicidade. Ela chegara...
Tinha colocado a mão na porta quando percebi que não estava sozinha. O meu coração parecia querer sair pela boca de tanto nervosismo. Tentei acalmar-me, podia ser apenas um amigo. Estava quase a entrar quando percebi que estavam ofegantes, e por entre os gemidos ouvi a voz do homem perguntar se o noivo dela sabia daquelas escapadinhas.
- Steven eu...
- Deixa-me terminar! Preciso que compreendas. Não imaginas o que senti quando ela lhe disse que o casamento não era impedimento para tal. Afinal o seu futuro marido estava tão apaixonado que nunca iria suspeitar que as suas viagens eram apenas um pretexto para aqueles encontros. Ouvi quando fizeram um brinde e depois... Bom, não é preciso dizer o que ouvi. Naquele momento jurei a mim mesmo que nunca mais iriam fazer de mim palhaço. Quando, nesse mesmo ano, te conheci não queria acreditar. Eras igualzinha a ela! Por muito que tu dissesses nunca me irias convencer que eras diferente. Ao ver o entusiasmo da tua mãe fiquei ainda mais convencido que eras como ela. Que apenas vos interessava o meu dinheiro. A cada dia que passava mais certo estava que para vocês o mais importante era a posição social. Por isso decidi fazer-te pagar por tudo o que eu passei e por tudo o que achava que irias fazer.
- Casaste comigo para te vingares de outra mulher?! - Valerie olhou em redor pois tinha a noção que falara mais alto do que queria -Tens noção do quanto isso é cruel? Cruel e infantil! Deus do céu! Não vias como era infeliz? Que apesar da forma como me tratavas era incapaz de fazer tal coisa?
- Não há desculpa para nada do que fiz. Mas tenta compreender...
Quando ele falou em compreender ela deixou de o ouvir. Compreender?! Como ousava pedir-lhe para compreender?! E a ela, quem a compreendia? Durante toda a sua vida todos esperavam algo da sua parte. O seu pai, a sua mãe, Steven, até o padre August! Só Erick lhe dissera que tinha de pensar em si mesma. Recordar Erick fê-la estremecer. Como podia criticá-lo ou julgá-lo se ela também não tinha agido da forma mais correcta? Pensando no que a tinha levada marcar o encontro obrigou-se a prestar atenção.
-... o divórcio?
- Desculpa?
- Sei que é repentino mas...
- Tens razão. - Valerie interrompeu-o temendo que ele voltasse atrás -É o melhor para os dois.
- Acredita que não estava nos meus planos apaixonar-me. Acho que foi um sinal por começar a acreditar que não eras como eu imaginava. Isso e que merecias alguém melhor que eu.
- Onde a conheceste?
- Por irónico que pareça foi enquanto esperava que terminasse a missa.
Steven sorriu e ela percebeu que o semblante dele mudara. Estava genuinamente feliz. Após ter ficado combinado que a partir dali seriam os advogados de Steven a tratar de tudo despediram-se e ao vê-lo afastar-se perguntou-se se não deveria ter falado em Erick. Mas que havia para contar? Que beijara outro homem estando casada com ele? Talvez, apesar de estar apaixonado por Rita, ele não visse...
- Valerie?!
Valerie olhou na direção da voz. Embora não tivesse vestido a batina era impossível não reconhecer o seu anterior pároco.
- Padre Brow!
- Que faz por aqui?
- Preciso comprar um presente e não há lugar melhor para isso que o centro comercial.
- Que coincidência. Eu também preciso de um presente para o meu sobrinho e sinceramente não tenho ideia do que comprar.
- Eu também estou um pouco perdida no que comprar mas certamente iremos arranjar algo.
- Não duvido.
- Eu também estou um pouco perdida no que comprar mas certamente iremos arranjar algo.
- Não duvido.
Enquanto percorriam os corredores da loja de brinquedos Valerie, que tinha imensa facilidade em desabafar com o velho pároco, falou sobre a queda da sua mãe, sobre a sortuda Trash e sobre as suas dúvidas sobre Erick. Perante o silêncio dele Valerie pensou que o tinha desiludido e sentiu-se na obrigação de explicar com mais detalhe.
- Não foi planeado. Simplesmente aconteceu. - Valerie agarrou um enorme camião - O meu pai dizia que nada acontece por acaso.
- E tinha toda a razão. - O padre Brow olhou para o camião e sorriu antes de o retirar das mãos de Valerie - Obrigado! É ideal para o meu sobrinho.
- Nesse caso é melhor apanhar outro.
- Quanto ao seu amigo. Já pensou que talvez ele se sinta na obrigação de se afastar porque está casada?
- E tinha toda a razão. - O padre Brow olhou para o camião e sorriu antes de o retirar das mãos de Valerie - Obrigado! É ideal para o meu sobrinho.
- Nesse caso é melhor apanhar outro.
- Quanto ao seu amigo. Já pensou que talvez ele se sinta na obrigação de se afastar porque está casada?
- Acha? Não tinha pensado nisso.
- Geralmente os homens não pensam nisso quando querem estar com uma mulher. Mas esse seu amigo pode ser um caso raro.
- Geralmente os homens não pensam nisso quando querem estar com uma mulher. Mas esse seu amigo pode ser um caso raro.
Quando entrou no comboio ainda pensava no que dissera o padre Brow. Como não tinha pensado nisso? Erick sempre mostrara respeito por ela, nunca a pressionara e quando se beijaram tinha sido por iniciativa de ambos. Talvez achasse que ela se culparia por estar com ele estando casada. Mas agora era uma mulher livre. Não no papel mas sim moralmente e isso para ela tinha tanta importância, ou mais, que a parte legal.