quarta-feira, 18 de junho de 2025

O Padre X parte




Os dias seguintes foram marcados pela chuva torrencial o que impossibilitou as suas caminhadas. E como tal não pode comentar com Erick sobre o divórcio. O simples facto de não ver Erick deixava-a demasiado apreensiva e nervosa. Nervosismo que não passou despercebido à sua mãe.

- Tens a certeza que Steven não vai voltar a trás com o divórcio? - Lana sentou-se na cadeira e fez sinal à filha para se sentar junto a ela - Pareceu tudo tão calmo. 
- Ainda bem que assim foi! E sim. Neste momento ele tem mais interesse que eu no divórcio. Afinal está perdido de amores por Rita.
- E tu não estás? 
- Não a conheço para poder perder-me de amores. - Valerie fingiu não perceber a mãe.
- Engraçada a menina... - Lana revirou a vista - Vou fingir que não sabes do que falo. Mas agora que falas nela, não tens curiosidade?
- Sobre Rita?! Talvez, não sei. Gostava de a conhecer mas se tal não acontecer não vou perder o sono por isso.
- Mas algo te anda a tirar o sono.
- Só estou preocupada contigo. Já consegues andar de canadianas mas o solar tem imensas escadas. 
- Cada coisa a seu tempo. - Lana levantou-se e caminhou lentamente até à cama - Acho que vou descansar um pouco. 
- Já percebi. - Valerie beijou o rosto da mãe - Eu volto amanhã.
- Obrigada filha. 

Conforme ia percorrendo os corredores do hospital ia despedindo-se das enfermeiras e ao mesmo tempo olhando para todos os quartos cuja porta estivesse aberta na esperança de ver Erick. 
Mas à medida que se aproximava da saída do hospital a sensação de vazio ia aumentando. E a ausência dele era o que lhe tirava o sono. Apesar de não ter muita experiência ela tinha percebido o desconforto dele sempre que tiveram um contacto mais próximo, e ela compreendia o motivo mas visto Steven concordar com o divórcio esse mesmo motivo deixava de existir. E ela estava desejosa de lhe dizer que finalmente era uma mulher livre. Bem, ainda não era mas seria brevemente. E dias depois ela constatou que tinha razão quando Steven telefonou para lhe dizer que um advogado iria ao solar levar os papéis do divórcio. A excitação era notória na voz dele, sinal que estava feliz e realmente apaixonado por Rita.  
Ela por seu lado não podia ter uma vida mais monótona. Sem ter notícias de Erick tentava manter-se ocupada como podia. O que significava fazer de Trash a sua ocupação diária. O que muitas vezes lhe dava imensas dores de cabeça pois o animal não perdia uma oportunidade para fugir e desaparecer por horas a fio. E essa noite não era excepção. Trash saíra mal ela chegara do hospital e ainda não tinha regressado. Já tinha ido ao jardim chamar por ela e abanara a caixa dos snacks que ela tanto gostava mas sem qualquer resultado.
Se não fosse pela enorme tempestade ela não se preocuparia com a gata mas não faltava muito para nascerem as crias e a sua mãe nunca lhe iria perdoar se estas nascessem em algum lugar sujo e frio. Sabendo que seria a primeira coisa que a sua mãe iria perguntar mal ela entrasse no quarto e sabendo que não lhe conseguiria esconder a verdade decidiu sair debaixo de chuva. O vento fustigava o seu corpo dificultando o seu andamento enquanto a chuva parecia querer entrar por todas as aberturas possíveis da sua capa. 

- Pronto... admito! Gosto da chuva mas podias ter um pouco de calma!? - Valerie olhou o céu cada vez mais escuro - Ao menos deixa-me encontrar aquela bendita gata! É pedir muito?!
- Sabia que este dia iria chegar.

Ao ouvir aquela voz estremeceu. Não podia ser verdade! Ele não podia estar ali! Não quando ela estava enxarcada até ao ossos por causa da gata!
Olhou para ele para confirmar que não era um produto da sua imaginação. Não era! Estava realmente ali! Estava ali, diante dela vestindo uma capa preta que achou pequena para ele. Porque escolhera justamente aquela noite chuvosa para a procurar se ele nem gostava de chuva?! Podia ter esperado pelo amanhecer! Percebeu que ele mantinha o olhar no seu rosto, sentiu-se corar e baixou a cabeça enquanto fechava os olhos obrigando-se a pensar no comentário dele.

- Desculpa?!
- Sabia que andar à chuva iria mexer com a tua sanidade mental. Já falas sozinha.
- Não estava a falar sozinha! Estava a exteriorizar as minhas preocupações.
- Com a tua mãe?
- Com aquela gata teimosa! Fugiu novamente!
- E achaste boa ideia sair com esta chuva.
- Não fui a única.
- Em minha defesa tenho a dizer que quando saí não chovia assim tanto.
- Quando saí também não. - Valerie ajeitou a capa ao corpo - E fazia menos vento!
- Certamente deve ter algum lugar que goste. 
- Ah?!
- Trash. Onde a encontraste? Os animais tendem a ter as crias onde se sentem seguros.
- Uma sala quente não é segura o suficiente?! - Valerie dirigiu-se às traseiras do solar - Foi Tim que a encontrou no barracão.
- Acho que deverias aguardar. Certamente não tarda em regressar mas se ficas mais tranquila não custa ir verificar. Se ela voltou para lá é porque se sente mais segura ali. Por isso, se lá estiver, o mais certo é preferir ter lá a ninhada. 
- Como sabes tanto de animais?
- Simples curiosidade. - Erick empurrou o portão do barracão - Quando era criança tínhamos gatos e quando as crias estavam para nascer algumas gatas fugiam e só regressavam quando as crias já comiam sozinhas.
- Porquê?
- Instinto de sobrevivência. - Erick espreitou por entre as latas e tábuas - Não me parece que esteja aqui.
- A sério! Esta gata acaba com a minha paciência! 
- Mas não te preocupes. Quando terminar de chover ela regressa. 
- Se tu o dizes... - Valerie estremeceu quando um novo relâmpago iluminou o interior do barracão- Acho melhor voltar para casa. 
- Também acho. 

Valerie seguiu Erick até à entrada da cozinha sob a chuva que teimava em cair. Ao chegar à entrada olharam-se como se fosse a primeira que vez que estavam sozinhos. Quando ela pensou que aquele breve silêncio estava pesado demais um miado fez-se ouvir. Olharam os dois ao mesmo tempo para a porta da cozinha e ali estava Trash, olhando para eles como se os achasse loucos por estarem ali à chuva. 

- Eu não disse?
- Disseste que ela regressava quando deixasse de chover.
- Detalhes sem importância!
- Pois sim... - Valerie sorriu- Vou fazer café para nós.
- Nós?!
- Acho melhor ficares até deixar de chover. - Valerie entrou em casa sentindo as faces ficarem vermelhas pois era plenamente consciente até onde aquele convite poderia levar- Dado o meu histórico não quero que me acuses de te causar uma pneumonia. E queria falar contigo.
- Pela tua voz parece algo sério.
- Importante.

Valerie sentia os olhos dele nas suas costas enquanto colocou a máquina a fazer o café. Tentando fugir aquela pressão visual dirigiu-se à sala onde, depois de acariciar a cabeça de Trash, encheu-lhe o prato com comida. Quando agarrou uns paus para colocar na lareira ele segurou a mão dela. 

- Vai mudar de roupa enquanto eu faço isso. 

Valerie olhou para ele perguntando-se como era possível que o simples toque da mão dele lhe transmitisse tanto calor e segurança ao mesmo tempo que lhe despertava alguns pensamentos menos próprios. Recordou a última vez que ali estiveram numa situação semelhante e estremeceu novamente. Institivamente aproximou-se dele e podia sentir o calor do corpo dele através da roupa molhada. Naquele momento Erick afastou-se e começou a avivar a lareira. As palavras do seu velho amigo ecoaram na sua mente. O facto de ela estar casada podia ser o motivo que levava Erick a evitá-la. Mas como abordar o assunto?! 

- Vou buscar o café. 

Enquanto preparava o tabuleiro sentia o corpo tremer de nervosismo. Gostaria de ter mais experiência ou então não se sentir atraída por Erick! Por um lado sentia uma certa culpa por ele despertar certos sentimentos nela. Sentimentos que nunca sentira pelo marido mas dado o casamento deles era normal. Às vezes pensava que até aparecer Erick sempre lhe fora fiel. Qualquer outra no seu lugar não pensaria duas vezes em pagar da mesma moeda. Mas já não tinha a pressão do casamento. Pelo menos isso não iria pesar na sua consciência nem lhe tirar o sono. Era finalmente uma mulher livre. Um relâmpago iluminou o céu e o som do trovão fez-se ouvir segundos depois o que indicava que a tempestade estava muito perto. Respirou fundo e dirigiu-se à sala. Só iria acontecer o que Deus quisesse! 

- Trouxe umas fatias de bolo caso tivesses fome.
- Obrigado mas o café é suficiente.

Ao dar-lhe a chávena os seus dedos tocaram-se e ela olhou a mão dele em silêncio. Preparou-se mentalmente para deixar de sentir aquele calor reconfortante quando ele agarrou a sua mão com a mão que tinha livre e devolveu a chávena do café ao tabuleiro sem dizer uma palavra. Valerie sentia o coração acelerar a cada segundo que passava e quando ele levou a mão ao seu rosto ela fechou os olhos institivamente. Cada toque dele era como uma carícia que ela queria fazer durar o máximo possível. 

- Erick! - Valerie mantinha o olhos fechados temendo que aquele momento terminasse - Eu...
- Eu sei. - Erick aproximou o corpo do dela - Também tenho lutado contra isto.
- Tens?! 

Valerie abriu os olhos quando sentiu a respiração dele junto aos seus lábios. Mas voltou a fechá-los quando os lábios de Erick tocaram suavemente nos seus provocando uma avalanche de sensações que ela nunca tinha sentido. Quando as mãos dele procuraram a sua pele por debaixo da blusa molhada percebeu que certas parte do seu corpo reagiam ao toque com pequenos choques elétricos. Deliciosos choques... Murmurou um protesto quando ele se afastou para lhe tirar a blusa o que o fez sorrir. A cada peça de roupa que lhe retirava ela estremecia mas de prazer perante o toque e os beijos que ele depositava no seu corpo que pouco a pouco estava nu, assim como o dele, deitado no tapete em frente à lareira. A tempestade lá fora continuava mas ela apenas estava consciente dos beijos que Erick depositava no seu pescoço, nos seus seios, no seu ventre... ao chegar aí o seu corpo arqueou de prazer e um calor avassalador apoderou-se do seu interior. Erick afastou-se ligeiramente mas ela colocou os braços no pescoço dele impedindo que se afastasse. Queria mais! Precisava de mais! Erick voltou a tentar afastar-se dela o que a fez congelar. Ele queria afastar-se dela?! Como se lesse os pensamentos dela, Erick beijou os lábios dela desta vez com mais ímpeto ao mesmo tempo que se colocava entre as pernas dela. O seu corpo reagiu ao dele e começou a movimentar-se ao ritmo dele como se de uma dança se tratasse. Inicialmente com calma mas pouco depois os gemidos dela obrigaram Erick a aumentar os movimentos e algum tempo depois os dois corpos cederam à paixão e renderam-se ao clímax. 

Valerie olhava as chamas da lareira sentindo o corpo nu de Erick colado ao seu. Sentia que deveria dizer alguma coisa mas não queria interromper aquele momento especial. Erick despertara-lhe sensações sobre as quais apenas lera e sonhara um dia sentir. Sensações que ao casar pensara que eram apenas fantasia, mitos que se inventam para fazer as raparigas sonhar com o príncipe encantado! Mas Erick provara que não eram mito, que ela podia sentir tudo aquilo que sonhara e ainda mais. 
 
- Estás muito calada.
- É suposto dizer algo?
- Estás arrependida? - Erick levantou-se e começou a vestir-se - Não penses que foi planeado porque não foi. Como disse anteriormente também tenho lutado pois a última coisa que queria arranjar mais problemas mas não sou de ferro! E não podes dizer que fui o único a querer!
- Isso vem a que proposito?! - Valerie olhou-o incrédula - Sei muito bem que são precisos dois para dançar o tango! Se te preocupa que te vá pedir responsabilidades estás...

Valerie viu-se novamente nos braços dele e o beijo que se seguiu mostrava bem a paixão que ambos sentiam.

- Desculpa! - Erick afastou-se dela ligeiramente - Não era minha intenção insinuar o que fosse. Simplesmente tenho a cabeça cheia de problemas mas isso não é justificação para descarregar em ti.
- Depende de como quiseres descarregar. - Valerie sentiu-se atrevida e beijou-o - É tudo questão de perspectiva.
- E na tua perspectiva até onde posso descarregar?

Valerie não respondeu pois a boca de Erick procurava a dela novamente com a mesma sede da primeira vez. E não tardou muito até se entregarem novamente ao desejo que os corroía por dentro. 
Repousava a cabeça no peito de Erick quando este se sentou rapidamente.  

- Veste-te. Ouvi um carro. 
- Um carro?! - Apesar de achar estranho pois ela não ouvira nada obedeceu e passou as mãos nos cabelos - Tens a certeza? Não ouvi nada. 

Mas a sua pergunta foi respondida pelo toque da campainha. Respirou fundo e foi até à porta principal.  Ao aproximar-se conseguia ouvir vozes que ela já conhecia. Tim e a sua mãe.  

Maria entrou mal ela abriu a porta. 

- Desculpe menina mas a minha mãe insistiu em...
- Vê-se mesmo que és homem! Olha só como ela está nervosa. Eu sabia que uma noite como esta iria deixá-la assustada. 
- Está uma noite terrível mesmo. - Valerie não sabia bem como reagir- Mas não havia necessidade de virem até aqui com este temporal. 
-Tolices! Se a sua mãe soubesse que estava sozinha nunca me iria perdoar. 

 Maria caminhou em direção à sala e ela estremeceu. Que diria quando visse Erick?!

- Maria. - Valerie chamou-a na esperança de travar o passo acelerado desta - A sério. Estou bem. Não é preciso tanta preocupação. 
- Mais uma vez peço desculpa menina.  - Tim seguiu Valerie enquanto falava em surdina - Eu bem lhe disse que a menina podia não gostar de ter visitas a esta hora, que podia ter outros planos...

Valerie deixou de o ouvir ao entrar na sala e deparar-se com Maria colocando uma toalha na pequena mesa. Olhou em redor mas não havia sinal de Erick. Apesar de agradecer a ausência dele não conseguiu deixar de se perguntar porque ele evitava que os vissem juntos. Mais uma vez teve que se esforçar para dar a devida atenção aos "convidados" pois a sua cabeça só conseguia pensar nos possíveis motivos que teria Erick para a evitar.  



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