Afonso viu-a afastar-se com a rapariga, alguma coisa tinha acontecido a Leonor para estar assim triste e amargurada, isso querendo ser optimista! Ia jurar que ela pulou de susto quando a rapariga lhe tocou no ombro. Algo a tinha transformado e ele tinha de descobrir o que era...
Leonor olhou Afonso sentado na esplanada e pensou se a sua vida seria diferente se não se tivessem separado...
- D. Leonor desculpe aquilo de à pouco, não queria assustá-la. Mas este livro faz-me mesmo falta
-Não te preocupes.
-Sabe como são os professores...
A rapariga continuou falando, mas ela já não estava a ouvir, pois Afonso estava a pagar à empregada. E isso atraiu a sua atenção. Seu coração encolheu-se, ele ia-se embora!
-Bem,vou andando. Ainda tenho de estudar- disse a rapariga enquanto abria a carteira para pagar-Obrigada D. Leonor.
Murmurou qualquer coisa em jeito de agradecimento, a sua mente já estava noutro lugar. Mais precisamente no seu apartamento à muito tempo atrás.
A carta continuava na sua mão, tinha medo da abrir, uma carta da sua mãe a meio da semana era sinal de mais um rol de pressões para fazer o casamento que ela queria evitar a todo custo. Namorava com Afonso já à algum tempo, mas ainda não tinha contado aos pais, sabia que não aprovariam.
Os seus pais nunca se conformaram por terem perdido tudo o que tinham em França, ela era bebé quando aquilo aconteceu, mas lembrava-se de falarem no assunto conforme ia crescendo. O pai tinha investido na bolsa tudo o que tinha, pois era lucro seguro, mas acabou sem casa, sem os carros e tudo o mais! Depressa ficaram completamente na miséria. Ela nunca conheceu a vida desse tempo, mas a mãe falava dos Champs Elysees, na torre Eiffel, na basílica de Sant Coeur e no museu do Louvre como quem falava da coisa mais maravilhosa da vida.
Acabar os seus dias na casa dos avós no norte de Portugal, não estava nos planos dos seus pais. Daí o desejo de casar Leonor com o filho do patrão do pai, que era chato, aborrecido, um completo idiota, com a mania que era uma bênção de Deus para as mulheres e outras coisas que ela na altura não tinha percebido, mas que acabou por descobrir...
Abriu a carta, afinal de nada adiantava adiar, e se não queria que a sua mãe viesse, era melhor ler e telefonar a dizer alguma coisa.
Como era de prever a carta insistia no casamento e o mais rápido possível, antes que o "noivo" achasse alguém mais indicado.
Atirou a carta para o lixo, quando o telefone tocou. Seria Afonso que ligava todas as noites antes de se deitar.
-Olá outra vez.- disse do outro lado da linha
-Olá.
-Que se passa?-perguntou ao notar a voz dela mais triste que o costume
-Nada..- começou a dizer mas calou-se rapidamente ao notar que as lágrimas ameaçavam cair.
-Como nada! Leonor que aconteceu?- nesse instante ela começou a soluçar e desligou.
Como contar a Afonso que tinha uns pais assim? E se ele não compreendesse o desejo dela de ser independente? Que queria livrar-se das amarras dos seus pais? Como dizer-lhe que a sua mãe insistia num casamento com um homem que ela não amava!?
Alguém bateu à porta. Um Afonso alterado estava do outro lado.
-Que aconteceu? Deixaste-me preocupado! -perguntou entrando e fechando a porta atrás de si.
-Não precisavas vir, não é nada demais. Simplesmente estou cansada, esgotada mesmo, de lutar contra o que não se pode vencer.
Afonso sentiu um aperto no peito ao olhá-la assim tão frágil, nunca a tinha visto chorar, abraçou-a. E assim ficou até que ela esgotou todas as lágrimas.
Beijou-lhe a face, os olhos e foi descendo até chegar à sua boca tremente.
Depressa esqueceu a carta, naquele instante só queria uma coisa.Afonso e ele também a queria. Ela sentiu o seu desejo quando os seus corpos se tocaram.
-Acho melhor...- começou por dizer ele, desviando a sua boca da dela.
-Beija-me. - pediu Leonor.
E essa foi a última coisa que disseram por muito tempo.
Afonso beijou Leonor como se fosse a última vez que estariam juntos. As roupas começaram a ficar espalhadas pelo chão da sala. Restava apenas a roupa interior a Leonor quando ele a pegou ao colo e a levou para o quarto. Deitou-a com cuidado na cama, à muito que esperava aquele momento, queria que fosse especial...a cada beijo um novo suspiro de Leonor, ela nunca imaginara ter tanto prazer nem nos seus melhores sonhos. Quando Afonso desviou as suas pernas ela estremeceu, sentiu-o dentro de si, ali era o seu lugar. Estava decidido, falaria com os seus pais... as caricias de Afonso o ritmo cadenciado dos corpos fizeram-na esquecer a sua mãe e tudo o resto. Só importava ela, ele e aquele momento. Entregou-se por completo a Afonso que, apesar de ser mais novo que ela, sabia exactamente como deixá-la louca de prazer.
Deixaram-se ficar em silêncio abraçados como se estivessem a sonhar e não quisessem acordar.
Afonso foi o primeiro a quebrar o silêncio.
- Sempre pensei que com a tua idade...Nunca pensei que...
-O quê? Que fosse virgem?!-interrompeu-o ela sentindo-se um pouco ofendida
-Não me leves mal. Não queria... Simplesmente não é normal chegar à tua idade sem um namorado.
-Eu sei, mas nunca tive um namorado. Nunca um com o qual eu desejasse ir mais longe! A minha vida não é um mar de rosas. Nunca fui dona da minha vida. Não sabes o que é viver uma vida que escolheram para ti, uma vida onde tens de pagar o facto de existires.
Acabou por contar a Afonso tudo sobre os seus pais. Como a faziam sentir-se culpada por não fazer nada para melhorar a vida familiar, eles que se sacrificaram para que nada lhe faltasse, a ela e ao irmão. Como o irmão era mais novo 10 anos, restava ela para ser a bóia de salvação da família. Não fazes nada mais que a tua obrigação! -dizia-lhe a mãe constantemente. Crescera acreditando que era assim, ajudara os pais quando começara a trabalhar e quando se viu na obrigação de casar,em prol do bem de todos, sentiu-se sufocar, queria fazer algo por ela antes de se entregar ao destino.
-Mas isso não está certo. Não podes casar para os teus pais terem a vida que acham que merecem... Não podes pagar pelo erro deles.
- Percebi isso à pouco. Agora tenho um "noivo" que não quero à minha espera no norte. Nunca imaginei conhecer-te. E muito menos apaixonar-me.
A madrugada ia alta quando finalmente dormiram. Leonor acordou à hora do costume. Tomou duche e saiu. Tinha de trabalhar. Falaria com a mãe mais tarde e no próximo fim de semana quando fosse a casa, falava-lhes de Afonso de quanto era feliz com ele. Tinham de perceber...
Afonso entrou no bar e dirigiu-se a ela para lhe dar um beijo, beijo que ela evitou. Não queria que as pessoas comentassem.
Afonso ficou magoado, ela viu isso nos seus olhos castanhos amendoados, mas ela estava no seu local de trabalho. Queria falar com ele, explicar-lhe mas Afonso saiu sem ela se explicar, e esse foi o primeiro de muitos mal entendidos entre eles.
Coisas pequenas, que resolviam à noite entre os lençóis e a pouco e pouco estavam delineando os limites da relação. Afonso a pouco e pouco foi-se mudando para o apartamento de Leonor.
A semana da Páscoa estava a chegar e com ela muito trabalho, pois desta vez a maioria dos alunos da universidade não ia a casa.A patroa pediu-lhe que ficasse a trabalhar nesse fim de semana, se fosse preciso ela mesma telefonaria aos pais dela para lhes dizer. Coisa que teve de fazer, pois os seus pais achavam que aquilo era uma desculpa para evitar falar do casamento.
A semana passou sem grandes incidentes. A patroa apanhou-a de mãos dadas com Afonso no fim do dia quando estavam a ir para casa.
Pensava que ela ficara chateada mas não. Ela já andava desconfiada de alguma coisa, pois Leonor começara a cantar pelos cantos do bar ao fazer a limpeza. Andava feliz! Isso só podia ser uma coisa: Amor!
Leonor pensava que se uma estranha ficava contente por ela, também a mãe iria ficar. E embora a vida a dois não fosse tão simples como ela imaginara, era feliz. E era isso que ela iria dizer a sua mãe.
Tinha decidido tomar as rédeas da sua vida, afinal a vida era dela. Se os pais não concordassem era problema deles. Ela não era nenhum cordeiro para ser sacrificado.
E foi com estes pensamentos que se despediu de Afonso na estação.
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