quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

DE VOLTA AO PASSADO 4º PARTE






Leonor falou com a mãe, que no meio de gritos e impropérios acabou por dizer que se não queria casar, ela mesma tinha de falar com Rui, o suposto noivo. E ela assim o fez. Saiu para falar com ele, mas Rui não estava, tinha saído com os pais por uns três meses...uma viagem à muito planeada dissera a empregada.
Deixara recado à sua mãe, que se negara a dizer fosse o que fosse a Rui e interpretou a viagem como um sinal divino para que Leonor pondera-se na situação.
Voltou costas à mãe, se era para comandar a sua vida esta era uma altura tão boa como outra qualquer!
Ainda ouvia a mãe gritando da porta: Quando esse rapaz procurar uma moça mais nova, não venhas chorar que não encontras apoio. Porque vai procurar, isso podes ter a certeza.

-Então? Demoras muito?- esquecera-se completamente que o marido a vinha buscar.
-Não, estou a acabar.- olhou para a esplanada com medo que Afonso ainda ali estivesse. Suspirou de alivio ao ver que não tinha regressado.
-Podemos ir?-perguntou ele apanhando a mala dela
-Claro.- fechou a grade e pensou que quem os visse diria que eram um casal feliz.

O percurso até casa fez-se em silêncio como sempre, nem sabia se alguma vez tinham falado!

-Vou dar um duche- disse ele - O que é o jantar?
-Frango.
-Outra vez?! Mas não sabes fazer mais nada?! Não respondes?! Estou a falar contigo! - Leonor aprendera à muito que era melhor calar-se  -Nem para me dares um filho serves, uma miúda mimada foi o que deste.-continuou ele- E onde está agora? Longe daqui, nem ela te atura... és uma inútil... bem me avisaram que só querias o meu dinheiro mas se pensavas que o deixava à tua disposição...- deu uma gargalhada e subiu.
Leonor olhou o frango no tacho. Se ele soubesse... A sua filha estava bem melhor longe dele, era uma moça linda, estava quase a fazer 20 anos! Nunca se afastara da filha, no início custara-lhe a partida, mas era mais seguro para ambas. Falavam pelo telefone, mas não era a mesma coisa. A filha compreendia porque tinha de ser assim, e por sorte podia contar com o seu irmão. Com a desculpa de ela ir tirar o curso, estava em Itália com o tio, e já fazia 2 anos!
O marido desceu, parecia mais calmo. Deu-lhe um beijo no pescoço.

-Deixa essa merda, quero fazer amor.-ela encolheu-se,
-Hoje não dá, estou com o...
-Outra vez?! Mas essa porcaria não acaba nunca? Depois queixam-se quando os maridos vão procurar outras.- e saiu batendo a porta com força.
Ela suspirou de alivio, nem recordava bem quando fora a última vez que fizera amor com ele, no dia do casamento teve de ser e quando ele começou a tocá-la e se colocou dentro dela de modo bruto sem um carinho uma palavra amiga ela chorou,o marido interpretou as lágrimas como dor ao perder a virgindade e quando terminou atirou para o ar - Nunca pensei que perder a virgindade fosse assim tão doloroso, és a primeira mulher que conheço que chorou ao fazer amor- Naquele instante percebeu que casara com um monstro. Jurou naquele dia que se pudesse evitar fazer amor com ele, assim o faria mas até que percebeu como o manter afastado ainda levou algum tempo. E quantas vezes não fez amor com o marido pensando em Afonso e que eram as mãos dele que a tocavam!? Assim o acto tornava-se menos penoso. Felizmente ficara grávida e conseguiu que a médica convencesse o marido de que não podia ter relações por causa do bebé.

A sua bebé que era a alegria da sua vida! Vida essa que desmoronou quando regressou a Lisboa à muito tempo atrás...

Leonor contou a Afonso tudo o que se passara. Parecia que estava feliz, assim pensou ela na altura. Mas com os exames da faculdade Afonso ficava com menos tempo para ela, ultimamente passava muito tempo com os colegas, coisa que a deixava inquieta e com ciúmes. Quando falava nisso a Afonso ele ria-se e dizia-lhe que ela era a única mulher que queria. E ela acreditou. Até ao dia que Afonso ficou a dormir na faculdade coisa que não acontecia há meses. Pensou falar com ele mas acabava desistindo,  não queria que ele se sentisse obrigado a nada. Durante uns dias voltou a dormir em casa e ela pensou que estava a imaginar coisas! Mas esse dia voltou a repetir-se e a insegurança começou a crescer dentro dela, a ponto de discutirem a sério.
No meio da discussão acabou por dizer-lhe que era melhor darem um tempo.Ver se realmente queria estar com ela. Afonso não discutiu, apenas saiu. No dia seguinte tinha um papel debaixo da porta. Ele iria a casa dos pais em Espanha, quando voltasse falavam então de cabeça fria...engraçado, ela não sabia que ele era espanhol.
Essa foi a última vez que soube algo dele. O mês passou rápido e a vida deu uma volta enorme estava sozinha e grávida!  Afonso continuava sem aparecer! Tinha de resolver aquela situação fosse como fosse e não podia esperar muito. Pensou nas palavras da sua mãe. Ela tinha razão, Afonso tinha encontrado alguém mais novo. Só isso explicava a sua ausência, mas não podia deitar as culpas nele, ela é que pediu para darem um tempo. Ela é que o tinha afastado!
 Se a sua mãe soubesse da gravidez não tinha em quem se apoiar. Restava-lhe casar!
Por ironia tinha de fazer o que não queria. O casamento foi simples e não foi complicado convencer a sua mãe em se apressar... ela tinha motivos diferentes dos de Leonor, mas queriam o mesmo. Precisava casar depressa. Rui, encantado por casar com a rapariga que era a cobiça dos rapazes da pequena vila, nunca desconfiou de nada, nem quando a filha nasceu de 7 meses!
Mas as coisas complicaram-se, Rui não quis comprar a casa que a sua sogra achava que merecia, nem dar-lhe apoio económico, o que levou a que esta se suicidasse. Deixou de rastos toda a família, menos Rui que achava que só os fracos se matam. O seu pai não suportando viver na casa que tantas recordações lhe trazia, emigrou com o filho mais novo para Itália. Onde viria a falecer uns anos mais tarde. O seu irmão casou por lá e raramente vinha à terra.
Agora, agradecia a Deus por ter contado a verdade ao seu irmão. Maria, a cada ano que passava, estava mais parecida com o pai e ela não podia permitir que Rui começasse a duvidar. Tinha medo, não por ela, mas pela filha. A filha sabia bem quem era o seu pai, dissera-lho mais cedo do que tinha planeado, mas a filha começava a fazer perguntas. Uma delas foi porque tinha os olhos negros se a mãe e o pai tinham os olhos verdes e azuis!? Isso fez disparar os alarmes na cabeça dela.
Não hesitou um segundo sequer e mandou-a viver com o tio. O marido nunca lhe encostara um dedo, mas tinha dias em que as ofensas doíam-lhe mais que uma sova. E temia o que ele pudesse fazer se soubesse que a filha não era dele. E como não queria ter um filho dele, começou a tomar a pílula ás escondidas dele, negando-lhe assim o direito de ser pai!
Tudo tinha de ser como ele queria, só assim se podia conviver com alguma paz. Tudo tinha de ter a aprovação dele, quando ela pensou em abrir uma livraria, ele concordou, mas a livraria seria ela que a pagaria ao banco pois ele não estava para a governar! Tudo tem um preço nesta vida, era o lema dele. E tinha razão, ela estava a pagar o preço dela!

Fingia que dormia quando o marido regressou cheirando a álcool e a perfume barato. Não se importava se assim o mantinha calado e principalmente afastado.
Nunca pensara voltar a ver Afonso... agora que iria fazer?! Contar-lhe a verdade?! Sabia que ele tinha esse direito mas que aconteceria depois?! E se ao revelar a verdade a Afonso, o marido viesse a descobrir?!  E se ele quisesse conhecer a filha?! Ou pior, se não quisesse saber dela?!
Tinha de pensar bem, e se resolvesse contar-lhe tinha de falar com a filha antes... os seus planos nunca tinham corrido bem e a prova era o seu desastroso casamento, assim como a parecença de Maria com o pai! Não contara nem como uma coisa nem com a outra!
Mas também não contara com o regresso de Afonso!

Sem comentários:

Enviar um comentário