sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

DE VOLTA AO PASSADO



       

                                   DE VOLTA AO PASSADO 1º PARTE


O telefone tocou no minúsculo T0 de Afonso. Olhou de relance o numero no visor, não era da clínica, mas sim a sua mãe. Mais tarde devolveria a chamada.Voltou-se na cama tentando dormir mais um pouco, foi em vão. Fazia algum tempo que não via os seus pais. E não estavam a ficar mais novos, ele próprio não tardava a fazer 45 anos. Mas os seus pais, principalmente a sua mãe, não compreendiam o seu empenho em viver naquele diminuto apartamento quando podia viver numa vivenda de luxo. Os seus pais podiam dar-lhe tudo o que queria e muito mais. O problema residia aí.
O dinheiro era dos seus pais não dele. Problema esse que cresceu com a saída da faculdade. Recordar a faculdade era recordar o seu grande amor.
Perdeu-se nos seus pensamentos daquela época...

No último ano de faculdade resolveu fazer o estagio em Lisboa, e nessa altura conhecera e apaixonara-se perdidamente por Leonor.
Mas o amor não resistiu à diferença de idade, à diferença social, à distancia que separava Lisboa de Bragança, terra natal de Leonor e muito menos às pressões familiares. Acabou por casar com Irene amiga de infância que segundo sua mãe era a mulher ideal. E foi a mulher ideal por 5 anos! Mas cada dia que passava ele percebia o grande erro que cometera e não achava justo, principalmente para Irene, viver com alguém que não a amasse como um homem deve amar uma mulher. Ela amava-o disso não tinha dúvida, mas ele tinha-lhe carinho, não amor!
Esse amor que um dia ele sentira por Leonor! Nunca mais se apaixonara assim, durante as noites ainda sonhava com os longos cabelos negros voando ao vento, a boca tão sensual que o deixava louco de desejo...
Ela foi a causa da sua decisão, quando terminou os estudos decidiu morar definitivamente em Lisboa, ficando a trabalhar como enfermeiro numa clínica privada. Mas à muito que perdera o rasto a Leonor...
 Afastou os pensamentos, nada iria mudar o passado.
  Depois de um duche rápido saiu decidido a aproveitar a folga. O dia solarengo convidava a um passeio e dirigiu-se para a esplanada do costume, mas desta vez para aproveitar o sol.
Ao lado da pastelaria estava uma livraria que despertava a sua curiosidade, mas nunca tinha tempo.
Mas hoje estava decidido a ser o primeiro cliente. Sabia que a dona costumava ir ali beber café antes de abrir a porta.
 Já se tinha informado sobre ela, segundo a empregada da pastelaria era uma pessoa azeda e arrogante e não ficava tempo suficiente para se dar a conhecer, como se pensasse ser superior aos demais. Não prestou muita atenção aquele comentário, a ele o feitio pouco lhe importava só queria um bom livro!

 As pessoas entravam e saiam da pastelaria na azafama diária. E aparentemente não havia sinal da dona da livraria.
 Uma senhora apressada apareceu na esquina. Ele olhou-a com atenção e seu coração encolheu.
Não podia ser... Leonor? Não! Era impossível. Ela entrou na pastelaria e voltou a sair.
Dirigiu-se à livraria ao lado e abriu a porta. Ele ficou ali olhando-a tentando decifrar se era realmente a sua Leonor.

Só havia uma maneira de saber.
- Bom dia, posso entrar?- perguntou ele entre portas.

Quando ela se voltou para lhe responder e o sol bateu nos cabelos dela aí o coração dele parou. Era ela tinha a certeza, passaram muitos anos, mais concretamente 20, mas era ela!

-Claro, a porta está aberta não está?
-Pois! Uma pergunta estúpida, confesso.

Afonso estava atónito com a mudança de personalidade dela, sempre fora alegre, bem disposta. Não podia ser ela. A sua Leonor era oposto da mulher que o fitava demoradamente.

-Desculpe, hoje não estou nos meus dias.
-Já percebi. Deixe para lá, afinal todos temos fantasmas debaixo da cama!

Leonor sorriu, fazia muito tempo que não ouvia aquela expressão.Voltou a olhá-lo com mais atenção.
Não! Era apenas uma coincidência, nada mais. Voltou a dar atenção aos livros.

- Leonor?! -chamou-a ele estava decidido a não sair dali sem ter a certeza- És mesmo tu não és!

Era mais uma afirmação que uma pergunta. No seu interior sabia que era ela. Só ela acharia piada aos "fantasmas" debaixo da cama.

- Sim sou Leonor.-ficou olhando-o por instantes - Afonso? -perguntou a medo serrando os olhos, como se quisesse ver a sua alma.
-Sim, lembras-te de mim?
-Meu Deus, és mesmo tu?! Se me lembro de ti?!Como poderia esquecer-te?
-Passou muito tempo...
-Pois, já nada é igual. Nós não somos os mesmos.
-Há coisas que não mudam, nem com o tempo.
-Tudo muda. Eu mudei! Tu não és diferente.
-Podes ter razão... mas nunca te esqueci. Isso...-calou-se pois entrou uma adolescente apressada e pediu a atenção de Leonor.
   Leonor atendeu a jovem com eficiência, embora ele acha-se que ela estava fria. Algo acontecera nestes anos que a fizera mudar e ele estava disposto a descobrir...
 Combinaram tomar café à hora do almoço. Embora relutante em deixá-la acabou saindo. Ele estava de folga mas ela não. E a hora do almoço não demoraria.
 Comprou um livro e foi sentar-se na esplanada esperando por ela. Tomando mais atenção à porta da livraria que ao livro em si.



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