quarta-feira, 23 de março de 2016
PERFEITO ESTRANHO 8º PARTE
- Já pensas-te em que móveis queres comprar para o quarto do bebé?
- Ainda não.
- Hoje já não vou ao escritório, podíamos ver como vamos fazer com o quarto dele.
- Ou dela.
- Ou dela. - Ele acrescentou - Vai dormir contigo nos primeiros meses?
- Será o mais pratico.
- Podemos ir ver de algumas coisas que lhe façam falta, como aquela omelete
- Omelete?!
- Pois, aquela coisa onde dormem e se transportam nos primeiros dias
- O ovo queres dizer
- Ovo ,omeleta é tudo igual
Cristy riu-se e Carlo sorriu também. Aquilo aliviou o clima e almoçaram mais descontraídos. Dedicaram a tarde a ver de coisas para o quarto do bebé. Carlo deixou-a escolher o que quis, alegando que não queria ser gozado se pedisse uma omelete!
Já em casa, depois de decidirem que o quarto junto ao dele seria o ideal para o bebé, começaram a empacotar as poucas coisas que queria, na manhã seguinte viriam buscar os moveis que seriam doados a uma instituição. Carlo prometeu que no fim de semana começaria a colar o papel de parede, que ela escolheria durante a semana. Foi ele que fez o jantar insistindo em que ela se sentasse.
Cristy fingiu interesse num livro mas continuou a observá-lo. O dia de hoje tinha-lhe provado que ele podia ser atencioso. No geral era feliz, se não conta-se o facto de que ele não a amava. Vê-lo a fazer o jantar dava um ar de cumplicidade que não havia, mas que outrora tiveram e ela tinha saudades disso. Sentia saudades desse à vontade, para abraçá-lo e beijá-lo sempre que quisesse. Ao recordar os beijos dele um arrepio percorreu-lhe o corpo.
- Estás com frio?
Carlo estava mais atento do que ela pensava.
- Não, foi só um arrepio.
- Porque não vais para a sala? A lareira está acesa.
- Aqui não está frio e podes precisar de ajuda.
- Na sala estás melhor e se precisar de ajuda digo.
Foi para a sala contrariada, preferia ficar ali a vê-lo mas não podia admitir isso.
Carlo serviu o jantar um pouco depois. Fez massa com molho três queijos. Ela riu-se ao olhar o prato.
- Qual foi agora a piada?
- Só sabes fazer massa?
- Isso e ovos de mil formas. Mas preferi não arriscar por causa da omelete.
- Ha!
Cristy não consegui evitar rir da situação, em poucos minutos ria-se tanto que começou a chorar.
- Desculpa. A serio... não queria
Mas não conseguia parar de rir.
- Estou a ver que não
- Isto já me passa.
- Acho melhor.
Comeram entre uns risos abafados dela.
- Afinal a massa até estava boa.
- Só podia. Vou buscar o café.
A vida com ele nunca seria aborrecida. Era divertido se a isso se propunha. O som do telefone tirou-a do devaneio. Ouviu Carlo atender, voltou com ar de poucos amigos.
- A minha irmã está a chegar.
- Andrea?
- Não tenho outra.
- Ainda bem, assim tenho alguém com quem conversar quando fores para o trabalho.
- Isso quer dizer que sentes a minha falta?
Ela ficou vermelha,como pode baixar a guarda assim?!
- Quer dizer que me aborreço aqui fechada.
- Vais ter que mudar as tuas coisas para o meu quarto.
- Como é que é?
- O quarto que estás a ocupar é da Andrea. O mais lógico é que ela o queira.
- Não vou dormir contigo! Nem sonhes, prefiro dormir no sofá!
- Não sejas criança. Não é a primeira vez que dormes comigo e dou-te a minha palavra que não te vou tocar.
- Como sabes se estás a dormir? Tu é que podias dormir no sofá
- Nem por sombras. Não vou dormir mal só para satisfazer o teu capricho idiota
- Idiota? Não é idiota, é muito lógico
- Sim? Então explica-me a lógica, pois não a estou a ver! Além do mais, a minha irmã pensa que está tudo bem entre nós.
- Ou seja, não lhe contas-te que me retens aqui contra a minha vontade, e debaixo de ameaça.
- Não tenho de lhe contar tudo. E espero que te portes de acordo com a situação enquanto ela aqui estiver.
- E se não o fizer?
- Não vamos começar outra vez pois não?! O dia estava correr muito bem!
- Vou tirar as minhas coisas do quarto.
Cristy subiu e amaldiçoou a ideia de retirarem as coisas do outro quarto. Agora restavam apenas dois e ela ficara sem o dela! Colocou as coisas no saco e dirigiu-se ao quarto dele. Se fosse sincera desejava poder dormir nos braços dele e acariciar a sua pele. Mas não podia dar-lhe a entender esses desejos. Teria de se armar de coragem e fingir que ele lhe era indiferente.
Ajeitou as roupas dele para colocar as suas e desceu. Carlo subia com uns lençóis lavados, passou por ela resmungando algo que ela não percebeu. Quando desceu parecia mais calmo.
- Este numero é da D. Emília,ela costuma vir limpar uma vez por semana pedi-lhe para vir amanhã à tarde para falar contigo. Quando ela chegar combinas com ela o que queres que ela faça.
- Mas isso não me compete a mim.
- Claro que sim! Agora estás aqui e tens de a orientar segundo o que pretendes. Possivelmente ver se pode vir mais dias.
- Nem precisa de vir. Se vou ficar confinada à casa tenho tempo de sobra para limpar
- Não quero que...
- Tanta discussão não fará mal ao meu sobrinho?
Andrea chegou tão perfumada como da última vez. E como entrou? Ela não ouviu a campainha! Quando deu por si estava a receber dois beijos na cara.
- Pensei que ias demorar mais um pouco
- Estou a ver que sim. Ainda venho a hora de jantar?
- Há massa.
- Óptimo! Mas deixa-me dar os parabéns à minha futura cunhada. A ti já os tinha dado.Mas não se incomodem comigo.
Desapareceu em direcção à cozinha. Voltou com um prato cheio de massa na mão e na outra um copo de vinho.
- Isto está...hum! Ainda não perdes-te o jeito.
Cristy despediu-se de Andrea e subiu com a desculpa de que precisava de descansar. Possivelmente eles queriam falar a sós. Por muito que gostasse de Andrea era uma estranha. Esteve acordada até à uma da manhã, sempre atenta a todos os ruídos fora do quarto, na esperança que seria Carlo. Mas ele não veio! E quando acordou estava sozinha. Teria ele levado a serio a ideia dela e dormiu no sofá? Voltou-se na cama e quando a mão tocou a almofada ao lado ainda retinha um pouco do calor dele. Afinal ele tinha dormido com ela. Agarrou a almofada e cheirou-a... porque não podia ele ama-la?! Ficou agarrada à almofada até que bateram na porta do quarto. Era Andrea.
- Cristy? Posso?
- Claro!
- Desculpa, acordei-te?
- Não. Já estava acordada ia levantar-me agora.
- O meu irmão já saiu por isso estamos à vontade. O que aconteceu?
- Nada.
- Nada?! O meu irmão anda nervoso demais tu também, e não se passa nada? Espera aí! Está tudo bem com o bebé?
Cristy acariciou a barriga instintivamente. E sorriu, podia não ter o amor de Carlo mas teria sempre um pedacinho dele.
- Está perfeitamente. Não ligues, não estávamos à espera disto agora.
- Estás arrependida de teres decidido ter esse bebé?
- Claro que não!
- E o meu irmão?
- Nada mudou desde a última vez que nos vimos.
- Então, está tudo bem.Veste-te. Vamos sair. Ver de roupinhas para o meu sobrinho
- Estou para ver se for menina.
- Será muito amada por todos. Espero por ti lá me baixo.
Depois de tomarem o pequeno almoço foram para o centro comercial. Andrea estava eufórica com a ideia do bebé. Os sacos começaram a amontoar-se. Cristy achava tudo aquilo um exagero, mas Andrea não lhe dava ouvidos. E quando regressaram a casa já passava da hora do almoço. Almoçaram na cozinha umas sanduíches de carne assada. Cristy estava a contar a Andrea sobre a omelete quando Carlo entrou na cozinha.
- Não podias guardar segredo.
- Desculpa é mais forte que eu.E tens de concordar que tem piada Já almoças-te?
- Já, obrigada. Vim só ver como estavam.
- Estamos bem.Depois de uma manhã de compras qual é a mulher que está de mau humor não é Cristy?
- E um pouco cansadas!
- Não devias de andar tanto tempo de pé. Olha o bebé.
- Está tudo bem, não te preocupes.
Cristy sentiu que ele estava realmente preocupado com o bebé. E teve vontade de o abraçar e beijar. Não conseguia desviar os seus olhos dos dele, sentia-se presa a eles. O telefone interrompeu o momento.
Carlo foi para o escritório e ela começou a lavar a loiça. Andrea sorria, depois de beber café convidou Cristy para irem até à praça apanhar sol mas ela preferiu ficar em casa. Estava à espera da D. Emília.
Carlo ainda estava no escritório, quando ela trabalhava ele nunca vinha a casa. Devia de ser para a vigiar.
D. Emília chegou a meio da tarde. Convidou-a para um chá enquanto conversavam, era uma mulher de meia idade muito calada, mas gostou dela. Ficou combinado em ir duas manhãs e uma tarde por semana.
Estava a arrumar a cozinha quando Carlo entrou com uns panfletos.
- Preciso que vejas umas casas.
- Para quê?
- Para nós! Não estás a espera de viver aqui depois de nos casarmos.
- E porque não?
- Porque o apartamento é dos meus pais,e serve para a família toda. E não é o indicado para criar uma criança.
Cristy olhou-o em silêncio, uma casa deles, onde iria criar filho dos dois, se ao menos houvesse amor. Ele pensava que só queria o dinheiro dele,como fazê-lo ver o contrário se ele insistia em gastar dinheiro com ela?! Suspirou resignada.
- Não adianta dizer que não quero escolher casa pois não?
- É assim tão difícil escolher uma casa?
- Não,não é. Já escolhes-te alguma?
- Gostei de duas.
Carlo espalhou panfletos na mesa ela olhou-os uma a um. Ele estava perto demais,sentia o cheiro da sua loção. Fechou os olhos tentando concentrar-se no que estava a fazer. Escolheu uma e deu-lhe o folheto. Acabaram por escolher a mesma, a casa era tipo vivenda espanhola com um jardim enorme, toda murada com um portão principal de ferro. Tinha várias árvores, depois do jardim tratado seria o sitio ideal para criar uma criança.
Carlo marcar a visita à casa. Ela fez um chá e foi para a sala sentar-se a ler. Deixara o livro no quarto! Quando ia a sair da sala chocou com Carlo que ia a entrar. Por uns instantes os seus corpos ficaram muito próximos, e o desejo que até então tentava esconder, não resistiu ao roçar dos lábios dele nos dela. Entregou-se aquele beijo tão desejado, todo o seu ser respondeu às caricias. Separaram-se várias vezes por uns segundos para se olharem, mas sem se afastarem um do outro e voltavam a beijar-se. como se as suas vidas dependessem disso.
- Porque insistes em lutar contra mim? Podia dar-te tudo o que uma mulher pode desejar.
Aquelas palavras foram uma facada no coração dela. Afastou-o como pode.
- Quando vais perceber que não quero nada de ti? Não quero nada teu,percebes?
Subiu as escadas e fechou.-se no quarto a chorar. Só lhe pedia uma coisa, e ele não lha podia comprar. O seu amor.
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