quinta-feira, 24 de março de 2016

PERFEITO ESTRANHO 9º PARTE





Anoiteceu e ela continuava fechada no quarto. Nem Andrea a convenceu a descer para jantar. Sentou-se na cama e dobrar as roupas que tinham comprado naquela manhã. Algum tempo depois deitou-se. Pensou que não ia dormir, mas dormiu lindamente, sentia-se aconchegada. Na manhã seguinte acordou e sentiu o peito de Carlo debaixo das suas mãos. Lutou contra a vontade de se aconchegar nos braços dele, o que devia de fazer era sair dali a correr mas aí podia acorda-lo e depois teria de admitir que gostava de estar bem junto a ele. Era melhor fingir que ainda dormia. No meio do sono ele voltou-se ajeitando-a e colocou uma mão por cima do corpo dela. Podia sentir a respiração tranquila dele no seu pescoço, ao contrario dela que estava uma pilha de nervos. Uma eternidade depois,pelo menos assim pareceu a Cristy, ele saiu da cama e meteu-se na casa de banho. Ela pode respirar fundo. Vestiu um roupão e desceu para fugir dele. Ela estava a falar com Andrea quando ele desceu, mas não foi à cozinha saiu sem se despedir o que entristeceu Cristy.

- E já tens planos para a casa?
- Deitar-lhe fogo conta?
- Se não gostas da casa diz-lhe e escolhe outra.
- Adoro a casa. - Cristy estava cansada de fingir -  Não tem nada a ver.
- Então não estou a perceber.
- Nem tu nem ele! Não quero o dinheiro dele, nem nada que possa comprar!
- Como não queres?! - Andrea olhava a futura cunhada sem entender que se passava.
- Muito simples. Não querendo. É assim tão difícil de entender?!
- Acho que acabei de perceber!

 Cristy começou a chorar descontroladamente. Andrea ficou sem saber que fazer.

- Desculpa,é da gravidez, estou muito sensível!
- Bem, acho que volto hoje para casa. Gostei de ti assim que te vi, por isso vou fazer o que nunca fiz, dar a minha opinião. Sentem-se e falem, precisam de falar sem fingimentos. Estão tão cegos com o que sentem que não vêem o óbvio.
- O teu irmão ameaçou tirar-me o meu filho.
- Cristy,nem sempre as coisas são o que parecem. E sabes tão bem como eu que ele seria incapaz de algo assim! Não me compete a mim dizer seja o que for, mas por favor falem!

Andrea seguiu para Itália no avião da noite, deixando Cristy sozinha enfrentando esse amor que a consumia. Que queria ela dizer com que as coisas não são o que parecem?

 Com a partida de Andrea ela pode voltar a dormir sozinha. Um mês depois a barriga já começava a notar-se e ela cantava e falava muito com o bebé. Eles evitavam-se ao máximo. Por uns tempos ainda alimentou a esperança, que ele usasse uma artimanha qualquer, para a obrigar a dormir com ele mas não o fez. O quarto do bebé ficou lindo em tons bege. Carlo colou uma lua e umas estrelas no tecto que brilhavam no escuro, o facto dele se preocupar com aquele detalhe fez com que chora-se durante um bom bocado. Os dias iam passando devagar e as coisas entre eles não ficavam mais fáceis.

Iam a caminho da consulta dos quatro meses, na última consulta ela tinha ido sozinha ,pois ele teve de ir ao norte. Sentiu a sua falta nesse dia, não o tinha ali para lhe segurar a mão enquanto viam o filho no ecrã. Lembrar-se disso fê-la chorar.

- Está bem?
- Sim, são as hormonas...
- Queres que pare?
- Não é preciso, já passa. Mas obrigada.

Ele deu um meio sorriso.

- Há coisas que não mudam.

Sentiu necessidade de falar com ele, de aliviar aquela tensão que pairava no ar, sempre que estavam juntos.

- Como o quê?
- Como por exemplo, o sol que nasce todos os dias, independentemente de que se está chuva ou não, que depois do dia, vem sempre a noite e depois de qualquer demonstração de preocupação, ou outro sentimento qualquer, tu agradeces sempre.
- Ah isso! E tu detestas que agradeça! E isso é mais uma coisa que não muda.
- Já me acostumei.

O Dr. já estava à espera deles. E como sempre foi muito atencioso, relatou a Carlo a anterior consulta enquanto ela se deitava na maca para fazer a ecografia.

- Vamos lá ver como estão as coisas.

Carlo sentou-se junto à maca e deu-lhe a mão como sempre quando começaram a ver as imagens do filho no pequeno ecrã. De repente começaram a ouvir um batimento muito forte. Crity assustou.-se e apertou a mão a Carlo.

- Este é o batimento do coração. Estão a ouvir?

O Dr. aumentou o volume do som para ouvirem melhor. Ela relaxou a mão e sentiu que Carlo também relaxava.

- Está tudo bem?
- Está tudo perfeito, para o mês que vem tentamos ver se é menino ou menina.
- Eu preferia não saber.
- E o pai? Não quer saber?
- Isso é o menos importante.
- Sendo assim vamos deixar nas mãos do destino. Espero-os daqui a um mês.

Fizeram a viagem de regresso em silêncio. E assim eram os dias deles, a maior parte do tempo não diziam nada. Só falavam quando tinham de resolver algo relacionado com o bebé, ou com a casa que estava em obras.
Durante o jantar, Cristy notou que Carlo estava nervoso, e mais uma vez tentou conversar.

- A tua irmã não tem ligado?
- Não sei nada dela desde que partiu.
- Gosto dela.

Carlo fingiu não ouvir.

- Já marquei o casamento.
- O que disseste?
- Marquei o casamento
- Quando?
- Esta sexta.
- Já? Pensei que demorava mais.
- Quanto mais depressa resolvermos este problema melhor.
- Não sabia que o meu filho era um problema
- O nosso. E não, ele não é um problema. Quando muito és tu, com essa teimosia idiota.
- Podes sempre mandar-me para casa. Assim acaba-se o problema.

Podia ver a veia dele palpitar ferozmente na sua garganta.

- Não! Está fora de questão. Sei que não queres nada meu, nem nada que tenha que ver comigo, mas é um pouco tarde.
- Nunca é tarde para resolver as coisas.
- Tudo se resolve depois de casarmos.
- Como se o casamento fosse a solução dos problemas!
- Mas este será. Com o tempo aprenderás a amar-me!

Aprender a amá-lo?! Mais ainda?! Se assim fosse teriam de a internar! Tinha de lhe perguntar...

- Não percebo, porquê?
- Porquê o quê?!
- Porque queres casar comigo?
- Porquê? Não é óbvio?
- Para mim não. E o facto de me desejares sexualmente não é motivo! O desejo morre com o tempo! E depois disso? Tenho a perfeita noção que espero um filho teu, mas isso não te obriga a casar comigo. Queres o melhor para ele? Eu também e não me estou a referir ao dinheiro. Há coisas que o dinheiro não compra. E depois de nos casarmos achas que ele será feliz vendo o pai sair noite após noite, para estar com outras mulheres? Pois fica sabendo, se me casar contigo, não vou tolerar isso!
- E porque faria tal coisa?
- Sei bem como são os Italianos! Casam, e depois procuram outras mulheres durante o casamento. Está no vosso ADN!  Pois eu não sou italiana. Não fui educada assim. Não estou para ficar a assistir de camarote às tuas múltiplas conquistas.
- Não sei de onde tiraste essas ideias, mas as coisas não são bem assim.
- Ora! Não me venhas com essa! Achas que a tua irmã não me falou das tuas mulheres? E não foram poucas. Tu mesmo chegaste a admitir que levaste muitas para a tua cama! Claro que todas de livre e espontânea vontade!
- Estás com ciumes?

Começava a estar farta de fingir que não sentia nada por ele.

- E se estiver? Isso é um problema meu, não teu.

 Carlo agarrou-a pelos ombros e obrigou-a a olhá-lo nos olhos.

- Os teus problemas são meus, e não quero que tenhas ciúmes de nenhuma mulher. Pois nenhuma ocupa o teu lugar. Desde que te vi naquela discoteca, soube que eras a mulher que procurei toda a minha vida. Ficar perdidamente apaixonado por ti não foi surpresa nenhuma-
- O que disseste?
- Que te amo. E que me deixas louco de desejo. Agora confirma as minhas suspeitas, diz que me amas e acaba com este meu sofrimento.
- Posso dizer mais tarde?
- Não me tortures mulher!

Cristy riu-se, e agarrou o pescoço dele puxando-o para bem perto dela.

- Amo-te! Adoro-te! Tanto mas tanto, que não suportava a ideia de que pensasses que estava contigo pelo teu dinheiro.
- E onde foste buscar essa ideia?
- Ouvi-te falar com Paulo, quando  Ana disse que estava gravida. Pensei que achavas o mesmo a meu respeito.
- Sua doida. Não és a Ana.
- Beija-me.
- Ás suas ordens minha senhora.

Carlo subiu as escadas com ela ao colo como da primeira vez que ali esteve. As roupas deles depressa ficaram no chão do quarto junto à cama. Cada caricia ia acompanhada de um beijo, Carlo saboreava cada pedaço da sua pele palpitante quando parou de repente.

- Não fará mal ao bebé? Posso esperar
- Cala-te e beija-me. O Dr. diz que podemos.

Não precisou de nada mais,voltou a levá-la à loucura com os seus beijos. Demorou-se nos seus peitos de tal modo que ela se arqueou de desejo. Quando ele deslizou um mão na parte de dentro da suas pernas bem junto à sua parte intima ela estremeceu ao sentir a mão dele afastando-as. Toda ela estremecia de antecipação.

- Carlo, por favor não suporto mais...

E Carlo fez-lhe a vontade, os movimentos que outrora tinham o propósito de acalmar o desejo selvagem que os consumia desta vez eram suaves e cadenciados. Repletos de ternura e amor. Quando ele chegou ao clímax deitou-se com ela nos braços.

- Desculpa. Prometo que para a próxima demoro o tempo suficiente para te satisfazer.
- E quem disse que não estou satisfeita?

Cristy beijou-o e ficaram assim agarrados, de repente ela deu-lhe um beliscão no braço antes de o beijar novamente.

- Isto é por me torturares com a hipótese de me tirares o meu filho!
- Pensas-te que seria capaz de tal monstruosidade?
- Por uns tempos acreditei.
- Só o disse porque estava desesperado. Não me deste outra alternativa.
- Agora a culpa é minha?!
- Claro! Não me deixaste por onde escolher. Atiraste-me à cara que estavas gravida mas que não querias nada meu. Que ias cuidar do bebé sozinha. Excluíste-me sem me consultar! Tinhas de ser minha. Sabia que era uma questão de tempo até te conquistar.
- Estavas muito certo disso.
- De inicio, depois comecei a duvidar. Cada vez que dizias que não querias nada meu, as minhas dúvidas aumentavam. Só há pouco percebi o que querias dizer com isso. Nunca seria capaz de te afastar do nosso filho.
- Eu sei. Apercebi-me disso pouco depois da tua irmã partir.
- O que te fez mudar de ideias.
- Não sei, uma coisa aqui outra ali. O carinho com que fazias as coisas no quarto do bebé, as consultas, nas poucas vezes que falávamos enquanto jantávamos... mas depois pensava que podias estar a vingar-te da tua ex...
- A que vem esta conversa agora?
- Não quero casar-me com segredos entre nós.
- Isso quer dizer que vamos casar?
- Se ainda me quiseres
- E vais falar-me do teu ex?
- Se quiseres saber...
- Queres falar dele? No que me diz respeito o que ouvi bastou-me.
- Nem queres saber porque me traiu?
- Se te estás a referir ao facto de ter dito que te traiu porque eras frígida, estou mais que esclarecido. Nunca estive com uma mulher com tanto fogo como tu.
- Prefiro que deixes as tuas mulheres fora da conversa.

Carlo ajeitou-a na cama e sentou-se muito serio encarando-a.

- Nunca, mas nunca mesmo, duvides do meu amor por ti nem da minha fidelidade. - Carlo beijou-a brevemente- Quando a minha mãe namorava o meu pai, também tinha duvidas. Até que a minha avó paterna lhe disse que um italiano demora a amar, mas quando ama é para sempre. Por isso já sabes. E podes ter a certeza,vou amar-te para sempre e nunca precisas de te preocupar com outras mulheres.

- Nem com a tua nova assistente pessoal?
- Hum! Com essa acho que tens de te preocupar...

Cristy voltou a dar-lhe um beliscão no braço e Carlo deitou-se na cama levando-a junto com ele.

- Acho que vou ficar cheio de nódoas negras.
- É para aprenderes a não brincar com coisas sérias.
- Quem disse que estava a brincar? Estava a pensar contratar a minha antiga assistente, achas que ela estará disposta a voltar? Deixava-me louco mas era eficiente.
- Estás a fala a sério?
- Porque não?! Acho que fazemos uma boa dupla, e depois do bebé nascer podemos abrir uma ala na empresa para as funcionárias que tem filhos a amamentar...

 Carlo não pode acabar a frase pois ela calou-o com um beijo que reflectia tudo o que sentia por ele. Em pouco tempo estavam os dois a respirar com dificuldade.

- Sabes que te adoro?
- É melhor ires lembrando-me, não me vá esquecer.
- Não me ias falar da tua ex?
- Não há muito a contar, conheci a Georgia através de um amigo e é escusado esconder que uma coisa levou a outra. Saímos algumas vezes sem promessas. Um dia anunciou que estava grávida. Fiquei um pouco perdido, mas depressa vi o lado prático daquilo, ela era bonita, sabia mover-se nos meios que frequento e podia apresentar-me a pessoas influentes noutros países visto o pai ser embaixador. Decidi juntar o útil ao agradável. Mesmo sem a amar pedi-a em casamento. Marcamos casamento, anunciamos o evento e tudo foi tratado para o grande dia. Qual não é a minha surpresa, quando uns dias depois, a minha irmã me conta que estava no spa e ouviu uma das empregadas comentar que Georgia estava grávida de um aristocrata da Nigéria, que por acaso era casado, mas ela já tinha arranjado um marido para ser pai do rebento. Senti-me um perfeito idiota! Não fiquei muito bem na fotografia por uns bons meses. Por sorte a criança quando nasceu saiu ao pai e aí pude começar a respirar em paz.
- Mas não aprendes-te pois não? Se tivesses aprendido não me tinhas beijado no parque.
- Ainda bem que o fiz! Se não fosse assim não estaríamos aqui. Quando te vi a primeira vez não conseguia deixar de pensar em beijar-te, lembro-me bem que mordias o lábio inferior e desejei salvá-los da tortura que lhe estavas a infligir.
- E tiveste os planos gorados quando me acompanhas-te a casa e não te convidei a entrar.
- Por acaso isso aguçou ainda mais o meu desejo. Quando te beijei tinhas o olhar tão perdido que achei que tinha cometido o maior erro da minha vida.
- Estava exausta! E confusa! Nunca tinha sentido estas coisas! Fui trabalhar depois de uma noite mal dormida pois levei a noite a sonhar contigo.
- Coisas boas espero.
- Não. Coisas muito atrevidas
- Podes exemplificar?
- Com todo o prazer

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