sábado, 16 de abril de 2016

SEDE DE VINGANÇA 4º PARTE





Uma hora mais tarde Alexandros deixou-as em casa de Ariane. A casa estava cheia de operários que entravam e saiam a toda a velocidade. Liz deixou Ariane a falar com um dos homens, e entrou por uma das portas laterais. Quando Ariane se juntou a ela, esta observava um quadro que retratava um homem sentado numa poltrona. Pela semelhança dava para perceber que era pai ou avô de Alexandros...
- O meu marido era um homem muito bonito. - Ariane olhou o quadro mas o seu rosto não reflectia qualquer tipo de emoção - Apaixonei-me por ele mal ele entrou no bar onde trabalhava.
- Trabalhava num bar?!- Liz estava admirada, pensava que ela nunca tinha trabalhado na sua vida!
- Não nasci rica... deixei de trabalhar quando Alexandros nasceu.
- Os seus pais não preferiam que casa-se com um grego?
Ariane desviou uma almofadas e fez sinal a Liz para que se senta-se junto a ela.
- Tanto que deixaram de me falar quando lhes disse que namorava com Angus.
Liz achava tudo muito romântico mas ao mesmo tempo estranho.
- Nunca namorou um rapaz de cá?
Ariane encolheu os ombros e sorriu.
- Quando somos jovens temos a ideia que os homens dos outros países são uns príncipes em comparação com os nossos. E eu não era excepção, tinha decidido que casaria com um inglês.- Ariane calou-se por uns instantes- Como explicar-te?! Nessa altura os casamentos eram arranjados pelos pais, mas eu queria casar com um homem que eu amasse! Não com um que me fosse imposto!
- Isso faziasse por todo o mundo! E acho que infelizmente ainda se faz!
- Sim, é verdade. Mas nessa altura eu não sabia e tinha os meus sonhos,os meus ideais!
- Tinha idealizado o homem dos seus sonhos.
Ariane sorriu novamente mas desta vez os seus olhos brilharam.
- Se te perguntar quais são os homens mais românticos de todos quais escolhes?
- Não sei..depende! Acho que é tudo questão de gosto pessoal.
- Sim. Mas há coisas que estão estipuladas pelos estereótipos ou ideologias...
Liz ajeitou-se no sofá. Nunca se tinha posto a pensar no seu tipo de homem!
- Não estou a perceber.
- Segundo reza a história os mais românticos são os franceses, os italianos os melhores amantes, os mais aventureiros os espanhóis, os mais pacíficos os portugueses, os mais apaixonados os gregos ,os americanos os educados e os ingleses  uns cavalheiros. Eu queria um cavalheiro,sempre quis!
Mas as coisas nem sempre foram fáceis, e o cavalheiro depressa eclipsou ...
O olhar de Ariane que até agora estava brilhante de repente ficou sombrio...
- Porque não se separou?
Ariane olhou o quadro e sorriu.
- Isso é para vocês, para os jovens. Naquela altura separar-me estava fora de questão. E sem o apoio dos meus pais que faria?! Para onde iria?! Tinha dois filhos pequenos para criar. Nós gregos damos muita importância à família. Ela vem à frente de tudo!- fez uma pausa como quem reflecte sobre o que está a dizer. - Os meus filhos tinham tudo o que precisavam e só isso importava.
- Mas e a Ariane? A sua felicidade?
- A minha felicidade está na felicidade dos meus...do meu filho. Hoje faz dez anos que ele partiu e embora as coisas não tenham sido como idealizei, ainda está presente em tudo...nesta casa...de cada vez que olho para Alexandros...

Lá fora uma buzina soou. E instantes depois um dos operários veio chamá-las. Dorian tinha chegado e deram a conversa por terminada.

Não falaram mais sobre Angus nem sobre Alexandros. Ela não o achava assim tão parecido com o pai. Tinha alguns rasgos dele mas também tinha muito de Ariane. Aliás, era tão teimoso quanto Ariane!
Quando chegaram a casa  Ariane fez os exercícios diários, mas como o dia estava quente, fizeram-nos dentro de água.
  Perto da hora do almoço Alexandros telefonou a dizer que só viria à noite. Liz respirou de alivio mas Ariane não gostou. Liz tentou desviar a atenção dela com outras coisas mas não conseguiu , então tentou que fala-se do seu passado.
-Posso perguntar uma coisa?
Liz sabia que estava a imiscuir-se na vida pessoal deles e Ariane podia dizer-lhe que isso não lhe dizia respeito, mas a curiosidade era mais forte.
-Sim.
- Porque Alexandros não mora consigo?
O olhar de Ariane voltou a ficar mais triste.
- Não se dava com o pai...e acho que está mais à vontade. - Liz olhou-a sem perceber, Ariane percebeu o olhar dela e explicou. - Assim evita que eu veja as mulheres que trás para casa!
- As mulheres?!
Por algum motivo saber aquilo magoou-a mais do que ela estava à espera.
- Não sou idiota. Sei que as trás para aqui,  não agora, que estou aqui! Neste momento sabe Deus com qual está... Ele é jovem, e é perfeitamente normal que procure companhia feminina..- calou-se e ficou a olhar o chão por uns instantes.-  Nunca teve namorada fixa, mas às vezes tenho medo. Já perdi um filho... não quero ver outro seguir o mesmo destino! Algumas mulheres não percebem o poder que têm nos homens que as amam!

Ariane começou a chorar, mas desta vez Liz abraçou-a e chorou com ela.  Perdeu um filho?! Que tinha acontecido a Petros?! Sempre pensara que ele estaria casado e feliz! E que tinham as mulheres de Alexandros a ver com Petros?!  Naquele instante percebeu que Ariane já tinha a sua dose de sofrimento! Deu-lhe a medicação e ficou a ler-lhe até que ela adormeceu.  Liz ficou no quarto, não se sentia bem consigo própria. Aquele desejo de vingar a irmã começava a não fazer sentido! Esquecera uma coisa muito importante, o muito que se apegava às pessoas que cuidava. E estava a apegar-se demais.

Liz reviu a sua vida enquanto Ariane dormia.
O pai dela tinha abandonado a sua mãe quando soube que estava grávida. A mãe renunciara à ideia de abortar, como não tinha mais ninguém teve de deixar de estudar e começar a trabalhar para criar a filha. E embora trabalha-se até tarde, arranjava sempre tempo para ela. Os anos passavam e eram apenas elas. Liz achava que a mãe merecia ser feliz mas que homem quereria criar uma filha que não era dele?! Mas um dia esse homem apareceu!
Quando a sua mãe casou em segundas núpcias com um vizinho ela ficou encantada. Finalmente teria um pai! Dois anos depois nascia Anne, Liz adorava a irmã. O marido era um bom homem, embora muito orgulhoso. Nunca quis que elas usassem a pequena fortuna que a mãe tinha herdado da madrinha. Nem quando a mãe adoeceu com alzeimer e parkinson. Mais tarde apareceram os problemas respiratórios. O padrasto de Liz trabalhava de sol a sol insistindo em ser ele a suportar as despesas da esposa.  Passava muito pouco tempo em casa e Liz acha que o fazia para não ver o sofrimento da mulher que amava! Quando a mãe morreu, ele não suportando estar na casa que partilhou com ela, voltou para a terra natal.  Anne, que ficara a viver com Liz por causa dos estudos, ia sempre que podia passar uns dias com ele.  Embora convida-sem Liz, esta nunca foi. Estava sempre ocupada com alguma das suas pacientes. Anne trazia sempre alguma recordação dessa viagem. Ela nem queria acreditar quando Anne se suicidou! Nunca lhe passou pela cabeça que a irmã fizesse algo assim! Começou a chorar novamente. Nada do que fizesse traria a irmã de volta.Nem mesmo uma vingança estúpida!

- Já aqui estás ou nem chegas-te a sair?
Liz preferiu não lhe responder.
- Está com fome?
Ariane começou a sair da cama sob o olhar de Liz.
-Acho que bebia um chá. Vou pedir a Maria para fazer.
- Não precisa incomodar a Maria, eu mesma faço. Afinal um chá é um chá,aqui e na China.

Ariane deu-lhe o braço e sorriu para ela. Enquanto desceram as escadas Liz percebeu que Ariane estava mais calma. Deixou-a na sala e foi fazer o chá. Maria não gostou muito, a julgar pelo gesticular de braços que ela fingiu não ver. Colocou o bule e as chávenas num tabuleiro e apanhou umas bolachas. Antes de sair da cozinha sorriu a Maria. E pensou ver um meio sorriso no rosto de Maria.
Ariane estava a ver um álbum. Liz deu-lhe a chávena e sentou-se longe dela. Não queria invadir a sua privacidade, mas Ariane chamou-a.
- Olha, aqui estamos nós no baile anual de beneficência.
Na foto via-se um casal vestido a rigor junto a uma limusina. E depois outra num casamento...Ariane ia relatando a situação. Quando apareceu uma foto de dois meninos pequenos sentados no chão Ariane demorou-se na foto acariciando-a como se assim os pudesse acariciar também.
- Gostava que eles nunca crescessem. Protege-los de tudo...acho que é o desejo de todas as mães.
Este aqui é Petros...
Ariane ficou uns instantes calada.
- Olha, aqui já estão mais crescidos. Foi na graduação de Alexandros... Petros era muito bonito... as raparigas não o largavam... nunca pensei que uma o levaria para sempre...
- Acho que chega de recordações por hoje.
Liz levantou-se e tentou tirar-lhe o álbum, mas Ariane segurou-o com ambas mãos e fingiu que não a ouviu.
- Para o mês que vêm faz quatro anos que fiquei sem ele, apaixonou-se por uma inglesa. - a voz de Ariane começou a ficar trémula pela emoção - Quero acreditar que era feliz. Nessa manhã despediu-se de mim para a ir buscar, queria que a conhece mas deixou-a conduzir e acabou por não chegar a casa...
Liz perdeu as forças ao ouvir aquilo, a sua irmã ia a conduzir?! Petros morreu nesse acidente?
As suas pernas cederam e deixou-se cair no sofá.
- Morreu?!
- Sim. Pensei enlouquecer de dor. Por uns dias odiei a rapariga, Alexandros foi ao hospital vê-la mas ela não quis recebe-lo. Soube que se matou dias depois...morreu sozinha, sem ninguém junto a ela... todo o ódio que tinha desapareceu...o meu coração chorava de dor, assim como o daquela mãe...eu culpava a filha dela e ela estaria a culpar o meu... de repente toda aquela dor se resumia a duas mães que estavam privadas dos seus filhos...

Ariane levantou a vista para ela, tinha uma profunda dor espelhada neles. Dor que era reflectida nos olhos de Liz. Agarrou a mão dela tentando dar-lhe forças ou para ganhar forças. Por uns momentos ficaram em silêncio olhando as mãos entrelaçadas uma na outra.
Quando se sentiu capaz de falar apenas consegui dizer que sentia muito.

Liz andava de um lado para o outro na sala, agora tinha uma nova perspectiva sobre a morte de Anne,  possivelmente suicidou-se por se sentir culpada da morte de Petros,o homem que ela amava. Uma culpa daquelas arrasaria qualquer pessoa. E Anne era como ela, muito sensível. Afinal o ódio que a levou a querer vingar-se não tinha razão de existir... Petros e Anne tinham sido vítimas do destino. E se houvesse um culpado, essa pessoa era a sua irmã! O motivo que a tinha levado até ali de repente não existia mais!

A noite estava quente e Liz  resolveu sentar-se na sacada da sala que dava para o jardim. A casa estava tranquila, Ariane dormia e Alexandros não aparecia.
Depois da tarde tão emotiva Ariane parecia mais calma mas desconfiava que ela estava a entrar em depressão e na idade dela é complicado.
 A luz dum carro iluminou a janela.  Liz endireitou-se e respirou fundo. Desde os tempos de escola que respirar fundo ajudava-a a concentrar-se melhor. E aprendera alguns exercícios para relaxar. Estava a fazer esses exercícios respiratórios quando ele se juntou a ela.
- Isso ajuda?
- O quê?
Liz não percebeu o que ele queria dizer.
- A respiração... se resulta.
- Hã! Ás vezes.
- Não devias de estar deitada?
- Estava a pensar na sua mãe.
- Está bem?!
Apetecia-lhe dizer que estaria melhor, se ele tivesse vindo jantar a casa, em vez de estar com uma mulherzinha qualquer, mas conteve-se. Isso não lhe dizia respeito.
- Acho que está a entrar em depressão. - Liz olhou para ver a reacção dele,mas, ao contrário do que tinha suposto, manteve-se impávido -E não tem nada que ver com a data da morte do seu pai!
- Porque achas que está deprimida?
Teve vontade de lhe dizer que se ele passa-se mais tempo com a mãe, ele próprio o teria notado! Mas conteve-se.
- Pelas mudanças de humor, a vontade de ficar em casa num minuto e no minuto seguinte querer sair. Sorrir e começar a chorar de seguida. Nunca reparou nisso?
- Sinceramente não. Pensei que fosse por ter perdido o marido.
- O seu pai! Não vê como a magoa ouvi-lo falar assim dele?!
Alexandros olhou para ela com o olhar gelado sem qualquer tipo de emoção.
- Ela sabe bem porquê.
- Mas isso não a impede de sofrer! Não sei o que se passou, mas gostava que pensasse seriamente em levá-la ao médico.
Alexandros não respondeu, Liz desejou dar-lhe uma bofetada! Como podia ser tão frio em relação à mãe?! Era melhor ir deitar-se.
- Desculpe se me intrometi, achei que devia dizer-lhe. Até amanhã.

Liz estava a começar a subir as escadas quando ele a chamou.

- Liz?
- Sim?!
- Obrigada.
- Apenas faço a minha obrigação.
- Não te pagam para gostar de alguém! - Fez uma pausa -Porque escolheste fazer isto?
Liz voltou a descer os poucos degraus que tinha subido.
- Já lho disse.
- Diz-me outra vez.

Algo na voz dele a fez arrepiar, conhecia o sentimento que estava por detrás daquelas palavras, vira-o em pessoas mais velhas que vivem na solidão. Mas Alexandros não estava sozinho, o que não lhe faltava era companhia! Ele desviou-se da entrada da sala a jeito de convite. E ela deu por si aceitando o convite.
Contou-lhe que foi a doença da mãe que a levou a esta profissão, e que lhe doeu vê-la definhar dia a dia sem poder fazer nada para a ajudar. E também lhe doía, ver as pessoas que cuidava partir. Eram poucos, os que ela via irem para um lar, ou voltarem para casa dos filhos.
Ele estava de olhos fechados recostado no sofá. Adormecera! Liz ficou sem saber se deveria acordá-lo ou sair sem fazer barulho. Resolveu levantar-se sem o acordar. Mas ele agarrou-lhe uma mão e puxou-a.  Não esperava aquilo e caiu,  junto a ele no sofá, sentiu o coração dele bater rapidamente debaixo da mão que ficou apoiada no peito dele. Olhou-o nos olhos, pareciam-lhe mais negros que o costume. Viu neles uma profunda tristeza... mais uma vez não conseguiu desviar o olhar do dele mas desta vez foi ela que o beijou. Quando os seus lábios tocaram os dele sentiu novamente aquele calor no estômago. Desta vez ele não tinha gosto a bebida... Deixou-se puxar para junto dele de tal maneira que ficou deitada em cima dele.
- Diz o meu nome.
Alexandros apenas separou as bocas o suficiente para falar, a respiração começava a ficar descontrolada.
- Alex...
- Alex?! Gosto...
Voltaram a beijar-se. Liz tirou-lhe a camisa enquanto ele tentava desfazer-se da blusa dela. As suas mãos deram lugar aos seus lábios, Liz gemia a cada toque dele. Alex murmurava palavras em grego, ao mesmo tempo que ia distribuindo beijos pelo corpo dela. Deitou-a no chão da sala sobre a carpete e tirou-lhe as calças. Liz susteve a respiração... aquilo era pouco ético mas agora não queria pensar nisso...

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