A tarde estava quente demais para estar na piscina e acabaram por subir. Já no sossego do quarto Liz acabou de ler o livro a Ariane. Como esta não estava cansada, decidiram começar outro e ela desceu para o escolher.
A meio da escadas ouviu a voz de Nadine. Acabava de chegar e percebeu que perguntava por Alex.
Ainda a viu entrar no escritório mas esta não a viu.
A voz de Nadine chegou até ela como um chicote.
- Deixas-te o teu casaco lá em casa ontem à noite.
- Obrigada.
Aquela revelação apanhou-a desprevenida. Por isso chegou às quatro da manhã. Ela esteve preocupada com ele e afinal passou a noite com Nadine. E teve a ousadia de a acusar de namoriscar com Mateus! Como os homens são hipócritas!
Passou rapidamente para não ser vista, e meteu-se na biblioteca. Até ali alimentara a esperança que ele sentia algo mais forte por ela, mas estava apenas a divertir-se. Agarrou-se ás costas de uma cadeira quando o seu peito começou a querer saltar do peito. O bater do seu coração tinha-se mudado para a sua cabeça tornando impossível pensar com objectividade.
O livro que tinha ido escolher acabou por ser esquecido. Não era impulsiva, sempre ponderou tudo muito bem, mas agora sentia-se asfixiar! Não tinha a menos duvida, os factos estavam à vista, a chegada quase ao nascer do sol, o casaco que Nadine convenientemente veio entregar... Que outros segredos teria?! Tinha tomado uma decisão. Podia suportar tudo, menos ver Alex andando pela casa esfregando-se com outra mulher! Com lágrimas correndo silenciosamente pelo rosto começou a subir as escadas.
A conversa com Nadine ainda estava a decorrer.
- E pensas dizer-lhe?
- Não. Deixa-a fora disto.
- Será o nosso segredo.E se ela descobrir?
- Nego tudo.
- E se não acreditar em ti?
As lágrimas aumentaram de intensidade, estavam a falar dela. Combinavam esconder a relação deles. Subiu as escadas o mais rápido que pode e meteu-se no seu quarto. Talvez deve-se de falar com ele, tentar perceber, mas ele ia mentir, tinha a certeza que a desejava mas isso não lhe bastava e sabia de ante mão que nunca aceitaria dividir Alex com outra mulher. Preferia partir. Ligou para pedir um táxi e meteu as suas roupas à toa dentro da mala. Dirigiu-se ao quarto de Ariane para se despedir dela.
- Vou-me embora. Peço imensa desculpa mas não posso... - os soluços impediram que continua-se a falar.
- Mas que se passou? Estavas tão bem. Foi Alexandros? - Ela anuiu com a cabeça- O que fez ele?
- Não fez nada. - Só dormiu com Nadine acrescentou mentalmente.
- Não estou a perceber... Se não fez nada...
- Eu é que sonhei demais. Estava tão empenhada nos meus sonhos, que nem percebi que o que eu queria já não estava ao meu alcance.
- Continuo sem perceber...
- Pensei que não me importava mas não consigo, vou ligar para o hospital para lhe enviarem alguém. Desculpe... tenho de ir.
- Mas onde vais? Não sabes falar grego... - Ariane estava preocupada com ela- Vou falar...
- Não por favor. Não lhe diga nada. Ele ama Nadine. A Ariane terá de aceitar se quer a felicidade dele. Mas eu não consigo... - As palavras saiam aos soluços - Não se preocupe, já chamei um táxi e vou direita para o aeroporto, lá falam inglês, não deve de ser difícil arranjar um bilhete para algum lugar.
Abraçaram-se e entre lágrimas Liz abandonou a casa de Alexandros Kristous.
Durante a viagem até ao aeroporto ela pode pensar, Alex sempre amou Nadine. Para ele, ela era apenas uma diversão. Como ele tinha dito, desejava-a. Apenas isso. Mateus avisara-a sobre as amantes, mas nunca pensou que seria ela uma delas! Quando Mateus lhe contou, sobre as amantes que os gregos tem com o conhecimento das esposas, imaginou que fossem coisas inventadas por ele, devido ao interesse que tinha nela. Mas agora sabia que fazia parte da cultura deles, Ariane tinha suportado as amantes de Angus e supunham que ela também suportaria. Mas era inglesa, queria amar e ser amada! Pensava que com o tempo podia conquistar o coração dele. Como idiota que era, iludiu-se pensando que podia viver apenas com o desejo dele, que o amor que ela sentia chegava, mas enganara-se. Tomou consciência disso ao ouvir a conversa deles! Queria o seu amor. Não se contentava com menos. Queria que ele a amasse como ela o amava a ele. Mas esse tipo de amor estava guardado para Nadine.
O aeroporto estava cheio de gente, foi à casa de banho lavar a cara. Olhou-se no espelho, para quem levou os últimos 15 minutos a chorar até tinha bom aspecto.
Dirigiu-se ao balcão, por sorte havia um lugar vazio. Era em classe económica mas isso era o menor dos seus problemas. Queria sair dali o mais depressa possível.
Comprou o bilhete e entregou a mala. Uns minutos depois vieram os seguranças do aeroporto e num inglês mal pronunciado, pediram-lhe que os acompanha-se.
Deixaram-na numa sala com uma janela minúscula, onde havia apenas uma cadeira e uma mesa.
- Desculpe, mas que se passa? Pode dizer-me? - O homem que acabava de entrar não tirava os olhos dos papéis que tinha na mão.
- A menina está acusada de fazer contrabando.- Ele mantinha os olhos nos papeis.
- Contrabando?- Ela nem queria acreditar- Mas de quê?
- De imagens. - Nessa altura, um segurança entrou com a miniatura que Alex lhe ofereceu. - Aqui está ela.
- Está a brincar comigo?!
- Tenho cara de quem está a brincar? -Deitou-lhe um olhar que provava que não era homem de brincadeiras.
- Mas isso foi-me oferecido. - Ela começou a ficar muito nervosa
- E tem provas disso?
- Provas?! Mas se me foi oferecido...
O segurança atendeu o telefone e saiu. Liz começou a andar de um lado para o outro, enquanto ia respondendo às perguntas que lhe eram feitas o mais calmamente que pode.
O segurança voltou e chamou o homem que estava a fazer-lhe as perguntas. Saíram os dois deixando-a sozinha. Como resolver aquilo agora? Não tinha provas de que a cópia da Acrópole lhe tinha sido oferecida. Podia telefonar a Alex, mas e se ele se nega-se? A vergonha seria ainda maior. Se ao menos se lembra-se do nome da loja onde a compraram. Tinha sido numa tenda tradicional num dos bairros, mas em qual?! Se não prova-se a sua inocência iria passar a noite na prisão. No mínimo! De repente lembrou-se...Mateus! Porque não pensou nele antes?! Uma luz de esperança iluminou o seu cérebro. Esperava que ele não estivesse ofendido demais, para lhe negar a sua ajuda! Quando o segurança volta-se, pedia-lhe que lhe devolvessem o telemóvel para ligar a Mateus, ele chegaria em pouco tempo e iria corroborar a situação. Respirou mais calmamente, começava a acreditar que aquilo se ia resolver. Em último caso podia pedir a Ariane.
A porta abriu-se novamente, respirou fundo para se acalmar e ganhar coragem para pedir o telemóvel. Não lho podiam negar. Afinal tinha direito a um telefonema. Com esses pensamentos voltou-se.
Alex olhava para ela com cara de poucos amigos.
- Podes explicar porque partis-te assim?
Como é que ele foi parar ali?
- Não te devo explicação alguma sobre a minha vida privada. Quanto à minha vida laboral, avisei a tua mãe, que é para quem trabalho, a ti, basta-te saber que tenho de partir. Já tratei de arranjar alguém para me substituir - Falava, atirando as palavras
- Se preferes ir por esse caminho, então iremos. - Ao contrário dela, ele falava calmamente - O teu contrato é comigo, não com a minha mãe.
- Então peço desculpa pelo incomodo. Podes considerar-te avisado. Vou-me embora, e não há nada que me faça ficar aqui!
- A segurança do aeroporto não tem a mesma opinião.
Esquecera-se desse pequeno pormenor. Estava a ser acusada de contrabando! A presença dele fizera-a esquecer disso!
- Então, irei depois de resolver a situação com eles.
- És muito complicada sabes? Porque não aceitas o óbvio e acabas com esta idiotice!?
- Agora sou idiota. Bem... - Ela encolheu os ombros - Sempre é melhor que ser promiscua. Por falar nisso, podes dizer para me devolverem o meu telemóvel? Preciso de telefonar a Mateus. - Falou no primo dele de propósito, sabia que ele não gostava. Se pudesse magoá-lo, um pouco só que fosse já tinha valido a pena. - Ele pode explicar este mal entendido.
- Gostas assim tanto dele?!
- Pelo menos posso confiar nele! Sei que não se vai meter na cama de... - Calou-se ao perceber o que estava a pontos de revelar. - Estou cansada. - Voltou-se para a única janela que estava na pequena sala. - O que vieste aqui fazer?
- Vim buscar-te. Mas tu não facilitas as coisas. Pelo contrario, gostas de as complicar.
Ele tinha vindo buscá-la! Para quê?! Para a seduzir e depois rir-se dela juntamente com Nadine? Sentia que lhe tiravam o tapete debaixo dos pés. Estava cansada de tanta mentira, queria nunca ter embarcado nesta viagem movida pelo desejo de vingança. Queria voltar para casa, de onde nunca devia de ter saído. Sentia-se exactamente como estava neste mundo, sozinha, sem ninguém a quem recorrer. Nem amigos lhe restaram, os poucos que tinha, perdera-os quando se dedicou a esta cruzada.
- Alex, estou esgotada com tudo isto.
- Gosto quando me chamas assim. - Alex tinha-se aproximado e a sua respiração batia no pescoço dela fazendo-a arrepiar-se - Gosto de te ver estremecer quando te toco. De ver os teus olhos escurecerem de desejo... E gosto quando o teu coração bate mais rápido quando estou junto a ti.
- Alex, por favor. Não quero mais.
- O quê? Que te toque assim? - As mãos dele acariciaram o pescoço dela e começaram a brincar com os cabelos dela - Ou que te beije?! - E beijou-a. Havia algo diferente nesse beijo. Liz sentiu que havia algo diferente. Mais uma vez rendeu-se, os braços dela cruzaram-se no pescoço dele e por uns minutos esqueceu-se de onde estava. Alex só deixou de a beijar quando ela suspirou
- Estavas a dizer que não queres mais... - Olhava divertido para ela
- Estás a gozar comigo!- Ele estava a brincar com os sentimentos dela - É isto que não quero mais. Este jogo de gato e rato! Onde me acusas de dormir com Mateus quando és tu que.. - Baixou os olhos, parecia uma menina ciumenta e não a mulher segura de si que sempre fora.
- Vamos, termina o que ias dizer. Sou eu que... Gosto de saber do que me acusam.
- Já nem sei o que digo. - Esse era o problema, a única coisa que sabia com segurança era que o amava e esse amor não era correspondido.
- Não sabes?! Que estranho, nunca guardas-te o que pensas.
- Nadine. - Agora já estava, tinha saído involuntariamente - Não a faças esperar. Deve de estar...
Calou-a com um beijo que a levou às lágrimas de tão carinhoso que era.
- Como podes não ver o muito que te quero?! Não sabes que me deixas louco? O muito que te amo? E que sem ti o mundo não faz mais sentido? - Voltou a beijá-la
- E Nadine?
- O que tem Nadine? - Falava com calma, como se fala-se para uma criança - Ela é uma amiga, não há nada entre nós. Acredita quando te digo, nada vai fazer com que deixe de te amar. - Agarrou-lhe a cara e olhou-a nos olhos para ela ver que estava a ser sincero - Nem o facto de seres irmã da mulher que causou a morte do meu irmão fez com que deixa-se de te amar.
- Sabes quem sou?! - Nos seus olhos uma sombra apareceu - A tua mãe sabe?
- Eu sei desde o inicio. Mas a minha mãe não sabe, e prefiro que assim continue. Achas que metia alguém dentro da minha casa sem saber quem é?! Aprendi a lição. Por tua causa voltei a procurar Nadine, precisava dela, é melhor que muitos detectives - Beijou-a antes de continuar - Havia lacunas na tua vida que eu queria preencher.
- Como o quê? - Não queria acreditar que ele sabia desde o principio
- O facto de não usares o mesmo nome da tua irmã... Se tinhas namorados... Se eras tão zelosa como diziam... Precisava de descobrir os teus podres, os teus segredos mais obscuros... Todos os temos, agora imagina a minha surpresa, ao verificar que não tinhas nada que pudesse usar contra ti. Ela fez um trabalho espectacular, descobriu quem és. Ficou tão fascinada, que queria fazer-te uma entrevista, sabes como é... Uma vez jornalista... - Beijou-a novamente - Vamos para casa? Este não é o local para falarmos. Quero levar-te para a minha cama,e desta vez definitivamente.
- Não posso! - Ela retirou a mão da dele.
- Como não podes?! Não me digas que estás apaixonada por Mateus?!
- Claro que não! Mas estou retida aqui, lembras-te?! Acusam-me de fazer contrabando. - Ele começou a rir-se - Não vejo onde possa estar a piada.
- Duvido que nos detenham. Lembra-me de lhes agradecer devidamente por te terem retido.
- Não estou a perceber.
- Quando a minha mãe me disse que tinhas vindo para o aeroporto, liguei para cá e disse para te reterem a qualquer custo.
- Não posso crer! Foste tu que mandas-te prender-me?! - Bateu-lhe no braço- Como foste capaz?
- Que querias que fizesse? Por muito rápido que seja o carro nunca chegaria aqui a tempo.- Voltou a prende-la entre os seus braços- E isso seria imperdoável.
Meia hora depois entravam novamente em casa.
- Temos tanto que falar que nem sei por onde começar. - Ele sentou-se no sofá junto a ela sem soltar a mão dela.
- Preferia ver a tua mãe primeiro.
- Ela foi passar a noite com Kátya. Acho que quer deixar-nos à vontade. Se ela soubesse...
- Mas suspeita de muita coisa...- Ele olhou-a com aquele olhar inquisidor- A desculpa do chapéu não convenceu. Ela não é tonta, caso não tenhas reparado.
- Eu sei. Antes de outra coisa qualquer, quero pedir-te desculpa. Contratei-te para me vingar da tua irmã, por me ter levado o meu irmão, mesmo sem nada para usar contra ti, iria arranjar forma de te destruir.- Desta vez foi a vez dela sorrir, mas um sorriso amargo
- E eu ofereci-me pelos mesmos motivos. Queria vingar-me. Sempre acreditei que o teu irmão era o culpado da morte da minha irmã. Como estava enganada, nunca imaginei que era ela que ia a conduzir.
- E como pensavas vingar-te?
- Descobrindo os teus segredos mais sórdidos e usando-os! Mas a cada dia que passava a vontade de me vingar era substituída por outro sentimento. Foram-me conquistando pouco a pouco. Adoro a tua mãe, nunca seria capaz de a magoar. Nem sei como lhe contar uma coisa destas.
- Por isso não lhe vamos dizer. Já convenci Nadine a ficar calada.
- A Nadine... - Aquele nome dava-lhe a volta ao estômago.
- A Nadine é...como dizer isto?! Vou ser rápido e conciso. Ela prefere ir para a cama contigo que comigo.
- Ah?! Mas tu e ela...
- Isso pertence ao passado. Agora, assim como eu, prefere mulheres.
- Mas eu ouvi-te, disseste para ela não me contar que tinhas dormido com ela, que era um segredo vosso.
- O que lhe disse foi, para não contar à minha mãe quem tu és. O que ela não sabe não a pode magoar.
- Pensei que estavam a esconder de mim o vosso caso.
- Não há caso algum, nem dormi lá em casa, apenas deixei o casaco quando fui falar com ela. Passei a noite à beira mar, pensando em ti! Sei o que parece. Sou perito em tirar conclusões precipitadas. Por isso também te peço desculpa, não suportava a ideia de que estivesses com Mateus. Não vou fingir, não gosto dele. Usa a doença dele, se assim lhe posso chamar, para atrair mulheres.
- A doença dele?!
- Sim. Ele apercebeu-se que as mulheres adoram armar-se me mães, e como é bipolar usa isso para incutir pena e chamar a atenção sobre ele. - Agarrou a mão dela e beijo-a - Mas isso era apenas uma parte da minha tormenta, a minha mãe também não ajudava. Sempre a contar: Mateus levou a Liz a ver o por do sol, Mateus e a Liz passearam à beira mar, Mateus...- Desta vez foi ela que o calou com beijo
- Não tens motivos para te preocupares com Mateus.
- Diz isso ao meu coração.
- Em apenas uma hora a tua mãe viu que te amo, e que para mim Mateus é como um irmão.
- É uma mulher muito perspicaz. E manhosa...
- Ela disse que precisavas de uma ajudinha.
- E tinha razão. Não queria ver o muito que significas para mim. Pensei que era apenas desejo, mas nunca ficava satisfeito, queria sempre mais. Queria acordar a teu lado todos os dias. Ouvir-te dizer que me amas.
- Querias?! Já não queres?! - Ela brincava com ele,agora que estava segura do seu amor - Estava a pensar, já que estamos sós, podíamos...
O que podiam fazer ficou por dizer. Os beijos deram lugar a caricias que se repetiram e voltaram a ser beijos.
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