- Desculpa, não sabia que era ele! Se soubesse... - Clara estava visivelmente nervosa com aquela situação. - Como estava com a esposa não associei...
- Como tu disseste e muito bem, um dia teríamos de nos cruzar.
- Nunca me falas-te do que se passou...
Ana levantou-se e serviu-se de outra chávena de chá, com a chávena entre as mãos ficou a olhar a rua sem dizer nada. Clara pensou que a amiga não estava preparada para falar no assunto e levantou-se para sair do escritório.
- Quando cheguei à cabana, foi a mulher dele que veio abrir a porta. - Clara voltou a sentar-se - Sorria para mim, acreditas?! Sorria para a mulher que tinha ido para a cama com o marido! A mesma cama que partilhava com ela todas as noites! A mesma mulher que já tinha vestido a camisa que ela usava nesse momento!
- Não sabias disso.
- Não, mas suspeitava. Ao início pensei que fosse casado, depois com o tempo achei que não era, ou lá no fundo queria que assim fosse. Nem sei que pensei, estava mais preocupada com o turbilhão de emoções que sentia quando estava com ele.
- Nunca te disse nada que indica-se que estava casado ou tivesse namorada?
- Não. - Ana negou com a cabeça. - Evitava os assuntos mais pessoais, numa situação ou duas, chegou mesmo a deixar-me sozinha para não responder!
- E nunca pensas-te que talvez estivesse a dar um tempo à relação?!
- Sim, pensei. Mas quando estava nos braços dele, esquecia-me de tudo! E nunca pensei que... - As lágrimas começaram a cair - Eu tinha tudo resolvido, ia terminar o noivado. Era livre novamente, apenas restava comunicar ao noivo!- Soltou uma gargalhada forçada - Porque é que os homens têm de nos fazer sofrer?! Se era casado, devia de ter dito algo!
- Talvez se tenham zangado antes de ele ir para a cabana. Não podes julgá-lo, se estavam a dar um tempo. Tu mesma foste porque precisavas de espaço, de pensar. E também não lhe disseste que eras comprometida! - Clara sempre fora frontal, dizia o que pensava, mesmo sabendo que podia magoar os demais. Essa era uma das qualidades que mais admirava na amiga.
- Sei que sou tão culpada como ele! Não quero ser declarada inocente no meio disto tudo. Vou ter de trabalhar rápido e muito, para terminar a casa deles, sinto-me uma... uma... - Ana não conseguia encontrar uma palavra para se definir - Sinto-me tão mal quando olho para Anette! É sempre tão simpática, viste que nem deixou transparecer que sabia do caso do marido?!
- Pode nem saber.
- Como não sabe?! Se eu a reconheci ela também! Não é parva. E viste como ele a acariciou?! Notasse que se amam!
- Sim, é impossível não notar! Sinto muito! Se quiseres eu vou...
- Não. Tenho de ser eu, eles querem que seja eu. Talvez ela veja isto como forma de me castigar, talvez queira que os veja juntos para perceber que fui apenas mais uma, na longa lista dele! Que é a ela que ele ama e é para ela que ele volta sempre.
- Não imaginava que ele fosse assim!
- No fim de contas os homens são todos iguais! Apenas varia a forma de caça e o que querem!
- Estás a referir-te ao Toni?!
Ana assentiu, e ficou em silêncio, desta vez a olhar o saco do chá dentro da chávena.
- Sim, ele queria dinheiro. Nessa altura fui trocada por uma mais rica e que estava disposta a gastar o que tinha com ele. Desta vez fui apenas objecto de desejo! - Ana fez uma careta - Uma forma de descarregar a frustração de uma discussão entre ele e a mulher!
- E tu falaste-lhe de Mário?
- Não. - Ana olhou-a nos olhos - Por isso não me desculpo, não amava Mário, mas estava noiva dele. Devia de ter respeitado isso! Maria sempre disse que ele não era homem para mim, tinha razão! Ela viu isso desde o inicio. Eu precisei que um estranho me beijasse sob a luz da lua e me levasse a ver as estrelas para perceber que Mário nunca me faria feliz.
- Estás apaixonada...
- Perdidamente. - As lágrimas voltaram a cair, molhando a camisa da amiga - Sabes o que é irónico?! Pensar que amei Toni! Vi tudo ao contrário, pensei que amava Toni, quando era apenas uma paixão infantil e pensei que Steve era apenas uma paixão dessas ocasionais, que se recordam mais tarde, quando na verdade o amo desesperadamente! Oh amiga, que faço?! Como vou trabalhar para ele, vê-lo a acariciar a mulher?! Vou ficar destroçada!
Clara abraçou a amiga, sabia que não havia palavras que pudesse dizer para a animar, deixou que ela descarregasse toda a tristeza que a consumia por dentro. Conhecia a amiga bem demais, sabia que ela iria honrar o compromisso com Steve e Anette. Iria esconder todos os seus sentimentos e faria deste o seu melhor trabalho. Ana conseguia colocar o seu coração em tudo o que fazia, mas quando estava triste as coisas corriam-lhe melhor, como se Deus quisesse de algum modo compensar toda a tristeza que ela carregava!
No sábado, quando o despertador tocou Ana já estava sentada ao computador. O pai deu-lhe um beijo na cabeça.
- Até aos sábados? Vais esgotar-te de tanto trabalhar. Está tudo bem? Ultimamente mal te vejo.
- Bom dia pai. Não te preocupes. Tenho apenas muito trabalho, o que é de agradecer.
- Como estão a correr as coisas com os eventos dos casamentos? Tens clientes?!
- Sim! Não muitos, mas tendo em conta que cada dia se casa menos gente, posso dizer que não tem corrido mal.
- Um dia destes vais organizar o teu próprio casamento. - Ana sentiu o olhar do pai sobre ela, mas manteve-se em silêncio, sabia que o pai ainda não tinha terminado. - Ontem estive com Mário, ele ainda pensa em ti. Porque não...
- Porque não o amo! Mas adoro-te! Por isso vou deixar-te tomar o pequeno almoço descansado e vou trabalhar, não quero chegar atrasada.
Ana acenou ao pai e mandou-lhe um beijo. Uns minutos mais tarde parava o carro na pastelaria que costumava frequentar. Bebeu um café e comeu uma tarte de maçã. Clara estava atrasada, tinha-lhe pedido para ir com ela, pelo menos no primeiro dia. Precisava de tirar fotografias, para ter um ponto de referencia quando estivesse a escolher os móveis. Sabia que a maioria dos decoradores não fazem isso, mas ela gostava de o fazer! Sabia que era uma desculpa para que a amiga a acompanha-se, mas precisava de apoio moral!
Clara chegou minutos depois, bebeu café à pressa e saíram para ir ao encontro de Steve e Anette.
Ana ficou encantada com a casa deles, um portão enorme, preto, barrava a passagem aos curiosos, uns metros depois dele, erguia-se uma vivenda em pedra, de dois pisos, toda ela ladeada por um jardim muito bem cuidado, na parte traseira do jardim, uma fonte "abrigava" um lago com peixes vermelhos. Algumas flores davam cor ao jardim, as árvores de fruto começavam a ter flor! Ana seguiu o voo de um pássaro, o seu olhar prendeu-se na imponente chaminé de tijolo vermelho que subia até aos céus!
- Clara! - Ana chamou a amiga, mas esta não lhe respondeu. Olhou em redor tentando encontrá-la, vislumbrou-a mais à frente com Anette. Falavam com um homem que transportava um enorme vaso! Ficou tão absorvida pela beleza da casa, que nem deu por Anette a chamar?! Nem a ouviu chegar, por onde tinha saído?! A sua atenção foi chamada por um mural, que estava numa parede junto a um chorão! Tirou o telemóvel da mala e tirou uma fotografia. Com algum receio tocou a pintura...
- Podes tocar à vontade, é para mandar pintar por cima.
- Como podes fazer uma barbaridade dessas?! - Ana olhava para Steve incrédula com o que tinha ouvido - Nem todos tem a sorte de ter... - Ana calou-se, pois percebeu que ele não estava a falar a sério. - Não teve piada!
- Não?! Devias de ter visto a tua cara.
- Anette onde está? - Perguntou rapidamente mudando de assunto, não queria ficar a sós com ele, não depois do beijo que trocaram no seu escritório - Preciso de falar com ela. Tenho muitas coisas a discutir. Preciso que me elucide sobre o que gosta, as cores, que quer fazer com as mobílias, se gosta de flores no interior, se prefere...
Steve calou-a da única maneira que sabia. No inicio tentou lutar mas depressa se rendeu, tinha saudades dele...
- Continuas a falar demais, principalmente quando estás nervosa. - Steve retirou-lhe uma madeixa de cabelo da cara, ela afastou a mão dele com brusquidão.
- Podes parar com isto?! Não podes sair por aí beijando as pessoas quando...
- A única pessoa que quero beijar está aqui, mesmo à minha frente.
- Pára! Deixa de ser...
- Aqui estão eles! - Anette sorria para eles, Ana sentiu o seu estômago dar voltas, como pode beijar o marido dela?! - Steve já lhe mostrou o mural! Acha que pode ser recuperado?!
- Sim, é lindo! - Ana concentrou-se no mural para evitar olhar Anette nos olhos - Acho que Vic ainda trabalha com restauros, vou falar com ele. Precisava de falar consigo sobre os seus gostos, se à algo que deva evitar.
- Ana! - Anette agarrou-lhe o braço, ela imaginou que fosse confidenciar-lhe que sabia do caso dela com Steve, o seu coração encolheu. - Trata-me por Anette, não gosto de tanta formalidade.
- Sim, claro! - Ana suspirou de alivio.
- Vamos ver a casa?
Ana entrou em casa com Anette, alguns minutos depois Clara e Steve juntaram-se a elas. Clara tirava fotografias e Ana tomava algumas notas na agenda.
A cozinha tinha os electrodomésticos embutidos na parede. Assim como a maioria dos armários, que tinham portas de correr. O que contrastava com a idade da casa. Ela achou a cozinha muito prática e funcional. A sala de estar precisava de ser renovada, era tudo em tons escuros o que dava um ar pesado ao ambiente. Sentou-se num cadeirão e começou a fazer um esboço do que pretendia. Minutos depois mostrou a Anette um rabisco do que idealizou. Cortinas de tons beije e vermelho, almofadas bi-colores. Uns sofás branco pérola ou num camel suave, definitivamente, os sofás eram o que tornavam a casa mais pesada. A lareira pintada de vermelho, com uns castiçais... Anette adorou tudo o que deixou Ana super feliz. Ana pediu a Clara que tira-se uma fotografias da entrada e Anette ofereceu-se para ir com ela, deixando-a a sós com Steve.
- Que dizes da casa? - Steve espreitava por cima do ombro dela, tentando ver o esboço que fazia da entrada - Achas que é um bom sítio para uma criança crescer?
Ouvi-lo falar em crianças foi como levar um murro no estômago, virou-se rapidamente e ficou a escassos centímetros dele. Podia sentir o olhar dele, fixando-se na sua boca.
- Qualquer criança ficaria feliz de crescer numa casa como esta. - Ana olhou-o nos olhos - Por falar em crianças, não estavas de serviço?
- Ansiosa por te livrares de mim?! - Como ela não lhe respondeu, ele continuou - Troquei com um colega. Satisfeita?! - Ela ficou com a sensação que ele estava aborrecido - Já terminas-te aqui? Vamos ver os quartos?
- Acho melhor esperar por Anette e Clara.
- Estás com medo de algo?!
- Claro que não.
- Ainda bem!
Sem dizer nada mais Steve saiu para o jardim, estava visivelmente aborrecido. Mas que esperava?! Que cede-se facilmente agora que sabia que era casado? Ainda tinha uma luta muito grande pela frente, não sabia como afastá-lo! Quando Anette voltou ela estava a olhar para a porta de vidro por onde ele tinha saído.
- Essa porta, achas que combina com a sala? - Anette fechou a porta e correu as cortinas - Acho esta sala tão iluminada!
- Não gostas de luz?!
- Oh sim, mas aqui na sala... sempre achei que uma sala de estar era, como dizer, um sitio acolhedor, e tanta luz...
- Se preferes algo mais...
- Oh não, tu é que és a especialista.
- Com tanta divisão, certamente consegues encontrar uma que possas considerar o teu refugio.
- O meu refugio... - Anette falou tristemente - Vamos ver os quartos?
Ana ficou pensativa. Haveria algo na relação deles que tentavam ocultar?! Acaso Steve não era...
- Adoro estas escadas. Mas acho que estão meio vazias!
Anette interrompeu os seus pensamentos, sorriu para ela e subiram as escadas de mármore. Os quartos estavam todos com mobílias de linhas mais modernas, o que causou admiração a Ana, pois o estilo era o oposto da sala de baixo. Bastava umas coisas básicas para animar o espaço. Foi anotando as coisas que obtinham a aprovação de Anette.
Ana ainda estava um feixe de nervos, quando deixou Clara em casa. Felizmente não ia encontrar Anette e Steve nos próximos dias. Precisava de se recompor e conhecia o melhor tratamento. Trabalho! E isso ela tinha, e muito, toda a casa necessitava de um pouco de cor, se ele queria que os seus filhos crescessem ali, tinham de alegrar a casa! Sentiu um nó na garganta, imaginá-lo com um filho nos braços, um filho que não era dela, doía-lhe imenso!
Passou os dias seguintes a preparar tudo para levar. Anette tinha deixado a chave com Clara, para que pudessem trabalhar à vontade. Segundo Clara, Anette estaria na cabana e Steve ficava na cidade. O que não deixava Ana nada tranquila, com Anette na cabana, ele ficava mais livre e podia aparecer a qualquer momento, era nisso que pensava quando estacionou o carro no enorme jardim. O homem que tinha tinha visto a falar com Anette veio ao seu encontro.
- Bom dia menina, os senhores avisaram que viria. Tem a chave?
- Bom dia. Tenho sim, obrigada.
- A agência da limpeza terminou ontem, o senhor disse que se alguma coisa não estiver como pediu, bastava telefonar. Se puder ser útil em mais alguma coisa...
- Tenho tudo o que preciso, obrigada.
Ana entrou em casa, realmente a casa tinha um ar triste, estava fria... a primeira coisa a fazer era tirar aquelas cortinas enormes de veludo! Com a ajuda de Lucy e de dois dos seus funcionários depressa retiraram tudo. No inicio da tarde Lucy e o resto da sua equipa partiram. Ana olhou as carrinhas que partiam, que faria com aquelas cortinas e sofás?! Perguntava sempre o que queriam fazer com aquelas coisas! Ligou para Anette, não dava sinal, tentou Clara, talvez ela lhe tivesse perguntado, não estava com disposição de falar com ele!
- Clara, desculpa. Chegas-te a perguntar a Anette o que queria fazer com as cortinas e sofás?! É que não me atende!
- Acho que tenho anotado aqui, já te mando mensagem a avisar.
- Obrigada.
Entrou novamente em casa, subiu e pendurou um espelho no corredor, por baixo dele uma mesa de apoio com um arranjo de flores secas. Entrou num dos quartos e começou a abrir as caixas que Lucy tinha deixado, aprendera à muito que se as deixassem onde eram necessárias, poupavam imenso tempo. As colchas em tons pastel davam ao quarto um ar elegante. Faltavam as cortinas, olhou o escadote, era maior do que o costumava usar. Tinha de convencer Clara a ajudá-la nestas coisas!
A tarde ia a meio e faltava apenas um quarto para terminar o andar de cima. Bem, os quartos. pois queria dar um ar mais fresco ás casas de banho. Não falou com Anette sobre isso, mas certamente ela não se importaria, até porque era para lhe fazer essa surpresa. Achou as casas de banho, como toda a casa, sem cor! Amanhã chegavam as toalhas que tinha encomendado. E as lamparinas, a imitar o antigo, também chegavam por estes dias.
Suspirou ao subir o escadote pela ultima vez, finalmente o último quarto! Este ficava em tons verde e preto. Algo mais clássico mas o resultado final era soberbo. Estava a descer e a ajeitar o cortinado ao mesmo tempo quando se lembrou. E o quarto para o bebé?! Não tinha falado com Anette sobre isso. O pensamento fez com que se desequilibra-se, fechou os olhos antevendo a queda. Mas o embate não foi o que esperava. Algo mais suave, mas forte, amparou-a e o aroma que exalava era bem conhecido. O seu corpo reagiu imediatamente ao cheiro e ao toque que a atormentava nas frias noites.
- Queres matar-te?! - Sentiu a respiração dele no seu pescoço, não quis abrir os olhos, temia que ele visse o desejo que sentia espelhado neles. - Se não abrires os olhos vou beijar-te.
Ana abriu os olhos à pressa, mas apenas a tempo de ver a boca dele descer sobre a sua. Quando deu por si tinha os braços ao redor do pescoço dele, puxando-o para si, como tinha feito na cabana, ao sentir nos dedos os cabelos dele afastou-o e com lágrimas nos olhos saiu porta fora.
Exactamente com quando regressou da cabana, também desta vez não sabia como tinha chegado a casa, as lágrimas turvavam-lhe a vista, do mesmo modo que a dor que trespassava o seu coração lhe turvava o discernimento!
No dia seguinte não iria trabalhar na casa de Steve, precisava de tempo. Tempo longe dele. O desejo era fácil de controlar quando não passa disso, mas associado ao amor é completamente impossível ! Se se deixa-se levar pelos sentimentos apenas se iria machucar. Ela não queria sair mais machucada do que já estava. E Anette não merecia que a traísse!
A chuva voltou com o inicio do dia. Ana sentiu-se mais só que nunca, como podia uma coisa tão simples como a chuva, fazer com que sorrisse ou chorasse?! Desde que voltou da cabana sabia que nunca mais veria a chuva nem a lua com os mesmo olhos, mas agora essas recordações estavam manchadas com o sabor da traição. Mas saber que Steve era casado não impedia o seu coração de o amar. E isso doía.
Entrou em silêncio no escritório, todos estranharam facto de ela entrar sem dizer os bons dias. Fizesse sol ou chuva, tinha sempre uma palavra amigável para todos.
Mal se sentou na cadeira Clara assomou-se à porta.
- Está tudo bem?!
- Sim.
- Não parece. Pela forma como entraste.
- E como entrei?!
- Mais azeda que um limão verde.
- Tu acreditas que apareceu ontem ao fim do dia e me beijou?! - Ali estava a razão de todo aquele azedume - Como posso trabalhar se ele vai aparecer a qualquer momento?! O facto de estar casado não o detém?! Começo a pensar que Anette é mais infeliz do que parece.
- Se ela sabe que ele tem amantes é perfeitamente compreensível. Mas pareciam-me bem felizes quando os vi abraçados no... Desculpa.
- Ora, não tenho nada que desculpar. Estão casados.
- E que pensas fazer, se não vais trabalhar hoje?!
- Ainda não sei que vou fazer. Mas uma coisa é certa, não vou ajudá-lo a trair a esposa. Nem a vou deixar com o trabalho a meio!
Umas batidas na porta interromperam a conversa.
- Desculpe interromper. Está aqui o sr. Mendonça para falar consigo. - Lucy olhava para Ana, esperando um sinal - Posso dizer que entre?
- Vais ficar aqui, por favor! - Ana rogava à amiga, que assentiu com a cabeça. - Sim, podes dizer que entre.
Lucy deu passagem a Steve. Vestia umas calças pretas e uma camisa branca que evidenciava os seus músculos. Ana olhou-o extasiada, como podia estar tão bonito àquela hora da manhã!?
- Bom dia. - Steve cumprimentou as duas. - Clara podes dar-nos uns minutos? Precisava de falar com Ana em privado.
- A Clara... - Ana foi interrompida por ele.
- Clara terá coisas mais interessantes que fazer, que ficar a fazer de ama seca.
Perante o olhar insistente dele e após murmurar um desculpa, Clara saiu do escritório.
- Podes explicar-me que se passa contigo?
- Comigo?! Que queres dizer? - Ana não percebia realmente o que ele queria dizer - Tirando o facto de estar cansada não se passa nada.
- Não?! Então porque foges cada vez que me aproximo de ti? Quando te vi a última vez, lá na cabana, pensei que ias casar, mas vejo que não tens aliança. Por isso não percebo.
- Não percebes?! Como vocês são cínicos! Acaso achas que vou ir para a tua cama com Anette ali?!
- Não vejo porque não!
- Então estás mais louco do que eu pensava. - Ana olhou-o nos olhos, não viu qualquer traço de culpa, ou arrependimento. - Olha, isto não nos vai levar a lado nenhum. Não vou discutir contigo, já percebi que não te incomodam certas coisas, mas eu não consigo viver com isso. Mas não te preocupes, tens a minha palavra de honra que vou terminar de decorar a casa, não vou deixar o trabalho a meio. Só espero que depois do trabalho terminado, não volte a ver-te! - Ana sentiu uma dor tão forte no peito que pensou que ia desmaiar de dor. - Até lá, preferia tratar das coisas com Anette.
- Já terminas-te? Agora é a minha vez de fazer promessas. Não vou desistir, quero-te e sei que me queres. Se quisesse podia fazer-te minha, aqui e agora, que não te ias negar. Vejo-o nos teus olhos, irias-te entregar com a mesma paixão com que te entregas-te outrora. Não percebo todo esse pudor em relação a Anette, tendo em conta o que se passou na cabana, simplesmente não esperava isso de ti. O que me desorienta! Mas posso esperar, sei que me queres! Mesmo que o negues sinto-o aqui. - Steve tocou no seu coração, Ana estava boquiaberta, sabia ser verdade, se ele quisesse seria sua ali mesmo, viu-o chegar perto dela e beijá-la. Beijo que, para sua vergonha, ela correspondeu, quando ele a soltou estava vermelha - Vês?! Desejas-me tanto como eu a ti. E serás minha!
Dito isto abandonou o escritório. Ana fervia de raiva, mas era mais raiva de si mesma, por não lhe conseguir resistir, que raiva por ele. Como podia ter correspondido sem ao menos tentar resistir-lhe?! Com uma raiva mal contida atirou com a agenda à parede, por pouco não acertou Steve que voltou atrás!
-Ena! Quando quiseres descarregar a raiva avisa, assim não volto à zona de tiro! - Steve olhava divertido para ela - Esqueci-me de dizer, não me verás até terminares o trabalho. Não quero ser acusado de provocar um acidente.
Desta vez Steve saiu e não voltou. Com o passar dos dias ela pode constatar que era um homem de palavra, não apareceu enquanto durou a decoração da casa. Deixava Anette na entrada e partia. O que deixava Ana secretamente triste, pois nunca o via, apenas ouvia o carro chegar e partir.
Sem comentários:
Enviar um comentário